sexta-feira, 22 de outubro de 2010

MILAGRES PASSAGEIROS!

Na quinta-feira, 21.10.2010, assisti a um trecho do programa Conexão Repórter, exibido pelo SBT e comandado pelo jornalista Roberto Cabrini (OS BASTIDORES DOS MILAGRES - PARTE II). Há algum tempo o programa vem abordando questões relacionadas a polêmicas provocadas no meio cristão. Começou com investigação sobre os casos de pedofilia envolvendo a Igreja Católica Apostólica Romana, e atualmente o foco é o que vem ocorrendo no meio evangélico brasileiro, com ênfase a movimentos pentecostais e neopentecostais.

Ontem, 21.10, foi exibido o caso de um pastor evangélico que afirma que sua filhinha, com 8 (oito) anos de idade, se não me falha a memória, teria o dom de cura. A igreja desse pastor vem tendo um aumento no número de frequentadores, que são movidos pelo desejo de serem tocados pela menina e receberem a cura de enfermidades.

A criança também ministra mensagens aos que se fazem presentes, e o pastor costuma levá-la até mesmo em presídios para realização de cultos de cura.

Além de cura, também há o famoso “cair no Espírito”, e outras reações que são atribuídas à ação do Espírito Santo de Deus.

Foi mostrado, também, um pastor que, vendo uma mulher visitante na igreja com seu bebê no colo, de uns três meses de idade, disse que a criança seria utilizada como instrumento de Deus, e, tocando pessoas com o bebê, essas pessoas iam caindo em um efeito dominó, uma após outra. Havia muito êxtase entre os presentes.

Voltando ao caso do pastor que afirma ser sua filhinha ungida pelo Espírito Santo com o dom de cura, a reportagem do programa procurou meios de comprovar se o que ocorria era fato ou fruto da mente das pessoas.

Foi mostrado, primeiro, o caso de um jovem que sofria com câncer. Ele já havia sido submetido a uma cirurgia, mas como o câncer estava voltando e atacava órgãos internos, ele ouviu falar da “missionariazinha que curava”, e para lá partiu na esperança de receber a cura.

O rapaz afirmava que sentia dores no abdômen, bastando uma leve pressão em alguns locais para que a dor se manifestasse. Diante disso, o pastor trouxe sua filhinha e esta tocou o jovem, mas era possível perceber na expressão do rosto da criança que ela nem sabia bem o que estava acontecendo.
Após o toque milagroso, o pastor perguntou ao rapaz como ele estava se sentindo, se ainda havia dor, e o jovem respondeu que estava se sentindo bem. Pressionando o abdômen, não sentiu dor. Sua mãe e outra moça, talvez namorada ou da família mesmo, choravam e o abraçavam diante da cura realizada. O pastor mandou que ele corresse dentro da igreja para atestar se sentiria dor ainda, e o jovem corria, afirmando nada sentir, embora sua fisionomia não mostrasse exatamente isso.

Acontece que, alguns dias depois, o jovem teve que ser internado, pois as dores voltaram e o médico afirmou que o câncer continuava progredindo. No dia em que estava sendo gravada a reportagem o rapaz faleceu. E não foi curado.

O outro caso foi de uma senhora que sofria com esporões nos pés. Ela caminhava com muita dificuldade, sentindo fortes dores. O pastor a chamou à frente, e a pequena missionária tocou nela para que houvesse a cura. Imediatamente a mulher parecia estar curada. Afirmando não estar sentindo dor, ela recebeu do pastor a ordem de bater os pés no chão com força para ver se doía. Disse que não havia dor. Então, como sempre, o pastor mandou que ela corresse dentro da igreja. Ela correu e afirmou não sentir dor, embora o seu modo de andar desse a entender o oposto.

Procurada pela reportagem, essa senhora informou que não estava curada. A equipe de reportagem a acompanhou ao médico para realização de exames que pudessem dar uma posição quanto à cura, e o resultado foi que, além dos esporões, agora ela estava com uma inflamação por causa das batidas que deu com os pés no chão da igreja. A mulher disse que foi enganada pelo pastor, mas que ele não poderia enganar a Deus.

O que teria acontecido?

Na entrevista, quando o jornalista Cabrini confrontou o pastor e lhe perguntou por que aquelas pessoas não estavam curadas, a resposta foi aquela que se conhece por padrão: o problema estava na fé delas.

Quando se vai a muitas igrejas que seguem um mesmo estilo (o mesmo apresentado no programa Conexão Repórter), parece que se está diante de um filme que se repete continuamente. Curas, revelações, profecias, piruetas, cambalhotas, gritos de poder, declarações de vitória, euforia, êxtase, etc.

Era isso que Jesus fazia enquanto estava neste planeta como homem? Era isso que os apóstolos de Jesus faziam enquanto implantavam a Igreja de Cristo por onde passavam? É claro que não!

O que se tem visto é uma distorção da Palavra de Deus. A Igreja, que deveria ser sal da terra e luz do mundo, tem se tornado motivo de piadas. É claro que existem Igrejas sérias, que pregam a Palavra de Deus, mas o problema é que, diante de aberrações que se veem a todo instante, corre-se o risco de que as pessoas não façam diferença entre uma denominação evangélica e outra, pondo todas no mesmo pacote.

Se as pessoas ao menos se dessem ao trabalho de abrirem suas Bíblias para lê-la, com sinceridade no coração e procurando unicamente a presença de Deus, deixariam de ser enganadas como têm sido, pois veriam que Deus não faz palhaçadas, não engana as pessoas. Deus não tem interesse em impressionar ninguém. Ele não precisa disso.

As pessoas constatariam, ainda, que Jesus nunca agiu da forma como agem muitos pregadores de hoje. Ele era amoroso, gentil, não berrava nas praças nem nas sinagogas. Jesus, quando tocava uma pessoa, era para cura mesmo, cura verdadeira, e não uma cura passageira, que permitia o retorno da doença logo depois que a pessoa saísse de Sua presença.

Os discípulos de Jesus não saíam arrecadando dinheiro após a realização de “shows” de cura pelo Mestre. Não se faziam campanhas de não sei quantos dias para isso ou aquilo. Quem se aproximava de Jesus com o coração sincero, em fé, crendo que Ele poderia curar, libertar, transformar, recebia dEle o que buscava, fosse com um toque ou apenas com uma palavra.

Jesus não alardeava aos quatro ventos o Seu poder, nem subia em púlpitos chamando todos para serem curados. Ele chamava todos para se arrependerem de seus pecados e servirem a Deus com integridade. Como consequência, as pessoas eram curadas, cumprindo-se as profecias do Antigo Testamento.

As palavras de Jesus nem sempre eram bem aceitas, nem sempre soavam bem aos ouvidos das multidões, pois Ele falava o que era preciso, e não o que elas queriam ouvir. Jesus não procurava glória de homens. Jesus era sincero.

Como já escrevi em outra postagem (PASSANDO A UM OUTRO EVANGELHO), hoje, se muitos pastores deixassem de lado essa pregação maluca que fazem, e começassem a pregar o arrependimento para perdão de pecados, como Jesus e seus apóstolos, muitas igrejas se esvaziariam, mas ainda sobraria uma minoria sincera, que quer a salvação mais do que bênçãos materiais.

Na verdade, se Jesus voltasse hoje, muitos dos que dizem fazer milagres lhe perguntariam: ”Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?” E Jesus lhes responderia: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” (Mateus 7. 22-23)

O que temos hoje são muitos hipnólogos que conseguem sugestionar as pessoas, criando um clima onde facilmente se leva essas pessoas a acreditarem, ainda que momentaneamente, que algo sobrenatural está acontecendo, quando nada mais é do que a manifestação dos fenômenos da mente humana.

Inclusive, uma psicóloga também foi entrevistada para dar seu parecer, e afirmou categoricamente que estava diante de sugestão mental, e que as pessoas que caíam dizendo ser ação do Espírito Santo, cairiam mesmo que se colocasse uma cebola em sua testa, pois estavam mentalmente condicionadas a aquilo.

Não quero julgar a ninguém. O julgamento cabe a Deus. Mas a Bíblia mostra que o que ocorre hoje em muitas denominações evangélicas não tem nada a ver com o Evangelho de Jesus Cristo. Absolutamente nada.

Que Jesus, em quem não há milagres passageiros, abençoe a todos nós e nos dê sabedoria e discernimento para não cairmos em armadilhas.

José Vicente

22.10.2010

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