domingo, 15 de maio de 2022

UM REI MUITO DIFERENTE

 


Mateus 21.1-17

Ao longo dos anos as pessoas sempre demonstraram um certo fascínio por histórias envolvendo reis. A figura do rei parece atrair muito a atenção das pessoas, e já foram escritos muitos romances que tinham como cenário um palácio e, algumas vezes, um rei destemido, nobre, que enfrentava grandes batalhas e se preocupava com seus súditos, ou um rei tirano que explorava o povo e era confrontado por algum herói popular como Robin Hood, etc. Enfim, não faltam histórias sobre reis na literatura mundial.

A figura do rei ainda existe em alguns países, como a Inglaterra, e chama a atenção das pessoas que têm curiosidade de saber mais sobre a vida da realeza.

O próprio povo de Deus demonstrou uma admiração pela figura do rei, quando, durante o período em que Samuel julgava a nação, pediu que fosse coroado um rei para governar o povo, assim como acontecia com as demais nações ao seu redor, o que deu início ao período da monarquia, sendo Saul o primeiro rei de Israel.

A Bíblia toda é centrada na história de um Rei. Esse Rei, porém, é muito diferente de todos os demais. É um Rei que vem da linhagem do rei Davi, mas é superior a Davi.

É um Rei cujo reino não é deste mundo, e que veio com uma missão muito árdua, de dar sua vida para que muitos tivessem acesso ao seu Reino Eterno.

O texto que lemos nos mostra o Rei Jesus entrando em Jerusalém, pouco tempo antes de sua prisão e morte na cruz. Naquele momento a reação das pessoas que o seguiam foi de reconhecimento de que Ele era o Messias, o Rei prometido a Israel, tanto que vinham gritando: “Hosana ao Filho de Davi”, que significa “salva-nos agora, Filho de Davi”.

Essas palavras estão no Salmo 118, conforme vemos a seguir:

“Oh! Salva-nos, Senhor, nós te pedimos; oh! Senhor, concede-nos prosperidade!

Bendito o que vem em nome do Senhor. A vós outros da Casa do Senhor, nós vos abençoamos.

O Senhor é Deus, ele é a nossa luz; adornai a festa com ramos até às pontas do altar.” (Salmos 118:25-27)

Além de clamarem “Hosana ao Filho de Davi”, as pessoas colocavam suas capas para que Jesus passasse sobre elas, e espalhavam ramos ao longo do caminho, lembrando o versículo 27 do Salmo 118,

Jesus realmente é o Rei, como nos afirmam as Escrituras Sagradas. Em suas mãos está o poder. O Pai lhe entregou o domínio sobre tudo o que existe, e Ele reina com poder e majestade.

Mas, Jesus é um Rei muito diferente, e isto pode ser percebido quando lemos sua biografia nos quatro Evangelhos que narram sua vida entre os seres humanos. Do texto lido vamos extrair alguns pontos que demonstram que Jesus é um Rei muito diferente.

 

     1)   Um Rei Humilde (v. 5)

No versículo 5 está dito o seguinte: “Dizei à filha de Sião: Eis aí te vem o teu Rei, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de animal de carga.” (Mateus 21:5)

Jesus foi um Rei muito diferente, porque Ele era humilde, tendo rejeitado por completo qualquer sentimento de arrogância. Ele sabia que era superior a todos os que ali se encontravam, mas não agia como se fosse melhor do que as pessoas que o seguiam, Ele não reivindicava para si nenhum glamour, nenhuma ostentação, pelo contrário, cultivava uma vida simples e se agradava da simplicidade em tudo.

Jesus era superior a todos os reis que o antecederam, inclusive o grande rei Davi, mas isso não o fez se portar de maneira orgulhosa, pelo contrário, Ele sempre agiu de forma humilde.

Em qualquer país do mundo o Chefe de Estado, seja o presidente da república, o imperador, o primeiro ministro ou o rei, quando sai em público é precedido por uma escolta formada por agentes da polícia federal, soldados, assim como a retaguarda também é coberta por pessoas que asseguram a proteção ao líder que ali está. E geralmente esses líderes contam com ministros e assessores que são muito bem preparados para ocupar essas funções.

E então, vemos o Rei dos reis entrando em Jerusalém sem pompa, montado em jumentinho, e não em carruagem real puxada por cavalos. Sem escolta de soldados, mas precedido de pessoas comuns e crianças. Sem uma comitiva de nobres conselheiros e assessores, mas apenas um pequeno grupo de homens rudes, que estavam aprendendo a ser pessoas melhores, e não políticos a serviço de um rei comum.

Em Jesus vemos um Rei que não estava interessado em atrair as atenções para si, mas queria em tudo que o Pai fosse conhecido e glorificado por todos.

Humildade é uma virtude que a cada dia parece mais distante das pessoas. Entretanto, quando nos lembramos de que servimos ao Rei dos reis, devemos ter em mente que não há como sermos maiores ou melhores do que Ele. Aliás, conforme Ele próprio afirma, o discípulo não está acima do seu Mestre, mas pode ser como o Mestre:

“O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como o seu mestre.” (Lucas 6:40)

A humildade é um dos pilares da vida cristã. A Bíblia nos diz que essa virtude é agradável a Deus, enquanto o orgulho é rejeitado pelo Altíssimo.

Quando nossos olhos estão voltados para Jesus não há como sermos tomados pelo orgulho, porque o exemplo de nosso Mestre estará sempre em nossa mente. Basta nos lembrarmos de que o Rei dos reis foi humilde desde o seu nascimento até a sua morte na cruz, e nos chamou a aprender com sua humildade.

Não há sentido em estarmos debaixo do poder de um Rei humilde, mas agirmos como servos arrogantes!

Nos tempos em que a monarquia era o regime mais praticado no mundo, o rei era a cabeça de seu povo, o líder maior, o exemplo. Ao longo da história de Israel e Judá vemos reis que foram bons e outros que foram maus, e a conduta do povo variava de acordo com a índole de quem o governava.

A Igreja é governada pelo Rei Jesus. Ele é a cabeça da Igreja. E como Ele é humilde, todos os seus súditos também devem aprender com Ele a humildade, porque nós não somos maiores do que nosso Rei.

 

     2)   Um Rei Dotado de autoridade divina

Jesus expulsou do templo os que o estavam profanando, que haviam transformado o templo em local de comércio, em fonte de lucro. Aqueles homens poderiam ter resistido, ter enfrentado Jesus e se recusado a sair, mas não fizeram isso.

Afinal, quem era aquele homem que se achava no direito de expulsar do templo aqueles “trabalhadores” que estavam ali ganhando o pão de cada dia? O que os impedia de revidarem e continuarem praticando seu comércio livremente?

Eles viram autoridade em Jesus. Autoridade que não vinha dos homens, mas de Deus. Autoridade que o povo reconhecia, e que incomodava os líderes religiosos, pois era um risco à autoridade deles, pois esta tinha natureza terrena.

Aqueles homens viram que Jesus chegara acompanhado de uma grande multidão, e que Ele não era qualquer um. Eles ouviram as vozes que clamavam “Hosana ao Filho de Davi”. E certamente eles já haviam visto as obras de Jesus, pois Ele já estivera em Jerusalém em outras ocasiões.

Mateus já havia registrado que o povo via autoridade em Jesus por causa da forma como Ele ensinava, bem diferente dos líderes religiosos:

“Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.” (Mateus 7:28,29)

A autoridade de Jesus era inquestionável, e vinha do fato de que Ele era o Filho de Deus, tinha um amor incompreensível pelo ser humano, ensinava as Escrituras e era o primeiro a agir da forma como falava, dando o exemplo a todos. Jesus impunha respeito sem usar força ou intimidação, mas apenas sendo coerente, amando as pessoas e agindo com fidelidade ao Pai.

Em Mateus 28.18 o próprio Jesus fala sobre a autoridade que recebeu do Pai:

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.” (Mateus 28:18 )

Até mesmo os demônios reconheciam a autoridade de Jesus e obedeciam prontamente à sua ordem, deixando livres pessoas que antes estavam possuídas, levando as pessoas a ficarem admiradas:

“Todos ficaram grandemente admirados e comentavam entre si, dizendo: Que palavra é esta, pois, com autoridade e poder, ordena aos espíritos imundos, e eles saem?” (Lucas 4:36)

Reconhecer a autoridade suprema de Jesus sobre nossa vida é essencial para que possamos compreender que já não pertencemos mais a nós mesmos, mas a Ele, que nos comprou com o seu sangue derramado a cruz.

E esse reconhecimento de Sua autoridade deve nos conduzir a uma atitude de respeito e obediência para com nosso Rei, e de cuidado para com a Sua Igreja.

Reconheça a autoridade de Jesus em sua vida e viva de forma a glorificar ao Rei Eterno e ao Pai Altíssimo, pois essa é a atitude que se espera dos súditos

 

     3)   Um Rei Acessível e Disposto a servir

Os reis não recebiam pessoas do povo a qualquer momento e para tratar de qualquer assunto. O acesso aos reis não era algo fácil de ser conseguido, assim como hoje não é tão simples conseguir uma audiência com o Presidente da República ou o Governador do Estado. Na verdade, é muito improvável que uma pessoa comum como eu e você consiga uma audiência com o líder máximo da nação ou o governador.

Jesus, porém, era um Rei muito diferente porque as pessoas tinham facilidade em chegar até Ele. Jesus era um Rei acessível, que não colocava obstáculos a quem o buscava. Não era necessário agendar dia e hora para falar com o Rei Jesus. E Ele não negava atendimento a ninguém, sempre se mostrando disposto a ouvir e ajudar as pessoas.

É interessante lembrar que Jesus é o Rei dos reis, está acima de qualquer autoridade constituída na terra. Ele é superior aos presidentes, reis, imperadores, governadores, ministros, mas enquanto estes são de difícil e, em alguns casos, de impossível acesso a pessoas comuns, Jesus se mostra acessível a todos que confiam nEle e que O buscam.

Portanto, o Rei a quem servimos é acessível e continua disposto a nos atender. Jesus ouve as nossas orações a qualquer hora do dia ou da noite, todos os dias da semana, sem necessidade de agendamento prévio. Para falar com Jesus não precisamos implorar a algum assessor ou pagar propina a algum agente corrupto, pelo contrário, nosso acesso a Ele é livre e só depende de fé e sinceridade.

Será que nós temos aproveitado esse livre acesso que temos ao Rei Jesus? Quanto nós valorizamos os momentos que passamos na presença do Rei Eterno?

E além de ser acessível, Jesus é o Rei que está disposto a servir.

Os reis eram servidos, tinham todos à sua disposição, eram venerados por sua posição. Jesus, ao contrário, disse que veio para servir às pessoas. Ali no templo vieram cegos e coxos e Jesus os curou. Jesus restaurou a saúde, a visão, a dignidade daquelas pessoas escravizadas por enfermidades e defeitos físicos.

Jesus se dedicou a servir, ensinando as pessoas sobre o Reino de Deus, curando, libertando, amando de forma incondicional.

O exemplo de nosso Rei deve ser seguido por nós, seus súditos. Servir é uma das mais dignas e difíceis missões que os discípulos de Jesus devem aprender com o Mestre. Difícil porque requer desapego, renúncia ao ego, amor prático e humildade.

 

     4)   Um Rei Apegado à Palavra de Deus

A entrada de Jesus em Jerusalém cumpria o que havia sido profetizado sobre o Messias. Quando confrontado pelos líderes religiosos, Jesus invocou as Escrituras. Em diversas passagens vemos Jesus citando as Escrituras para falar de si ou para rebater os que o confrontavam, inclusive quando o diabo o tentou no deserto.

Logo no início, quando Jesus diz aos discípulos para irem buscar um jumentinho, é esclarecido que cocm isto se cumpria a profecia dada por Zacarias, que assim dizia:

“Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta.” (Zacarias 9:9)

Jesus se preocupou em fazer tudo conforme havia sido escrito na Palavra de Deus.

No texto, quando os sacerdotes e escribas questionaram Jesus sobre o fato de que as crianças clamavam “Hosana ao Filho de Davi”, o Rei assim respondeu:

“Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor?” (Mateus 21:16)

Aqui Jesus está citando o Salmo 8, e por meio das Escrituras está transmitindo aos líderes que o interpelavam a mensagem de sua divindade, porque nesse trecho o Salmo 8 está se referindo a Deus.

Certamente aqueles líderes religiosos ficaram ainda mais furiosos diante da resposta de Jesus, e mais à frente eles acabaram tramando a sua morte.

Todo o ministério de Jesus na terra foi baseado nas Escrituras. Em nenhum momento Jesus se afastou das Escrituras Sagradas, pelo contrário, Ele mostrou como as Escrituram falavam a seu respeito e como Ele era o cumprimento de tudo quanto havia sido profetizado a respeito ao Messias, o Rei de Israel.

Com isso o Rei Jesus nos ensina que a principal arma a ser utilizada para refutar os ataques dos adversários e, principalmente, do diabo, é a Palavra de Deus, que deve embasar nossa fé, nossa conduta, nossa esperança.

A Palavra de Deus é o guia do servo de Jesus. Da mesma forma que Jesus se apegou às Escrituras e as cumpriu, Ele requer que nós também, como seus discípulos, sigamos o seu exemplo e tenhamos na Palavra de Deus nossa regra de fé e prática.

A Palavra de Deus nos dá ensino, encorajamento, testemunho para edificar nossa fé, advertências para não nos desviarmos do caminho de Deus, confrontação de nossos pecados. A Palavra nos mostra quem realmente somos e, quando somos sinceros e humildes, ela nos ensina o que fazer para mudar o que está errado em nós.

Nas Escrituras encontramos o testemunho sobre o Rei Jesus. Nas Escrituras encontramos o remédio de Deus para o pecado humano, o caminho para a redenção e a vida eterna.

Assim, valorizemos a Palavra de Deus assim como nosso Rei Jesus a valorizou, e vivamos por ela assim como Ele viveu.

 

CONCLUSÃO

Jesus é o Rei Supremo, entretanto, se dermos sequência à leitura do Evangelho Segundo Mateus, veremos que, embora a multidão O tenha reconhecido como Rei, não compreendeu que o seu reinado não seria político, mas, sim, espiritual.

Aquela mesma multidão que acompanhou Jesus na entrada de Jerusalém, e que via nEle o Messias prometido, pouco tempo depois gritava “crucifica-o”, porque houve a decepção de ver que Jesus não era um revolucionário que iria tomar o poder de Roma e libertar Israel do Império Romano.

Eles acharam que aquela entrada de Jesus em Jerusalém representava o início de uma nova era política, onde os romanos seriam derrotados e Israel veria sua restauração como nação. Eles não entenderam que Jesus vinha libertar Israel e os gentios do pecado e lhes assegurar um lugar no Reino Eterno que estava por vir.

A percepção errada da multidão não impediu a concretização dos planos de Deus, pois Jesus se deu em sacrifício, morreu na cruz, mas ressuscitou e nos assegurou a redenção e a vida eterna, sendo Ele o Rei eterno ao qual servimos.

O Reino de Jesus não é deste mundo, como Ele próprio disse a Pilatos:

“Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.” (João 18:36)

Nós, que recebemos a Jesus como nosso Senhor, Rei e Salvador, devemos cultivar a consciência de que o Rei a quem servimos não morreu para nos dar privilégios neste mundo, mas para nos assegurar um lugar em seu Reino Celestial eternamente.

Entretanto, enquanto estamos aqui, devemos nos lembrar de que somos cidadãos desse Reino Eterno, e embaixadores de Cristo na terra, servindo-O com amor, dedicação e fidelidade, de maneira que o Rei seja exaltado e honrado por meio de nosso testemunho.

José Vicente

terça-feira, 3 de maio de 2022

VIVENDO PARA SERVIR

 


Mateus 20.29-34

O texto que lemos apresenta a história de dois cegos que receberam de Jesus o milagre da cura, após insistirem em clamar por Ele apesar da grande multidão que o cercava.

Trata-se de uma passagem bem conhecida da Bíblia, e que se encontra narrada também no Evangelho escrito por Marcos, no capítulo 10:46-52, e em Lucas 18.35-43, mas ali os evangelistas se concentraram apenas em um dos cegos, de nome Bartimeu, talvez por ser o que mais tivesse se destacado no episódio.

Trata-se de uma passagem rica em ensinamentos, que mostra mais um momento em que Jesus, após ministrar um ensino aos seus ouvintes, passou à prática do que havia ensinado, de maneira que as pessoas pudessem ter uma melhor compreensão e percebessem que a fé deve vir acompanhada de atos que a confirmem.

No texto podemos encontrar três personagens que, por meio de sua atuação, nos transmitem ensinamentos que devem nos acompanhar em nosso dia a dia como cristãos.

 

      1)  A MULTIDÃO

O texto registra que uma multidão acompanhava Jesus quando ele saiu de Jericó. Os Evangelhos sempre relatam que Jesus era seguido por multidões quando se deslocava pelas cidades, pelas aldeias, pelos campos, havendo poucos momentos em que ele não se via cercado de centenas ou até milhares de pessoas.

Essa multidão ouvia os ensinos de Jesus, experimentava o seu poder ao receber curas, libertações, e até mesmo alimento, como no caso da multiplicação de pães e peixes. E como sempre, a multidão era formada por diversos tipos de pessoas. Havia os que estavam interessados sinceramente em ouvir os ensinos de Jesus sobre o Reino de Deus. Mas também havia os que apenas buscavam o beneficio imediato que poderiam obter pela intervenção sobrenatural de Jesus.

Certamente nessa multidão havia muitos que, embora estivessem seguindo Jesus e testemunhando seus grandes feitos, não assimilavam seus ensinamentos, pois suas mentes estavam engessadas pela religiosidade dos ritos judaicos, pelos pensamentos moldados à cultura da sociedade em que viviam, ou por qualquer outro motivo.

E isto fica claro quando o texto nos diz que a multidão repreendia os cegos que clamavam a Jesus, ordenando que ficassem calados (v. 31).

Por que a multidão se incomodou com os cegos chamando por Jesus? Por que a multidão os repreendia para que se calassem? Por que as pessoas daquela multidão não se dispuseram a conduzir os cegos até Jesus? Onde estava a compaixão daquelas pessoas?

Talvez simplesmente porque aquelas pessoas não tivessem realmente compreendido e assimilado ainda o que Jesus vinha ensinando. Eles seguiam Jesus, ouviam seus ensinos, mas isso não penetrava em seus corações e não mudava suas mentes.

Pouco antes, no versículo 28, Jesus disse que não tinha vindo para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos. E ele assim falou porque a mãe de João e Tiago havia pedido a Jesus que seus dois filhos se sentassem ao lado dele no seu Reino, um à sua direita e outro, à esquerda, gerando discussão entre os discípulos.

Então Jesus afirmou que quem quisesse ser o primeiro deveria ser servo dos outros, e complementou explicando que ele próprio viera para servir, e não para ser servido.

Se a multidão tivesse entendido a mensagem, certamente não teria repreendido os cegos, pelo contrário, as pessoas iriam se dispor a conduzi-los até Jesus, cumprindo o papel de servir ao próximo. Mas a reação das pessoas foi de mandar os cegos se calarem, bem ao contrário do que Jesus vinha ensinando.

A conduta daquele povo que ali estava passa a impressão de que as pessoas estavam agindo de forma egoísta, querendo Jesus apenas para elas e se considerando aptas a escolher quem poderia se aproximar de Jesus.

Talvez eles achassem que Jesus, por ser um mestre sábio e poderoso em obras, não deveria perder tempo com dois cegos que o importunavam. Talvez suas mentes estivessem muito cheias de religiosidade, mas suas vidas se mostravam vazias da prática do amor de Deus.

A multidão representa todos nós que seguimos a Jesus, que vemos a realização de obras transformadoras, mas não nos dispomos a servir como pontes para que outras pessoas cheguem até o Mestre.

Nós, que conhecemos a Jesus e aos seus ensinamentos, não raras vezes nos assemelhamos àquela multidão, querendo usufruir das bênçãos de Jesus de forma egoísta, sem compartilhar com nosso próximo o conhecimento sobre Cristo, a prática do amor e da compaixão, e em vez de conduzir pessoas a Cristo, acabamos por afastá-las.

Quantas vezes cedemos à tentação de escolher com quem vamos compartilhar o testemunho sobre a Graça de Jesus que se manifestou em nossas vidas, deixando de lado aqueles que, de certa forma, não consideramos que mereçam ouvir o Evangelho e ter um encontro com Cristo?

Quantas pessoas que necessitam ter um encontro com Jesus permanecem na ignorância porque não queremos compartilhar o “nosso” Jesus com elas! Porque não estamos dispostos a pegarmos em suas mãos e conduzi-las ao Mestre!

Precisamos ter cuidado para não agirmos como aquela multidão, que em vez de demonstrar amor e compaixão pelos necessitados, mandava que se calassem e lhes negava a oportunidade de terem suas vidas transformadas pelo encontro com Cristo.

Fomos chamados para servir, imitando nosso Senhor Jesus, de forma que por nosso intermédio muitos possam conhecer o Mestre como nós O conhecemos.

 

      2)    OS CEGOS

Outros dois personagens que vemos no texto são os dois cegos que estavam à beira do caminho (v. 30). Esses homens estavam ali mendigando, pois naquele tempo a sua deficiência não lhes permitia o exercício de algum ofício, e não havia benefícios da previdência social ou Sistema Único de Saúde para auxiliá-los, de maneira que a opção que lhes restava era contar com a compaixão das pessoas por meio de esmolas.

Eles estavam sentados à beira do caminho, pois era um lugar onde certamente passariam muitas pessoas ao longo do dia, o que aumentava suas chances de receberem alguma coisa dos transeuntes.

Mas o texto revela uma coisa muito importante sobre os dois cegos: eles eram judeus, não eram gentios! Ou seja, eles eram parte do povo de Deus, estavam inseridos na aliança que Deus fez com Israel.

Compreendemos isso quando observamos a forma como chamaram por Jesus, que revela que tinham conhecimento quanto às profecias a respeito do Messias, pois utilizaram um título messiânico: “Senhor, Filho de Davi”.

A expressão Filho de Davi é uma referência à promessa dada por Deus por intermédio dos profetas, de que o Redentor de Israel, o Messias, seria da descendência do rei Davi, conforme vemos em Jeremias:

“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra.” (Jeremias 23:5)

Portanto, os cegos eram conhecedores das profecias. Eles conheciam a Lei de Deus e as profecias que davam esperança aos israelitas.

Além disto, o texto permite concluir que aqueles homens já tinham ouvido falar de Jesus. Provavelmente já haviam chegado aos seus ouvidos os relatos sobre as curas, as libertações, os ensinamentos de Jesus. E isso os levou a crerem que Jesus era o Messias.

Movidos por essa convicção, eles clamavam a Jesus porque acreditavam que Ele tinha poder para curá-los da cegueira. Sem ter conhecido Jesus pessoalmente, mas apenas pelo testemunho que havia chegado aos seus ouvidos, eles manifestaram o desejo de ter um encontro com Jesus, na plena confiança de que isso transformaria suas vidas para sempre. Eles não se contentaram em conhecer Jesus pelas experiências dos outros, mas queriam eles próprios ter a sua experiência pessoal com o Mestre.

Entretanto, eles esbarraram na falta de boa vontade daqueles que já se encontravam seguindo Jesus. A multidão ordenava que se calassem, e mesmo assim eles clamavam com voz ainda mais alta, até que foram ouvidos por Jesus, que os chamou para perto de si e os curou, permitindo que passassem a enxergar.

Esses cegos representam muitos que, embora já tenham ouvido falar sobre Jesus, já leram o que a Bíblia ensina sobre Ele e creem que Ele é o Filho de Deus, ainda não tiveram uma experiência pessoal com o Mestre, um encontro transformador que possa lhes abrir os olhos espirituais para compreenderem com maior clareza as verdades bíblicas.

Representam pessoas que talvez congreguem em igrejas locais, participam dos cultos e demais atividades, mas pode ser que tenham um conhecimento de Jesus baseado nas experiências dos outros, e não na sua própria experiência.

Talvez eles representem também aquelas pessoas que estão passando por situações de grande aflição, que necessitam da ajuda de Jesus e se colocam em oração, esperando que o Mestre ouça o clamor e venha prestar o socorro, e infelizmente não contam com o apoio de outros nessa luta.

O fato é que esses dois cegos nos ensinam que é necessário manter a fé, ainda que as circunstâncias ao nosso redor sejam desfavoráveis, e ainda que pareça impossível encontrar uma saída.

Eles acreditavam que Jesus poderia curá-los e nem mesmo a oposição da multidão abalou a sua fé. Eles continuaram crendo e a sua fé foi o combustível que os levou a continuar buscando por Jesus.

Os problemas, as dificuldades, as turbulências da vida não devem abalar nossa fé, pelo contrário, devem nos conduzir a buscar ao Senhor com mais intensidade. A atitude da multidão não abalou a fé dos dois cegos, mas eles continuaram convictos de que Jesus podia transformar suas vidas.

A reação correta diante das adversidades não é deixar de crer, mas é crer com ainda maior firmeza, sabendo que nosso Senhor é poderoso para fazer o impossível.

Os dois cegos também nos ensinam que é essencial perseverar na oração. O texto diz que quando a multidão tentou calar os cegos eles passaram a clamar ainda mais, conforme versículo 31.

Diante do grande ruído, das repreensões recebidas e da multidão que tentava abafar suas vozes, os cegos não desanimaram, mas continuaram a clamar por Jesus, crendo que seriam ouvidos, como de fato foram.

Nem sempre nossas orações são respondidas de forma imediata e da maneira como esperamos. Todavia, a perseverança na oração é uma atitude que o próprio Jesus incentivava, e seus apóstolos, seguindo o mesmo ensinamento do Mestre, também reafirmaram em suas lições aos cristãos, como Paulo ao escrever aos Romanos:

“Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração.” (Romanos 12:12)

Os dois cegos foram perseverantes em seu clamor e sua fé foi recompensada com a cura de sua cegueira. Quem espera no Senhor não é desamparado e não fica sem resposta. Por isso, sejamos perseverantes na oração.

 

       3)    JESUS CRISTO

O terceiro e mais importante personagem dessa passagem é Jesus Cristo.

Jesus ministrava lições por meio de suas palavras e também por suas atitudes. Pouco antes Ele havia ensinado que os seus discípulos devem servir, assim como Ele próprio veio para servir. Agora, ele mostra de forma prática o que havia ensinado em palavras, servindo a duas pessoas que os outros provavelmente consideravam indignas da presença do Mestre.

Jesus manda que os dois mendigos cegos se aproximem e estabelece um diálogo com eles, perguntando o que queriam que lhes fizesse. E após ouvir deles que desejavam enxergar, o Mestre se encheu de compaixão e os curou, e imediatamente eles passaram a segui-lo.

Jesus ensinou, com isto, que Ele não faz acepção de pessoas, mas está disposto a servir a quem clamar pelo seu nome, não importando a condição social ou financeira. Diante de uma multidão que queria excluir os dois cegos e impedir que chegassem até Jesus, o Mestre os acolheu. Ele serviu duas pessoas miseráveis que não tinham como oferecer nada em troca, senão a gratidão e a disposição de seguir o Senhor.

Portanto, devemos ter essa consciência, de que Jesus não nos despreza por sermos meros mortais pecadores, carregados de problemas, traumas e doenças físicas ou espirituais.

Se nos aproximarmos de Jesus com fé, como fizeram os dois cegos, certamente Ele não nos rejeitará, pois Ele mesmo afirmou isso:

“Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.” (João 6:37)

 

Jesus também nos ensina que seus ouvidos estão sensíveis para ouvir nosso clamor, e que mesmo em meio a todo o ruído ao nosso redor, mesmo com outras vozes se levantando, Ele consegue nos ouvir e se volta para acudir ao que recorre a Ele com fé.

A multidão era grande e certamente o ruído era intenso. Eram muitas pessoas falando ao mesmo tempo, de maneira que se tornava muito difícil, quase impossível, diferenciar as vozes dos dois cegos clamando por Jesus. Suas vozes eram abafadas pelo alvoroço da multidão. Talvez houvesse pessoas junto de Jesus conversando com Ele, de maneira que realmente seria improvável que Ele conseguisse ouvir os clamores de dois mendigos que estavam à beira do caminho e nem tinham condições de acompanhar a multidão e ir ao encontro de Jesus sem que alguém os ajudasse.

Mas mesmo assim Jesus os ouviu e parou para conversar com eles.

Sim, Jesus ouve nossa voz! Não importa o que esteja acontecendo ao redor, Ele ouve. Mas não é pelo volume da nossa voz, e sim pela fé, pois esta é que toca o coração de Jesus, assim como aconteceu com os dois cegos.

Portanto, creiamos nessa verdade: ainda que não tenhamos força para clamar em alta voz, devido ao enfraquecimento causado pela dor e o sofrimento, Jesus consegue ouvir a nossa voz, e está pronto para vir em nosso socorro com muito amor.

 

CONCLUSÃO

Diante do que o texto bíblico nos ensina, entendemos que é tempo de reafirmarmos nossa fé em Jesus por meio de uma vida prática de amor e serviço ao próximo, atuando como pontes entre as pessoas e Jesus, e jamais nos tornando empecilhos ao relacionamento das pessoas com Cristo.

Também cumpre lembrar que nossa fé em Jesus não é em vão, e que devemos perseverar na oração, buscando a presença de Cristo continuamente, pois com Sua Presença vem, consequentemente, tudo o que é necessário para vivermos de modo a glorificar a Deus.

E assim como fizeram os dois cegos, é essencial que demonstremos gratidão ao nosso Senhor Jesus, seguindo-o com o coração cheio de amor, alegria e sinceridade.

Há muitas pessoas que precisam se achegar a Jesus, como os dois cegos de Jericó, mas lhes falta uma ponte, alguém que as ajude, e a Igreja de Cristo tem essa função, de servir às pessoas apresentando-lhes Jesus e dando-lhes suporte para que possam caminhar com o Mestre.

Que Deus nos capacite a cumprirmos nossa missão de forma digna.

José Vicente