terça-feira, 26 de novembro de 2019

Imitadores de Cristo I - Humildade



Texto base: João 13.12-17

Quando lemos a Bíblia constatamos que um dos objetivos de Deus ao nos escolher e chamar é o de que sejamos cada dia mais parecidos com Jesus Cristo. Em Romanos 8.29 vemos que os chamados por Deus são predestinados a serem conformes à imagem de Jesus:

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Romanos 8:29)

O próprio Jesus afirmou que os seus discípulos deveriam procurar imitá-lo, conforme vemos em Mateus 10.24-25:

“Não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor. Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?” Mateus 10:24,25

E João, em sua primeira carta, assim disse:

“Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou.” (1João 2.5-6)

Paulo nos exorta a sermos imitadores de Cristo, assim como ele próprio era (ICor 11.1).

Concluímos, portanto, que se realmente somos discípulos de Jesus, imitar o Mestre é algo que se espera de nós, e hoje, pelo que vemos na realidade em que estamos inseridos, percebemos que o mundo necessita ainda mais de imitadores de Cristo para que haja alguma transformação.

Uma vez que cabe a nós imitarmos o Mestre Jesus, vamos destacar uma das principais virtudes demonstradas por Ele e que, na verdade, se constitui em uma das colunas da vida cristã: a humildade.

Com efeito, a humildade é um requisito essencial para quem deseja ter uma vida coerente com os ensinamentos de Jesus e efetivamente quer ser um agente de transformação neste mundo, levando outras pessoas a conhecerem mais sobre Jesus e o Reino de Deus.

Em toda a Bíblia vamos encontrar exortações para que cultivemos a humildade, pois ela é agradável a Deus, cabendo-nos evitar a soberba, que além de demonstrar falta de sabedoria ainda está sujeita a severa repreensão da parte de Deus.

“Em vindo a soberba, sobrevém a desonra, mas com os humildes está a sabedoria.” (Pv. 11.2)
“A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra.” (Pv. 29.23)
“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.” (Pv. 16.18)
“Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (Tiago 4.6)

A humildade é essencial para que reconheçamos nossos erros, nossos pecados, e peçamos perdão a Deus. O soberbo não consegue olhar para si mesmo e admitir que possa ter errado ou que necessite de perdão.

O soberbo tende a ser autosuficiente, confiando muito em si mesmo, nas suas capacidades ou posses materiais, enquanto o de coração humilde consegue se colocar na dependência de Deus, pois não faz uma ideia errada de sua pessoa.

O soberbo não aceita repreensão, justamente por não admitir que possa errar. Ele acha que sempre está certo e os outros é que estão errados. Com isto, ele demonstra falta de sabedoria, enquanto o humilde não apenas aceita a repreensão como é edificado por ela, buscando mudar aquilo que for necessário.

O soberbo acredita que sua religiosidade é suficiente para torná-lo aceitável diante de Deus, a exemplo do fariseu da parábola contada por Jesus, que orava de si para si mesmo e falava de suas virtudes, que, na sua ótica, o tornavam superior e mais santo, enquanto o publicano, com humildade, reconhecia sua condição de pecador necessitado da graça de Deus. Jesus disse que “todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado” (Lucas 18.9-14).

Certamente, uma pessoa soberba não é uma boa companhia, e sua presença acaba deixando o ambiente bastante pesado, pois seu semblante reflete seu orgulho.

No texto base vemos que Jesus nos dá um claro exemplo de humildade, além de nos exortar a fazer o mesmo. Jesus estava ceando com seus discípulos, e em dado momento pegou uma bacia e uma toalha e passou a lavar os pés de todos eles, como se fosse um serviçal.

Cumpre lembrar que estamos falando do Filho de Deus, que tem todo o poder e para quem nada é impossível. Aquele que demonstrou ter domínio sobre os elementos deste mundo e do mundo espiritual.

Olhando para Jesus, podemos destacar pelo menos três formas de exercitar a humildade e sermos aperfeiçoados no amor.

      1)      Servir ao próximo
Jesus Cristo, ao lavar os pés de seus discípulos, estava fazendo algo que era uma incumbência de escravos. Era costume naquela sociedade que os servos mais inferiores de uma casa (escravos) realizassem a lavagem dos pés dos hóspedes. Mas Jesus, que obviamente era superior a qualquer pessoa ali presente, não teve nenhum problema em agir como um servo.

Aliás, durante todo o seu ministério Jesus se dedicou a servir às pessoas. Ele mesmo disse:

“Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mateus 20.26-28)

Nosso Mestre procurou servir às pessoas de diversas formas. Ele as ouvia, ensinava, curava, libertava, alimentava física e espiritualmente, e muitas foram as oportunidades em que abriu mão de descansar para poder atender a pessoas necessitadas.

Ao entregar sua vida na cruz Jesus estava nos servindo, pois esse sacrifício tornou possível o nosso acesso à vida eterna, concedendo-nos remissão dos pecados e salvação. A sua ressurreição selou nossa salvação. E mesmo após ter voltado para junto do Pai, Jesus continua nos servindo, pois Ele nos dá vida, saúde, proteção, ouve nossas orações, intercede por nós junto ao Pai.

O exemplo de Jesus deve ser seguido por seus discípulos, que somos nós, todos aqueles que professamos crer em Cristo como nosso Senhor e Salvador.

Servir ao próximo é a melhor forma de servir a Deus, porque é o exercício do amor desinteressado, que não espera nada em troca. Sim, nós devemos fazer o bem a todos, ajudar os necessitados, socorrer os enfermos, auxiliar quem está fraco.

Lavar os pés uns dos outros é servir uns aos outros.

Um genuíno discípulo de Cristo está sempre disposto a servir, e não fica esperando que os outros o sirvam. Ele serve ao próximo no trabalho, na escola, nas atividades sociais, na igreja, na família, onde estiver.

Uma pessoa que não tem humildade dificilmente se animará a servir alguém, pelo contrário, sempre esperará ser servida, olhando para os demais como seus servos. O soberbo não raras vezes se julga mais importante do que realmente é, e com isto acredita que todos devem servi-lo, porque, no seu entender, o menor sempre há de servir ao maior.

Mas o pensamento do cristão deve seguir por outra linha: se Jesus, que é Filho do Deus Altíssimo, que tem o poder sobre a vida e a morte, serviu e ainda continua servindo, por que razão nós, que somos meros humanos, criados por Deus, haveremos de nos recursar a servir o nosso próximo?

Jesus disse o seguinte: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou.” (João 13.15-16)

Está muito claro, na fala de Jesus, que Ele é o Mestre, e que não estamos acima dEle. Se Ele, sendo superior, serviu ao próximo, cabe a nós imitá-lo.

      2)      Portar-se como igual aos demais
Na passagem lida Jesus deixou claro que Ele tinha plena consciência de quem era. Ele assim disse aos discípulos: “Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou.” (João 13.13).

Jesus não rejeitava sua condição de Mestre e Senhor, todavia, o fato de ser superior a qualquer ser humano não o impediu de se portar com humildade, jamais tentando demonstrar superioridade em relação às demais pessoas, mas colocando-se na mesma condição delas, como se fosse alguém que estava no mesmo nível.

Jesus prosseguiu dizendo: “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.” (João 13.14). Ou seja, Aquele que é o Senhor e Mestre, embora estivesse muito acima de qualquer ser humano, colocou-se no mesmo nível de todos, nunca olhando as pessoas com superioridade, mas dirigindo-lhes um olhar de amor e dispondo-se a servi-las.

Nós, que não somos divinos como Jesus, não temos o poder que Ele tem, também não temos nenhuma razão para nos considerarmos superiores a quem quer se seja.

Não importa nossa formação, nossa condição socioeconômica, nossos títulos ou qualquer elemento que este mundo considere importante, pois no final das contas somos iguais a todos os demais seres humanos. Todos nós somos criação de Deus, temos início e fim nesta terra, estamos sujeitos às mesmas mazelas e fraquezas.

É bastante interessante um provérbio italiano que, fazendo uso dos elementos do jogo de xadrez, assim diz: “No fim do jogo, o peão e o rei voltam para a mesma caixa”.

Quem conhece o xadrez, que é um jogo de tabuleiro onde o raciocínio é essencial, sabe que cada peça possui determinado valor, sendo o rei a peça mais valiosa, que deve ser protegida a todo custo. O jogo termina quando o rei é capturado pelo adversário. O peão, por sua vez, é a peça de menor valor, o soldado que vai à frente na batalha e geralmente morre primeiro. Mas, como diz o provérbio, quando o jogo termina, todas as peças são reunidas e guardadas na mesma caixa, ou seja, a superioridade do rei desaparece.

Isso representa bem a nossa condição nesta terra. Podemos crescer, prosperar, obter conhecimentos, ser pessoas de destaque na sociedade, todavia, quando chegarmos ao fim de nossa caminhada, não haverá distinção entre ricos e pobres, sábios e néscios, doutores e incultos, pois todos invariavelmente têm o mesmo fim: a morte.

Sim, a morte iguala todos os seres humanos. Morre o forte e morre o fraco. A diferença se verá após a morte, pois os que partirem com Cristo com Ele viverão, mas os que rejeitaram o Filho de Deus, também serão por Ele rejeitados.

Pensar na transitoriedade da vida é muito útil para nos darmos conta de que somos finitos e não temos motivos para nos julgarmos superiores a ninguém. Meditar na grandiosidade da criação de Deus também nos leva a ver o quanto somos minúsculos diante de um universo tão imensurável.

Portanto, se Jesus, nosso Rei, Mestre e Senhor, não se portou como alguém superior aos demais, também nós devemos ser vigilantes para que não venhamos a ser flagrados olhando as pessoas de cima para baixo, com olhar altivo, julgando-nos melhores do que os outros, porque definitivamente não somos melhores do que ninguém. O único que é melhor do que todos agiu como se fosse igual a todos – ou até mesmo inferior a todos -, de maneira que seus discípulos não podem agir de forma diferente.

      3)      Praticar os ensinos de Jesus (obedecer)
Após lavar os pés dos discípulos, Jesus passa a lhes explicar o sentido do que fizera, e complementa dizendo: “Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.” (João 13.17).

Jesus acabara de ministrar um ensinamento de extrema importância, e a exortação aos discípulos foi no sentido de que deveriam colocar em prática o ensino recebido, e assim seriam bem-aventurados.

Uma pessoa humilde é ensinável e procura praticar as coisas boas que aprende. Um arrogante, por sua vez, além de rejeitar o ensino não tem disposição para obedecer.

A Bíblia toda nos exorta à obediência. De Gênesis a Apocalipse encontramos ensinamentos para nós e a constante orientação de que façamos conforme o Senhor nos ensina. Em Deuteronômio 28 vamos encontrar as bênçãos decorrentes da obediência, e também as tristes consequências da desobediência.

Na condição de discípulos de Jesus, somos chamados a colocar em prática tudo o que com Ele aprendemos, e, no caso, o Mestre ensinou que devemos ser humildes e servir uns aos outros, contribuindo para o crescimento mútuo.

Um coração humilde acolhe esse ensino e o pratica. Mas se houver soberba no coração, certamente a lição será negligenciada.

Praticar os ensinos de Jesus é um exercício valioso para que possamos desenvolver em nós essa virtude que é uma das colunas da vida cristã: a humildade.

Quando praticamos aquilo que Jesus ensina nós mesmos somos trabalhados em nossa forma de pensar e de enxergar as coisas desta vida. Nossos valores são alterados, e coisas que antes eram muito importantes agora passam a ser dispensáveis, porque tomamos conhecimento de valores muito superiores, baseados no amor, na justiça, na misericórdia, em tudo que Jesus nos transmitiu e que está registrado nas Escrituras.

Obediência é sinal de humildade. Jesus disse o seguinte em outra ocasião: “Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.” (João 14.23-24)

Colocar em prática o que Jesus ensinou é uma demonstração de amor ao próprio Jesus.

Conclusão
Todo aquele que se declara cristão deve se tornar um imitador de Cristo. Certamente nosso mundo seria diferente se todos os cristãos buscassem imitar o Mestre. Mas não somos chamados a julgar os outros, e sim a nós mesmos.

Façamos, então, uma autoanálise para identificar se a fé que professamos tem nos feito pessoas melhores, tem levado transformação a outras pessoas, tem modificado os ambientes por onde transitamos.

Para que nos tornemos imitadores de Jesus, devemos observar suas virtudes e buscar, no poder do Espírito Santo, desenvolvê-las em nossa vida. E uma das virtudes mais importantes, sem a qual as demais praticamente não existirão, é a humildade.

Que o Espírito Santo nos transforme de maneira a quebrar qualquer resquício de orgulho, de arrogância que possa haver em nosso ser, fazendo-nos semelhantes a Jesus em sua humildade, com disposição para servir ao próximo, nunca nos colocando em condição de superioridade em relação a ninguém, e nos empenhando por praticar todos os ensinamentos de nosso Senhor Jesus.

José Vicente

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Encorajados a responder “Eis-me aqui, Senhor”



Texto base: Atos 9.10-19

Quando lemos a Bíblia, vemos que desde o início da criação Deus chamou pessoas para servirem aos Seus propósitos. Tanto homens como mulheres ouviram o chamado de Deus e responderam, sendo que muitos se dispuseram a fazer a vontade do Altíssimo, mas houve também os que vacilaram, os que tentaram fugir, os que se desviaram no meio do caminho.

Uma coisa que percebemos ao ler as histórias das pessoas fieis chamadas por Deus é que suas respostas foram: “Eis-me aqui, Senhor”. Isso aconteceu com Abraão quando Deus o chamou para pô-lo à prova (Gn 22.1), e também quando foi chamado no momento em que estava prestes a oferecer o filho em sacrifício e foi interrompido pelo Anjo do Senhor, que providenciou o carneiro para holocausto (Gn 22.11); Jacó, também, quando Deus falou com ele em visões (Gn 46.2); Moisés quando Deus o chamou da sarça ardente (Ex 3.4); Isaias, quando ouviu a voz de Deus que dizia: “a quem enviarei, e quem há de ir por nós?”, e respondeu “eis-me aqui, envia-me a mim.” (Is 6.8), etc.

E na porção da Palavra que lemos hoje vemos uma pessoa que não era tão conhecida como Abraão, Jacó, Moisés ou Isaias, mas que também respondeu “Eis-me aqui, Senhor”. Esse homem foi Ananias, um judeu temente a Deus e crente em Jesus que, em certa ocasião, teve uma visão na qual Jesus lhe ordenou que fosse até uma casa onde estava Saulo e impusesse as mãos sobre ele para que recuperasse a visão.

Com Ananias aprendemos algumas lições importantes sobre o que significa a expressão “Eis-me aqui, Senho” na vida dos servos de Jesus.

     1)    “Eis-me aqui, Senhor” é uma resposta que indica disposição para atender ao chamado de Jesus

Quando alguém chama nosso nome, podemos ter diversas reações:
    a) Não responder: embora tenhamos ouvido o chamado, ficamos em silêncio, esperando que a pessoa não insista. Indica que não queremos, ao menos naquele momento, dar atenção àquela pessoa. Podemos tê-la ouvido, mas fingimos que não ouvimos. Por exemplo, uma visita que surge em uma ocasião em que estamos muito ocupados e nos chama, mas ficamos quietos dentro de casa para que ela pense que não há ninguém.

     b) Responder com má vontade: ouvimos o chamado, mas respondemos de forma a demonstrar que aquele chamado nos incomodou, que não queremos deixar nossa atividade (ou inatividade) para atender a quem nos chamou. Respondemos algo como “o que foi?”, “o que você quer?”, “aahnn?”, etc. Nem saímos do lugar ou nos voltamos para olhar a pessoa que chamou.

    c) Responder com disposição, com prontidão: ouvimos o chamado e imediatamente respondemos de forma a dar entender que estamos à disposição para o que quem chamou precisa, prontos a servir. Resposta como “eis-me aqui”, “aqui estou”, “sim?”, “pois não?”, etc.

No texto que lemos, Ananias respondeu ao chamado de Jesus com prontidão: “Eis-me aqui, Senhor”. Sua resposta denota respeito para com quem chama e a intenção de se colocar à disposição para servir.

Como dito antes, também assim responderam muitos anos antes Abraão, Jacó, Moisés, Isaias e outros homens tementes a Deus.

A diferença é que esses homens ficaram muito conhecidos por suas histórias cheias de experiências com Deus, sendo patriarcas e profetas de grande relevância ao povo de Deus, enquanto Ananias era um judeu comum, cujo nome somente foi mencionado na Bíblia por causa da conversão de Saulo, mas era um homem de fé, temente a Deus e crente em Jesus.

Ananias não sabia, ainda, qual seria a missão que Jesus lhe confiaria, mas mesmo assim tinha em seu coração a disposição de servir ao Senhor, e por esta razão, ao ouvir o chamado, respondeu “eis-me aqui, Senhor”. Significa que ele sabia que, assim como o Mestre Jesus veio para servir e dar a sua vida (Mt 20.28), também ele, como discípulo de Jesus, deveria estar pronto para também servir, sendo um instrumento do Senhor para propagação do Evangelho.

Da mesma forma que Jesus chamou pessoas no passado, ainda hoje Ele continua a chamar pessoas para serem instrumentos do Seu Poder para proclamação do Evangelho ao mundo, para crescimento da Igreja, que é o Corpo de Cristo, e para glorificação de Deus. E assim como Ele chamou tanto homens que se tornaram muito conhecidos, como Abraão, Jacó, Moisés e Isaías, também chama pessoas praticamente desconhecidas, porque Ele não faz acepção de pessoas, e para Ele todos vivemos (“Por que dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!”- Rm 11.36)

Todos nós, que formamos a Igreja e somos discípulos de Cristo, somos chamados para servir a Jesus, à Sua Igreja e ao nosso próximo. A voz dEle ecoa em nossos corações e a resposta que Ele espera ouvir é a mesma que Ananias deu: “eis-me aqui, Senhor”.

É claro que ouvir a voz de Jesus como Ananias ouviu, em uma visão, não é algo corriqueiro, que aconteça com todas as pessoas de forma habitual, embora Cristo possa fazer isso caso seja Sua vontade. Mas Ele costuma usar outras formas de falar conosco: a Bíblia, o Espírito Santo falando aos nossos corações, pessoas como os líderes da Igreja, que chamam os irmãos a exercitarem seus dons em ministérios no Corpo ou de diversas outras formas.

Mas infelizmente muitos, ao ouvirem o chamado do Mestre, fingem que não ouviram ou não entenderam, ficam quietos, procuram se esconder, respondem com má vontade, deixam claro que não estão dispostos a sair de sua zona de conforto, têm medo de que Jesus ordene algo difícil de ser feito ou que exija renúncia de coisas que lhes são agradáveis.

Igreja de Jesus, estejamos com nossos ouvidos atentos à voz de nosso Mestre, e com o coração disposto a responder com prontidão ao Seu chamado, movidos pela fé que deve nortear nossa vida e nos dar a certeza de que servir a Jesus é a Missão mais importante de nossa vida.

     2)    “Eis-me aqui, Senhor” deve ser seguido de atos de obediência

Após ter respondido com prontidão ao Senhor Jesus, Ananias recebeu uma incumbência que o deixou muito surpreso: visitar ninguém menos do que Saulo, que perseguia os cristãos com autorização dos principais sacerdotes.

Era natural que Ananias se assustasse com a ordem, como de fato se assustou. Porém, a manifestação de Ananias não foi um questionamento da ordem de Jesus, pois ele estava apenas expondo ao Mestre o seu receio em visitar o perseguidor da Igreja, mas Jesus confirmou a ordem e lhe disse que havia escolhido Saulo para ser Seu instrumento perante gentios, reis e judeus. Então, sem questionar, Ananias simplesmente obedeceu à ordem, submetendo-se à autoridade de Jesus, pois sabia que não lhe competia questionar, mas apenas obedecer.

Irmãos, assim como Ananias foi chamado para abençoar a vida de Saulo e conduzi-lo ao conhecimento de Cristo, também nós somos chamados pelo Senhor para diversas finalidades. Somos chamados para exercitar nossos dons em prol do crescimento da Igreja; para proclamar o Evangelho por palavra e pelo exemplo de vida; para servir ao nosso próximo, ainda que ele seja uma pessoa problemática; para sermos bons pais e bons filhos; para fazermos a diferença como cidadãos honestos e trabalhadores; para interceder pelas autoridades em vez de criticá-las; para mostrar ao mundo que somos felizes por servimos ao Rei dos reis.

Somos chamados por Cristo para sustentar, por meio da oração e da contribuição, aqueles que atenderam ao chamado específico de pregar o evangelho em lugares distantes, correndo risco de morte, enfrentando dificuldades de toda sorte. Sim, há pessoas que ouviram o chamado e responderam: “eis-me aqui, Senhor”, e logo em seguida receberam a ordem de deixar a localidade em que vivia e partir para anunciar as Boas Novas longe de casa, e, pela fé, obedeceram e partiram para a missão que lhes foi confiada.

Irmãos, não raras vezes até respondemos prontamente quando Jesus nos chama, mas ao tomarmos conhecimento de qual é a missão que Ele está nos confiando, e das possíveis dificuldades que enfrentaremos, logo recuamos e deixamos de fazer o que nos foi ordenado.

Somos servos de Cristo, e devemos obedecer à Sua voz. Ainda que a missão que Ele nos confie apresente dificuldades, cumpre-nos caminhar por fé, com confiança nAquele que nos chamou, sabendo que Ele nos levará a ter êxito na obra que colocou em nossas mãos.

Obedecer ao chamado de Jesus implica em bênçãos para nós mesmos, para a Igreja e todos os que forem alcançados por nossas ações. Ananias obedeceu, e aquele homem que ele visitou se tornou o maior missionário da Igreja, proclamando o Evangelho entre gentios e judeus, falando de Jesus diante de autoridades políticas e religiosas, organizando igrejas em diversas localidades, instruindo com fidelidade os cristãos e deixando muitos ensinamentos por meio de suas cartas, que formam grande parte do Novo Testamento.

Saulo, também chamado Paulo (Atos 13.9), foi um dos instrumentos de Deus para que o Evangelho chegasse até nós, e em sua origem como servo de Cristo está a obediência de Ananias, que continua abençoando vidas até o dia de hoje e prosseguirá até a volta de Cristo, pois as cartas de Paulo continuam servindo para a transformação de vidas e o crescimento da Igreja.

Como aconteceu com Ananias, que teve o prazer de ver um perseguidor da Igreja se tornar um missionário consagrado a Cristo, também nós, ao obedecermos ao chamado de Jesus, receberemos bênçãos sobre nossas vidas e nossas famílias, e teremos a alegria de vermos que muitas pessoas estão sendo abençoadas por causa de nossa obediência, com vidas sendo transformadas, a Igreja sendo edificada, a cidade experimentando um novo tempo debaixo do agir de Deus, o país prosperando por causa da obediência do povo de Deus que aqui habita, e, principalmente, vidas rendidas ao Senhor Jesus Cristo e o Deus Pai sendo glorificado.

O chamado nem sempre é para coisas grandiosas, complexas, difíceis; diversas vezes é para atos simples, como uma intercessão por alguém ou alguma causa, uma visita, uma contribuição financeira para a obra do Reino, um ato de caridade em favor de necessitados, uma palavra de consolo a alguém que sofre, etc.

Nunca sabemos qual será o resultado, a abrangência daquilo que o Senhor nos manda fazer. Ananias talvez não imaginasse que uma visita seria o ponto para que o mundo todo fosse impactado pelo trabalho do homem que ele visitou, Saulo. Nossos atos, por mais simples que sejam, quando praticados em obediência ao chamado de Jesus podem ter implicações inimagináveis na vida de muitas pessoas.

Há um chamado especial de Cristo para todos os que formam a Sua Igreja, sem exceção: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra”  (Atos 1.8).

Em 21 de abril de 1855, Edward Kimball, obedecendo ao chamado de Jesus, exercitava seus dons ensinando na Escola Bíblica Dominical, e um de seus alunos entregou sua vida a Cristo naquela data. Esse aluno era Dwigth L. Moody, que veio a se tornar um dos maiores evangelistas que o mundo conheceu.

Para que pessoas conheçam a Cristo, é necessário que respondamos ao chamado do Senhor para sermos Suas testemunhas e obedeçamos, caminhando no poder do Espírito Santo e dando bom testemunho de nossa fé a todas as pessoas que encontrarmos no caminho.

Conclusão

Jesus está nos chamando para mudarmos a realidade de nossa família, de nossos vizinhos, de nossa cidade, de nosso país, de nosso mundo. Façamos como Ananias e respondamos: “eis-me aqui, Senhor”. E disponhamos nosso coração para obedecer ao nosso Mestre, porque cumprindo a Sua vontade veremos grandes coisas serem realizadas, pois fiel e poderoso é Aquele que nos chama.

Que o Espírito de Deus nos capacite a sermos testemunhas de Cristo nesse mundo que tanto necessita de amor, misericórdia e conversão ao Único que pode salvar, Jesus Cristo.

José Vicente
18.07.2019

domingo, 21 de julho de 2019

Restauração para a alma abatida


Textos base: Salmos 42 e 43

Antes de começarmos a falar sobre o abatimento da alma, é necessário termos ideia do que vem a ser o abatimento. O dicionário[1] apresenta os seguintes significados para a palavra:

Enfraquecimento físico ou moral; depressão, prostração. Perda ou redução da força física; enfraquecimento. Falta de vigor moral; entristecimento.

Percebe-se que o abatimento é uma situação que atinge tanto a esfera psicológica como física. Geralmente o estado de abatimento de uma pessoa é facilmente perceptível em seu semblante (tristeza aparente, olhar desanimado), em sua postura corporal (corpo encurvado, cabeça inclinada para baixo), em suas palavras (negatividade, ausência de esperança, reclamação) e em suas atitudes (falta de ânimo para sair ou para fazer qualquer coisa, abandono de planos, isolamento, etc.).


O abatimento vem em diversos níveis, mas a situação é mais extrema quando desemboca em uma depressão, com grande prostração, onde por vezes a pessoa chega a perder até mesmo a vontade de viver.

Nos Salmos 42 e 43, cuja leitura fizemos, podemos perceber que o seu autor também atravessava um momento de grande abatimento. Isto pode ser visto com clareza no Salmo 42, versículo 3, onde ele fala do seu choro constante; versículo 4, onde ele rememora um tempo em que tinha alegria, mostrando que naquele momento estava infeliz; versículos 5 e 11, onde de forma explícita ele, conversando consigo mesmo, pergunta por que sua alma está abatida; versículo 6, em que o salmista diz que sente a alma abatida; além de muitos outros versículos que evidenciam a situação de tristeza, abatimento, de dor na alma.

O abatimento não tem uma causa única, mas pode ser provocado por diversos fatores que nos trazem aflição, tristeza, desilusão. No texto lido podemos ver que o salmista fala em opressão de inimigos (v. 9-10, Salmo 42; v. 2, Salmo 43), em nação contenciosa, homem injusto e fraudulento (v. 1, Salmo 43), em sofrimentos que vêm como ondas de um mar bravio e passam sobre ele (v. 7, Salmo 42). Segundo consta, o autor seria um levita que se encontrava exilado em uma localidade de gentios, onde não tinha como ir ao templo adorar a Deus e sua fé era alvo de zombaria.

Ao longo de nossa vida, é bem provável que experimentemos alguns períodos de abatimento. Uns provarão níveis mais profundos de abatimento, enquanto outros passarão por suas formas mais leves, mas uma coisa é certa, todos nós estamos sujeitos a nos sentir abatidos em dados momentos de nossa existência.

E as causas são diversas: o peso de pecados não confessados; oposições; projetos frustrados; doenças; perdas; falsas acusações; críticas; solidão; etc.

Analisando os Salmos 42 e 43, podemos extrair algumas lições que nos auxiliarão nos momentos em que nos sentirmos abatidos.

   1)   Sentir abatimento não significa falta de fé, mas nossa fé deve ser aperfeiçoada nesse período difícil
Infelizmente existe um pensamento equivocado de que o crente não pode ter depressão, não pode passar por períodos de abatimento, que deve constantemente estar de bem com a vida, mesmo diante das maiores tribulações, deve caminhar sempre de forma altaneira. Há uma perigosa “teologia do super-crente”.

Isto, porém, não encontra amparo na Bíblia, pois ela, na verdade, revela a fragilidade humana, evidenciando o quanto necessitamos da graça de Deus para podermos superar as debilidades que possuímos.

Sentir-se abatido, deprimido, desencorajado, é algo que pode acontecer tanto com o crente como com o incrédulo. A diferença está na forma como cada qual lidará com a situação, mas o fato de um crente ver-se abatido não significa que ele não tenha fé.

Vemos nesses Salmos que o seu autor estava passando por enorme tristeza, sentindo-se extremamente abatido, todavia, há vários indicativos de sua fé no Altíssimo. Os versos 1 e 2 do Salmo 42, por exemplo, mostram o anseio do salmista pela presença de Deus. Os versos 5 e 11 revelam sua fé quando ele diz a sua alma para esperar em Deus, afirmando que Deus é o seu auxílio. Já no Salmo 43 podemos citar o verso 1, onde o autor está recorrendo a Deus para pleitear a sua causa. No verso 2 ele diz que Deus é sua fortaleza.

Podemos dizer, portanto, que o salmista era um homem de fé, assim como Jó, que em meio ao seu sofrimento sentiu-se muito abatido, mas manteve sua fé em Deus.
A Bíblia nos permite saber que ao longo dos anos muitas pessoas tementes a Deus foram acometidas de abatimento em variados níveis. Elias, por exemplo, após ser instrumento de demonstração do poder de Deus contra os falsos profetas que serviam ao rei Acabe e perante todo o povo de Israel, intimidou-se ao ser ameaçado por Jezabel e retirou-se para longe, não sentindo ânimo nem coragem de prosseguir em seu ministério profético. Ele só recobrou o ânimo após ser tratado por Deus (1Reis 1-18).

O abatimento que nos sobrevém não é uma demonstração de falta de fé, mas uma consequência da nossa condição de seres humanos, pois infelizmente ainda não atingimos a perfeição, que somente experimentaremos quando tivermos nosso corpo glorificado e estivermos na Nova Jerusalém.

Enquanto vivermos aqui, neste mundo, estamos sujeitos a enfermidades, tribulações, sofrimentos, situações diversas que podem, sim, trazer à nossa alma um profundo abatimento, uma sensação de que as portas estão fechadas para nós e ninguém está nos ouvindo.

Observe-se que o salmista estava tão abatido que chegou a pensar que Deus não o estava escutando e talvez o tivesse rejeitado. No verso 9 do Salmo 42 o salmista diz: “Digo a Deus, rocha minha: Por que te olvidaste de mim?”. Olvidar é esquecer. O salmista pergunta por que Deus se esquecera dele. E no verso 2 do Salmo 43, assim ele se expressa: “Pois tu és o Deus da minha fortaleza. Por que me rejeitas?”.

Deus não havia se esquecido do salmista nem o rejeitara, mas a situação por ele vivida era tão difícil, tão desesperadora, que em seu abatimento ele chegou a pensar que Deus já não mais olhava para ele.

Por certo muitos de nós já passamos por períodos de crise pessoal em que nos sentimos profundamente tristes, abatidos, desanimados, e provavelmente já chegamos a pensar, assim como o salmista, que Deus havia se esquecido de nós ou estava nos rejeitando.

Mas os questionamentos do salmista não significam uma falta ou perda da fé, e, sim, o seu profundo desejo de ser amparado por Aquele em que ele continua crendo, o Deus Todo Poderoso, mesma atitude que deve se fazer presente em nós quando passarmos pelo sombrio vale do abatimento.

A fé que uma vez foi implantada em nosso coração pelo próprio Deus continua ali presente, e é por meio dela que vamos superar as situações de abatimento da alma. É a nossa fé que vai fazer toda a diferença para que possamos sair da crise e louvar a Deus com alegria, exaltando-o por mais um maravilhoso livramento.

Jesus nos deixou a seguinte palavra de encorajamento: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (Jo 16.33)

Portanto, quando estivermos em situações de abatimento, sentindo-nos tristes e desanimados, lembremo-nos das promessas do nosso Mestre Jesus e nos apeguemos a elas com fé, pois assim recobraremos o ânimo para caminhar e vencer com Cristo.

O período difícil não deve ser um motivo para enfraquecermos na fé, mas, sim, um instrumento para fortalecimento dessa fé, pois nunca devemos nos esquecer de que nosso Deus é fiel e jamais vai nos desamparar.

Passar por períodos de abatimento não é falta de fé, mas nesses momentos devemos rogar ao Pai que fortaleça nossa fé, pois a fé é o elemento essencial para a cura e a restauração da alegria em Deus.

     2)   Em meio ao abatimento, devemos buscar a Deus com mais intensidade
O salmista encontrava-se imerso em um mar de sofrimento, e mais de uma vez ele disse que sua alma estava abatida. A alegria havia fugido de seu coração e ele chorava continuamente (v. 3, Salmo 42).

Entretanto, mesmo nesse cenário de dor e sofrimento, o salmista não fugiu da presença de Deus, ao contrário, ele intensificou sua busca pelo Altíssimo, manifestando intenso desejo de adorar a Deus.

Isto pode ser percebido quando lemos os versos 1 e 2, do Salmo 42, onde o salmista expressa o seu anelo por Deus. Ele compara o seu anseio pela presença do Altíssimo com a corça sedenta em busca de água, ou seja, como a água é essencial à sobrevivência da corça, também Deus é imprescindível à sobrevivência do salmista.

Assim, ele deseja estar perto de Deus, adorá-lo, entoar-lhe louvores, pois sabe que Deus é a fonte de todo o bem, e somente Deus tem o poder de mudar sua situação e restaurar sua vida para que volte a ter alegria.

Infelizmente, não raras vezes é possível encontrar irmãos que, ao passarem por crises que levam ao abatimento, acabam por se afastar de Deus. Como em alguns casos lhes faltam forças até para orar, vão deixando de lado seus ministérios, param de frequentar as reuniões e os cultos da igreja, começam a se isolar.

Mas não é bom que as coisas aconteçam dessa maneira. Nos momentos mais difíceis da nossa vida devemos buscar a presença de Deus com maior intensidade do que fazemos quando as coisas caminham bem. É nesses períodos de crise que a Bíblia deve se tornar o nosso principal ou, talvez, único livro de leitura diária, porque nela encontramos testemunhos de crentes que superaram tempos difíceis pela fé em Deus, somos consolados pelas promessas do Altíssimo, somos trabalhados pelo Espírito Santo para amadurecermos e voltarmos nossos olhos para o Autor e consumador da nossa fé, Jesus Cristo:

“Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” (Hebreus 12:2)

Quando buscamos a Deus nossa perspectiva é alterada. A forma como enxergamos aquilo que está nos abatendo se modifica. Começamos a compreender que conosco está Aquele que é maior do que tudo, que tem o universo em suas mãos, que não conhece o impossível, e nosso coração começa a recobrar o ânimo, a confiança, o vigor, caminhando passo a passo para fora da prisão que é o abatimento da alma.

O salmista disse que Deus era sua rocha (v. 9, Salmo 42) e sua fortaleza (v. 2, Salmo 43), ou seja, ele sabia que estando em Deus ele tinha estabilidade, segurança, proteção, e isso lhe concedia força para acreditar numa mudança daquela triste realidade.

Irmãos, quando mais perto de Deus estivermos, mais rápido conseguiremos superar os períodos de abatimento da alma. Por outro lado, se nos afastarmos dEle o tempo de tristeza pode se prolongar, porque talvez nos vejamos tentando lutar sozinhos, quando deveríamos segurar nas mãos de nosso Pai Celeste para fazer a travessia de forma mais segura e rápida.

    3)   Em meio ao abatimento, devemos renovar nossa esperança no Senhor
Uma das consequências do abatimento é a falta de perspectiva. Não se vê uma saída, parece que a situação não terá fim e seremos consumidos pelo sofrimento. Manter esse pensamento é o caminho para se aprofundar cada vez mais na condição de prostração.

O salmista, apesar de toda a angústia que sentia, ao buscar a presença de Deus alimentou seu coração com a esperança de que o Altíssimo pleitearia a sua causa e lhe traria restauração, enxergando dias melhores à frente. Ele sabia que, confiando em Deus, não seria deixado naquela situação para sempre, mas o Pai haveria de socorrê-lo e lhe devolver a alegria que havia se perdido.

A esperança do salmista está registrada em vários versículos. No Salmo 42, verso 5, após questionar sua alma sobre a causa de seu abatimento, ele diz: “Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.” Essa mesma afirmação é repetida no verso 11.

No Salmo 43 ele manifesta sua esperança nos versos 3 e 4: “3 Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem e me levem ao teu santo monte e aos teus tabernáculos. 4 Então, irei ao altar de Deus, de Deus, que é a minha grande alegria; ao som da harpa eu te louvarei, ó Deus, Deus meu.”

E no verso 5 do Salmo 43, novamente ele repete: “Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.”

Esse testemunho está registrado nas Escrituras para que também nós, ao passarmos por épocas tormentosas que nos provoquem abatimento, nos apeguemos à esperança de que nosso Deus está conosco, Ele não nos abandona e pode restaurar por completo a nossa alegria, levantando-nos do pó e nos colocando em lugares elevados, bem acima das tribulações, como está prometido na Sua Palavra:

“O Senhor sustenta a todos os que caem, e levanta a todos os abatidos.” (Salmo 145.14)

“O SENHOR abre os olhos aos cegos, o SENHOR levanta os abatidos, o SENHOR ama os justos.” (Salmo 146.8)

"O pobre e o necessitado buscam água, e não encontram! Suas línguas estão ressequidas de sede. Mas eu, o Senhor, lhes responderei; eu, o Deus de Israel, não os abandonarei.” (Isaias 41.17)

Aquele que não crê em Deus se desespera de forma extrema ao passar por crises e sofrimentos, pois seus olhos não veem saída nem solução, mas o que está firme no SENHOR alimenta seu coração com a esperança que vem da fé nas promessas do Altíssimo, e essa esperança permitirá que não desistamos, mas prossigamos rumo ao cumprimento dos propósitos que Deus tem em nossas vidas.

CONCLUSÃO
A alma abatida geralmente se sente cansada das lutas e dos desafios, e sobrecarregada diante de um mundo adoecido e que cada dia mais impõe pesos descomunais sobre as pessoas.  Nosso Senhor Jesus nos fez um convite que traz, em si, a promessa de refrigério:

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus 11.28-30)

Diante de tão maravilhoso convite, a melhor resposta que podemos dar é aceitá-lo e entregar a Jesus o que nos aflige, o que nos causa abatimento, a fim de que Ele nos alivie de nosso pesado fardo e, na Sua Presença, experimentemos tempo de descanso e alegria.

E tendo conhecimento de tão maravilhosa graça, que sejamos instrumentos para levar os abatidos à presença do Senhor Jesus, para que, assim como nós, que temos em Cristo nossa firme esperança, também outros provem desse infinito amor e sejam restaurados.


“Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo.” (Rm 15.13)

José Vicente
21.07.2019


[1] https://www.dicio.com.br/abatimento/