domingo, 13 de março de 2022

DISPOSIÇÃO DE VIVER PARA CRISTO

 


Mateus 16.24-28

Quando observamos a situação espiritual vivida por cristãos ocidentais em comparação com os que se encontram na Ásia e África, percebemos que a cultura ocidental acabou trazendo uma certa acomodação e um distanciamento quanto aos ensinos bíblicos.

Enquanto os cristãos asiáticos e africanos se veem constantemente em situações perigosas que desafiam a sua fé e os levam a exercitarem o que aprenderam de Jesus, em grande parte os cristãos ocidentais acabaram se deixando levar pelas sutilezas de um sistema que procura derrubar a fé por meios menos agressivos e mais envolventes, conduzindo sutilmente os cristãos a se ocuparem com outras coisas e a terem a ilusão de que a vida espiritual morna que levam é suficiente para agradar a Deus.

Assim, em vez de se empenharem em observar os ensinos da Palavra de Deus, dedicam seu tempo a diversas outras coisas que lhes roubam a atenção e a energia, e aos poucos vão sendo moldados ao formato do mundo, com suas mentes repletas de ideias relativistas e liberais, em um panorama onde o egocentrismo impera cada vez mais.

Com esse cenário, os cristãos ocidentais passam a se preocupar muito mais consigo mesmos do que com a Igreja de Cristo, tornando-se incapazes de fazer sacrifícios pelo bem do Corpo de Cristo, o que leva a um esfriamento espiritual destruidor e a comportamentos liberais e opostos à Palavra.

Entretanto, é necessário reavivar em nossa mente as Palavras ditas por Jesus que estão registradas em Mateus 16.24-28, porque elas nos chamam de volta ao centro da nossa fé, que é o próprio Jesus Cristo.

Jesus inicia afirmando que aquele que deseja ser seu discípulo deve negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e seguí-lO. São três atitudes que estão ligadas umas às outras, são interdependentes.

A primeira atitude, de negar-se a si mesmo, indica o caminho do Teocentrismo. Isto porque o mundo sempre teve como uma de suas filosofias preferidas o egocentrismo, ou seja, o ser humano como o centro de tudo. Uma pessoa egocêntrica pensa muito mais em si do que no próximo, e tem maior preocupação consigo mesma do que com a Igreja de Cristo.

Um cristão egocêntrico buscará a satisfação pessoal, e terá as suas próprias convicções como verdadeiros deuses, dos quais não deseja se desapegar. Para ele, é a igreja que deve servi-lo, e não ele à igreja.

O egocentrismo está intimamente ligado à soberba, e precisa ser quebrado, porque a Bíblia diz claramente que Deus resiste aos soberbos. E, nas palavras de Jesus, o remédio para isto é a negação de si mesmo.

Negar-se a si mesmo é reconhecer que o centro de tudo é Jesus, e que nós somos seus servos, recebemos dEle uma salvação que nem mesmo merecíamos, e não temos motivo para nos gabar de nada, pelo contrário, devemos ser gratos por Jesus ter nos amado como Ele amou e dado sua vida por nós.

Negar-se a si mesmo tem a ver com renúncia, e renúncia é algo que está bem fora de moda no mundo atual. Renunciar a convicções equivocadas, ao ego, ao desejo de sermos servidos, aos prazeres oferecidos pelo mundo que nos afastam de Jesus, à tentação de provarmos que somos melhores do que os outros, de que estamos certos e os outros estão errados.

Negar-se a si mesmo é enxergar o próximo como alguém que não está abaixo de nós, mas no mesmo nível de necessidade da graça de Deus, pois todos somos pecadores. É reconhecer que nós somos capazes de errar até mais do que o nosso próximo, e por isso não devemos condená-lo, mas amá-lo e perdoá-lo como gostaríamos que fosse feito conosco. É estar disposto a renunciar a muitas coisas que consideramos importantes, por amor a Jesus Cristo e ao Seu Reino.

Já o tomar a sua cruz não tem a ver com ter uma vida cheia de sofrimentos e doenças, ao contrário do que muitos pensam, mas é tomar sobre si a humilhação e a rejeição que Jesus teve que suportar e que Ele disse que seus discípulos também enfrentariam.

O mundo odeia Jesus e àqueles que O seguem. Portanto, ao professarmos nossa fé no Filho de Deus, devemos ter ciência de que o mundo nos odiará e nos rejeitará. Essa rejeição somente deixará de ocorrer se aceitarmos ter uma fé morna, que não causa impacto, pois é contaminada pela influência das filosofias mundanas, pelo relativismo e pelo liberalismo que vêm atacando a Igreja há tempos, avançando cada vez com maior velocidade e sutileza.

Seguir a Jesus está intimamente ligado com o negar-se a si mesmo e tomar a sua cruz, porque importa em caminhar nos passos de Jesus, buscando imitá-lo perante este mundo incrédulo.

Os Evangelhos nos retratam um pouco do quanto Jesus sofreu rejeição por parte do mundo, aí incluídos os religiosos da época, de forma que Ele acabou sendo morto porque seus ensinamentos colocavam em risco o poder e os privilégios daqueles que se habituaram a controlar as pessoas e receber toda a glória.

Seguir a Jesus exige capacidade de renúncia e coragem para enfrentar as oposições que fatalmente se levantarão. Convém lembrar do que Jesus disse e que está registrado em João 15.20:

“Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.” (João 15:20)

Quando leio a passagem do Evangelho escrito por Mateus, que embasa esta reflexão, vem à minha memória as narrativas que vejo com frequência na página de internet da “Portas Abertas” (www.portasabertas.org.br), trazendo notícias dos cristãos que são perseguidos ao redor do mundo, principalmente na Ásia e na África, e pagam caro por sua fé em Jesus.

Vejo na vida daqueles irmãos a experiência prática do que Jesus falou aos seus discípulos quanto a negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-lo.

A notícia mais frequente que leio diz respeito a pessoas geralmente ligadas ao islamismo que, em dado momento, devido à ação de missionários ou ao testemunho de outros cristãos, acabam entregando sua vida a Jesus e, com isto, passam a experimentar uma reviravolta tremenda em sua existência.

Essas pessoas aprendem na prática o significado de renunciar a coisas que consideram importantes por amor a Cristo. E geralmente a primeira renúncia que se veem obrigadas a fazer diz respeito à família. Não porque odeiem os familiares, mas porque pais, irmãos e outros membros da família passam a tratá-los como infiéis, dirigindo contra eles ofensas, violência física e até mesmo ameaças de morte.

Então, diante do cenário que se estabelece, de total aversão por parte dos entes queridos, os cristãos acabam tendo que renunciar à convivência com seus familiares, mudando-se para outra casa na mesma localidade ou, em alguns casos, até mesmo para outras localidades.

Esses nossos irmãos mostram-se capazes de renunciar a prazeres, a posições sociais, à segurança, ao ego, por amor de Cristo. Passam por situações humilhantes, são desprezados, perseguidos, ofendidos, agredidos e até podem ser mortos, mas se mantêm fiéis a Jesus e fazem o possível para seguir o seu exemplo, amando as pessoas e buscando viver não para si mesmos, mas para a glória de Deus.

Disposição semelhante era vista nos primeiros cristãos, no início da Igreja de Cristo, quando os apóstolos anunciavam o Evangelho debaixo de intensa perseguição, e os discípulos de Jesus viviam de forma a impactar a sociedade, renunciando ao egoísmo, sujeitando-se à rejeição e imitando o Mestre Jesus.

No versículo 25 Jesus fala sobre tentar salvar a vida e perdê-la. Aqui podemos encontrar dois sentidos. O primeiro diz respeito ao aspecto literal das palavras do Mestre. Ele fala sobre tentar salvar a própria vida, fugindo das perseguições mediante uma fé morna e que não produz impacto, mas representa uma fé fingida de alguém que deseja ficar bem com o mundo, e que acabará experimentando a morte eterna, que é a separação de Deus. E por outro lado, fala daqueles que são capazes de dar sua própria vida pelo Evangelho, pois lhes está assegurada a vida eterna.

Muitos são os cristãos que deram sua vida pelo Evangelho, e foram mortos por homens impiedosos, sem jamais renunciar a fé em Jesus, pois aguardavam com confiança a nova vida prometida na eternidade com Cristo.

O outro sentido se refere a se apegar à velha vida, aquela que tínhamos antes de conhecermos Jesus, onde não precisávamos renunciar a nada, poderíamos ser o centro das atenções e viver de forma narcisista, sem nos preocuparmos em sermos rejeitados por causa de nossa fé e sem nos empenharmos em seguir os passos de Jesus.

Infelizmente há cristãos que tentam viver dessa forma. Proclamam-se servos de Jesus mas vivem como se não O conhecessem. Estes, conforme as palavras de Jesus, na verdade perdem a vida, porque jamais passaram pelo novo nascimento.

Por outro lado, os que perdem a vida por amor de Cristo vão achá-la. Estes são os que abandonam a velha vida e passam a viver com a consciência plena de que sua nova vida é Jesus Cristo, como afirmou o apóstolo Paulo:

“logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.” (Gálatas 2:20)

Trata-se das pessoas que passaram pelo novo nascimento e se tornaram novas criaturas, renunciando às paixões da carne para glorificar a Cristo por meio do seu viver. Essas pessoas têm a sua mente renovada pelo Espírito Santo e ao longo da caminhada vão lançando fora os medos, a inveja, o egoísmo, o egocentrismo, o espírito de discórdia, a mentira, a lascívia, etc., e vão se tornando cada vez mais parecidos com Jesus.

Estes perdem a vida velha, e ganham a vida eterna com Cristo.

Jesus complementa sua fala no versículo 26 dizendo “pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?” (Mateus 16:26).

Isto porque as pessoas que são incapazes de se negaram a si mesmas, tomar a sua cruz e seguir a Jesus, acabam ocupando suas vidas com questões meramente mundanas e transitórias, abraçando o mundo e o que ele oferece. Mas embora ganhem o mundo, perdem sua alma, porque a amizade do mundo é inimizade contra Deus, conforme nos adverte Tiago:

“Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” (Tiago 4:4)

Jesus deixa bem claro que o ser humano não tem nada a oferecer em troca de sua alma. Todas as riquezas que alguém consiga possuir neste mundo não valem nada aos olhos de Deus e de nada servem no momento do Julgamento.

No versículo 27 Jesus afirma que haverá um julgamento. Que Ele próprio virá com seus anjos e retribuirá a cada um conforme as suas obras. Aqui Jesus não está falando de obras como muitas pessoas entendem, no sentido de fazer caridade, dar esmolas, etc. As obras às quais Jesus se refere são justamente o negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir ao Mestre Jesus, renunciando ao mundo e seus prazeres para ganhar a Cristo.

Estes, conforme está prometido na Palavra, herdarão a vida eterna, porque confiaram em Cristo e se entregaram a Ele, procurando viver a fé em sua plenitude aqui na terra para que o nome de Deus fosse glorificado.

O julgamento acontecerá, isto é certo, e está assegurado que aqueles que preferiram abraçar o mundo e viver uma vida voltada para si mesmos vão perder a vida eterna com Deus, sendo lançados fora do Reino Celeste, onde experimentarão sofrimento que não terá fim.

 

CONCLUSÃO

É urgente buscarmos um avivamento da Igreja de Cristo nos dias atuais. A situação de mornidão em que a Igreja mergulhou é extremamente perigosa, e faz-se necessário que os cristãos voltem-se para a Palavra de Deus e a observem fielmente.

É tempo de abrirmos mão do comodismo que a modernidade nos oferece e vivermos um Evangelho autêntico e transformador, dando provas ao mundo por meio de vidas restauradas e comprometidas com os valores do Reino de Deus, ainda que isto implique em sermos rejeitados, caluniados e ofendidos.

Precisamos abrir mão do egocentrismo, renunciando a nós mesmos para que a Igreja de Cristo seja fortalecida e não venha a sucumbir diante das investidas de Satanás, que constantemente lança seus dardos inflamados contra os cristãos para tentar enfraquecê-los e abalar a Igreja.

É essencial que nos lembremos de que “a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.” (Efésios 6:12), e que, seguindo os passos de Jesus, consigamos rechaçar as investidas do Maligno contra o povo de Deus, mantendo-nos unidos em Cristo.

Voltemos ao Evangelho puro e simples de Jesus, resistindo às seduções deste mundo e de nossa carne, pois Jesus não espera de nós menos do que fé, fidelidade  e amor.

Que Jesus Cristo nos dê força para renunciarmos ao que tivermos que renunciar, para suportarmos a rejeição do mundo e para continuarmos a imitá-lo em tudo.

José Vicente

segunda-feira, 7 de março de 2022

TEMPO DE FAZER O BEM

 


Texto base: Marcos 3.1-10

Será que existe um tempo certo para fazermos o bem ao próximo? Será que nossa capacidade de fazer o bem deve ser limitada pelas circunstâncias e pelo pensamento das pessoas ao redor?

A passagem lida se encontra em um período em que Jesus teve alguns atritos com líderes religiosos judeus, pois Ele estava cumprindo a sua missão de abençoar as pessoas e lhes ensinar sobre o Reino de Deus, o que os líderes consideravam como uma ameaça à sua posição perante a comunidade israelita.

Em Marcos 2 vemos um episódio maravilhoso em que um paralítico é levado por quatro amigos até Jesus, e como não conseguiam entrar na casa, pois estava muito cheia, subiram ao telhado e foram descendo o paralítico até que chegasse a Jesus. O Mestre, então, admirado com a fé daqueles homens, disse ao paralítico que seus pecados estavam perdoados, e como os fariseus começaram a murmurar que somente Deus podia perdoar pecados, sendo aquilo uma blasfêmia, Jesus os repreendeu e promoveu a cura do paralítico diante de todos.

Na mesma seção, os fariseus criticam Jesus por comer junto com pecadores, quando Jesus responde que os doentes é que precisam de médicos, e que Ele viera para chamar pecadores, e não justos.

Depois os fariseus implicaram pelo fato de os discípulos de Jesus não jejuarem, e a seguir, criticaram os discípulos de Jesus por colherem espigas em dia de sábado.

Agora, Jesus estava na sinagoga, e lá também estavam os fariseus, observando-o atentamente para encontrar algo de que o pudessem acusar.

É interessante notar como pessoas religiosas, que conheciam a Lei de Deus, tinham a sua visão de tal modo deturpada que não conseguiam ver, nas obras de Jesus, a ação de Deus, mas enxergavam apenas motivos para fazerem oposição a Jesus.

Eles se sentiam ameaçados em sua posição de líderes religiosos, e temiam que as pessoas começassem a seguir os ensinamentos de Jesus, pois isto representaria o enfraquecimento daquela liderança corrompida.

Inicia-se, então, mais um momento de conflito espiritual que levaria aqueles homens a terem ainda mais ódio de Jesus, desejando matá-lo, em vez de glorificarem a Deus pelos milagres que estavam presenciando.

Da passagem podemos extrair inúmeras lições, mas vamos nos ater às seguintes:

 

 1)   Devemos fazer o bem em qualquer tempo (v. 4)

O dia de sábado era destinado ao descanso, e nenhum trabalho poderia ser realizado nesse dia. Deus concedeu o sábado para que o ser humano tivesse descanso e para que O adorasse, e com o passar do tempo os líderes religiosos judeus foram criando uma lista de atividades que não poderiam ser feitas em dia de sábado, de maneira que o aquilo que deveria ser uma bênção se tornou um fardo sobre os ombros das pessoas.

De forma geral, até mesmo o ato de curar alguém em dia de sábado era considerado como uma violação à Lei de Deus, levando esses líderes a se voltarem contra quem assim procedesse, com acusações de profanação do dia sagrado.

No texto que lemos, era um dia de sábado e Jesus estava na sinagoga, juntamente com muitos judeus, dentre eles líderes religiosos do grupo dos fariseus. E havia entre eles um homem que tinha uma mão atrofiada. Jesus chamou o homem para o centro e perguntou aos que se encontravam presentes se era lícito fazer o bem ou o mal no sábado, salvar a vida ou matar, mas ninguém lhe respondeu nada.

Então, Jesus curou o homem, e sua mão foi restaurada.

A pergunta que Jesus fez aos que estavam presentes era para que eles refletissem no fato de que o mal é feito em qualquer dia, em qualquer tempo, não conhecendo limites temporais. A morte também ocorre em qualquer momento, independentemente de ser sábado ou qualquer outro dia.

Desta forma, se tanto o mal como a morte poderiam se dar em qualquer dia, por que razão o bem não poderia ser feito em qualquer ocasião, mesmo que fosse em um sábado?

Jesus estava ensinando àqueles homens que não há tempo para fazer o bem, e que a observância meramente religiosa de um dia consagrado, como o sábado, além de não impedir que ocorresse o mal ou a morte, não poderia ser utilizado como pretexto para não fazer o bem a quem necessitasse.

O ensino de Jesus àquelas pessoas visava mostrar que Deus Pai está muito mais interessado em que se pratique o amor para com o próximo, atendendo às necessidades de quem sofre, do que com a observância legalista de regras religiosas, omitindo-se, porém, de socorrer a quem precisa de ajuda.

Todos nós que cremos em Jesus e nos tornamos seus discípulos temos o compromisso de imitá-lo em seus passos, e fazer o bem em qualquer tempo é um dos ensinos de Jesus a ser aprendido e observado por nós.

Não existe um tempo para fazermos o bem ao nosso próximo, pelo contrário, devemos sempre estar prontos e dispostos a demonstrar nosso amor e nossa solidariedade para com quem necessitar em todo o tempo.

Parece que os líderes religiosos judeus da época de Jesus teriam a capacidade de se omitir no socorro a alguém necessitado, caso isso ocorresse em sábado ou em ocasião em que eles estivessem prestando serviço religioso, mas a pergunta que Jesus lhes fez os deixou sem resposta, porque eles sabiam que o bem deve ser feito em todo o tempo.

Infelizmente os líderes religiosos judeus não haviam ainda compreendido a essência dos mandamentos de Deus, pois se limitavam a um culto mecânico a Deus, negligenciando o amor ao próximo.

Isto fica claro na passagem em que Jesus fala sobre o homem que foi assaltado e espancado, deixado à beira do caminho muito ferido, e tendo por ali passado um levita e um sacerdote, fizeram vistas grossas à sua situação, sendo ele socorrido justamente por um samaritano, que os judeus consideravam inferior e indigno (Lucas 10.30-37).

Na passagem de Lucas, é provável que tanto o sacerdote como o levita estivessem vindo do Templo, pois desciam de Jerusalém. Mas como sua religião era meramente formalista e legalista, eles não puseram em prática o amor que Deus requer que manifestemos para como o nosso próximo.

Paulo, apóstolo de Jesus, escreveu aos Tessalonicenses o seguinte:

“E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.” (2 Tessalonicenses 3:13)

Os discípulos de Jesus devem ser incansáveis na prática do bem, não esperando tempo certo, pois sempre é tempo de amar.

Fazer o bem é tão importante aos olhos de Deus, que Tiago foi levado a escrever a seguinte exortação:

“Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando.” (Tiago 4:17)

Jesus, que amava as pessoas de forma incondicional, sabia que não poderia se omitir de fazer o bem a uma pessoa necessitada. Esta não foi a primeira nem a última ocasião em que Jesus ajudou pessoas. Houve momento em que Jesus estava cansado, e mesmo assim abriu mão do repouso para poder aliviar o sofrimento de quem o procurava.

Infelizmente, nos dias atuais existem pessoas que só se dispõem a fazer o bem ao próximo quando isto lhes resulte em algum benefício. Assim, escolhem o momento de fazer o bem.

Todos os anos vemos pessoas se mobilizando para ajudar famílias carentes na época de Natal, incentivando outros a doarem brinquedos, roupas, alimentos e diversas coisas para que sejam distribuídas a crianças e muitas pessoas que passam falta de itens básicos.

O problema é que em boa parte das vezes essas ações acabam se limitando a esse período ou alguma outra época específica, como se apenas uma vez ao ano o próximo necessitasse de auxílio.

Nosso coração precisa ser tocado para demonstrar amor ao próximo por meio de atos de compaixão o tempo todo, porque Deus é bom conosco o tempo todo. Sempre que houver a necessidade por parte do nosso próximo, a disposição de fazer o bem, estando ao nosso alcance, deve nos conduzir à ação em seu favor, conforme está escrito em Provérbios:

“Quanto lhe for possível, não deixe de fazer o bem a quem dele precisa; não diga ao seu próximo: ‘Volte amanhã, e eu lhe darei algo’, se pode ajudá-lo hoje.” (Provérbios 3:27-28)

Assim, a nossa disposição deve ser a mesma de nosso Mestre Jesus, de fazer o bem em qualquer tempo, sem esperar situações especiais. Fazer o bem é demonstração prática do amor de Deus em nosso coração. É evidência de que realmente somos seguidores de Jesus e estamos buscando imitá-lo, aprendendo com seus ensinamentos e seu exemplo.

 

2)   A maldade alheia não pode impedir que façamos o bem (v.  2 e 6)

Naquele local, havia um homem necessitado, com a mão atrofiada, mas também ali se encontravam líderes religiosos judeus da seita dos fariseus, que já vinham criticando Jesus por suas ações e pelo modo de agir de seus discípulos.

Esses fariseus, conforme é narrado no versículo 2, “estavam observando a Jesus para ver se o curaria em dia de sábado, a fim de o acusarem”, ou seja, eles não estavam se importando com o problema do homem que tinha a mão atrofiada, antes pensavam apenas em uma forma de acusar Jesus de violar a Lei de Deus e desmoralizá-lo perante o povo que se aglomerava para segui-lo.

No coração desses homens não havia amor ao próximo, mas mera religiosidade legalista. E eles mantinham firme a convicção de que Jesus não poderia continuar a fazer os milagres que vinha fazendo, principalmente em dias de Sábado.

Eles eram estudiosos da Lei de Deus, mas não conseguiam compreender a essência do próprio Deus, que é o amor (1Jo 4.8, 16).

A religiosidade equivocada deles acabava por levá-los a serem maus e tentarem impedir que se fizesse o bem às pessoas. A visão que eles tinham de bem era muito deturpada. Eles eram egoístas e tinham sede de poder. Eram cheios de vaidade e de orgulho.

Jesus, porém, não se deixou intimidar pela maldade daqueles homens. Pelo contrário, Jesus os questionou quanto a fazer o bem ou o mal em dia de sábado. No Evangelho escrito por Mateus essa passagem é narrada no capítulo 12, e lá é dito que Jesus utilizou o exemplo da ovelha que cai em um buraco no sábado, e que certamente o dono faria um esforço para retirá-la. Então Jesus pergunta se um homem não vale mais do que uma ovelha.

Jesus escancara a hipocrisia daqueles líderes religiosos, pois certamente eles salvariam uma ovelha caída num buraco em dia de sábado, mas eram incapazes de fazer o bem ao seu semelhante nesse dia apenas por legalismo religioso.

E mesmo estando no meio de pessoas más, que queriam o seu mau, Jesus fez o bem ao homem da mão atrofiada, não deixando que a maldade alheia limitasse a sua demonstração de amor ao próximo.

Jesus não estava preocupado com o julgamento das pessoas, pois Ele sabia que, tendo a possibilidade de fazer o bem, não poderia se omitir apenas por causa da mesquinhez dos líderes religiosos que ali estavam.

Nós vivemos em um mundo onde o egoísmo é incentivado. Onde a dor do próximo é desprezada e quem procura fazer o bem muitas vezes é visto como tolo. Um mundo onde há época certa para fazer o bem, e onde olhares invejosos repousam sobre pessoas que procuram amar ao próximo como Jesus amou. Um mundo onde quem não faz o bem se levanta contra quem o faz e suscita oposição.

Infelizmente, muitas pessoas se omitem de fazer o bem ao próximo porque ficam preocupadas com o julgamento dos maus, dos egoístas, dos religiosos que não conhecem a Deus e que acham que tudo deve ser feito apenas da forma como eles acreditam ser a correta.

Necessitamos aprender com Jesus que a nossa disposição de fazer o bem não pode estar relacionada ao que os outros pensam, aos julgamentos de pessoas mesquinhas, mas deve ser um reflexo do amor de Cristo agindo em nós e por meio de nós para alcançar pessoas que precisam de auxílio e de amparo.

O povo de Deus deve ter a coragem de fazer o bem mesmo em meio a um mundo mau, porque não é vontade de Deus que nós tomemos a forma do mundo, mas que influenciemos esse mundo pela prática do amor e por uma forma de conduta diferente daquela que é ensinada pelo mundo.

Nem mesmo a maldade da pessoa necessitada pode nos impedir de lhe fazer o bem, pois assim é o ensino de Jesus:

“Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam.” (Lucas 6:27,28)

A maldade dos outros não pode nos impedir de fazer o bem, porque o nosso modelo de conduta não é o nosso próximo, mas o Mestre Jesus Cristo.

 

3)   Devemos fazer o bem a todos ( vv. 7-10)

O texto lido, em conjunto com os demais Evangelhos, mostra que Jesus não selecionava pessoas para fazer o bem, pelo contrário, Ele atendia prontamente a todos os que o procuravam, não importando se eram pessoas verdadeiramente interessadas no Reino de Deus ou apenas queriam o atendimento de suas necessidades imediatas.

Nos versículos 7 a 10 é dito que multidões de diversas localidades seguiam Jesus, sendo que no versículo 10 é narrado que “todos os que padeciam de qualquer enfermidade se arrojavam a ele para o tocar”.

Dentre essas pessoas obviamente havia aquelas que tinham a finalidade de conhecer o Messias e aprender mais sobre o Reino de Deus, mas certamente havia um número gigantesco de pessoas que apenas desejavam o benefício que poderia ser obtido com a cura de enfermidades ou atendimento de outras necessidades.

Com certeza nessas multidões havia pessoas de boa índole e pessoas más. Pessoas que observavam os mandamentos de Deus e outras que levavam uma vida torta. Havia pessoas de todo tipo e com variadas intenções.

Jesus, porém, fazia o bem a todos. Ele curava os enfermos, libertava os endemoninhados, consolava os aflitos, e não fazia acepção de pessoas. Jesus não selecionava aqueles a quem iria ajudar. Ele simplesmente agia e as abençoava.

Quando Jesus foi preso, um discípulo, que João afirmou ser Pedro (João 18.10), cortou a orelha do servo do sumo sacerdote, mas Jesus imediatamente restaurou-lhe a orelha (Lucas 22.50-51). Ou seja, Jesus retribuiu o mal que estava recebendo com o bem em favor de uma pessoa que servia a quem desejava a sua morte.

No mundo vigora o princípio de fazer o bem a quem nos faz o bem, ou a quem pode nos retribuir de alguma forma, ou, ainda, quando pudermos ter algum benefício com nossa ação.

O mundo ensina a sermos seletivos, escolhendo a dedo quem receberá a demonstração de nossa bondade. Assim, inimigos são os primeiros a serem colocados de fora dessa lista, porque merecem o pior. Pessoas com quem não simpatizamos também são excluídas da nossa lista de boas ações. Ficamos tentando sondar as intenções das pessoas e acabamos por não ajudá-las.

O ensino de Jesus vai na contramão do mundo. Todas as pessoas devem receber o bem de nossa parte, ainda que seja alguém que nos faz mal.

Observemos o que escreveu Paulo: “Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens;” (Romanos 12:17).

E Jesus foi muito claro ao dizer que devemos fazer o bem a todos porque Deus é bom para co todos:

“Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam. Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso. E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.” (Lucas 6:32-36)

Assim, qualquer pessoa que cruzar o nosso caminho pode ser beneficiada com nosso amor prático, da mesma forma que acontecia com quem se encontrava com Jesus, pois Ele não excluía pessoas no momento de lhes fazer o bem.

 

 CONCLUSÃO

A Palavra de Deus afirma claramente que nós somos chamados para seguir os passos de Jesus, amando como Ele amou, tendo a sua vida como exemplo de como deve se portar um filho de Deus neste mundo.

E Jesus, não apenas com suas palavras, mas principalmente por sua forma de agir, ensinou que todo o tempo é tempo de fazer o bem ao próximo, independentemente da maldade que nos rodeia, não fazendo acepção de pessoas.

A questão é que não conseguimos ser como Jesus com base em nossos esforços. Não é possível simplesmente dizermos: “a partir de hoje serei uma pessoa benigna e bondosa; vou fazer o bem ao meu próximo de maneira indistinta!”.

É o Espírito Santo de Deus que produz em nós a semelhança de Jesus Cristo. É o Espírito Santo que vai renovando nossa mente e retirando os velhos conceitos, velhos hábitos, as convicções erradas, e nos leva a um patamar em que cumprir a Palavra de Deus se torne algo natural (Gl. 5.22-23).

Que o Espírito Santo molde nosso caráter dia a dia e nos torne parecidos com o Mestre Jesus, de forma que as pessoas, ao terem contato conosco, possam provar um pouco da bondade de Deus por meio de nossos atos e nossas palavras de amor, consolo e edificação.

Toda honra e glória ao Deus Altíssimo, hoje e sempre. Amém.

José Vicente