terça-feira, 26 de novembro de 2019

Imitadores de Cristo I - Humildade



Texto base: João 13.12-17

Quando lemos a Bíblia constatamos que um dos objetivos de Deus ao nos escolher e chamar é o de que sejamos cada dia mais parecidos com Jesus Cristo. Em Romanos 8.29 vemos que os chamados por Deus são predestinados a serem conformes à imagem de Jesus:

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Romanos 8:29)

O próprio Jesus afirmou que os seus discípulos deveriam procurar imitá-lo, conforme vemos em Mateus 10.24-25:

“Não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor. Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?” Mateus 10:24,25

E João, em sua primeira carta, assim disse:

“Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou.” (1João 2.5-6)

Paulo nos exorta a sermos imitadores de Cristo, assim como ele próprio era (ICor 11.1).

Concluímos, portanto, que se realmente somos discípulos de Jesus, imitar o Mestre é algo que se espera de nós, e hoje, pelo que vemos na realidade em que estamos inseridos, percebemos que o mundo necessita ainda mais de imitadores de Cristo para que haja alguma transformação.

Uma vez que cabe a nós imitarmos o Mestre Jesus, vamos destacar uma das principais virtudes demonstradas por Ele e que, na verdade, se constitui em uma das colunas da vida cristã: a humildade.

Com efeito, a humildade é um requisito essencial para quem deseja ter uma vida coerente com os ensinamentos de Jesus e efetivamente quer ser um agente de transformação neste mundo, levando outras pessoas a conhecerem mais sobre Jesus e o Reino de Deus.

Em toda a Bíblia vamos encontrar exortações para que cultivemos a humildade, pois ela é agradável a Deus, cabendo-nos evitar a soberba, que além de demonstrar falta de sabedoria ainda está sujeita a severa repreensão da parte de Deus.

“Em vindo a soberba, sobrevém a desonra, mas com os humildes está a sabedoria.” (Pv. 11.2)
“A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra.” (Pv. 29.23)
“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.” (Pv. 16.18)
“Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (Tiago 4.6)

A humildade é essencial para que reconheçamos nossos erros, nossos pecados, e peçamos perdão a Deus. O soberbo não consegue olhar para si mesmo e admitir que possa ter errado ou que necessite de perdão.

O soberbo tende a ser autosuficiente, confiando muito em si mesmo, nas suas capacidades ou posses materiais, enquanto o de coração humilde consegue se colocar na dependência de Deus, pois não faz uma ideia errada de sua pessoa.

O soberbo não aceita repreensão, justamente por não admitir que possa errar. Ele acha que sempre está certo e os outros é que estão errados. Com isto, ele demonstra falta de sabedoria, enquanto o humilde não apenas aceita a repreensão como é edificado por ela, buscando mudar aquilo que for necessário.

O soberbo acredita que sua religiosidade é suficiente para torná-lo aceitável diante de Deus, a exemplo do fariseu da parábola contada por Jesus, que orava de si para si mesmo e falava de suas virtudes, que, na sua ótica, o tornavam superior e mais santo, enquanto o publicano, com humildade, reconhecia sua condição de pecador necessitado da graça de Deus. Jesus disse que “todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado” (Lucas 18.9-14).

Certamente, uma pessoa soberba não é uma boa companhia, e sua presença acaba deixando o ambiente bastante pesado, pois seu semblante reflete seu orgulho.

No texto base vemos que Jesus nos dá um claro exemplo de humildade, além de nos exortar a fazer o mesmo. Jesus estava ceando com seus discípulos, e em dado momento pegou uma bacia e uma toalha e passou a lavar os pés de todos eles, como se fosse um serviçal.

Cumpre lembrar que estamos falando do Filho de Deus, que tem todo o poder e para quem nada é impossível. Aquele que demonstrou ter domínio sobre os elementos deste mundo e do mundo espiritual.

Olhando para Jesus, podemos destacar pelo menos três formas de exercitar a humildade e sermos aperfeiçoados no amor.

      1)      Servir ao próximo
Jesus Cristo, ao lavar os pés de seus discípulos, estava fazendo algo que era uma incumbência de escravos. Era costume naquela sociedade que os servos mais inferiores de uma casa (escravos) realizassem a lavagem dos pés dos hóspedes. Mas Jesus, que obviamente era superior a qualquer pessoa ali presente, não teve nenhum problema em agir como um servo.

Aliás, durante todo o seu ministério Jesus se dedicou a servir às pessoas. Ele mesmo disse:

“Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mateus 20.26-28)

Nosso Mestre procurou servir às pessoas de diversas formas. Ele as ouvia, ensinava, curava, libertava, alimentava física e espiritualmente, e muitas foram as oportunidades em que abriu mão de descansar para poder atender a pessoas necessitadas.

Ao entregar sua vida na cruz Jesus estava nos servindo, pois esse sacrifício tornou possível o nosso acesso à vida eterna, concedendo-nos remissão dos pecados e salvação. A sua ressurreição selou nossa salvação. E mesmo após ter voltado para junto do Pai, Jesus continua nos servindo, pois Ele nos dá vida, saúde, proteção, ouve nossas orações, intercede por nós junto ao Pai.

O exemplo de Jesus deve ser seguido por seus discípulos, que somos nós, todos aqueles que professamos crer em Cristo como nosso Senhor e Salvador.

Servir ao próximo é a melhor forma de servir a Deus, porque é o exercício do amor desinteressado, que não espera nada em troca. Sim, nós devemos fazer o bem a todos, ajudar os necessitados, socorrer os enfermos, auxiliar quem está fraco.

Lavar os pés uns dos outros é servir uns aos outros.

Um genuíno discípulo de Cristo está sempre disposto a servir, e não fica esperando que os outros o sirvam. Ele serve ao próximo no trabalho, na escola, nas atividades sociais, na igreja, na família, onde estiver.

Uma pessoa que não tem humildade dificilmente se animará a servir alguém, pelo contrário, sempre esperará ser servida, olhando para os demais como seus servos. O soberbo não raras vezes se julga mais importante do que realmente é, e com isto acredita que todos devem servi-lo, porque, no seu entender, o menor sempre há de servir ao maior.

Mas o pensamento do cristão deve seguir por outra linha: se Jesus, que é Filho do Deus Altíssimo, que tem o poder sobre a vida e a morte, serviu e ainda continua servindo, por que razão nós, que somos meros humanos, criados por Deus, haveremos de nos recursar a servir o nosso próximo?

Jesus disse o seguinte: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou.” (João 13.15-16)

Está muito claro, na fala de Jesus, que Ele é o Mestre, e que não estamos acima dEle. Se Ele, sendo superior, serviu ao próximo, cabe a nós imitá-lo.

      2)      Portar-se como igual aos demais
Na passagem lida Jesus deixou claro que Ele tinha plena consciência de quem era. Ele assim disse aos discípulos: “Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou.” (João 13.13).

Jesus não rejeitava sua condição de Mestre e Senhor, todavia, o fato de ser superior a qualquer ser humano não o impediu de se portar com humildade, jamais tentando demonstrar superioridade em relação às demais pessoas, mas colocando-se na mesma condição delas, como se fosse alguém que estava no mesmo nível.

Jesus prosseguiu dizendo: “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.” (João 13.14). Ou seja, Aquele que é o Senhor e Mestre, embora estivesse muito acima de qualquer ser humano, colocou-se no mesmo nível de todos, nunca olhando as pessoas com superioridade, mas dirigindo-lhes um olhar de amor e dispondo-se a servi-las.

Nós, que não somos divinos como Jesus, não temos o poder que Ele tem, também não temos nenhuma razão para nos considerarmos superiores a quem quer se seja.

Não importa nossa formação, nossa condição socioeconômica, nossos títulos ou qualquer elemento que este mundo considere importante, pois no final das contas somos iguais a todos os demais seres humanos. Todos nós somos criação de Deus, temos início e fim nesta terra, estamos sujeitos às mesmas mazelas e fraquezas.

É bastante interessante um provérbio italiano que, fazendo uso dos elementos do jogo de xadrez, assim diz: “No fim do jogo, o peão e o rei voltam para a mesma caixa”.

Quem conhece o xadrez, que é um jogo de tabuleiro onde o raciocínio é essencial, sabe que cada peça possui determinado valor, sendo o rei a peça mais valiosa, que deve ser protegida a todo custo. O jogo termina quando o rei é capturado pelo adversário. O peão, por sua vez, é a peça de menor valor, o soldado que vai à frente na batalha e geralmente morre primeiro. Mas, como diz o provérbio, quando o jogo termina, todas as peças são reunidas e guardadas na mesma caixa, ou seja, a superioridade do rei desaparece.

Isso representa bem a nossa condição nesta terra. Podemos crescer, prosperar, obter conhecimentos, ser pessoas de destaque na sociedade, todavia, quando chegarmos ao fim de nossa caminhada, não haverá distinção entre ricos e pobres, sábios e néscios, doutores e incultos, pois todos invariavelmente têm o mesmo fim: a morte.

Sim, a morte iguala todos os seres humanos. Morre o forte e morre o fraco. A diferença se verá após a morte, pois os que partirem com Cristo com Ele viverão, mas os que rejeitaram o Filho de Deus, também serão por Ele rejeitados.

Pensar na transitoriedade da vida é muito útil para nos darmos conta de que somos finitos e não temos motivos para nos julgarmos superiores a ninguém. Meditar na grandiosidade da criação de Deus também nos leva a ver o quanto somos minúsculos diante de um universo tão imensurável.

Portanto, se Jesus, nosso Rei, Mestre e Senhor, não se portou como alguém superior aos demais, também nós devemos ser vigilantes para que não venhamos a ser flagrados olhando as pessoas de cima para baixo, com olhar altivo, julgando-nos melhores do que os outros, porque definitivamente não somos melhores do que ninguém. O único que é melhor do que todos agiu como se fosse igual a todos – ou até mesmo inferior a todos -, de maneira que seus discípulos não podem agir de forma diferente.

      3)      Praticar os ensinos de Jesus (obedecer)
Após lavar os pés dos discípulos, Jesus passa a lhes explicar o sentido do que fizera, e complementa dizendo: “Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.” (João 13.17).

Jesus acabara de ministrar um ensinamento de extrema importância, e a exortação aos discípulos foi no sentido de que deveriam colocar em prática o ensino recebido, e assim seriam bem-aventurados.

Uma pessoa humilde é ensinável e procura praticar as coisas boas que aprende. Um arrogante, por sua vez, além de rejeitar o ensino não tem disposição para obedecer.

A Bíblia toda nos exorta à obediência. De Gênesis a Apocalipse encontramos ensinamentos para nós e a constante orientação de que façamos conforme o Senhor nos ensina. Em Deuteronômio 28 vamos encontrar as bênçãos decorrentes da obediência, e também as tristes consequências da desobediência.

Na condição de discípulos de Jesus, somos chamados a colocar em prática tudo o que com Ele aprendemos, e, no caso, o Mestre ensinou que devemos ser humildes e servir uns aos outros, contribuindo para o crescimento mútuo.

Um coração humilde acolhe esse ensino e o pratica. Mas se houver soberba no coração, certamente a lição será negligenciada.

Praticar os ensinos de Jesus é um exercício valioso para que possamos desenvolver em nós essa virtude que é uma das colunas da vida cristã: a humildade.

Quando praticamos aquilo que Jesus ensina nós mesmos somos trabalhados em nossa forma de pensar e de enxergar as coisas desta vida. Nossos valores são alterados, e coisas que antes eram muito importantes agora passam a ser dispensáveis, porque tomamos conhecimento de valores muito superiores, baseados no amor, na justiça, na misericórdia, em tudo que Jesus nos transmitiu e que está registrado nas Escrituras.

Obediência é sinal de humildade. Jesus disse o seguinte em outra ocasião: “Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.” (João 14.23-24)

Colocar em prática o que Jesus ensinou é uma demonstração de amor ao próprio Jesus.

Conclusão
Todo aquele que se declara cristão deve se tornar um imitador de Cristo. Certamente nosso mundo seria diferente se todos os cristãos buscassem imitar o Mestre. Mas não somos chamados a julgar os outros, e sim a nós mesmos.

Façamos, então, uma autoanálise para identificar se a fé que professamos tem nos feito pessoas melhores, tem levado transformação a outras pessoas, tem modificado os ambientes por onde transitamos.

Para que nos tornemos imitadores de Jesus, devemos observar suas virtudes e buscar, no poder do Espírito Santo, desenvolvê-las em nossa vida. E uma das virtudes mais importantes, sem a qual as demais praticamente não existirão, é a humildade.

Que o Espírito Santo nos transforme de maneira a quebrar qualquer resquício de orgulho, de arrogância que possa haver em nosso ser, fazendo-nos semelhantes a Jesus em sua humildade, com disposição para servir ao próximo, nunca nos colocando em condição de superioridade em relação a ninguém, e nos empenhando por praticar todos os ensinamentos de nosso Senhor Jesus.

José Vicente