segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

RESULTADOS DE UMA EXPERIÊNCIA PESSOAL COM DEUS



Texto base: Jó 42.1-6

 

INTRODUÇÃO

Jó era uma ótima pessoa, um crente fiel que recebeu elogios do próprio Deus, conforme vemos em Jó 1.8, que assim nos narra:

“Perguntou ainda o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal.” (Jó 1:8 )

Portanto, aquele homem se destacava em meio a sua geração por sua integridade, por sem alguém que temia a Deus e procurava andar em Seus caminhos, dando um testemunho de fidelidade perante todos.

Apesar de todas essas qualidades, Jó ainda não havia passado por uma experiência mais profunda com Deus, de forma que o conhecimento que tinha era fruto do que havia aprendido de forma impessoal, conforme ele próprio reconhece em Jó 42.5: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem.”

A Bíblia na Nova Versão Internacional (NVI) traz esse texto da seguinte forma: “Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram.” (Jó 42:5, NVI)

Obviamente a fala de Jó não significa que ele, literalmente, viu a pessoa de Deus, porque a Bíblia nos mostra que nenhum ser humano pode ver a Deus. Jó estava dizendo que, antes, o conhecimento que ele tinha de Deus era impessoal, fruto do que ele ouvira, mas agora ele havia tido uma experiência pessoal com o Altíssimo.

Muitos de nós temos um relacionamento com Deus que se baseia no que aprendemos na Bíblia, no que ouvimos, mas às vezes falta algo mais profundo, uma experiência pessoal que mexa com nossa estrutura de forma mais intensa, provocando um abalo e transformação.

Um encontro mais profundo com Deus pode acontecer em situações críticas, difíceis, como as tribulações que sobrevieram a Jó, ou quando buscamos sinceramente esse relacionamento em nosso dia a dia, e provoca alguns resultados que vemos no texto em análise.

     1)    PROVOCA O RECONHECIMENTO DA SOBERANIA DE DEUS (v. 2)

Jó era um homem que, obviamente, sabia que Deus estava acima dos seres humanos, mas ele ainda não tinha ideia do quão grande e poderoso era realmente o Altíssimo, e de como era impossível alcançar o entendimento de Deus.

Durante o período em que passou por severas tribulações, Jó havia apresentado diversos questionamentos, muitas indagações com relação ao que vinha acontecendo com ele, não compreendendo os desígnios de Deus e procurando encontrar justificativas para tudo aquilo.

Todavia, naquele turbilhão em que a vida de Jó havia se transformado, surgiu o momento em que Deus passou a responder e repreender tanto a Jó quanto a seus amigos, e essa experiência fez com que Jó compreendesse e reconhecesse que Deus é soberano e está no controle de tudo.

Em alguns momentos, enquanto fazia suas indagações e seus lamentos, Jó chegou a pensar que talvez Deus não estivesse vendo o seu sofrimento, mas Deus deixou claro que nada escapa à sua visão, Ele é onisciente, onipresente e onipotente.

Jó também achou que Deus não estava sendo justo com ele ao permitir que tanto sofrimento se abatesse sobre sua vida.

Porém, Jó entendeu que ninguém está acima de Deus, e que Ele não é limitado por ninguém. Descobriu que, uma vez que Deus tenha estabelecido algum plano, nada nem ninguém pode frustrá-lo. Jó compreendeu que cada palavra dita pelo ser humano é do conhecimento de Deus, e que nada fica encoberto aos olhos do Altíssimo. Que por pior que pareça a situação, Deus permanece no controle, e tudo acontece com a Sua permissão e com algum propósito. Que Deus não deve nada ao ser humano, e que pela fé é necessário aceitar os desígnios do Altíssimo e esperar nEle.

O ser humano é naturalmente questionador, e quando sobrevêm situações muito difíceis, que trazem sofrimentos, costuma questionar o próprio Deus, achar que está havendo alguma injustiça, que não merece passar por aquilo, que talvez Deus não esteja vendo o que está acontecendo, etc.

Paulo, escrevendo aos Romanos, deixou claro que o ser humano não tem condições de questionar a Deus:

“Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? "Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim? ’ " (Rm 9:20, NVI)

Entretanto, o reconhecimento da soberania de Deus leva a deixar de lado os questionamentos, pois há a certeza de que Deus age em todas as circunstâncias e tem controle sobre tudo.

Paulo, apóstolo vocacionado por Jesus, passou por experiências bastante aflitivas, teve sofrimentos intensos, mas cada experiência dessas, em vez de afastá-lo de Deus e enfraquecer sua fé contribuiu para que ele crescesse e descansasse na soberania de Deus, visto que ele tinha a certeza de que nada foge ao controle do Altíssimo, e que em tudo Deus trabalho em prol de Seus filhos, conforme se vê em Romanos 8:28, que assim diz:

“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm 8:28, ARA)

“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.” (Rm 8:28, NVI)

Deus é soberano e não necessita de nosso conselho, pois não temos nada a ensinar ao Altíssimo, pelo contrário, temos muito a aprender.

 

      2)    LEVA AO ESVAZIAMENTO DE SI MESMO (v. 3)

Quando Jó questionava Deus por sua situação ele se considerava sabedor de algo. Achava que seu conhecimento era suficiente para tentar entender ou explicar os desígnios de Deus.

Quando, porém, Jó ouviu a voz de Deus, ele se deu conta de que não era nada diante do Altíssimo, e que não podia nutrir nenhum sentimento de orgulho. Jó reconheceu que seu conhecimento era nada, e que ele não teria condições de debater com Deus ou questioná-lo.

Jó reconheceu sua ignorância, sua pequenez, sua ousadia, e adotou uma postura humilde, esvaziando-se de si mesmo para dar a Deus a glória que lhe é devida.

Durante nossa caminhada cristã precisamos ser vigilantes para que não ocorra de nos tornarmos pretensiosos, arrogantes, achando que temos muito conhecimento, que somos muito importantes. Por vezes o conhecimento que achamos que temos nos faz sentir superiores aos demais. Isso também ocorre com relação ao exercício de cargos, funções, pelo nível intelectual, profissão, situação financeira, etc., e pode causar a ilusão de superioridade quanto às demais pessoas.

Todavia, a humildade é um dos pilares da vida cristã, e se não a cultivamos devemos começar a fazê-lo o quanto antes, pois não temos motivos para nos vangloriarmos e nos julgarmos mais importantes do que realmente somos.

Jesus faz uma chamada a seus discípulos para o cultivo da humildade quando diz:

“Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas.” (Mt 11:29, NVI)

O Mestre Jesus nos deixou o maior exemplo de esvaziamento de si mesmo, para que nós possamos imitá-lo, conforme Paulo escreve na Carta aos Filipenses:

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.” (Fp 2:5-8, ARA)

Jesus era igual ao Pai em sua divindade e poder, mas isso não fez com que Ele buscasse glória pessoal ou quisesse algum privilégio, pelo contrário, Ele se esvaziou e demonstrou humildade para nos mostrar que, se o Filho de Deus age com humildade, não há nenhuma razão para que nós, meros seres mortais, alimentemos uma visão em que damos a nós mesmos um valor superior ao que realmente temos.

Nosso país tem mais de duzentos milhões de habitantes. O que um indivíduo representa perto desse número? O planeta tem mais de sete bilhões de pessoas vivendo nele. O que sou eu diante de tão enorme quantidade de pessoas? Um pequeno pontinho em meio a uma multidão! A ciência diz que provavelmente existem dois trilhões de galáxias no universo, e que o número de estrelas é superior à quantidade de grãos de areia que há em nosso planeta. Olhando para nós, o que somos diante de tanta grandeza?

Agora, se o universo é tão gigantesco a ponto de nem se saber a sua extensão, que dizer dAquele que o criou? Quão grande e poderoso é o Criador? E quem somos nós perante o Criador?

Quando contemplamos a grandeza de Deus e de Sua criação, percebemos o quão pequenos somos e compreendemos que nosso conhecimento, perto de Deus, é absolutamente nada.

 

      3)    PROVOCA ARREPENDIMENTO (v. 6)

Quando Jó contemplou a Deus em meio à sua aflição e ouviu o que Deus lhe dizia, ele concluiu que era um pecador diante de um Deus Santo e Perfeito, o que o levou a se arrepender de ter tentado argumentar com o Altíssimo e de ter feito questionamentos.

As experiências que Deus nos permite ter com Ele, sejam por tribulações ou por nossa própria busca, devem nos levar ao arrependimento e ao quebrantamento, porque constatamos o quanto somos pecadores, cheios de defeitos, limitados em nossa capacidade de entendimento.

Arrependimento é algo pouco pregado hoje em dia, porque envolve o esvaziar-se de si mesmo, abrir mão de convicções contrárias à Palavra, reconhecer que não somos bons como pensamos nem temos qualquer qualidade que nos garanta algum privilégio diante de Deus em relação às outras pessoas.

O arrependimento é a declaração de que Deus está certo, de que Ele tem razão e nós estamos equivocados. É a declaração de que precisamos de Deus, pois sem Ele não temos condições de fazer absolutamente nada.

Arrependimento é o ato ao qual somos chamados pelo Evangelho e é essencial a quem deseja caminhar com Cristo. Esse era o cerne da pregação de João Batista:

“Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” (Mateus 3:1,2, ARA)

Pedro também, a exemplo dos demais apóstolos, pregou a mensagem do arrependimento:

“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados” (Atos 3:19, ARA)

E o próprio Jesus pregou o arrependimento:

“Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho.” (Marcos 1:14,15, ARA)

Portanto, o arrependimento é uma das marcas de quem realmente teve um encontro com Deus, uma experiência mais profunda e transformadora, por meio de Seu Filho Jesus Cristo.

 

CONCLUSÃO

Todo aquele que se declara cristão mas que ainda nutre em seu coração questionamentos sobre Deus e seus desígnios, dúvidas quanto ao poder de Deus e à sua soberania, sentimentos de soberba, arrogância, ou que não experimentou nem experimenta o arrependimento por suas obras que desagradam a Deus, provavelmente ainda não teve uma experiência real e profunda com o Altíssimo.

O encontro com Deus, por meio de Jesus Cristo, deve trazer transformações em nossa vida, em nossa mente, em nossa perspectiva, de maneira que não vamos nutrir quanto a nós mesmos uma visão equivocada, achando que somos deveras mais importantes do que outras pessoas, mas antes, perceberemos o quanto somos pequenos e carecedores da misericórdia de Deus.

Que o Altíssimo nos permita ter experiências muito mais profundas com Ele e se revele a nós por meio de Seu Filho, Jesus Cristo, de maneira que sejamos tocados no íntimo de nosso ser e nada seja mantido no lugar, mas que ocorra uma transformação completa em nós, para que sejamos verdadeiros imitadores de Cristo.

José Vicente

06.02.2021