domingo, 12 de novembro de 2017

APRENDENDO COM A DESOBEDIÊNCIA DE JONAS




Jonas 1.1-17

A história de Jonas é bastante conhecida, não apenas no meio cristão, mas mesmo entre os que não professam a fé cristã há quem saiba o que aconteceu ao profeta que foi engolido por um grande peixe por ter desobedecido a uma ordem do Altíssimo.

O problema é que apenas conhecer a história, sem compreendê-la e sem extrair ensinamentos para nossa vida, não resulta em benefícios. Paulo, apóstolo de Cristo, assim se referiu à finalidade das Escrituras: 

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2Tm 3.16)

Portanto, a introdução da história de Jonas na Bíblia foi permitida por Deus para que, por meio dessa narrativa, nós pudéssemos aprender mais sobre o Deus, sobre nós mesmos e sobre a forma como devemos servir ao Altíssimo.

Sabemos que Jonas recebeu uma ordem de Deus: ele deveria ir até a cidade de Nínive e clamar contra ela, visto que Deus haveria de destruí-la por causa de sua iniquidade. Todavia, Jonas partiu para outro lugar, tentando fugir da presença de Deus, e embarcou em um navio rumo à cidade de Társis, pensando que conseguiria se esconder do Altíssimo.

Jonas cometeu um ato de desobediência. Ele era um profeta do SENHOR e, como tal, é óbvio que deveria seguir à risca as ordens dadas por Deus. Entretanto, nesse caso específico, Jonas simplesmente não queria cumprir a determinação do Altíssimo, porque envolvia uma pregação que poderia levar ao arrependimento justamente o povo que era inimigo de Israel: os ninivitas.
A cidade de Nínive era a capital do império assírio. Seu povo era cruel e Israel já havia sofrido em suas mãos. Jonas não tinha o menor desejo de ver a misericórdia de Deus derramada sobre aquela povo, antes, ele queria que eles fossem destruídos.

Quando Deus ordenou que ele fosse pregar na cidade, sabia que isso poderia trazer arrependimento aos ninivitas e então a misericórdia de Deus seria manifestada sobre eles, e isso o incomodava muito. Ele considerava que eles não eram dignos da Graça de Deus, que deveria ser reservada apenas a Israel.

A postura desobediente de Jonas trouxe muitas repercussões, e com o que é narrado na Bíblia podemos extrair algumas lições importantes para nossas vidas.

     1)    Nossas atitudes repercutem na vida de outras pessoas (v. 4)
Quando Jonas embarcou no navio para Társis, certamente não pensou que a sua atitude poderia trazer alguma consequência para as pessoas que se encontravam naquela embarcação, e parece que ele até mesmo desconhecia a onipresença de Deus, pois considerou que poderia fugir da Sua presença indo para longe.

Subitamente, o mar se tornou revolto e uma forte tempestade ameaçava naufragar o navio. Todas as pessoas que ali estavam corriam risco de morrer, pois o texto bíblico diz que a embarcação estava a ponto de se despedaçar, e caso isso acontecesse, o afogamento daquelas pessoas seria inevitável, já que dificilmente conseguiriam nadar até terra firme em um mar tão tempestuoso como aquele.

No caso de Jonas, o pecado da desobediência acarretou grande risco às vidas de centenas de pessoas que não tinham nada a ver com o que ele havia feito, mas que poderiam ser atingidas pelas consequências danosas de sua rebeldia.

Igualmente, nossas atitudes são capazes de provocar consequências nas vidas das pessoas ao nosso redor, e por isto é necessário que sejamos prudentes e sábios em nosso viver, pois não somos apenas nós os atingidos por nossas ações ou omissões.

Nós vivemos em sociedade, estamos sempre nos relacionando com as pessoas, temos vínculos familiares, sociais, e constantemente precisamos tomar decisões, seja para praticarmos alguma ação ou para deixarmos de fazer algo.

O que decidimos pode impactar outras vidas. Por exemplo, quando um dos cônjuges cede à tentação e se permite a prática do adultério, esse pecado vai trazer consequências ao outro cônjuge, aos filhos, aos demais familiares, e poderá resultar em destruição daquela família, com sofrimento a todas as pessoas envolvidas.

Quando se trata de igreja, a situação não é diferente, pois a Bíblia nos ensina que a Igreja é o corpo de Cristo, e nós somos os membros desse corpo. As Escrituras são bastante claras ao ensinar que, se um membro do corpo está enfermo, todo o corpo sofre com ele.

“De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam.” (1Co 12.26)

Por vezes um ato pecaminoso que, em princípio, parece pequeno, traz consequências terríveis ao corpo. Uma fofoca é suficiente para prejudicar a unidade do corpo, gerando discórdias e divisões na igreja. Uma mentira pode destruir relacionamentos. Uma crítica pode abalar a fé de uma pessoa que não está firme.

E não são apenas as condutas comissivas que geram essa repercussão, mas também as omissões. Quando deixamos de fazer o que deveríamos também provocamos repercussões nas vidas das pessoas. Isso acontece, por exemplo, quando vemos um irmão cometendo um erro e simplesmente nos calamos, não fazendo nada para que ele possa mudar sua forma de agir. Essa nossa omissão traz danos ao próximo, porque Deus poderia nos utilizar como instrumentos para impedir o pecado na vida dele.

O cristão é chamado para ser bênção onde estiver, mas quando age em desobediência, pode se tornar um canal de maldição, pois o pecado vai produzir efeitos negativos na vida de quem o praticou, mas também vai afetar negativamente as pessoas ao redor. A rebeldia de Jonas quase custou um preço muito alto para as pessoas que estavam no navio, e que em nada haviam colaborado para que ele agisse daquela forma.

Assim, antes de tomarmos decisões quanto a fazer ou deixar de fazer algo, devemos pedir orientação de Deus para avaliar a repercussão que isso poderá ter também na vida das pessoas que nos rodeiam, lembrando que devemos ser canais de bênçãos.

     2)    É necessário despertar para a realidade (vv. 5-6)
Nota-se nos versículos 5 e 6 que, enquanto o navio era castigado e todos a bordo se desesperavam, Jonas estava no porão dormindo profundamente, alheio ao que acontecia.

O mestre do navio teve que acordá-lo e repreendê-lo para que ele visse a situação que estava deixando todos aflitos e temerosos da vida. O mundo estava desabando ao seu redor, mas Jonas parecia não ter notado o estrago que sua atitude havia causado.

Por vezes nossas atitudes estão causando enorme dano a outras pessoas, mas nós não estamos enxergando isso. É como se estivéssemos em um sono profundo, alheios ao que acontece.

Trazendo para nossa vida no corpo de Cristo, que é a Igreja, é comum ver irmãos agindo com negligência na obra do Senhor, deixando de usar os dons recebidos para edificação do Corpo, acomodados em seus lugares como meros ouvintes da Palavra, enquanto outros ficam sobrecarregados e a Igreja caminha a duras penas, não conseguindo ter o desenvolvimento que deveria.

Nessa situação, aqueles que estão sobrecarregados, tendo que fazer as funções que seriam daqueles que estão acomodados, podem acabar se cansando, além do que, outros são desestimulados e aos poucos vai se observando um esfriamento generalizado. E aqueles que estão sendo negligentes para com seus dons permanecem como se estivessem em profundo sono, não enxergam o que está acontecendo, não percebem o mal que estão causando. Às vezes até reparam na falta de ânimo geral, mas não veem que tal situação foi proporcionada por causa de sua conduta negligente.

Porém, isso não se restringe à vida na Igreja, pelo contrário, abrange todas as esferas de nossa vida. A família é um dos ambientes em que mais se veem consequências das atitudes das pessoas, bem como a falta de percepção dessa realidade.

Pais que cultivam hábitos de vida que não são saudáveis verão os filhos sofrendo com enfermidades com certa frequência, mas parecem estar em um sono que não lhes permite enxergar que foram seus hábitos que levaram a tal situação.

Cônjuges que não se respeitam e vivem discutindo parecem só ver os resultados de suas atitudes quando o navio do relacionamento já naufragou e a situação não tem volta. Pais que não disciplinam os filhos só abrem os olhos quando os filhos já estão perdidos, sendo que durante toda a vida viveram como se estivessem em um sono que não lhes permitisse enxergar o mal que estavam causando por não ensinarem os filhos no caminho correto.

Irmãos, é necessário despertar antes que o navio se despedace no mar bravio.

Na vida do cristão o Espírito Santo é o mestre do navio que vem nos despertar. Por vezes Ele usa outras pessoas para nos fazer abrir os olhos e enxergar o que está acontecendo antes que seja tarde.

Busquemos comunhão constante com o Espírito Santo, de maneira que estejamos sensíveis para ouvirmos sua voz nos chamando a atenção para as consequências de nossos atos.

      3)    É necessário assumir a responsabilidade (v. 12)
Depois de ser desperto de seu sono, Jonas foi apontado como a causa de tudo aquilo, e foi interrogado para que dissesse o que havia feito para que o seu Deus enviasse tamanho castigo.
Jonas sabia que Deus estava provocando aquela tempestade porque ele havia sido desobediente e tentara enganar o Altíssimo, e ele confessou isso perante os homens do navio, assumindo a responsabilidade pela situação calamitosa.

Eis uma atitude muito difícil para o ser humano: assumir a responsabilidade por seus atos.

Já no início da raça humana vemos essa dificuldade manifestada em Adão. Quando Deus veio ao jardim do Éden após o casal ter cometido o pecado da desobediência, Adão tentou fugir da responsabilidade jogando a culpa na mulher e em Deus:

“Então, disse o homem: a mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.” (Gn 3.12)

Adão não quis assumir a responsabilidade pela sua decisão de comer do fruto proibido, antes, afirmou que a mulher o havia convencido, e, para se desonerar ainda mais, disse que aquela mulher que o levara a pecar lhe fora dada por Deus, ou seja, o Criador, de certa forma, tinha culpa pelo ocorrido, pois se não tivesse feito a mulher nada daquilo teria acontecido.

A grande maioria dos seres humanos segue o mesmo caminho de Adão, de fuga da responsabilidade, todavia, esse padrão precisa ser mudado, pois cada pessoa deve assumir a responsabilidade por suas decisões e escolhas.

Jonas teve a humildade de assumir a responsabilidade. Ele disse aos homens do navio: “eu sei que, por minha causa, vos sobreveio esta grande tempestade” (v. 12).

Reconhecer nosso erro, assumir a responsabilidade pelas consequências de nossas escolhas e atitudes, é algo difícil, mas deve ser feito, porque não podemos transferir a ninguém a culpa por nossas falhas.

E um dos grandes problemas que vemos hoje é justamente a fuga da responsabilidade. Quase todos querem se fazer de vítimas das circunstâncias e encontrar culpados, mas não conseguem olhar para si e fazer uma autoanálise que leve à conclusão de que agiram para que a situação se desenhasse da forma como está apresentada.

Assim, na Igreja vemos os cristãos empurrando a responsabilidade pelo esfriamento sobre o pastor, os presbíteros, diáconos, enfim, sobre a liderança, em vez de cada pessoa assumir sua cota de responsabilidade pela situação em que está sua congregação. É mais fácil jogar a culpa na liderança do que assumir a postura negligente, de alguém que não participa dos trabalhos da congregação, que não dá ideias nem colabora para sua implementação, de crentes que não evangelizam nem contribuem com os que cumprem essa missão. É mais fácil criticar do que assumir sua parcela de responsabilidade.

Mas também em outras áreas da vida isso acontece. O marido considera mais fácil dizer que a esposa é fria, indiferente, descuidada, do que assumir que ele não colabora com as tarefas do lar, não faz sua parte no cuidado com os filhos, não age como um agregador, mas sim como um desestruturador do lar, desobedecendo ao que a Bíblia ordena quanto ao casamento.

Igualmente, é mais fácil a esposa jogar no marido a culpa pelo casamento que esfriou do que assumir que não se portou como uma fiel auxiliadora e deixou de seguir os preceitos bíblicos no que diz respeito ao relacionamento conjugal.

É mais conveniente ao empregado atribuir ao patrão a culpa pela sua falta de êxito profissional, do que assumir que não se esforça, não estuda, não faz nada para crescer. É mais fácil responsabilizar o governo pelas nossas dificuldades do que reconhecer que não temos educação financeira, planejamento, dedicação profissional, etc.

A Palavra de Deus nos mostra que precisamos assumir a responsabilidade por nossas decisões, por nossas escolhas e também pelas consequências que daí resultam. 

Jonas disse que os homens deveriam lançá-lo ao mar para que a tempestade parasse. Ele assumiu não apenas a responsabilidade, mas também as consequências.

E nós, estamos prontos para agirmos como Jonas?

CONCLUSÃO
Tudo o que aconteceu no capítulo 1 foi consequência da desobediência de Jonas a uma ordem de Deus. Por causa disso quase ocorreu a morte de centenas de pessoas inocentes. Após acordar do sono e assumir a responsabilidade por seus atos, dispondo-se a arcar com as consequências, Jonas se arrependeu e buscou o perdão de Deus.

No final do capítulo 1, versículo 17, vemos que, após ser lançado ao mar, Jonas foi engolido vivo por um grande peixe que Deus enviou, ali permanecendo três dias e três noites. No capítulo 2 vamos o arrependimento de Jonas, sua oração ao Altíssimo e sua libertação de dentro do grande peixe.

Já no capítulo 3, observamos os resultados da obediência de Jonas. Uma vez que ele se arrependeu e foi perdoado pelo Altíssimo, ele partiu para cumprir a ordem que antes havia negligenciado: pregar contra Nínive. E a obediência de Jonas resultou em grande bênção para aquele povo, pois houve arrependimento e Deus não destruiu a cidade.

Quando contemplamos as grandes tormentas que acontecem em nossas vidas e o estrago que nossas atitudes causam na vida das pessoas, devemos buscar em Deus o perdão por nossa desobediência, por nossa arrogância, pelos pecados que causaram tais situações, e, assim, retomar a caminhada em santidade e obediência ao Altíssimo.

Um fato que é demonstrado e reiterado várias vezes na Bíblia é que a obediência dos servos de Deus resulta em bênçãos não apenas para eles, mas também para as pessoas com quem mantém algum tipo de relacionamento.

Desta forma, se caminhamos em paz com Deus e em obediência, isso resultará em bênçãos na família, na igreja, no trabalho, na vida social, e seremos canal de bênção ao nosso próximo.

Que Deus nos dê a capacidade de sermos obedientes à sua Palavra e de assumirmos a responsabilidade por nossas decisões, dispondo-nos sempre a buscar no Altíssimo o perdão e a força para continuar a caminhar em santidade.

“De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!” (Gênesis 12.2)

22 Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros.” (1Sm 15.22)

José Vicente
12.11.2017

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