sexta-feira, 12 de novembro de 2010

APRENDENDO COM GEAZI

Texto base: 2 Reis 5.15-27

Naamã era comandante do exército da Síria. Era um homem de elevada posição, grande prestígio, gozava da confiança do rei, tinha autoridade e muito poder entre os homens.

Naquela ocasião havia certa paz entre Síria e Israel, mas vez ou outra tropas da Síria invadiam o território islaerense, saqueavam alguma aldeia e levavam pessoas cativas.

Numa dessas invasões, Naamã levou uma menina israelita para ser serva de sua esposa.

Embora Naamã fosse tão poderoso, ele sofria de lepra, doença incurável, e com isto estava fadado a morrer doente, sem poder obter a cura de seu mal. Seus deuses não o socorreram. Sua fama não lhe valia contra a enfermidade.

Foi justamente a menina israelita capturada e feita serva na casa de Naamã que lhe indicou o caminho para a cura: deveria ir a Israel.

Então Naamã, munido de uma carta escrita pelo rei da Síria, e também de muito ouro, prata e roupas finíssimas, foi até Israel e entregou a correspondência ao rei, que ficou “maluco” ao saber que o rei da Síria havia enviado Naamã para que ali fosse curado. O rei de Israel afirmou que não era Deus para curar Naamã.
Eliseu ficou sabendo e mandou dizer ao rei que enviasse Naamã até ele, pois ainda havia profeta de IAVÉ em Israel.

Interessante notar que Naamã não foi recebido pessoalmente por Eliseu, o que obviamente ele encarou como uma desfeita. Além disto, Eliseu mandou Naamã ir tomar banho (no rio Jordão). Aí já era demais, e o poderoso Naamã não poderia se submeter a tal humilhação, pois não viajou tanto para chegar ao profeta e ser tratado dessa forma!

Após ser aconselhado por oficiais mais próximos, Naamã acabou indo ao rio Jordão, como mandou Eliseu, e se banhou, ficando curado da lepra.

O coração de Naamã foi quebrantado e ele voltou para agradecer a Eliseu. Aí começam as lições que vamos destacar no texto em análise.

1) Não se pode vender, negociar ou barganhar as bênçãos de Deus (v. 15-16)

Naamã disse a Eliseu que dali em diante adoraria somente a IAVÉ, o Deus de Israel, renunciando à idolatria até então presente em sua vida. Ele estava muito agradecido pela enorme e extraordinária bênção recebida, e insistiu para que Eliseu aceitasse os presentes que havia trazido.

Eliseu recusou os presentes, de forma categórica.

Neste ponto percebe-se que Naamã havia realmente sido transformado pela ação de Deus, pois não se irou contra Eliseu, pelo contrário, humildemente pediu que lhe fosse permitido pelo menos levar um pouco de terra do solo de Israel, o que lhe foi deferido.

Eliseu demonstrou, com sua conduta, ser um homem consciente de que toda a glória pertence a Deus, e que não se pode utilizar os milagres realizados por Deus como forma de obter vantagens pessoais.

Ficou muito claro aos olhos de Naamã que Eliseu havia sido um instrumento de IAVÉ, mas não foi Eliseu quem o curou, e sim o Deus de Israel, portanto, se alguém tinha que receber glória, ações de graças, era Deus, e não o Seu servo.

O profeta Eliseu aplicou na prática uma lição que muitos anos mais tarde foi enfatizada por Jesus: “de graça recebestes, de graça dai”. (Mt. 10.8-10)

Nessa passagem Jesus deixa muito explícito que o servo de Deus, a quem é conferida autoridade espiritual e também o poder do Espírito Santo, deve fazer a obra de Deus sem esperar recompensa terrena, e sem fazer de seus dons um instrumento de enriquecimento ou de exaltação própria, pois somente Deus deve ser exaltado.

Jesus disse aos discípulos que seu trabalho no Reino, envolvendo curas, milagres, purificação de leprozos, ressurreição de mortos, libertação espiritual, não seriam feitos com pensamento em riquezas, em ouro, prata, bens materiais, e que deveriam se hospedar em casas de pessoas dignas, recebendo apenas o alimento, o vestuário, o lugar de repouso, mas não como recompensa, e sim por conta da hospitalidade de quem os recebesse.

Jesus também disse: “eu não aceito glória que vem dos homens” (Jo 5.41). Ora, Jesus falou isso por saber que os homens que hoje glorificam, amanhã repudiam. A glória que vem de Deus, porém, é eterna e não está maculada por interesses egoístas.

Assim, Eliseu, muito tempo antes da vinda de Cristo como homem, mas já instruído pelo Espírito Santo, deu uma demonstração prática de que toda a glória, todo o poder, todo o louvor, toda a honra pertencem a Deus, e que o servo de Deus nunca deve se valer do poder espiritual que lhe é outorgado para obter vantagens pessoais, pelo contrário, sua missão é espalhar a graça de Deus aos seres humanos, e, como o próprio nome diz, de graça.

Será que hoje ainda temos muitos Eliseus no meio do povo de Deus?

2) Quem não reconhece o seu lugar comete pecado contra Deus (v. 20-25)

Se por um lado Eliseu deu o exemplo de um servo fiel e consagrado ao Senhor, por outro vemos Geazi, discípulo do profeta, indo na direção contrária.

Quando Geazi viu que Eliseu recusou os presentes que Naamã lhe ofereceu, não lhe passou pela mente que o profeta estava agindo conforme a vontade de Deus, antes, ele achou que não era justo que um homem como Naamã, que já havia causado sofrimento a Israel ao comandar o exército sírio contra a Nação Santa, viesse agora experimentar uma bênção tão grande como a cura da lepra, e simplesmente voltasse ao seu país sem deixar nenhuma recompensa.

Geazi ficou indignado com isso, pois, na sua visão, o milagre tinha um preço, precisava ser valorizado. Naamã não era digno de receber um favor de Deus sem dar nada em troca. Geazi achou que Naamã devia algo, não bastando a gratidão que expressara.

Com esse tipo de pensamento, Geazi deixou a ganância falar mais alto. Com isso, ele pecou.

Ganância e cobiça são pecados que andam de mãos dadas.

Então, Geazi correu atrás de Naamã e ... MENTIU. Sim, ele cometeu mais um pecado, mentiu para obter de Naamã uma recompensa, usando o nome do profeta Eliseu para atingir essa finalidade.

É claro que o general Naamã não negaria o que fosse pedido, tamanha a gratidão que tinha em seu coração, e ele deu mais do que Geazi pediu.

Tendo voltado para casa, Geazi foi interpelado por Eliseu, que lhe indagou onde estava, e o que ele fez? Mentiu de novo! Sim, para sustentar uma mentira, somente inventando outra mentira. Geazi mentiu que não havia ido a lugar algum.

O jovem Geazi talvez não tivesse se dado conta do que estava fazendo: roubando a glória de Deus através da precificação de um milagre.

Geazi havia feito o papel de mediador entre Eliseu e Naamã, como um garoto de recados. Logo, ele pensou que não era justo ter tido esse trabalho “em vão”. Geazi achou que a vida piedosa pudesse ser fonte de lucros.

Faltava a Geazi compreender o mistério do amor de Deus e de Sua Maravilhosa Graça.

Nos dias atuais, há muitos Geazis espalhados por este mundo. Pregadores que se julgam o canal de bênção de Deus para o povo, que utilizam manifestações divinas (raras vezes autênticas) para poderem enaltecer a si mesmos e a seus “ministérios”. Homens que, logo após algum sinal tido como miraculoso, alguma possível cura (nem sempre verdadeira), conduzem os fiéis a crerem que se derem seu suado dinheiro para a “sua igreja”, vão ver a ação de Deus em suas vidas, vão experimentar prosperidade, afastar maus espíritos, etc.

Basta ligar a televisão e os Geazis aparecem aos montes. Para eles, a Graça de Deus não é de graça, antes, tem preço, e é bastante salgado, pois pessoas chegam a entregar todo o seu dinheiro e bens para poderem “obter o favor de Deus”.

Elaboram campanhas e mais campanhas, sempre prometendo que Deus vai abençoar, vai curar, vai livrar, vai dar prosperidade, e mais um monte de coisas. Tais campanhas sempre envolvem dinheiro, seja por “ofertas” ou por compra de produtos milagrosos ou elaborados por uma “sumidade” espiritual.

São ministros da barganha. Deus não está envolvido nisso, pois com Ele não há barganha.

O número de Geazis que você conhece é maior ou menor do que o número de Eliseus?

3) Deus não deixa impunes os transgressores (v. 27)

O jovem Geazi aprendeu, de uma maneira dura, que não é possível esconder nada de Deus. No versículo 26 vemos Eliseu derrubando por terra a mentira que o discípulo havia inventado. Deus revelou a Eliseu o que Geazi fez, e determinou a disciplina a ser aplicada: Geazi ficou leproso.

Vejam só como são as coisas! Geazi cobiçou os bens que Naamã tinha consigo, e o que conseguiu foi contrair a lepra da qual Naamã fora curado.

No Reino de Deus não há lugar para brincadeiras com a glória de Deus. Tudo o que envolve IAVÉ tem que ser tratado com reverência, e jamais se pode querer aquilo que a Ele pertence.

Satanás quis o lugar de Deus, e caiu de forma vergonhosa. Miriã e Arão questionaram o fato de Deus falar através de Moisés, que Ele próprio escolhera para mediador, e como resultado Miriã ficou leprosa. Ananias a Safira quiseram enganar a Deus, e acabaram morrendo.

Deus disse: “a minha glória não a darei a outrem” (Isaias 48:11). E de fato Ele não divide Sua glória com ninguém.

Paulo, apóstolo que foi grande instrumento de Deus para evangelização, escreveu sobre essa verdade absoluta: “não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.” (Gálatas 6:7).

Nossos atos geram consequências. Deus está vendo cada pensamento e ação que temos em nosso dia a dia. Ele vê quem brinca com Sua Palavra e tenta roubar Sua glória. Deus tem perfeito conhecimento quanto a tudo o que tem sido feito por cada ser humano na face da terra.

Aquele que usa o nome de Deus para obter vantagens certamente receberá sua recompensa, assim como Geazi recebeu. Não se enganem os falsos profetas, os pregadores de modismos e de mentiras, os que iludem o povo para obterem proveito próprio. A tudo isso Deus está assistindo, e não está passivo, como se nada pudesse fazer, mas está reservando a cada um a justa retribuição.

Há, porém, um consolo. Geazi era servo de Deus, era uma pessoa que amava a Deus, e teve um momento de fraqueza. Ele foi disciplinado, mas não foi excluído do Reino. No capítulo 6, versos 15-17 de 2 Reis, vemos o moço de Eliseu, que era Geazi (5.20), junto com Eliseu, inclusive sendo abençoado com a visão do exército celestial que os protegia. No capítulo 8.4-5, vemos Geazi atuando ainda como discípulo de Eliseu. Sinal de que ele foi restaurado após a disciplina.

As Escrituras nos revelam que o filho é disciplinado, pois é sinal do amor de Deus, que deseja a correção e crescimento, e não a destruição do filho.

“Porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe.É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos.” (Hebreus 12:6-8)

Conclusão

Somos chamados a sermos servos de Deus, instrumentos para manifestação de Sua Graça ao mundo, canais de bênçãos.

Tudo quanto Deus fizer através de nós, não será por nossos méritos nem pelos méritos de quem venha a receber o favor de Deus, mas será única e exclusivamente porque Deus é amor e é rico em graça.

O que Deus fizer deve ser motivo de louvor e glória somente a Ele, e não a nós.

Nunca deixemos que sentimentos egoístas tomem conta de nosso ser, caso contrário, teremos que nos sujeitar à disciplina de Deus. E se formos disciplinados, louvemos a Deus, porque é sinal de que somos Seus filhos. Pior será se não sofrermos disciplina. Então será motivo de preocupação.

Aprendamos com Geazi a sermos como Eliseu.

Que Deus nos abençoe e nos guarde de nós mesmos.

José Vicente
09.11.2010

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