domingo, 29 de outubro de 2023

Fugindo da falsificação do Evangelho


 

Mateus 4.1-11

 

INTRODUÇÃO

Desde que eu era criança eu sempre escutei uma frase que é dita até hoje: “toda igreja que fala o nome de Deus é boa”. As pessoas falam isso porque consideram que pregar em nome de Deus é suficiente para ser reconhecido como alguém pertencente a Deus. Elas acreditam que um pregador não invocaria o nome de Deus se não fosse alguém realmente convertido e servo de Deus, então acabam por aceitar que basta falar o nome de Deus e usar a Bíblia para que se considere uma igreja segundo os princípios bíblicos.

Entretanto esse pensamento esconde perigos que na maioria das vezes as pessoas não percebem, justamente porque se mantêm num relacionamento superficial com Deus – e isto quando têm algum relacionamento com Ele! É um tipo de raciocínio que esconde a falta de disposição que muitos têm de analisar, à luz da Bíblia, aquilo que ouvem. Na verdade, por vezes nem mesmo possuem conhecimento bíblico, porque não se dedicam ao estudo das Escrituras.

Ora, proclamar o nome de Deus é o mínimo, o básico que se espera de uma igreja cristã, de um pregador cristão, de uma música destinada ao louvor de Deus, de um livro que se proponha a explorar temas bíblicos. Toda igreja que se diz cristã vai invocar o nome de Deus, e se isso não acontecer, é óbvio que se deve fugir desse lugar.

Porém, quando nos voltamos para a Bíblia constatamos que não basta falar o nome de Deus e citar textos bíblicos para que se considere que uma igreja é bíblica, que um pregador está sendo fiel em seu sermão, que uma música realmente seja um louvor aceitável a Deus ou que um livro dito cristão seja bom para nossa edificação.

Ora, até o diabo fala o nome de Deus e cita a Bíblia, e nem por isto se torna aceitável e confiável, pelo contrário, ele continua sendo nosso adversário, e “anda em derredor, como um leão que ruge procurando alguém para devorar” (1Pe 5.8).

No nosso texto base é possível ver o momento em que Jesus estava para iniciar o seu ministério terreno. Então, Ele foi levado pelo Espírito Santo ao deserto, e lá permaneceu por 40 dias e 40 noites fazendo jejum e orando. Foi um tempo de consagração e preparação. Ao fim desse período, o diabo surge e começa a lhe apresentar propostas que tinham como objetivo desviá-lo de seu propósito, de sua missão.

Durante esse período de tentação, o diabo fala com o Filho de Deus, cita o nome de Deus e invoca trechos das Escrituras, que, aliás, ele conhece até melhor do que nós, porque ele testemunhou, ao longo dos anos, os fatos que estão registrados na Bíblia.

Isto, todavia, não torna legítimas as falas do diabo nem significa que ele estivesse falando verdades, pelo contrário, ele estava empenhado em corromper o sentido das Escrituras Sagradas para obter proveito próprio, pois ele sabia que estava diante daquele que lhe imporia a grande derrota e traria a redenção e libertação aos que eram oprimidos pelo diabo.

Então, percebemos que este mundo está repleto de igrejas onde se prega em nome de Deus, utilizando-se a Bíblia, e isto pode induzir muitas pessoas a acharem que todas as igrejas são a mesma coisa, que não importa qual seja frequentada, o resultado será o mesmo. Pensam que em qualquer igreja estarão fazendo a vontade de Deus igualmente e recebendo alimento espiritual adequado, todavia, esse é um grande engano.

Afinal, assim como o diabo mencionava o nome de Deus e citava as Escrituras de forma enganosa, dando aos textos bíblicos uma aplicação totalmente deturpada, muitos líderes religiosos fazem o mesmo, semeando o engano e afastando as pessoas de Deus, aumentando o número de doentes espirituais que necessitam conhecer a cura que está em Jesus Cristo e ser libertados pela Verdade, entendendo a Palavra de Deus.

Mas como vamos identificar se uma igreja é bíblica? Como poderemos diferenciar uma pregação fiel às Escrituras de uma pregação que além de não edificar ainda pode levar ao enfraquecimento espiritual? Como saber que a música que estamos cantando para louvar a Deus realmente cumpre esse papel? De que maneira podemos escolher um livro cristão que nos traga edificação em vez de encher nossa mente de heresias?

O texto bíblico que lemos nos traz lições importantes de elementos essenciais que caracterizam a falsificação da mensagem bíblica.

    1)   A tentação de fazer prova

O diabo começou a tentar Jesus com a expressão “se és Filho de Deus”. Ele usa duas vezes essa expressão, nos versículos 3 e 6. Na primeira vez ele diz: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães”. E na segunda, “se és Filho de Deus, atira-te abaixo...”.

Ele queria convencer Jesus a fazer prova de quem Ele era, e isso envolvia realizar um ato sobrenatural, como a transformação de pedras em pães, ou jogar-se do alto do pináculo do templo para demonstrar que eram verdadeiras as promessas bíblicas de proteção e que Ele, Jesus, contava com essa proteção do Pai.

Todavia, Jesus não precisava fazer prova de nada, e tinha essa consciência. Jesus sabia exatamente quem Ele era, e isso bastava. Quanto às pessoas, esse conhecimento deveria vir no momento certo, e não de forma prematura, pois poderia atrapalhar o cumprimento do propósito para o qual Ele viera.

Jesus não tinha dúvidas em relação à sua própria pessoa e quanto ao relacionamento que Ele tinha com o Pai. Jesus não alimentava nenhuma incerteza no que diz respeito às promessas bíblicas. Mas Ele também tinha a convicção de que, durante o seu ministério terreno, sua vida daria testemunho de quem Ele era.

Desta forma, Jesus venceu a tentação de fazer prova, apesar das manobras astuciosas do diabo.

O problema é que essa tentação de fazer prova não parou ali, na pessoa de Jesus, mas continuou a acontecer em relação aos seguidores de Jesus, que somos nós. E não é difícil encontrarmos igrejas e líderes religiosos que se baseiam nessa falsa necessidade de fazer prova para iludir as pessoas e levá-las a praticar atos que, muitas vezes, e acabam por prejudicá-las.

Tornou-se comum em algumas denominações as pessoas serem desafiadas a fazerem prova de sua fé entregando dinheiro, deixando na igreja o que seria utilizado para o sustento pessoal e familiar e, algumas vezes, todo o seu salário. Também há lugares em que o desafio é fazer prova da fé abandonando um tratamento médico, porque Deus irá honrar e curar a enfermidade, por mais grave que seja.

Muitas denominações religiosas convencem as pessoas a fazerem prova de sua fé mediante observância de regras rígidas criadas pelas igrejas e que não têm nada a ver com a Bíblia, envolvendo usos e costumes. Alguns até mesmo são exigidos como se fossem bíblicos, mas não passam de deturpação de textos da Bíblia.

O fato é que, assim como Jesus, devemos ter convicção de quem nós somos e a quem nós servimos. Jesus enviou o Espírito Santo para habitar em todos os que creem nEle, de maneira que o Espírito Santo é quem nos dá a garantia de que somos filhos de Deus, conforme Romanos 8.16:

“¹ O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” (Romanos 8:16)

Com essa convicção que o Espírito Santo nos dá, aliada aos ensinos das Escrituras Sagradas, sabemos que somos filhos de Deus e que em Jesus Cristo fomos separados do mundo para o Reino de Deus, e não precisamos fazer coisas extraordinárias nem dar grandes demonstrações de fé para provar isso.

Jesus Cristo, muito diferente do diabo, não nos desafia a fazer prova de nada, mas nos exorta a darmos testemunho da fé que professamos e do amor que dizemos ter por Ele, mediante obediência à Sua Palavra e tendo uma vida compatível com a de um discípulo de Cristo.

O que vai mostrar ao mundo que somos filhos de Deus, discípulos de Jesus, é a nossa vida. É a prática do amor a Deus e ao próximo. É a manifestação do fruto do Espírito, conduzindo-nos a ser mais parecidos com Jesus.

Portanto, assim como Jesus, não devemos nos render a quem exige de nós que façamos prova da nossa fé ou de nossa condição de filhos de Deus, mas devemos simplesmente agir como filhos de Deus, rejeitando as exigências mundanas e vivendo conforme o exemplo de Jesus, sendo testemunhas do infinito amor do Pai.

 

     2)   A tentação de substituir Deus como centro de nossa vida

O diabo, com sua astúcia, percebeu que Jesus, após passar 40 dias em jejum, deveria estar com fome. Alimentar-se faz parte da fisiologia do corpo humano, e depois de um longo período de privação de alimentos, obviamente o corpo está bastante necessitado de nutrientes e de energia. Então, ele tentou convencer Jesus a usar o seu poder para atender a uma necessidade própria, afinal, que sentido faria o Filho de Deus passar fome, se Ele tinha poder para transformar pedras em pães?

O diabo estava tentando levar Jesus a focar sua atenção em si mesmo, nas necessidades do seu corpo. Ele queria convencer Jesus de que Ele não precisava passar por privações, mas deveria atender ao que o corpo pedia. Por que passar vontade? Por que renunciar ao que seu corpo desejava? Afinal, o que realmente importava era satisfazer à sua necessidade!

E quando o diabo lhe disse para pular do pináculo do templo estava querendo que Jesus buscasse os holofotes, a glória própria, que se tornasse o centro das atenções, obtendo reconhecimento, fama, sucesso.

Jesus resistiu a essas tentações, porque Ele sabia que Deus Pai é quem deveria estar no centro das atenções. Jesus veio ao mundo para atrair as pessoas para Deus, para que elas pudessem, por seu intermédio, se achegar a Deus e fazer parte do Reino celestial.

Durante todo o seu ministério terreno Jesus nunca quis a glória para si, mas Ele sempre fez tudo para que o Pai fosse glorificado. Em sua oração que se encontra registrada no Evangelho escrito por João constatamos isso claramente:

“¹Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti,² assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste.³ E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer; e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo.” (João 17:1-5)

Toda a obra de Jesus tinha como finalidade conduzir as pessoas a Deus Pai. O foco era Deus. E toda a Bíblia nos ensina exatamente isto: Deus é o centro de tudo, a origem de tudo, a razão de tudo.

Portanto, ao nos depararmos com igrejas, pregações, canções de louvor, livros cristãos que colocam o ser humano no centro, em vez de Deus, devemos rejeitar tais coisas, pois isso não vem de Deus.

Todavia, a realidade nos mostra que cada vez mais proliferam líderes religiosos cristãos que colocam a ênfase do culto no ser humano. Ambientes de culto são preparados para agradar às pessoas. Pregações são elaboradas para massagear o ego e acariciar os ouvidos dos fieis. Músicas que deveriam louvar a Deus se concentram em transmitir mensagens de vitória pessoal ou satisfazer o gosto musical dos ouvintes, com letras bonitas que mexem com as emoções mas não exaltam o nome de Deus. Livros cristãos mais parecidos com livros de autoajuda, com o propósito de mostrar às pessoas como serem mais felizes, bem sucedidas e coisas do tipo.

Na internet encontramos vídeos com mensagens bonitas, exaltando as qualidades do ser humano, suas capacidades, sua predestinação ao sucesso, à felicidade, ministradas por coachs, nova forma como são chamados tais pregadores.

O culto é dirigido a Deus. Somente Ele é o centro. O diabo tentou induzir Jesus a desviar o foco de Deus, mas Ele não fez isso. Todavia, no meio da cristandade cada vez mais o ser humano tem se tornado o personagem central do evangelho corrompido que é pregado, enquanto Deus é posto em lugar secundário, muitas vezes como um mero atendente de pedidos, sempre à disposição para satisfazer os desejos humanos.

No versículo 9 o diabo quis atrair a adoração para si próprio. Ele ofereceu a Jesus riquezas e poder terrenos em troca de sua adoração.

Em todas as tentações Jesus foi firme e respondeu negando-se a ceder, mas nessa Ele deixou claro que não iria mais ouvir nada que o diabo lhe dissesse, ordenando que ele se retirasse de sua presença: “Retira-se, satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” (v. 10). Em outras palavras, o diabo havia passado dos limites e Jesus estava dando um basta nisso.

Os israelitas, ao longo da história de Israel, foram infieis e praticaram idolatria em diversas oportunidades. E a Bíblia nos revela que esse era um dos pecados que mais suscitavam a ira de Deus. O Altíssimo não divide a sua glória com ninguém e não aceita que o seu povo o troque por algo ou alguém, conforme lemos em Isaias 42.8:

“⁸ Eu sou o Senhor, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura.” (Isaías 42:8)

O cristão sincero deve fugir da tentação de se tornar o centro, assim como da tentação da idolatria, que é colocar pessoas ou coisas no lugar de Deus. Um dos pontos da reforma protestante foi o Soli Deo Gloria (Glória Somente a Deus). Precisamos sempre nos lembrar de que Deus é a razão de ser de tudo o que existe, e não nós. Na verdade, nós mesmos só existimos porque Deus assim o quis. Então, as palavras de Paulo em Romanos 11.36 devem ser lembradas por nós:

Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11:36)

 

     3)   Deturpação do sentido de textos bíblicos

O diabo, astuto e traiçoeiro, citou trechos das Escrituras ao tentar Jesus, pois com isto pretendia dar legitimidade a suas palavras e convencer Jesus de que Ele não estaria fazendo nada contrário ao que diziam as Escrituras.

O diabo citou o Salmo 91, versículos 11 e 12:

“¹¹ Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos.¹² Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.” (Salmos 91:11,12)

O Salmo 91 realmente fala da proteção de Deus ao que se abriga nEle, entretanto o diabo estava distorcendo o sentido do texto, querendo induzir Jesus a tentar a Deus colocando-se deliberadamente em situação de perigo.

Jesus, profundo conhecedor das Escrituras, sabia que o diabo estava dando ao texto um sentido diferente e se recusou a fazer a loucura que fora proposta.

Em suas respostas Jesus também citou as Escrituras, e com isto demonstrou que a Bíblia explica a Bíblia. Diante da tentação de saciar sua fome, Jesus citou Dt. 8.3:

“Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor viverá o homem.” (Deuteronômio 8:3)

Quando lhe foi proposto que se jogasse do pináculo do templo para fazer cumprir o Salmo 91 e provocar a reação protetora de Deus, Jesus respondeu invocando Dt. 6.16:

Não tentarás o Senhor, teu Deus, como o tentaste em Massá.” (Deuteronômio 6:16)

Um dos maiores problemas na igreja cristã da atualidade é a deturpação dos textos bíblicos. Doutrinas são construídas a partir de trechos isolados da Bíblia, sem que se considere o seu todo. Pessoas são ensinadas a seguir preceitos que não se aplicam à igreja, observar conjuntos de regras de denominações religiosas como se fossem bíblicas, barganhar com Deus, colocar-se em risco por crenças absurdas de que crente não fica doente ou se ficar, não precisa de tratamento porque Deus cura.

A distorção das Escrituras é usada para controlar as pessoas. Lembro do filme O Livro de Eli, em que um homem chamado Eli transportava o último exemplar da Bíblia em um mundo em ruínas, e o líder de uma localidade queria a todo custo obter essa Bíblia, pois tinha certeza de que com ela poderia ampliar muito o seu domínio e exercer controle sobre o povo.

Infelizmente esta é uma realidade: a Bíblia tem sido utilizada por líderes religiosos que não temem a Deus como uma forma de controlar as pessoas, de obter vantagens pessoais, fama, poder, status, e isto com a distorção de textos bíblicos, de maneira que as pessoas acabam sendo iludidas e acham que estão fazendo a vontade de Deus, quando na verdade apenas estão seguindo preceitos humanos.

Jesus conhecia as Escrituras, e por isso pode identificar a distorção que o diabo estava fazendo do texto e dar a resposta adequada. Igualmente, se quisermos fugir do engano e servir a Deus com fidelidade, é necessário conhecer as Escrituras.

Por meio do profeta Oséias Deus disse: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento” (Oséias 4.6), e Jesus censurou os líderes religiosos de seu tempo pela falta de conhecimento: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus.” (Mateus 22:29).

O conhecimento das Escrituras não será plantado em nossas mentes de forma sobrenatural, mas virá como consequência do hábito da leitura bíblica, acompanhada de oração para que o Espírito Santo nos ajude a compreender o que lemos.

Houve um tempo em que os cristãos não tinham acesso à Bíblia, que era exclusiva dos líderes religiosos. Mas um dos objetivos da Reforma Protestante era justamente que as pessoas pudessem ter acesso à Bíblia, para fazerem a leitura e terem o conhecimento da Palavra de Deus.

Hoje, temos acesso à Bíblia livremente, em diversas versões, e precisamos apenas nos dispor a buscar com sinceridade o conhecimento que Deus nos oferece, deixando de perder tempo com aqueles que ensinam falsas doutrinas e confundindo as mentes das pessoas, afastando-as de Deus.

 

CONCLUSÃO

Jesus ministrou ensinos valiosos em todos os momentos de sua vida, e nessa ocasião especial, em que Ele se preparava para iniciar seu ministério terreno, Ele nos ensinou a resistir às tentações de buscarmos a satisfação da carne, de retirarmos Deus do centro de nossas vidas e de acreditarmos em distorções da Bíblia.

Jesus deixou claro que seus discípulos seriam capacitados a vencer porque Ele próprio venceu, e para isto nos selaria com o Espírito Santo, que nos ensinaria e produziria em nós o fruto do Espírito.

Cabe a nós, como servos fieis, agirmos com dedicação e zelo, vigiando em todo o tempo para que não venhamos a cair nas ciladas do diabo e nos mantenhamos firmes em Deus por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.

Em vez de buscarmos conhecimento bíblico por meio de coachs e líderes de diversas denominações diferentes, cada qual com uma doutrina, fazendo uma salada de doutrinas em nossa mente, busquemos o conhecimento com a leitura da Bíblia e sob orientação do Espírito, pois fortalecidos pela Palavra conseguiremos identificar facilmente quando nos forem apresentadas falsas doutrinas e distorções bíblicas.

Que nossa vida seja dedicada a glorificar a Deus e a Jesus Cristo, nosso Senhor, tendo a convicção de quem somos nós e a quem servimos.

 

José Vicente

sábado, 22 de julho de 2023

Como começar e terminar bem nossa caminhada com Deus.

 


Texto: 2 Crônicas 24.1-4; 15-27

É provável que muitos de nós já tenhamos conhecido pessoas que começaram muito bem alguma coisa mas, por diversas razões, terminaram mal. Podemos mencionar, por exemplo, casamentos, onde, inicialmente, tudo parece maravilhoso, existe uma atenção mútua entre o casal, ambos declaram seu amor um ao outro, porém após algum tempo – às vezes bem pouco tempo! -, já estão se separando ou mantendo um casamento de aparências.

Vemos pessoas que iniciam uma atividade profissional com todo entusiasmo, demonstrando dedicação e muita disposição, todavia depois de um período de trabalho passam a demonstrar certo desleixo, fazem as coisas de qualquer jeito, chegando ao ponto de serem demitidas ou perderem a clientela, no caso de autônomos. Atletas muito promissores que, por escolhas erradas, comprometem a sua carreira. Personalidades públicas respeitáveis que, por não se manterem fieis aos valores e princípios que construíram sua boa reputação, deixam sua imagem ser destruída por sucumbirem à ambição, à ganância, à sede de poder e fama, etc.

Nós mesmos talvez já tenhamos passado pela experiência de termos um ótimo começo e um péssimo fim em algo que tenhamos feito.

No âmbito de nossa caminhada com Deus essa é uma realidade que não está distante, porque são muitos os que iniciam com grande paixão por Deus e pelo Evangelho, mas depois de certo tempo vão apresentando um esfriamento gradativo que compromete por completo sua vida espiritual, trazendo um afastamento em relação a Deus, uma tolerância indevida quanto ao pecado e um total desvio dos caminhos do Senhor.

No texto bíblico que lemos encontramos a história de Joás, que reinou durante quarenta anos em Judá. Ele começou seu reinado muito bem, e assim continuou durante um bom período, entretanto após dado momento ele se corrompeu e se desviou da vontade de Deus, terminando seu reinado da pior maneira possível.

Os motivos que levaram Joás a se desviar dos caminhos de Deus continuam a se fazer presentes ainda hoje na vida de muitas pessoas que iniciam bem a sua caminhada cristã, mas aos poucos vão se desviando e se afastando cada vez mais de Deus.

Vamos analisar alguns desses motivos e pensar no que podemos fazer para evitar cometer os mesmos erros de Joás.

  

    1)   Ouvir o Conselheiro certo (v. 2)

Quando Joás começou a reinar em Judá ele era apenas uma criança de 7 anos de idade. Ele vinha sendo criado na Casa de Deus pelo sacerdote Joiada, que era casado com Jeosabeate, irmã de Acazias (tia de Joás), que o salvou de ser morto pela maldosa Atalia (avó de Joás).

Por se tratar de uma criança, Joás foi coroado rei de Judá mas contou com o sacerdote Joiada como seu mentor e conselheiro. E enquanto o sacerdote estava ao lado de Joás, este teve um reinado próspero e dentro da vontade de Deus.

O versículo 2 nos diz que “fez Joás o que era reto perante o Senhor todos os dias do sacerdote Joiada” (2 Crônicas 24:2).

Joiada era um homem temente a Deus, tinha conhecimento da Lei de Deus e instruía o rei Joás para que este seguisse corretamente os caminhos do Senhor. O texto narra que nesse período Joás promoveu a restauração da Casa do Senhor, estimulou o povo a cumprir a Lei de Deus e trazer o imposto instituído por Moisés, mostrou zelo para com as coisas do Templo e os sacrifícios que deveriam ser oferecidos a Deus.

Pelo que constatamos no texto, Joás dava ouvidos ao sacerdote Joiada, talvez até o respeitasse como a um pai, e enquanto assim procedeu suas ações eram aprovadas por Deus, bem como o povo de Judá seguia com alegria o exemplo do rei e se mostrava fiel a Deus.

Entretanto, tão logo o sacerdote Joiada faleceu, aos 130 anos de idade, Joás foi assediado por líderes judeus que não eram tementes a Deus e que desejavam servir a outros deuses, e acabou por lhes dar ouvidos, conforme está descrito nos versículos 17 e 18.

Foi a partir daí que o reinado de Joás começou a ruir, porque ele se desviou dos caminhos de Deus. No versículo 18 é dito que ele e os príncipes de Judá “deixaram a Casa do Senhor, Deus de seus pais, e serviram aos postes-ídolos e aos ídolos;” (2 Crônicas 24:18).

Quando o texto diz que eles deixaram a Casa do Senhor, significa que voltaram as costas para Deus e tudo o que se relacionava a Ele, abandonaram a adoração ao Deus único e verdadeiro para viver com base em mentiras.

Joás, que teve uma vida praticamente irrepreensível até então aos olhos de Deus, pois tinha um conselheiro temente a Deus, cercou-se de conselheiros que não amavam a Deus e se igualou a eles, praticando abominações e mergulhando em uma vida de pecados que arruinou o seu reinado e, principalmente, o seu relacionamento com Deus.

A quem damos ouvidos em nosso dia a dia fará uma diferença muito grande durante nossa vida. Pessoas insensatas vão se cercar de conselheiros insensatos, que não possuem o temor do Senhor e cujos valores entram em choque contra a Palavra de Deus. Já aquele que é sábio buscará conselho em pessoas que sabe serem fieis a Deus, que possuem princípios e valores firmados na Palavra e que estão muito mais interessadas no Reino de Deus do que nas coisas transitórias deste mundo.

Alguém que esteja tendo problemas em seu casamento, ao se aconselhar com ímpios, provavelmente receberá incentivo para se divorciar, para ser infiel, para agir nos moldes que o mundo apregoa. Assim, um casamento que já não andava bem será arruinado de vez. Mas, se for buscar conselho em uma pessoa temente a Deus, com certeza ouvirá palavras no sentido de busca da reconciliação, de valorização do casamento, do estabelecimento de um diálogo em amor e respeito que permita a restauração do relacionamento abalado.

Portanto, quem escolhemos ouvir é um ponto fundamental para que possamos prosseguir com êxito em nossa caminhada, com a finalidade de terminar bem aquilo que começou bem.

Nos capítulos anteriores podemos ver claramente como ouvir conselheiros errados traz apenas prejuízos. Em 2Cr 21.6 é dito que o rei Jeorão, avô de Joáz, “andou nos caminhos dos reis de Israel, como também os da casa de Acabe, porque a filha deste era sua mulher; e fez o que era mau perante o SENHOR.”

No capítulo 22, versículo 3, vemos que Acazias, pai de Joás, “andou nos caminhos da casa de Acabe; porque sua mãe era quem o aconselhava a proceder iniquamente.” (2 Cr 22.3)

Acabe foi um dos piores reis de Israel. Ele se casou com Jezabel e ambos tiveram um reinado terrível, praticando idolatria e atrocidades contra os profetas de Deus. Por isso, quando se diz que algum rei andou nos caminhos da casa da Acabe, significa que se desviou dos caminhos de Deus e viveu em desobediência, rebeldia, idolatria.

Portanto, a importância de quem nos influencia é realmente muito grande, porque podemos ser levados para caminhos de paz ou de sofrimento.

Acima de tudo, todos os que creem em Jesus como seu Senhor e Salvador contam com um Conselheiro que é superior a qualquer conselheiro deste mundo: o Espírito Santo.

Quando Jesus estava prestes a ser morto na cruz, afirmou que o Pai enviaria o Espírito Santo, e que este seria nosso instrutor e Consolador:

“... mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.” (João 14:26)

O sacerdote Joiada, em relação ao rei Joás, de certa forma fazia o papel que o Espírito Santo faz quanto a nós, porque ele ensinava ao rei a Palavra de Deus e o aconselhava para que tomasse as decisões corretas e dentro da vontade do Senhor. Enquanto Joás teve Joiada ao seu lado e lhe deu ouvidos, tudo corria de maneira adequada e Deus se agradava da vida de Joás.

O Espírito Santo, que habita em nós, está pronto a nos instruir na Palavra de Deus e a nos aconselhar para que nossas decisões sejam coerentes com os propósitos do Pai Celeste. Não encontraremos um conselheiro melhor do que o Espírito Santo, porque Ele nos conhece melhor do que nós mesmos e sabe exatamente qual é a vontade de Deus para nossas vidas, sendo capacitado para nos ensinar e orientar para que cheguemos aperfeiçoados ao fim de nossa caminhada aqui.

Assim, para que não corramos o risco de fracassarmos e sofrermos em nossas escolhas, como fez Joás, devemos ouvir o Conselheiro certo, que é o Espírito Santo de Deus, assim como é necessário que estejamos próximos de pessoas tementes a Deus, que possam contribuir para nosso crescimento, e não junto a pessoas insensatas que desprezam a Deus e à sua Palavra e amam as coisas do mundo, pois isto representa um grande perigo de que terminemos muito mal aquilo que começamos bem, gerando tristeza e sofrimento.

 

     2)   Manter-se fiel a Deus por amor (v. 17-25)

A infidelidade de Joás foi a sua derrocada. Enquanto ele se manteve fiel a Deus, cumprindo os mandamentos do Senhor e demonstrando zelo para com tudo que se relacionava a Deus, seu reino prosperava, o povo seguia seu bom exemplo e Deus abençoava Judá.

A partir do momento em que Joás voltou as costas para Deus e aderiu à idolatria, tudo começou a dar errado e Deus já não se agradava de seu testemunho.

O problema é que a fé de Joás era superficial, de maneira que nunca se formaram raízes em seu coração. Todos os ensinamentos que ele recebeu de Joiada só produziram efeito enquanto o sacerdote estava vivo para encorajá-lo, mas bastou que Joiada morresse para que Joás deixasse aflorar sua verdadeira identidade: um homem que amava o pecado.

A fidelidade que Joás demonstrou durante os anos em que contou com Joiada não se deveu ao seu amor por Deus, mas era apenas porque ele queria impressionar seu mentor e aparentar ser quem ele não era.

Joás nunca assimilou de verdade os ensinamentos da Palavra de Deus. E assim que Joiada se foi, ele se sentiu livre para viver como ele achava que deveria ser, e não conforme os mandamentos de Deus, que para ele talvez não passassem de meras regras religiosas.

Joás não estabeleceu um relacionamento pessoal com Deus. Ele caminhou com base no relacionamento que Joiada tinha com Deus, quando, na verdade, ele próprio deveria ter buscado maior intimidade com o Senhor, pois isso o levaria à fidelidade por amor e não por mera religiosidade sem sentido.

É como os filhos que apenas vão à igreja enquanto dependem dos pais e são por eles levados, mas que, tão logo consigam fazer sua própria vontade, deixam de lado tudo o que lhes foi ensinado e mergulham de cabeça no modo de vida apregoado pelo mundo, longe dos valores cristãos, pois sempre caminharam à sombra do relacionamento que os pais tinham com Deus, mas eles próprios não tiveram essa experiência pessoal com o Altíssimo.

Joás conhecia a Lei de Deus, portanto ele tinha consciência de que a desobediência levaria a consequências terríveis, conforme está registrado em Deuteronômio 28.15-68.

Todavia, seu coração desobediente não permitiu que ele parasse para refletir nas possíveis consequências, antes, ele simplesmente cedeu à sua inclinação ao pecado e se atirou a uma vida louca de idolatria e afastamento da presença de Deus, sem receio quanto ao que poderia resultar de tamanho ato de rebeldia.

Joás deveria saber que, como rei de Judá, as suas decisões e atitudes teriam repercussão sobre todo o seu povo, afinal, o rei era o líder maior da nação. Quando o rei era fiel a Deus, o povo seguia o seu exemplo e era abençoado. Já quando o rei era infiel, igualmente o povo se perdia e sofria as consequências de sua rebeldia, sendo privado das bênçãos do Altíssimo.

Na parte final do versículo 18 está escrito que “por esta sua culpa, veio grande ira sobre Judá e Jerusalém”.

Já nos versículos 19 e 20 vemos que o povo estava seguindo os caminhos do rei Joás, tanto que Deus enviou profetas para alertá-los e buscar a sua restauração, mas eles não ouviram, e na sequência, Zacarias, filho do sacerdote Joiada, movido pelo Espírito Santo, proclamou:

“Por que transgredis os mandamentos do SENHOR, de modo que não prosperais? Porque deixastes o SENHOR, também ele vos deixará.” (v. 20, b)

Estas palavras foram faladas ao povo de Judá, e não somente ao rei, o que deixa claro que o exemplo do rei estava sendo seguido pelos súditos, de maneira que todos falhavam no amor a Deus.

Entretanto, em vez de dar ouvidos aos profetas e a Zacarias, tanto o povo como o rei se voltaram contra eles, e no versículo 21 é dito que, a mando do rei, Zacarias foi apedrejado no pátio da Casa do SENHOR.

Joás não refletiu nem mesmo no ato de profunda ingratidão que estava praticando em relação a Joiada, pois não hesitou em mandar matar o filho do homem que havia salvado sua vida e que acreditara nele para ser o rei de Judá.

Por fim, Deus exerceu juízo sobre Joás e Judá, permitindo que o exército dos siros, embora em menor número, derrotasse o exército dos judeus, que era mais numeroso, matando todos os príncipes e causando destruição em Jerusalém.

Conforme narra 2 Reis 12.18, Joás, demonstrando desprezo para com as coisas de Deus, pegou as coisas sagradas e tesouros da Casa do SENHOR e da casa do rei e os enviou a Hazael, rei da Síria, e então este se retirou de Jerusalém. Todavia, Joás foi ferido em batalha e caiu enfermo, sendo, depois, morto por seus servos, como vingança pelo sangue dos filhos de Joiada (v. 25).

Todas as consequências experimentadas por Joás foram decorrentes de sua infidelidade a Deus, porque ele foi apenas um cumpridor de regras enquanto Joiada viveu, mas nunca se relacionou com Deus verdadeiramente. O SENHOR nunca foi o seu Deus, mas era o Deus de Joiada.

Quantos de nós realmente buscamos um real relacionamento com Deus, procurando conhecê-lo mais profundamente e amá-lo acima de todas as coisas?

É possível que estejamos vivendo como viveu Joás, uma vida de aparente religiosidade buscando impressionar alguém, mas sem experimentarmos um relacionamento mais íntimo com Deus, e assim que cessar o motivo que nos leva a agirmos como se fôssemos crentes, certamente nos afastaremos e cederemos à inclinação da carne, desprezando a Palavra de Deus.

O maior rei que Israel teve foi Davi. Ele não foi um homem perfeito e errou feio, violando a Lei de Deus em mais de uma oportunidade. Mas Davi não era um mero cumpridor de regras religiosas, ele tinha um relacionamento profundo com Deus, e quando confrontado pelos seus pecados, prontamente se arrependia e se prostrava diante de Deus clamando por perdão, pois ele sofria ao saber que havia feito algo que desagradava a Deus.

Enquanto Davi buscava seguir a Lei de Deus por amor a Deus, Joás o fazia por conveniência. Mas Davi foi honrado por Deus, enquanto Joás sofreu a terrível consequência de sua infidelidade.

Deus não quer meros cumpridores de regras nem pessoas que vivem uma religiosidade vazia. Ele busca pessoas dispostas a se relacionarem de forma profunda com Ele, usufruindo do grande prazer que é caminhar na presença do Altíssimo.

O amor a Deus nos leva a sermos fieis de verdade, de maneira que o pecado jamais vai ser algo que nos atraia mais do que estar na presença de Deus.

 

CONCLUSÃO

A triste vida de Joás nos ensina que devemos ouvir o Conselheiro certo e ser fieis a Deus por amor, porque é isto que permitirá que comecemos e terminemos bem a nossa caminhada de fé.

Uma vez que estejamos firmes em Deus, imersos em um relacionamento profundo que se estreita a cada dia, o próprio Deus nos fortalecerá e capacitará para concluirmos bem a nossa jornada nesta terra, conforme nos é assegurado em Filipenses:

“Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus.” (Filipenses 1:6).

E o seu Espírito Santo nos instruirá em toda a nossa caminhada, orientando-nos para que possamos estar sempre em sintonia com a vontade de Deus.

Busquemos um relacionamento pessoal com Deus, não nos baseando na fé ou no relacionamento de outra pessoa, porque cada um deverá prestar contas de si a Deus.

Que o amor a Deus seja o que nos faz obedecer à Palavra, pois o amor impedirá que façamos coisas que possam desagradar a nosso Pai.

José Vicente