domingo, 7 de agosto de 2022

Virtudes para superar momentos difíceis

 


Filipenses 4.4-9

Atualmente vivemos em uma sociedade em que as pessoas enfrentam inúmeros problemas diariamente. Questões financeiras, familiares, de saúde, políticas, religiosas, contribuem para que as pessoas andem sobrecarregadas, preocupadas, inseguras, com medo e com a esperança se desvanecendo.

Isto, porém, não é algo restrito ao nosso tempo. Na época da Igreja primitiva os cristãos também enfrentavam situações aflitivas que eram capazes de comprometer a sua fé e gerar sofrimentos incontáveis.

Quando Paulo escreveu a Carta aos Filipenses ele se encontrava preso, muito provavelmente em Roma, por causa da pregação do Evangelho de Cristo. Os cristãos da cidade de Filipos mostraram solidariedade para com o apóstolo, enviando-lhe donativos para atender às suas necessidades e oferecendo apoio moral e espiritual para que ele permanecesse firme.

Paulo, nessa carta, agradece aos irmãos pela demonstração de amor, e renova orientações para que eles continuem a crescer como discípulos de Jesus Cristo, mantendo-se fieis mesmo em meio às perseguições que a Igreja sofria naquele momento.

As orientações de Paulo aos irmãos de Filipos se aplicam à Igreja de hoje, porque embora muitos séculos tenham se passado desde aquela época, as situações de perseguição, de sofrimento e de turbulências se repetem, mas com outras roupagens.

A Igreja de hoje necessita revisitar a Carta aos Filipenses para avivar em sua mente os ensinos apostólicos com relação ao Reino de Deus e à forma como os cristãos devem se portar neste mundo, enquanto aguardam o retorno de Cristo.

Vamos analisar o que Paulo ensinou aos filipenses, e que continua ensinando a nós, que somos Igreja de Cristo.

1)      Alegria no Senhor (v. 4)

Quando Paulo escreveu essa carta aos filipenses ele se encontrava preso por causa da pregação do Evangelho de Cristo. Para muitas pessoas esse seria um motivo para viver triste e reclamando, pensando até em desistir de tudo. Inclusive os cristãos de Filipos estavam tristes pela situação de Paulo. Todavia, em vez do preso ser consolado pelos que se encontravam em liberdade, estes é que foram consolados pelo prisioneiro.

Paulo exortou os filipenses a serem alegres. Mas ele não estava se referindo a uma alegria circunstancial, que depende dos acontecimentos da vida, e sim à alegria superior que tem quem vive para Jesus. Paulo falava de uma alegria espiritual. Por esta razão ele disse: “alegrai-vos no Senhor”. Ele não disse alegrai-vos nas riquezas, nas vitórias ou em qualquer outra coisa meramente terrena.

Essa alegria à qual Paulo se refere se manifesta mesmo em meio a tribulações, tristezas e sofrimentos. Quando Paulo e Silas foram açoitados e presos (Atos 16.22-25), em vez de chorar e murmurar eles estavam na prisão orando e cantando louvores a Deus, o que demonstra que, embora privados da liberdade e muito machucados, eles sentiam a alegria de pertencer a Deus e de poderem servir ao Senhor, sabendo que coisas excepcionalmente melhores lhes estavam reservadas na vida vindoura.

A Palavra não está dizendo que é pecado sentir tristeza, muito menos que devemos fingir sentir aquilo que não sentimos. Vejam que Jesus demonstrou tristeza ao falar sobre o que aconteceria a Jerusalém devido ao fato de rejeitar a Deus e ao Seu Filho. Ele também ficou triste quando seu amigo Lázaro morreu.

Na carta aos filipenses o próprio Paulo deixou claro que ele experimentava sentimentos de tristeza devido à sua situação. No capítulo 2, versículos 27 e 28, Paulo fala de Epafrodito, um companheiro que adoeceu gravemente e esteve à beira da morte, mas foi restaurado por Deus. Paulo afirma que a cura de Epafrodito demonstrou a compaixão de Deus não apenas para com aquele homem, mas também para com Paulo:

“Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza. Por isso, tanto mais me apresso em mandá-lo, para que, vendo-o novamente, vos alegreis, e eu tenha menos tristeza.” (Filipenses 2:27,28)

A tristeza é um sentimento que faz parte do ser humano. O que a Bíblia nos ensina é que, apesar dos inúmeros motivos para termos tristeza, e embora o semblante algumas vezes possa expressar esse sentimento, a alegria nunca deve deixar de habitar nosso coração, de maneira que a tristeza não poderá encontrar morada permanente, mas apenas uma parada momentânea.

A alegria que deve encher o coração do cristão é baseada no amor que ele recebe de Deus, na salvação garantida por Jesus Cristo, na certeza do cuidado divino em todos os momentos, na esperança dos dias melhores que estão prometidos nas Escrituras.

Embora estivesse na prisão, Paulo certamente sentia o desejo de estar livre para continuar a pregar o Evangelho em diversos lugares, e isso lhe causava tristeza, mas ao mesmo tempo ele sentia alegria pelo fato de poder fazer parte de tão maravilhoso projeto de Deus para o ser humano, e se dispunha a servir a Deus em todas as circunstâncias, certo de que até mesmo preso poderia ser usado por Deus para alcançar vidas e glorificar ao Eterno.

Paulo sentia alegria pelo desenvolvimento espiritual dos filipenses (1.3-5), ao saber que outras pessoas estavam pregando o Evangelho, ainda que algumas tivessem interesses egoístas (1.12-18). Ele também se alegrava ao saber que os irmãos de Filipos estavam orando por ele, e porque aqueles cristãos demonstravam na prática o amor por meio da ajuda que prestavam ao apóstolo (4.10).

A alegria de Paulo era poder servir aos propósitos de Deus e ver o Evangelho transformando vidas, apesar das perseguições.

É interessante ver como há cristãos que não parecem cultivar essa alegria, porque vivem com semblantes carrancudos, murmuram constantemente, não conseguem ver nada de bom nos acontecimentos do dia a dia, olham para a vida e não enxergam o agir de Deus.

Pessoas que focam seu olhar apenas nas coisas negativas, nas dificuldades, e permitem que isso afete seu ânimo, sua confiança em Deus, sendo tomadas por tristeza e abatimento.

A alegria espiritual é decorrente de fixarmos nossos olhos em Jesus, de onde vem o nosso socorro, sustento, esperança, força e salvação. Nossa alegria vem do fato de termos uma esperança que não se frustra, com relação à vida no Reino de Deus e à completa libertação quanto às maldades deste mundo.

Alegremo-nos no Senhor, pois Ele cuida de nós em meio às turbulências, ainda que tudo pareça estar dando errado, porque “sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.” (Romanos 8:28)

 

2)      Moderação/amabilidade (v. 5)

No versículo 5 Paulo diz: “seja a vossa moderação conhecida de todos os homens”. Em outras versões, como a NVI, a palavra utilizada é amabilidade.

Paulo está exortando os cristãos a serem pessoas moderadas, amáveis, de fácil trato, capazes de agir com paciência e de retribuir com gentileza e amor a todas as pessoas, independentemente de como fossem tratadas.

Pessoas sem moderação tendem a ser destemperadas, impacientes, sem domínio próprio, prontas para retribuir na mesma moeda a quem as ofende ou lhes faz algum mal.

São pessoas que não conseguem se manter equilibradas diante de situações difíceis, perdendo a calma e o controle, o que acaba por lhes trazer consequências ruins, além de ser um péssimo testemunho da fé cristã.

Nossa referência em moderação e amabilidade é o Senhor Jesus Cristo, que demonstrava amor ao próximo mesmo em situações extremas, como no momento em que estava sendo levado para a morte na cruz.

Jesus não era uma pessoa explosiva, mas demonstrava grande equilíbrio emocional. Não falava sem refletir, antes, meditava no que iria dizer. Não era alguém que simplesmente reagia diante da fala alheia, mas tinha suas ações guiadas pelo amor e pela serenidade.

Paulo afirmou que essa moderação ou amabilidade deveria ser conhecida de todos, ou seja, não haveria de ficar restrita aos relacionamentos dentro da igreja, mas se estender a todas as pessoas com quem os cristãos viessem a ter algum contato, porque seria um testemunho eficiente da fé em Jesus diante do mundo, um traço que diferenciaria os cristãos dos ímpios.

O próprio Paulo, estando na prisão, procurava ser moderado e amável com todas as pessoas, pois tinha ciência de que deveria imitar o seu Senhor, Jesus Cristo, que tratava o próximo com atenção, respeitando as fraquezas e dificuldades de cada um.

E o apóstolo complementa dizendo: “Perto está o Senhor”. Na versão King James está traduzido da seguinte forma: “Breve voltará o Senhor.”

Trata-se de uma exortação para não descuidarmos de nosso modo de viver conforme o Evangelho de Jesus, porque o Senhor não tarda a voltar, e precisamos estar prontos para nos encontrarmos com Ele, além de precisarmos ser testemunhas fieis do Senhor para que o maior número possível de pessoas sejam alcançadas pelo anúncio das Boas Novas.

  

3)      Oração e gratidão em lugar de ansiedade (v. 6)

O apóstolo Paulo prossegue exortando os cristãos a não andarem ansiosos, mas a colocarem diante de Deus todas as suas necessidades, sempre com o coração grato pelo que Deus já fez em nosso favor.

É bastante elucidativa a tradução da Nova Versão Transformadora:

“Não vivam preocupados com coisa alguma; em vez disso, orem a Deus pedindo aquilo de que precisam e agradecendo-lhe por tudo que ele já fez.” (Filipenses 4:6)

A ansiedade é um problema sério que afeta milhares de pessoas no mundo. Trata-se de um estado psicológico em que a pessoa sofre antecipadamente por coisas que muitas vezes nem chegam a acontecer, ou por problemas que, em sua mente, tomam proporções muito maiores do que realmente têm.

Para a pessoa ansiosa, a simples possibilidade de um problema é suficiente para causar enorme sofrimento psicológico, com desgaste emocional que repercute em todo o corpo. Muitas pessoas sentem dores em várias partes do corpo e nem imaginam que são causadas pela ansiedade, como dor de estômago, dor de barriga, dores musculares, dor nas costas, dor na mandíbula, dor no peito, etc.

Existe um nível de ansiedade que se constitui em um problema de ordem psicológica e que muitas vezes necessita de auxílio profissional, todavia, o apóstolo Paulo nos afirma que o melhor caminho para evita a ansiedade causada pelas coisas da vida é entregar nossas necessidades e dificuldades a Deus por meio de oração e súplicas, sempre com ações de graças.

Orar é conversar com Deus, é dedicar um tempo à adoração, buscando ouvir a voz do Altíssimo. Esse ato de adoração não envolve pedidos, mas um diálogo com o Pai, um estreitamento desse relacionamento com nosso Senhor.

As súplicas são os pedidos propriamente ditos. Dizemos a Deus o que está nos afligindo e rogamos a sua providência, a sua atuação em nosso favor ou de outra pessoa para que determinada situação seja solucionada.

Ações de graças são os agradecimentos a Deus por tudo quanto Ele já fez e pelo que ainda fará em nossa vida.

Esses três elementos, oração, súplicas e gratidão, são essenciais para conseguirmos aquietar nossa mente e vencer a ansiedade, experimentando a paz que excede todo entendimento, conforme está prometido no versículo 7:

“E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.” (Filipenses 4:7)

Quando Paulo diz que a paz de Deus guardará nosso coração, está falando de nossos sentimentos, que serão transformados por Deus. E ao falar que essa paz guardará nossa mente, está se referindo aos nossos pensamentos, pois experimentaremos serenidade, venceremos o medo e a insegurança, certos de que, em Cristo, estamos a salvo e temos ampla suficiência de tudo, e nada nos faltará (Salmo 23).

A paz de Deus afasta a ansiedade, traz harmonia, restaura o ânimo, revigora as forças e renova a alegria em nossa vida.


4)      Pensamentos dignos de um filho de Deus (v. 8)

Aqui, Paulo prossegue exortando os cristãos a cuidarem de seus pensamentos. Sabemos que nossas ações passam, antes de se tornarem reais, pela nossa mente, assim como tudo o que é criado pelo ser humano.

Um carro, por exemplo, é pensado e projetado antes de ser construído. O mesmo se diga para um edifício, uma casa, um telefone celular, uma cadeira, um lápis, etc. Primeiro, o objeto é criado no pensamento, e posteriormente ganha forma no mundo físico.

Da mesma forma, as coisas que fazemos passam primeiro por nossa mente, na forma de pensamentos. Quando nossos pensamentos são ruins, cheios dos valores do mundo, certamente nossas ações serão compatíveis com esse padrão de pensamento. Jesus disse que do coração humano é que vêm os adultérios, homicídios, maledicências, conforme vemos em Mateus 15.19:

“Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.” (Mateus 15:19)

Coração, no texto de Mateus, representa a fonte da vontade humana, que na verdade corresponde à nossa mente, onde estão nossos pensamentos.

Então, maus pensamentos geram más ações. Aquilo que ocupa nossa mente vai determinar como será nosso comportamento no dia a dia. E se cometermos erros e maldades, isso se deverá ao fato de nutrirmos pensamentos inadequados, enchendo nossas mentes com coisas que deveríamos lançar fora.

Ciente disto, Paulo conclama os cristãos a sondarem suas mentes e a cultivarem pensamentos bons, onde haja verdade, nobreza, pureza, honestidade, justiça, amabilidade, louvor, para que suas condutas possam refletir o exemplo de Jesus Cristo.

A melhor maneira de substituirmos os pensamentos ruins por pensamentos bons é alimentarmos nossa mente com aquilo que é saudável espiritualmente, ou seja, com a Palavra de Deus. Quando nossa mente está repleta da Palavra de Deus, nossa conduta será naturalmente guiada pelos princípios da Palavra, e o Espírito Santo terá um solo muito fértil para trabalhar e produzir o fruto do Espírito.

O problema é que grande parte dos cristãos acabam ocupando suas mentes com coisas que além de não acrescentarem nada de bom, ainda fazem surgir dúvidas quanto a verdades bíblicas, sutilmente incutem valores contrários à Palavra, abalam o valores morais até então cultivados e ameaçam a integridade do caráter do cristão.

A prática do cultivo de pensamentos bons deve ser incentivada desde a infância, com os pais ensinando aos filhos a Palavra de Deus, e dando-lhes o exemplo por meio de sua conduta diária. Mas o que acaba acontecendo é que as crianças são expostas fartamente a programas de televisão, filmes, desenhos, músicas e diversas mídias que vão transmitindo, gradativamente, valores mundanos e incompatíveis com a Palavra de Deus.

Portanto, vigiemos nossos pensamentos, porque a partir deles serão pautadas nossas ações.

  

5)      Vida de prática da Palavra (v. 9)

Após essas exortações, Paulo afirma aos filipenses que, uma vez que eles aprenderam, receberam, ouviram e viram os ensinamentos quanto ao Evangelho de Jesus, era necessário colocar em prática tudo quanto foi aprendido, por meio de uma vida de obediência.

Na vida cristã a teoria e a prática têm que caminhar juntas. De nada adianta se encher de conhecimento mas viver como se não conhecesse a Cristo. É ilusão memorizar textos bíblicos, ser profundo conhecedor dos estudos da teologia, saber o que é correto, mas não fazer o que se aprendeu, tendo uma vida de incoerência.

Desde o início da Bíblia constatamos que Deus requer de nós uma vida de obediência. Não foi à toa que Ele enviou profetas, Seu próprio Filho Jesus e os apóstolos para nos ensinarem sobre o Reino de Deus. Ele queria um povo fiel e obediente, que O honrasse por meio de um estilo de vida guiado por Seus mandamentos.

A prática da Palavra de forma obediente e fiel traz como resultado a presença marcante de Deus, conforme está prometido no fim do versículo 9: “e o Deus da paz será convosco”.

A obediência nos aproxima de Deus e nos torna testemunhas de Seu amor e Sua graça, de maneira que, assim como aconteceu com Paulo, também nós podemos ser usados como instrumentos para alcançar outras pessoas e glorificar a Deus por nossa vida.

 

CONCLUSÃO

A Igreja de Cristo continua a ser desafiada a se manter fiel à Palavra de Deus, mesmo em meio a adversidades e distrações com que se depara diariamente. E para vencer esse desafio, a Igreja precisa estar firmada na Palavra e repleta do Espírito Santo, cultivando uma vida de coerência com as Escrituras.

A Igreja deve ser instrumento de Deus para alcançar e transformar vidas por meio da pregação do Evangelho, e isto será feito por cristãos que mantêm o coração aquecido pela alegria de pertencer a Cristo, que são moderados e amáveis, que vencem a ansiedade por meio da oração com súplicas e ações de graças, que cultivam pensamentos dignos de filhos de Deus e vivem a fé que professam de maneira integral.

Esta é a Igreja que Paulo diz que deve resplandecer como estrelas em meio a um mundo cercado por trevas de corrupção e pecado (1.15).

José Vicente

JESUS PROCURA FRUTOS EM NÓS

 


Mateus 21.18-21

Os fatos narrados nessa passagem no Evangelho escrito por Mateus ocorrem em um período bem próximo ao fim do ministério terreno de Jesus, estando perto o momento do sacrifício de Jesus.

Ele intensifica as advertências quanto à dureza do povo de Israel e à sua falta de uma verdadeira comunhão com o Deus Altíssimo.

No mesmo capítulo, um pouco antes pudemos ver Jesus entrando em Jerusalém, seguido por uma multidão que proclamava: “Hosana ao Filho de Davi”. Na sequência, Ele expulsou do templo aqueles que estavam ali apenas buscando lucros, transformando aquele lugar em um comércio, desonrando a Deus. Jesus ainda curou cegos e coxos, e ao ser interpelado pelos líderes judeus, invocou as Escrituras para responder aos seus questionamentos e demonstrar a sua natureza divina e a sua autoridade.

Logo depois, Jesus foi para Betânia, onde passou a noite. Betânia era uma aldeia onde viviam seus amigos Lázaro, Marta e Maria.

E então chegamos ao momento em que, voltando para Jerusalém, Jesus sentiu fome e foi procurar figos em uma figueira cheia de folhas, nada encontrando.

Do texto é possível extrair lições valiosas. Vamos destacar algumas:

 

    1)   Jesus não pode ser enganado por aparências (v. 19)

O versículo 19 narra que Jesus, estando com fome, viu uma figueira cheia de folhas e foi procurar figos para comer. Não encontrando nenhum fruto, disse “nunca mais nasça fruto de você”, e a figueira secou. Parece algo sem sentido, principalmente quando lemos o texto paralelo, em Marcos (Mc 11.13), quando o evangelista esclarece que não era tempo de figos.

Ora, se não era tempo de figos, por que razão Jesus foi procurar figos naquela figueira? Será que ele não tinha conhecimento com relação às épocas em que as figueiras deveriam produzir seus frutos?

É óbvio que tanto Jesus como seus discípulos sabiam que não era tempo de figos. Entretanto, há uma particularidade que precisa ser observada para que possamos compreender o ensino que o texto nos traz. A figueira, ao contrário de outras árvores, produz primeiro os frutos, e somente depois vêm as folhas. Uma figueira cheia de folhas indicava que ela tinha frutos. E embora não fosse época de figos, o fato de aquela figueira estar com farta folhagem indicava que ela teria frutos temporãos.

A região onde Jesus estava possuía muitas oliveiras e figueiras. E naturalmente as figueiras estavam sem folhagem, justamente porque não era época de produzir frutos. Aquela figueira se destacava dentre as demais porque aparentava ter figos, devido à sua folhagem, e por isso Jesus foi até ela, e não procurou nas outras. Ele sabia que as outras não tinham fruto, mas aquela indicava que teria.

Todavia, nenhum fruto foi encontrado naquela figueira. Ela só tinha folhas, sua aparência era enganosa, e por isso Jesus disse que não mais nasceriam frutos dela.

A figueira no texto representa Israel (Jr. 8.13; Os. 9-10; Lc. 13.6-9). A situação de Israel era como a daquela figueira, pois estando infrutífera, a nação tentava passar uma imagem de saúde espiritual que não correspondia à sua realidade.

Israel tinha muita religiosidade, mas estava longe de Deus. Durante todo o ministério terreno de Jesus vemos que os líderes religiosos, em vez de ficarem felizes e glorificarem a Deus diante das curas realizadas, somente se dedicavam a encontrar meios de condenar Jesus, chegando até mesmo a dizer que ele expulsava demônios pelo poder do maioral dos demônios.

Verifica-se que, pouco antes, Jesus havia feito a purificação do templo (Mt 21.12-13), porque o local onde se deveria prestar adoração sincera a Deus foi transformado em um comércio onde a fé era fonte de lucro.

Muitas pessoas seguiam Jesus interessadas naquilo que Ele poderia lhes oferecer de imediato (alimento, cura, libertação), mas não estavam dispostas a ter suas mentes e seus corações transformados para que pudessem ter uma real mudança de vida.

Os líderes religiosos eram os principais a passar uma imagem enganosa, transmitido uma vida piedosa que não tinham. Não havia amor, arrependimento, solidariedade, humildade, etc., mas apenas a busca por vantagens pessoais.

Quem olhava para Israel via um povo religioso e poderia ser enganado por essa aparência, assim como a aparência da figueira enganava. As folhas da religiosidade cobriam a falta de frutos autênticos de uma vida santa e coerente com a Palavra de Deus.

Entretanto, o texto mostra que não é possível enganar a Jesus. Ele não se satisfaz com a aparência, mas procura por frutos entre as folhas.

O que Jesus ensina nessa passagem, porém, não é restrito a Israel, mas se aplica a todo o seu povo, alcançando também a nós, que fazemos parte de seu rebanho.

Assim como Israel era uma figueira enganosa, igualmente nós podemos nos encontrar em situação semelhante, preocupando-nos com nossa “aparência religiosa” e negligenciando o mais importante, a produção de frutos que demonstrem que realmente somos nascidos de novo.

A aparência da figueira era incompatível com sua realidade, assim como pode ser que nossa aparência não guarde coerência com o que está em nosso coração.

É possível que estejamos focados em seguir regras religiosas, cumprir compromissos religiosos, mas esquecendo do principal, que é a vida de comunhão autêntica com Deus, de obediência, de submissão à sua vontade expressada nas Escrituras.

Pode ser que estejamos nos esforçando para passar uma imagem que não corresponde de fato a quem nós somos, incidindo em um autoengano, porque acreditamos ser quem não somos.

Devemos lembrar, porém, que a Bíblia afirma claramente que Deus vê o coração, e não a aparência:

“Porém o Senhor disse a Samuel: — Não olhe para a sua aparência nem para a sua altura, porque eu o rejeitei. Porque o Senhor não vê como o ser humano vê. O ser humano vê o exterior, porém o Senhor vê o coração.” (1 Samuel 16:7)

Essa verdade ficou expressa na passagem da figueira, porque Jesus não se contentou com a aparência da árvore, mas foi até ela para procurar frutos, porém não os encontrou, ficando decepcionado com aquela propaganda mentirosa.

Não adianta tentarmos aparentar ser quem não somos. As pessoas podem até ficar iludidas conosco, mas Jesus vai além das folhagens, os olhos dEle vão ao nosso íntimo para sondar nossa essência e ver quem realmente somos.

Israel vivia uma espiritualidade falsa, sem coerência, e nós precisamos nos examinar para verificar se não estamos vivendo uma mentira, um autoengano, pois não temos como enganar nosso Senhor Jesus.

Ainda no versículo 19 Jesus disse: “nunca mais nasça fruto de você”.

Jesus demonstra que a mentira não será aceita no Reino de Deus. O fato de ter se secado a figueira nada mais é do que a representação da situação daquele que vive uma espiritualidade de fachada, mentirosa, sem frutos: uma vida seca espiritualmente, sem o fluir da água abundante que é o Espírito Santo de Deus.

Aquele que diz ser parte do povo de Deus mas não tem uma vida compatível, vivendo apenas de aparências, porém sem produzir frutos que glorifiquem a Deus, na verdade vive uma seca espiritual, e vai continuar assim, porque Jesus não quer mentirosos em Seu Reino, mas adoradores sinceros, que, embora sejam falhos, produzam frutos que demonstrem uma piedade verdadeira.

 

     2)   Jesus ensina a necessidade de uma fé operante (v. 21-22)

Os discípulos ficaram admirados ao verem que a figueira secou diante da palavra de Jesus, e quiseram saber como isso tinha acontecido. Jesus, então, ministrou um ensino que é profundo e trata da necessidade de cultivar uma fé operante.

Jesus afirma que se os discípulos tiverem fé e não duvidarem, ordenarão ao monte que se levante e se jogue no mar, e assim ocorrerá. E conclui que eles receberão o que pedirem em oração com fé.

Em primeiro lugar, devemos destacar o fato de que esse ensino de Jesus acaba por esclarecer que Israel não produzia frutos porque não tinha uma fé operante.

Toda a religiosidade de Israel não resultava em uma vida frutífera na presença de Deus, porque a fé que eles tinham não os levava a uma vida coerente com a Palavra. Era uma fé insuficiente para agradar a Deus, pois estava firmada em regras religiosas e sentimentos de autossuficiência.

Desta forma, era impossível que, com aquele tipo de fé inoperante, Israel conseguisse produzir frutos compatíveis com sua condição de povo de Deus.

A figueira é uma árvore cujas raízes são fortes, e se for plantada em áreas urbanas há até o risco de danificar estruturas de imóveis, de pavimentos públicos, etc. Ela se dá bem em locais onde há boa quantidade de água, crescendo com vigor e frutificando.

Israel era uma figueira cujas raízes não estavam firmadas na fé genuína em Deus e Sua Palavra, de maneira que a seiva que recebiam não vinha de Deus, uma vez que não mantinham comunhão verdadeira com Ele, e isto acabava por impedir que o povo frutificasse como deveria.

A fé operante é aquela que nos conduz não apenas a crer em Deus – o diabo também crê em Deus -, mas a agir em conformidade com essa fé, obedecendo à Palavra e nos empenhando para sermos pessoas melhores, como é o desejo de Deus.

É uma fé que não fica restrita a palavras, mas se traduz em atos no dia a dia, e que mostra coerência entre o que falamos e o que fazemos.

Sem a fé operante não há como produzir frutos.

Quando nossa fé é autêntica e operante, o Espírito Santo tem amplo espaço para produzir em nós o fruto do Espírito, que é maior evidência de que estamos sendo transformados por Deus e que somos figueiras frutíferas, e não apenas cobertas de folhas, sem frutos.

Em segundo lugar, a fé operante leva a crer no impossível e a não duvidar do que Deus pode fazer. Jesus usa um exagero de linguagem, chamado hipérbole, ao falar de ordenar ao monte para se jogar no mar, com a finalidade de ensinar aos discípulos que não existe nada impossível para Deus, e que é necessário crer firmemente nessa realidade.

É uma fé que conduz à certeza de que Deus atenderá à oração daquele que O busca com coração sincero e quebrantado.

É a fé que leva à perseverança na oração, que não duvida por mais difícil que seja a situação. É a fé que tem como objetivo principal cumprir a vontade de Deus, servir aos propósitos de Deus.

Na carta aos Hebreus é dito o seguinte sobre a fé:

“Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam.” (Hebreus 11:6)

Portanto, a fé é o elemento chave no relacionamento com Deus. Orar com fé é o caminho para receber a resposta do Pai.

 

 

CONCLUSÃO

Somos desafiados pela Palavra de Deus a sermos figueiras frutíferas, não apenas com bela folhagem, mas cheias de frutos, ou seja, que nossa fé em Deus se exteriorize na forma de atitudes e palavras que sejam coerentes entre si e deixem evidente que somos discípulos de Cristo, como Ele afirmou em João 15:

“— Eu sou a videira, vocês são os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim vocês não podem fazer nada. Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam. Se permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será feito. Nisto é glorificado o meu Pai: que vocês deem muito fruto; e assim mostrarão que são meus discípulos.” (João 15:5-8)

Nessa passagem do Evangelho escrito por João, Jesus usa a figura da Videira, que é Ele próprio, sendo nós os seus ramos. A mensagem é a mesma da figueira: é necessário produzir frutos compatíveis com nossa fé em Jesus.

E o Mestre deixa claro que somente conseguiremos produzir frutos se permanecermos nEle. A sequência do texto em João evidencia que produzir frutos tem a ver com uma vida de obediência aos Seus mandamentos, onde o amor ao Senhor e ao próximo são os alicerces.

Que a nossa vida seja coerente com a fé que professemos, e que, firmados em Jesus, produzamos muitos frutos para a glória de Deus e para testemunho de Seu poder perante o mundo.

José Vicente