sexta-feira, 15 de março de 2024

Lições de Sodoma e Gomorra

 


Texto: Gênesis 19.1-17; 23-36

A narrativa da destruição de Sodoma e Gomorra é uma das mais conhecidas da Bíblia. O texto conta que, tendo Abraão recebido a visita de Deus e dois anjos em forma humana (uma teofania), foi alertado por Deus quanto à destruição de Sodoma e Gomorra devido à pecaminosidade exacerbada daquelas cidades.

Depois que Abraão indagou a Deus com relação à possibilidade de poupar as cidades caso encontrasse justos habitando nelas, os dois anjos foram enviados para cumprir a missão de destruição, mas antes deveriam retirar Ló e sua família para um lugar seguro.

Ló era sobrinho de Abraão e habitava em Sodoma, onde tinha seus negócios e mantinha sua família. Após uma aglomeração de pessoas mal intencionadas que pretendiam cometer abusos contra os homens que se hospedaram na casa de Ló, e que eram anjos em forma humana, veio a revelação de que a cidade seria destruída.

Essa história bíblica revela, em pleno período patriarcal, antes mesmo do advento da Lei que foi dada no Sinai por intermédio de Moisés, o Evangelho pré-anunciado em figuras que vamos analisar a partir de agora.

 

    1)    SODOMA E GOMORRA: A CONDENAÇÃO DO PECADO

Essas duas cidades eram cheias de corrupção, imoralidade sexual, com pessoas desprovidas de ética, sem lealdade, sem dignidade, afeitas à violência, sem amor, sem compaixão, sem os valores transmitidos por Deus ao Seu povo.

No texto vemos que os homens da cidade queriam abusar dos dois homens (anjos) que estavam hospedados na casa de Ló, e quando este tentou impedi-los, oferecendo as próprias filhas, os cidadãos de Sodoma se voltaram contra ele e disseram que fariam a ele pior do que aos dois hóspedes.(vv. 4-9).

Sodoma e Gomorra tipificam o mundo desprovido de valores morais e éticos, afastado de Deus, totalmente entregue à devassidão e à carnalidade. O pecado do povo dessas cidades era tão grave, que apenas os dois anjos foram até lá, enquanto o Senhor permaneceu com Abraão (Gn 18.22), pois Deus não contempla o pecado, mas estava à vontade na presença de Abraão.

Embora esses fatos tenham ocorrido milhares de anos atrás, podemos verificar que atualmente não há muita diferença no mundo em que vivemos, porque diariamente testemunhamos pelas mídias informativas e redes sociais, e às vezes pessoalmente, a maldade humana se espalhando, a falta de amor destruindo vidas, a imoralidade sexual sendo exposta e praticada aos olhos de todos, a corrupção tomando conta de todos os setores da sociedade, os valores morais e éticos jogados no lixo.

Nossa sociedade está cada vez mais egoísta, voltada para o que é supérfluo e passageiro, desprezando a Palavra de Deus dia após dia, vivendo como se não houvesse de prestar contas ao Altíssimo.

Na verdade, está se cumprindo o que Jesus afirmou em Mateus 24.12: “¹² E, por se multiplicar a maldade, o amor se esfriará de quase todos.”

O retrato do povo de Sodoma e Gomorra é muito parecido com o retrato do mundo da época de Paulo e o mundo atual, cabendo lembrar aqui as palavras de Paulo na Carta aos Romanos:

“²⁸ E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a um modo de pensar reprovável, para praticarem coisas que não convêm. ²⁹ Estão cheios de todo tipo de injustiça, perversidade, avareza e maldade. Estão cheios de inveja, homicídio, discórdia, engano e malícia. São difamadores,³⁰ caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes, orgulhosos, inventores de males, desobedientes aos pais,³¹ insensatos, desleais, sem afeição natural e sem misericórdia.³² Embora conheçam a sentença de Deus, de que os que praticam tais coisas são passíveis de morte, eles não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam.” Romanos 1:28-32

A destruição que sobreveio a Sodoma e Gomorra aponta para o juízo de Deus quando realizar o julgamento do mundo, o que ocorrerá na segunda vinda de Cristo. O destino daqueles que rejeitam a graça de Deus e abraçam o mundo é perecer, pois já estão condenados, assim como estavam condenados os habitantes de Sodoma e Gomorra devido à sua dureza de coração e apego ao pecado.

 

     2)    LÓ: O PECADOR QUE RECEBE GRAÇA

Ló era sobrinho de Abraão e, depois de um desentendimento com seu tio devido ao tamanho de seus rebanhos, optou por viver nas proximidades de Sodoma. Com o tempo, ele acabou fixando sua moradia na cidade de Sodoma, juntamente com sua família.

Ele estava vivendo em meio a um povo corrompido, e talvez já estivesse habituado a ver as práticas pecaminosas do povo com certa naturalidade. Ló estava tão familiarizado com aquela sociedade que suas duas filhas iriam se casar com homens de Sodoma (v. 14).

Então, é provável que a consciência de Ló estivesse cauterizada, não se incomodando com a maldade que imperava na cidade, com os costumes totalmente absurdos e contrários à vontade de Deus que eram adotados pelos moradores daquela localidade.

Ló representa o pecador que não tem mérito para escapar do juízo de Deus, mas que recebe graça por intermédio de outro: Abraão, que tipifica Jesus Cristo.

Toda a humanidade é representada por Ló, porque, como diz a Bíblia, “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23).

Quando Abraão perguntou a Deus se ele destruiria as cidades caso houvesse certas quantidades de justos no meio do povo, Deus disse que não destruiria. Abraão começou perguntando se houvesse cinquenta justos, e terminou com dez (Gn 18.24-33), entretanto, não havia nenhum justo em Sodoma e Gomorra, por isto a sentença de destruição foi mantida.

Significa que Ló não foi visto como justo, todavia, por causa de Abraão, Deus estendeu sua graça a Ló e sua família para que fossem salvos da destruição.

Ló é o nosso representante nesse episódio, porque, conforme nos ensina a Bíblia, nós não somos justos e não possuímos méritos que nos assegurem um lugar no Reino de Deus e livres da condenação. Não temos como salvar a nós mesmos. Não temos nada a apresentar diante de Deus para cancelar a sentença de condenação, por isso precisamos de um mediador, alguém que, sendo justo, estenda sobre nós a justificação e nos redima de nossos pecados.

 

     3)    ABRAÃO: TIPO DE CRISTO

Abraão foi chamado por Deus para que saísse de sua terra, da casa de seus pais, e fosse a um lugar que Deus lhe mostraria, e recebeu a promessa de ser pai de uma grande nação, vindo a ser um canal de bênção para todas as famílias da terra (Gn 12).

Ele mantinha comunhão com Deus, era obediente e fiel ao Senhor. A Bíblia afirma que ele foi chamado amigo de Deus (Tiago 2.23). Abraão também é chamado de pai da fé. Foi por sua fé autêntica que Abraão foi justificado sendo ainda incircunciso (Rom 4). Abraão procurava não ter aliança com pessoas que praticavam a impiedade, tendo inclusive recusado receber do rei de Sodoma, em certa ocasião, sua parte nos despojos quando voltou de uma batalha em que Deus lhe concedera vitória (Gn 14).

Foi por causa de Abraão que Deus salvou Ló (v. 29).

Abraão tipifica Jesus Cristo. Assim como Ló foi salvo da destruição porque Deus, lembrando-se de Abraão, estendeu graça sobre Ló, também nós somos salvos da ira vindoura por causa de Jesus Cristo.

Jesus é o mediador por meio de quem a graça de Deus se manifesta a nós. Pelos méritos de Jesus, que cumpriu integralmente a Lei de Deus e foi obediente até a morte na cruz, somos justificados e resgatados.

“⁵ Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem,⁶ o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos.” 1 Timóteo 2:5,6

Não há outro caminho para que o ser humano escape da sentença de condenação, senão pela fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, que veio como homem ao mundo e morreu na cruz, mesmo sendo inocente, para com seu sangue nos limpar de todo pecado e nos apresentar purificados diante de Deus, garantindo-nos um lugar no Reino de Deus.

 

     4)    A FÉ: ESSENCIAL À SALVAÇÃO

Quando os anjos disseram a Ló para se preparar a fim de sair daquele lugar com sua família porque a cidade seria destruída por causa do pecado, Ló acreditou e foi tomar providências (Gn 19.13-14).

Os genros de Ló, porém, quando ouviram isso, acharam que se tratava de uma piada de Ló e não acreditaram, seguindo suas vidas normalmente.

Como resultado, Ló saiu da cidade com as filhas e a esposa, mas sem os genros, pois estes não creram. Os genros foram destruídos com o restante dos moradores, visto que não deram crédito à mensagem ouvida.

Da mesma forma que aqueles anjos anunciaram o juízo de Deus sobre Sodoma e Gomorra, hoje o Evangelho é pregado pela Igreja, que anuncia a segunda vinda de Cristo e o juízo de Deus sobre todo o mundo.

Há os que creem e buscam abrigo em Jesus, entregando suas vidas a Ele e sendo salvos, mas muitos veem isto como um conto de fadas, ficção, fanatismo religioso, e rejeitam a mensagem proclamada.

A incredulidade mantém as pessoas em sua condição de condenação, porque não creem em Jesus Cristo e na necessidade de conversão para que possam ter acesso ao Reino de Deus. Não creem que são pecadoras e que, ainda que façam boas obras, isso não é suficiente para lhes assegurar a salvação, que somente pode ser obtida por meio de Jesus Cristo, que com seu sangue pagou um alto preço pelo nosso resgate.

Assim, cumpre-se o que foi dito por Jesus:

“¹⁵ E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.¹⁶ Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.” (Marcos 16:15,16)

É pela fé que a mensagem do Evangelho faz sentido para nós e recebemos a graça salvadora de Deus por meio de Jesus Cristo:

⁸ Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;⁹ não de obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2:8,9)

 

     5)    URGÊNCIA

Apesar de os anjos terem alertado para a iminente destruição de Sodoma e Gomorra, Ló demorou para sair da cidade, de maneira que os anjos pegaram a ele e sua família pela mão e os levaram para fora da localidade (v. 15-16).

O texto diz claramente que isso se deu pela misericórdia de Deus (v. 16). Uma vez que Ló estava se demorando, os anjos poderiam tê-lo deixado ali com sua família, partindo para o cumprimento de sua missão de destruir as cidades, mas Deus é misericordioso e fez com que os anjos dessem um empurrãozinho em Ló, de forma que ele e sua família saíssem logo.

Assim como é urgente anunciar o Evangelho ao mundo, também é urgente que as pessoas compreendam a mensagem e tomem a decisão que vai transformar suas vidas, no sentido de renunciar aos valores do mundo e buscar refúgio em Jesus Cristo, entregando sua vida a Ele.

Não sabemos quando ocorrerá a segunda vinda de Cristo, mas sabemos que pode acontecer a qualquer momento, quando ninguém estiver esperando, por isso não se pode deixar para amanhã a decisão de entregar sua vida a Jesus, pois nem mesmo sabemos se haverá um amanhã. Jesus pode voltar daqui a cem anos, dez anos, um ano, um mês, amanhã ou hoje mesmo, portanto, o dia para dar ouvidos à voz de Deus é hoje, como diz a Escritura:

“⁷ Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz,⁸ não endureçais o vosso coração como foi na provocação, no dia da tentação no deserto” (Hebreus 3:7,8)

 

     6)    A MULHER DE LÓ: OS QUE RETROCEDEM

O versículo 26 diz que a mulher de Ló olhou para trás e se converteu em uma estátua de sal.

A expressão hebraica traduzida como “olhou para trás” tem o sentido de olhar com saudades, com desejo de voltar, de retroceder, retornar, e não apenas de olhar. Então, a mulher de Ló, quando já estava chegando à cidade de Zoar, onde estaria a salvo, sentiu o desejo de voltar para trás, de não se afastar de Sodoma e seu povo, e assim acabou perecendo.

Ela representa os que simpatizam com a mensagem do Evangelho, ou acreditam em um falso evangelho, em um Jesus criado conforme a idealização humana, mas não entregam sua vida a Jesus Cristo, e logo sentem vontade de voltar à velha vida, aos velhos hábitos pecaminosos que nunca saíram de seu coração.

Também representa aqueles que estão caminhando com o povo de Deus porque seguem alguém da família, mas seu coração está preso ao mundo e logo retrocedem. Pessoas que querem ficar com os pés em dois barcos, porque seu coração está preso às coisas mundanas.

Jesus confirmou que esse tipo de pessoa não entrará no Reino de Deus:

“⁶² Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus.” (Lucas 9:62)

Jesus está falando justamente das pessoas que, tendo iniciado a caminhada cristã, ficam presas à vida que tinham e retrocedem em vez de avançar.

O autor da Carta aos Hebreus, enfatizando essa verdade, afirma:

“³⁷ Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará;³⁸ todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma.³⁹ Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.” (Hebreus 10:37-39)

Em 1985 foi lançado um filme que tinha o ator Jean-Claude Van Damme, e se intitulava “Retroceder nunca, render-se jamais”. Era um filme de artes marciais. O título do filme é bastante sugestivo e poderia ser adotado como um lema para a vida cristã.

Retroceder nunca! Sempre prosseguir em frente, rumo ao alvo, como Paulo afirma na Carta aos Filipenses:

“¹³ Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão,¹⁴ prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3:13,14)

Render-se jamais! Não se render ao pecado, às tentações, às investidas de Satanás, aos atrativos do mundo, mas resistir firmes na fé em Cristo.

“⁸ Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar;⁹ resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo.” (1 Pedro 5:8,9)

Ló e suas filhas chegaram à cidade de Zoar e foram salvos da destruição, porém a sua esposa, que retrocedeu, sofreu o juízo de Deus e pereceu.

 

CONCLUSÃO

No mundo sombrio e corrompido em que vivemos Deus nos chama para que nos refugiemos em Cristo, renunciando ao pecado e aos atrativos mortais que o mundo nos oferece, agindo com diligência e seguindo sempre em frente, firmes na fé, sem jamais vacilar ou retroceder.

Como Igreja, somos convocados a anunciar ao mundo que a segunda vinda de Cristo se aproxima, e que no Dia do Grande Juízo serão condenados todos aqueles que rejeitaram o Filho de Deus e a mensagem do Evangelho, tendo preferido abraçar o mundo e suas paixões infames.

O anúncio do Evangelho deve ser feito hoje, assim como hoje é necessário que cada pessoa creia em Jesus e se converta de seus maus caminhos, para que, no Dia do Juízo, esteja abrigada em Cristo e se cumpra o que foi dito por Jesus:

“²⁴ Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” (João 5:24)

E foi reafirmado pelo apóstolo Paulo:

“¹ Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Romanos 8:1)

Que a misericórdia de Deus seja derramada sobre nós e principalmente sobre aqueles que ainda não se renderam a Jesus, para que, enquanto ainda há tempo, ouçam a proclamação do Evangelho e creiam no Filho de Deus, para que tenham a vida eterna.

José Vicente

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