domingo, 21 de julho de 2019

Restauração para a alma abatida


Textos base: Salmos 42 e 43

Antes de começarmos a falar sobre o abatimento da alma, é necessário termos ideia do que vem a ser o abatimento. O dicionário[1] apresenta os seguintes significados para a palavra:

Enfraquecimento físico ou moral; depressão, prostração. Perda ou redução da força física; enfraquecimento. Falta de vigor moral; entristecimento.

Percebe-se que o abatimento é uma situação que atinge tanto a esfera psicológica como física. Geralmente o estado de abatimento de uma pessoa é facilmente perceptível em seu semblante (tristeza aparente, olhar desanimado), em sua postura corporal (corpo encurvado, cabeça inclinada para baixo), em suas palavras (negatividade, ausência de esperança, reclamação) e em suas atitudes (falta de ânimo para sair ou para fazer qualquer coisa, abandono de planos, isolamento, etc.).


O abatimento vem em diversos níveis, mas a situação é mais extrema quando desemboca em uma depressão, com grande prostração, onde por vezes a pessoa chega a perder até mesmo a vontade de viver.

Nos Salmos 42 e 43, cuja leitura fizemos, podemos perceber que o seu autor também atravessava um momento de grande abatimento. Isto pode ser visto com clareza no Salmo 42, versículo 3, onde ele fala do seu choro constante; versículo 4, onde ele rememora um tempo em que tinha alegria, mostrando que naquele momento estava infeliz; versículos 5 e 11, onde de forma explícita ele, conversando consigo mesmo, pergunta por que sua alma está abatida; versículo 6, em que o salmista diz que sente a alma abatida; além de muitos outros versículos que evidenciam a situação de tristeza, abatimento, de dor na alma.

O abatimento não tem uma causa única, mas pode ser provocado por diversos fatores que nos trazem aflição, tristeza, desilusão. No texto lido podemos ver que o salmista fala em opressão de inimigos (v. 9-10, Salmo 42; v. 2, Salmo 43), em nação contenciosa, homem injusto e fraudulento (v. 1, Salmo 43), em sofrimentos que vêm como ondas de um mar bravio e passam sobre ele (v. 7, Salmo 42). Segundo consta, o autor seria um levita que se encontrava exilado em uma localidade de gentios, onde não tinha como ir ao templo adorar a Deus e sua fé era alvo de zombaria.

Ao longo de nossa vida, é bem provável que experimentemos alguns períodos de abatimento. Uns provarão níveis mais profundos de abatimento, enquanto outros passarão por suas formas mais leves, mas uma coisa é certa, todos nós estamos sujeitos a nos sentir abatidos em dados momentos de nossa existência.

E as causas são diversas: o peso de pecados não confessados; oposições; projetos frustrados; doenças; perdas; falsas acusações; críticas; solidão; etc.

Analisando os Salmos 42 e 43, podemos extrair algumas lições que nos auxiliarão nos momentos em que nos sentirmos abatidos.

   1)   Sentir abatimento não significa falta de fé, mas nossa fé deve ser aperfeiçoada nesse período difícil
Infelizmente existe um pensamento equivocado de que o crente não pode ter depressão, não pode passar por períodos de abatimento, que deve constantemente estar de bem com a vida, mesmo diante das maiores tribulações, deve caminhar sempre de forma altaneira. Há uma perigosa “teologia do super-crente”.

Isto, porém, não encontra amparo na Bíblia, pois ela, na verdade, revela a fragilidade humana, evidenciando o quanto necessitamos da graça de Deus para podermos superar as debilidades que possuímos.

Sentir-se abatido, deprimido, desencorajado, é algo que pode acontecer tanto com o crente como com o incrédulo. A diferença está na forma como cada qual lidará com a situação, mas o fato de um crente ver-se abatido não significa que ele não tenha fé.

Vemos nesses Salmos que o seu autor estava passando por enorme tristeza, sentindo-se extremamente abatido, todavia, há vários indicativos de sua fé no Altíssimo. Os versos 1 e 2 do Salmo 42, por exemplo, mostram o anseio do salmista pela presença de Deus. Os versos 5 e 11 revelam sua fé quando ele diz a sua alma para esperar em Deus, afirmando que Deus é o seu auxílio. Já no Salmo 43 podemos citar o verso 1, onde o autor está recorrendo a Deus para pleitear a sua causa. No verso 2 ele diz que Deus é sua fortaleza.

Podemos dizer, portanto, que o salmista era um homem de fé, assim como Jó, que em meio ao seu sofrimento sentiu-se muito abatido, mas manteve sua fé em Deus.
A Bíblia nos permite saber que ao longo dos anos muitas pessoas tementes a Deus foram acometidas de abatimento em variados níveis. Elias, por exemplo, após ser instrumento de demonstração do poder de Deus contra os falsos profetas que serviam ao rei Acabe e perante todo o povo de Israel, intimidou-se ao ser ameaçado por Jezabel e retirou-se para longe, não sentindo ânimo nem coragem de prosseguir em seu ministério profético. Ele só recobrou o ânimo após ser tratado por Deus (1Reis 1-18).

O abatimento que nos sobrevém não é uma demonstração de falta de fé, mas uma consequência da nossa condição de seres humanos, pois infelizmente ainda não atingimos a perfeição, que somente experimentaremos quando tivermos nosso corpo glorificado e estivermos na Nova Jerusalém.

Enquanto vivermos aqui, neste mundo, estamos sujeitos a enfermidades, tribulações, sofrimentos, situações diversas que podem, sim, trazer à nossa alma um profundo abatimento, uma sensação de que as portas estão fechadas para nós e ninguém está nos ouvindo.

Observe-se que o salmista estava tão abatido que chegou a pensar que Deus não o estava escutando e talvez o tivesse rejeitado. No verso 9 do Salmo 42 o salmista diz: “Digo a Deus, rocha minha: Por que te olvidaste de mim?”. Olvidar é esquecer. O salmista pergunta por que Deus se esquecera dele. E no verso 2 do Salmo 43, assim ele se expressa: “Pois tu és o Deus da minha fortaleza. Por que me rejeitas?”.

Deus não havia se esquecido do salmista nem o rejeitara, mas a situação por ele vivida era tão difícil, tão desesperadora, que em seu abatimento ele chegou a pensar que Deus já não mais olhava para ele.

Por certo muitos de nós já passamos por períodos de crise pessoal em que nos sentimos profundamente tristes, abatidos, desanimados, e provavelmente já chegamos a pensar, assim como o salmista, que Deus havia se esquecido de nós ou estava nos rejeitando.

Mas os questionamentos do salmista não significam uma falta ou perda da fé, e, sim, o seu profundo desejo de ser amparado por Aquele em que ele continua crendo, o Deus Todo Poderoso, mesma atitude que deve se fazer presente em nós quando passarmos pelo sombrio vale do abatimento.

A fé que uma vez foi implantada em nosso coração pelo próprio Deus continua ali presente, e é por meio dela que vamos superar as situações de abatimento da alma. É a nossa fé que vai fazer toda a diferença para que possamos sair da crise e louvar a Deus com alegria, exaltando-o por mais um maravilhoso livramento.

Jesus nos deixou a seguinte palavra de encorajamento: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (Jo 16.33)

Portanto, quando estivermos em situações de abatimento, sentindo-nos tristes e desanimados, lembremo-nos das promessas do nosso Mestre Jesus e nos apeguemos a elas com fé, pois assim recobraremos o ânimo para caminhar e vencer com Cristo.

O período difícil não deve ser um motivo para enfraquecermos na fé, mas, sim, um instrumento para fortalecimento dessa fé, pois nunca devemos nos esquecer de que nosso Deus é fiel e jamais vai nos desamparar.

Passar por períodos de abatimento não é falta de fé, mas nesses momentos devemos rogar ao Pai que fortaleça nossa fé, pois a fé é o elemento essencial para a cura e a restauração da alegria em Deus.

     2)   Em meio ao abatimento, devemos buscar a Deus com mais intensidade
O salmista encontrava-se imerso em um mar de sofrimento, e mais de uma vez ele disse que sua alma estava abatida. A alegria havia fugido de seu coração e ele chorava continuamente (v. 3, Salmo 42).

Entretanto, mesmo nesse cenário de dor e sofrimento, o salmista não fugiu da presença de Deus, ao contrário, ele intensificou sua busca pelo Altíssimo, manifestando intenso desejo de adorar a Deus.

Isto pode ser percebido quando lemos os versos 1 e 2, do Salmo 42, onde o salmista expressa o seu anelo por Deus. Ele compara o seu anseio pela presença do Altíssimo com a corça sedenta em busca de água, ou seja, como a água é essencial à sobrevivência da corça, também Deus é imprescindível à sobrevivência do salmista.

Assim, ele deseja estar perto de Deus, adorá-lo, entoar-lhe louvores, pois sabe que Deus é a fonte de todo o bem, e somente Deus tem o poder de mudar sua situação e restaurar sua vida para que volte a ter alegria.

Infelizmente, não raras vezes é possível encontrar irmãos que, ao passarem por crises que levam ao abatimento, acabam por se afastar de Deus. Como em alguns casos lhes faltam forças até para orar, vão deixando de lado seus ministérios, param de frequentar as reuniões e os cultos da igreja, começam a se isolar.

Mas não é bom que as coisas aconteçam dessa maneira. Nos momentos mais difíceis da nossa vida devemos buscar a presença de Deus com maior intensidade do que fazemos quando as coisas caminham bem. É nesses períodos de crise que a Bíblia deve se tornar o nosso principal ou, talvez, único livro de leitura diária, porque nela encontramos testemunhos de crentes que superaram tempos difíceis pela fé em Deus, somos consolados pelas promessas do Altíssimo, somos trabalhados pelo Espírito Santo para amadurecermos e voltarmos nossos olhos para o Autor e consumador da nossa fé, Jesus Cristo:

“Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” (Hebreus 12:2)

Quando buscamos a Deus nossa perspectiva é alterada. A forma como enxergamos aquilo que está nos abatendo se modifica. Começamos a compreender que conosco está Aquele que é maior do que tudo, que tem o universo em suas mãos, que não conhece o impossível, e nosso coração começa a recobrar o ânimo, a confiança, o vigor, caminhando passo a passo para fora da prisão que é o abatimento da alma.

O salmista disse que Deus era sua rocha (v. 9, Salmo 42) e sua fortaleza (v. 2, Salmo 43), ou seja, ele sabia que estando em Deus ele tinha estabilidade, segurança, proteção, e isso lhe concedia força para acreditar numa mudança daquela triste realidade.

Irmãos, quando mais perto de Deus estivermos, mais rápido conseguiremos superar os períodos de abatimento da alma. Por outro lado, se nos afastarmos dEle o tempo de tristeza pode se prolongar, porque talvez nos vejamos tentando lutar sozinhos, quando deveríamos segurar nas mãos de nosso Pai Celeste para fazer a travessia de forma mais segura e rápida.

    3)   Em meio ao abatimento, devemos renovar nossa esperança no Senhor
Uma das consequências do abatimento é a falta de perspectiva. Não se vê uma saída, parece que a situação não terá fim e seremos consumidos pelo sofrimento. Manter esse pensamento é o caminho para se aprofundar cada vez mais na condição de prostração.

O salmista, apesar de toda a angústia que sentia, ao buscar a presença de Deus alimentou seu coração com a esperança de que o Altíssimo pleitearia a sua causa e lhe traria restauração, enxergando dias melhores à frente. Ele sabia que, confiando em Deus, não seria deixado naquela situação para sempre, mas o Pai haveria de socorrê-lo e lhe devolver a alegria que havia se perdido.

A esperança do salmista está registrada em vários versículos. No Salmo 42, verso 5, após questionar sua alma sobre a causa de seu abatimento, ele diz: “Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.” Essa mesma afirmação é repetida no verso 11.

No Salmo 43 ele manifesta sua esperança nos versos 3 e 4: “3 Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem e me levem ao teu santo monte e aos teus tabernáculos. 4 Então, irei ao altar de Deus, de Deus, que é a minha grande alegria; ao som da harpa eu te louvarei, ó Deus, Deus meu.”

E no verso 5 do Salmo 43, novamente ele repete: “Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.”

Esse testemunho está registrado nas Escrituras para que também nós, ao passarmos por épocas tormentosas que nos provoquem abatimento, nos apeguemos à esperança de que nosso Deus está conosco, Ele não nos abandona e pode restaurar por completo a nossa alegria, levantando-nos do pó e nos colocando em lugares elevados, bem acima das tribulações, como está prometido na Sua Palavra:

“O Senhor sustenta a todos os que caem, e levanta a todos os abatidos.” (Salmo 145.14)

“O SENHOR abre os olhos aos cegos, o SENHOR levanta os abatidos, o SENHOR ama os justos.” (Salmo 146.8)

"O pobre e o necessitado buscam água, e não encontram! Suas línguas estão ressequidas de sede. Mas eu, o Senhor, lhes responderei; eu, o Deus de Israel, não os abandonarei.” (Isaias 41.17)

Aquele que não crê em Deus se desespera de forma extrema ao passar por crises e sofrimentos, pois seus olhos não veem saída nem solução, mas o que está firme no SENHOR alimenta seu coração com a esperança que vem da fé nas promessas do Altíssimo, e essa esperança permitirá que não desistamos, mas prossigamos rumo ao cumprimento dos propósitos que Deus tem em nossas vidas.

CONCLUSÃO
A alma abatida geralmente se sente cansada das lutas e dos desafios, e sobrecarregada diante de um mundo adoecido e que cada dia mais impõe pesos descomunais sobre as pessoas.  Nosso Senhor Jesus nos fez um convite que traz, em si, a promessa de refrigério:

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus 11.28-30)

Diante de tão maravilhoso convite, a melhor resposta que podemos dar é aceitá-lo e entregar a Jesus o que nos aflige, o que nos causa abatimento, a fim de que Ele nos alivie de nosso pesado fardo e, na Sua Presença, experimentemos tempo de descanso e alegria.

E tendo conhecimento de tão maravilhosa graça, que sejamos instrumentos para levar os abatidos à presença do Senhor Jesus, para que, assim como nós, que temos em Cristo nossa firme esperança, também outros provem desse infinito amor e sejam restaurados.


“Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo.” (Rm 15.13)

José Vicente
21.07.2019


[1] https://www.dicio.com.br/abatimento/


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