Texto Base: 2 Crônicas 33.10-13
(paralelo: 2Reis 21.1-18)
Será possível que alguém que
conhece a Deus e à Sua Palavra, que já viu o poderoso agir de Deus no meio de
Seu povo, venha a se desviar do caminho do SENHOR de tal maneira que chegue a
se tornar pior do que os incrédulos? E caso isso ocorra, será que existe alguma
esperança de restauração para essa pessoa?
O texto que lemos trata da
história de Manassés, que foi rei de Judá por 55 (cinquenta e cinco) anos,
tendo iniciado seu reinado ainda menino, aos 12 (doze) anos, quando ocorreu o
falecimento de seu pai, o rei Ezequias (2Cr 33.1).
Sabemos que Ezequias foi um rei
que andou nos caminhos de Deus e experimentou livramentos incríveis, além da
cura de uma enfermidade grave e o prolongamento de sua vida em 15 (quinze) anos
(2Cr 29 a 32; 2Rs 18 a 20). Ezequias era temente a Deus, e teve seu nome
registrado na história dos reis de Judá como um rei que fez o que era reto
perante o SENHOR (2Cr 29.2).
Apesar de ser filho de um homem
crente e temente a Deus, Manassés não seguiu o exemplo e os ensinamentos de seu
pai, mas se desviou dos caminhos de Deus, abraçando a idolatria e praticando
atos semelhantes aos dos gentios incrédulos que não temiam a Deus.
A Palavra nos revela que Manassés
voltou a levantar os altares que seu pai havia destruído para adoração a falsos
deuses, adorava os exércitos dos céus (astros celestes), ofereceu os próprios
filhos em sacrifício a deuses pagãos, fazia adivinhações, praticava
feitiçarias, aceitava que se consultassem os mortos, colocou imagens de ídolos
pagãos dentro do Templo consagrado a Deus, e fez muitas outras coisas que
jamais se esperaria de um líder do povo de Deus, levando esse povo a se portar
pior do que as nações que antes habitavam naquelas terras e que Deus havia
destruído (2Cr 33.2-9).
Manassés era filho de crente, mas
se portou pior do que um incrédulo, pois não tinha integridade, era mau e inclinado
a fazer coisas terríveis, desonrando a Deus.
A história de Manassés mostra
como uma pessoa que faz parte do povo de Deus pode se desviar dos caminhos do
Pai Celeste, seguindo o curso deste mundo e o seu enganoso coração para
praticar atos insanos e de total reprovação diante da Palavra.
Ao vermos o relato da vida de
alguém assim, é natural que sintamos uma certa aversão por essa pessoa, e até
que desejemos que “justiça” seja feita. Essa “justiça” consiste em ver tal
pessoa receber a paga por seus atos e ser descartada por Deus, pois a
consideramos indigna da misericórdia do Altíssimo.
Devemos, porém, analisar a nós
mesmos para ver se não estamos tomando o mesmo caminho que foi trilhado por
Manassés, porque ninguém está livre de ceder às tentações deste mundo e acabar
cometendo loucuras contra Deus. Paulo, apóstolo de Cristo, faz a seguinte advertência:
“aquele,
pois, que pensa estar em pé veja para que não caia” (2Cor 10.12).
Vamos destacar algumas lições que
podemos extrair do texto lido.
1) A rebeldia está ligada a um coração
endurecido (v. 10)
O versículo 10 nos diz o seguinte: “Falou o SENHOR a Manassés e ao seu povo, porém não lhe deram ouvidos.”
Em toda a Bíblia sempre vemos
Deus agindo de maneira misericordiosa, sendo que, antes de enviar punições
sobre seu povo, Ele providencia avisos por meio de profetas e da Sua Palavra. No
caso de Manassés e Judá não foi diferente, pois Deus falou por meio de
profetas, o que também pode ser verificado em 2Reis 21.10-16, onde o SENHOR alertou sobre as terríveis
consequências que viriam pelos atos de rebeldia de Manassés e do povo.
Manassés não deu ouvidos à voz de
Deus. O povo, seguindo seu líder rebelde, também não se importou com as
advertências feitas por meio dos profetas.
A soberba do coração humano é um
dos maiores venenos para a saúde espiritual, pois nos leva a pensar que somos
alguma coisa e que temos autonomia, autosuficiência, e que podemos negligenciar
a voz de Deus para vivermos como bem entendermos, sem que isso nos traga
qualquer consequência negativa.
Com certeza todos nós conhecemos
pessoas obstinadas, que nunca dão ouvidos a conselhos e, invariavelmente,
acabam se dando mal. Pois Manassés era esse tipo de pessoa. Sua arrogância o
impedia de honrar a Deus como deveria, vivendo em desobediência total e levando
todo o seu povo pelo mesmo caminho pecaminoso.
Essa postura de Manassés continua
presente em muitas pessoas hoje. Há cristãos que vão se tornando resistentes à
Palavra, às exortações, como se suas mentes estivessem plenamente tomadas pelos
encantos do mundo e da carne. Por mais que ouçam, não absorvem nada, não
modificam seu proceder, acham que sabem o que estão fazendo e seguem resolutos
pelo caminho que escolheram trilhar, mesmo que seja claramente contrário à
Palavra de Deus.
São pessoas que, a despeito das
advertências bíblicas e dos profetas que Deus levanta para falarem, continuam
sua jornada para abraçar os valores do mundo, para satisfazer as
concupiscências da carne e a soberba da vida, vivendo de forma egoísta, como se
jamais fossem prestar contas a Deus.
Orgulho e desobediência andam
juntos, e levam cada vez mais para o abismo. O orgulhoso não vê Deus como o Deus
Altíssimo e Todo Poderoso, e não lhe devota adoração autêntica, mas coloca Deus
no mesmo patamar dos deuses criados no coração. Ele não tem o temor do SENHOR
no coração, não acredita nas possíveis consequências de seus atos e crê que
conseguirá ficar impune de todos os pecados que comete.
E essa rebeldia nem sempre começa
com coisas grandes, pelo contrário, ela vai se manifestando nas pequenas coisas
do dia a dia, até tomar vulto e assumir o controle da vida do crente. Uma
pequena concessão ao pecado hoje pode resultar em uma verdadeira inundação do
coração amanhã. É preciso vigiar para que tudo aquilo que é contrário à Palavra
de Deus não encontre abrigo em nossas mentes, caso contrário o pecado da rebeldia
poderá se instaurar e fazer estragos muito grandes.
2) A rebeldia traz consequências terríveis
(v.11)
Por não darem ouvidos à voz de
Deus, que falou por meio de profetas, Manassés e o povo de Judá sofreram
consequências terríveis. Deus permitiu que os assírios invadissem Jerusalém e
levassem tanto o rei Manassés como o povo para a Babilônia, na condição de
prisioneiros.
Manassés foi humilhado, pois ele,
que se considerava um homem poderoso, acima de todos, confiando nas técnicas de
magia negra, de um momento para outro se viu privado de seu reino, de sua
autoridade, submetido a um povo pagão e mau, tratado como um qualquer. Ele
perdeu tudo o que tinha e se viu desolado na prisão.
Manassés perdeu sua liberdade,
mas foi ferido, principalmente, em sua dignidade, em seu orgulho. Aquele que
antes julgava poder todas as coisas, agora via que não tinha condições de se
livrar das cadeias que o prendiam e estava condenado a passar o resto de sua
vida nessa situação ou ser morto pelos inimigos.
Manassés viu seu nome jogado na
lama, viu sua força subitamente desaparecer, revelando-se fraco e incapaz de
mudar aquela situação por qualquer meio humano. Ele teve um choque de
realidade.
Assim como Manassés, muitas
pessoas que se desviam dos caminhos de Deus experimentam consequências amargas,
passam por experiências que poderiam ter sido evitadas pelo ato de obedecer ao
SENHOR. São pessoas que veem sua família desmoronar, perdem esposa ou marido,
filhos, pais, amigos, bens, emprego, saúde, dignidade, etc.
Essas pessoas negligenciam as
advertências da Palavra de Deus, e de repente começam a colher os frutos de
seus atos insanos, sendo incapazes de reverter a situação. Passam por
sofrimentos intensos, humilhações, chegam a se desesperar e desejar abandonar a
vida. Da mesma forma que Manassés, subitamente constatam que nada são sem Deus,
e que tudo o que fizeram foi loucura. O sofrimento provoca sentimentos os mais
variados.
O caminho da rebeldia pode até parecer
agradável até certo momento, porque o rebelde se deleita na satisfação de suas
vontades, nos prazeres momentâneos oferecidos pelo mundo, todavia, quando passa
a fase das advertências de Deus e chega o momento da colheita daquilo que foi
semeado, o prazer se transforma em tristeza, o doce se transmuda em amargo, e sua
fragilidade é exposta diante de seus olhos.
Irmãos, devemos vigiar
constantemente e fazer uma autoanálise contínua para verificar qual é o nosso
estado espiritual, se não estamos sendo orgulhosos e desobedientes, porque as
consequências que virão podem ser extremamente pesadas e difíceis de suportar.
É necessário cultivar a
humildade, porque o coração humilde aceita a repreensão e se livra de muito
sofrimento, mas enquanto há arrogância o pecado vai tomando vulto, até provocar
uma queda que produzirá ferimentos muito dolorosos.
A Palavra assim nos orienta: “Pobreza
e afronta sobrevêm ao que rejeita a instrução, mas o que guarda a repreensão
será honrado” (Pv. 13.18), e
“O
que rejeita a disciplina menospreza a sua alma, porém o que atende à repreensão
adquire entendimento” (Pv.
15.32).
3) O arrependimento verdadeiro traz perdão e
restauração (vv. 12-13)
Sabemos que é possível ao cristão
se desviar do Caminho e seguir o pecado, amando os prazeres do mundo e sendo
negligente para com a Palavra de Deus. Sabemos também que esse tipo de conduta
produz frutos deveras amargos, que podem ser tão terríveis que a pessoa chega a
desejar a morte.
Entretanto, Deus é
misericordioso, e não desiste de Seus filhos.
As consequências da desobediência
são empregadas por Deus como uma disciplina para quebrantar o coração do filho arrogante
e levá-lo à consciência de que está cavando sua própria sepultura espiritual,
mas que existe ainda uma solução.
No texto lido, vemos que
Manassés, após ser preso pelos Assírios e perceber que não existia
possibilidade de se livrar por suas forças, ficou angustiado, pois se
arrependeu de sua péssima conduta perante o SENHOR, se humilhou e clamou pela
misericórdia de Deus.
Manassés fez exatamente o que
Deus havia orientado em 2Cr 7.14: “se o
meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se
converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus
pecados e sararei a sua terra”.
Percebemos que foi um
arrependimento sincero, porque se ele persistisse em sua arrogância, jamais
faria a oração que fez, e caso a fizesse, ela não teria sido ouvida por Deus,
pois a Bíblia deixa bem claro que “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos
humildes” (Tg 4.6).
Como resultado do arrependimento
de Manassés e de sua oração a Deus, feita com coração quebrantado, o SENHOR
cumpriu a promessa contida em 2Cr 7.14
e providenciou a sua libertação e seu retorno para Jerusalém, onde prosseguiu
seu reinado, mas desta vez reconhecendo que o SENHOR era o único Deus (v. 13).
Deus perdoou e restaurou a
Manassés e ao povo. Manassés, recebendo o perdão de Deus, mudou sua conduta e
passou a adorar unicamente ao Altíssimo. Ele providenciou a retirada dos
altares erguidos a falsos deuses, edificou o mudo da Cidade de Davi, promoveu
reformas em seu exército na proteção das cidades, ofereceu sacrifícios de ações
de graças a Deus e levou o povo a se manter fiel ao SENHOR.
O arrependimento sincero do
crente o leva a receber o perdão de Deus e a restauração. E isso é seguido de
uma mudança radical na forma de viver, com o abandono do orgulho, do pecado, da
desobediência, da autosuficiência, e o reconhecimento de Deus como o único
Deus, digno de todo o louvor e adoração.
Deus não tem prazer no sofrimento
de Seus filhos, e não quer que nenhum deles se perca. Da mesma forma que Deus
fez com Manassés, Ele continua fazendo hoje com Seus filhos que se desviam do
Caminho e mergulham no pecado, desonrando o nome do Altíssimo. Ele permite que
o crente colha as amargas consequências de seus atos, disciplina os filhos e os
leva a verem o que estão fazendo e o que estão perdendo com sua rebeldia.
Assim, o Eterno não terá dúvidas
em disciplinar os filhos a quem ama, para que retornem ao caminho correto e
sejam purificados no sangue de Cristo.
CONCLUSÃO
Deus nos ama e quer que
experimentemos vida plena em Sua Presença, mas muitas vezes nossa inclinação
para o pecado nos afasta dos caminhos do Altíssimo, levando-nos a provar prazeres
transitórios e a sofrer as consequências nefastas de nossos atos rebeldes.
O amor de Deus está presente
quando Ele nos disciplina, deixando que provemos o sabor amargo dos frutos
decorrentes de nosso procedimento pecaminoso, para que nos humilhemos e
reconheçamos nossos erros.
A misericórdia de Deus se
manifesta sobremaneira quando, com o coração quebrantado, nos humilhamos e
suplicamos o perdão do Altíssimo, tomando consciência de que, sem Deus, nada
somos e nada podemos fazer.
Por meio do arrependimento
sincero, nossas vestes são lavadas no sangue do Cordeiro, Jesus Cristo, para
nos purificar de toda a imundície do pecado, e somos restaurados à comunhão com
Deus e com Seu povo, para que tenhamos uma vida transformada e que glorifique
ao Eterno continuamente.
“4 Ora, na vossa luta contra o
pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue 5 e estais esquecidos da
exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a
correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; 6 porque
o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. 7 É para
disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que
o pai não corrige? 8 Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado
participantes, logo, sois bastardos e não filhos.” (Hebreus 12.4-8)
“24 Ora, àquele que é poderoso
para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados
diante da sua glória, 25 ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo,
Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e
agora, e por todos os séculos. Amém!” (Judas 24-25)
Que Deus não permita jamais que
nossos pés vacilem, mas nos conserve firmes na fé e na obediência a Ele, em
Cristo Jesus, nosso Senhor. Amém.
José Vicente
17.09.2017
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