sexta-feira, 13 de agosto de 2010

NOSSA DEFICIÊNCIA DE FÉ

Texto base: Marcos 9:14-29

O contexto da passagem bíblica nos mostra Jesus, retornando juntamente com os três discípulos mais achegados, Pedro, João e Tiago, do monte onde, minutos antes, ocorrera sua transfiguração. Esses discípulos presenciaram uma cena fantástica, maravilhosa, que os deixou estarrecidos e sem palavras nem reação. Diante de seus olhos Jesus foi transfigurado, suas vestes ficaram tão brancas que era difícil olhar para
Ele, e tiveram a visão de Moisés e Elias conversando com Jesus, além de ouvirem a voz vinda da grande nuvem que os cobriu, dizendo que Jesus era o Filho amado de Deus, e a Ele deveriam ouvir.

Após tão notável manifestação divina, Jesus e os três discípulos descem o monte, e ao chegarem em sua base encontram uma multidão alvoroçada, e alguns escribas (líderes religiosos judeus) discutiam com os discípulos que não haviam acompanhado Jesus.

Quando Jesus indagou quanto ao motivo da discussão, uma voz surgiu no meio da multidão, de um pai desesperado que tinha o filho possesso por um espírito mudo e surdo há tempos, e, não tendo encontrado Jesus, rogou aos discípulos do Mestre que o libertasse, mas eles não conseguiram fazê-lo.

Jesus logo entendeu que a discussão, então, se devia ao fato de que os discípulos não haviam obtido êxito em expulsar o espírito que se apossara do rapaz, e que os líderes judeus, sempre ávidos por encontrarem algo de que O acusar, certamente colocavam em dúvida a autoridade de Jesus, já que os discípulos haviam recebido dEle autoridade para curar enfermos e expulsar demônios.

A passagem bíblica em questão nos transmite muitos ensinamentos, mas vamos nos ater a apenas alguns deles.

1 – Não podemos deixar que as circunstâncias enfraqueçam nossa fé

O pai do jovem possesso certamente era uma pessoa sofrida. Ele via seu filho naquela situação desde a infância (v. 21), e provavelmente já havia tentado muitos meios de libertar o jovem, sem êxito. Ao ouvir falar de Jesus, aquele homem que curava os enfermos, que expelia demônios com uma simples ordem, que ressuscitava mortos, com certeza ele pensou: “Se há alguém que pode libertar meu filho, é esse homem chamado Jesus, de quem todos falam”. Assim, confiante ele saiu de sua casa e foi em busca do Mestre, com o coração repleto de esperança. Não tendo encontrado Jesus, o homem considerou que os discípulos, por serem seguidores de Jesus, pregando a mesma mensagem que Ele pregava, e realizando também curas e libertações, poderiam ajudá-lo.

Os discípulos de Jesus, porém, não conseguiram expulsar o espírito que se apossara do jovem, frustrando as expectativas do pai ansioso. Logo, aquela fé que ele provavelmente tinha no início sofreu um abalo, pois quando Jesus chegou o pai aflito lhe disse: “SE TU PODES fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos” (v. 22).

A fala do pai ansioso demonstrou que ele já não tinha tanta convicção quanto ao fato de que Jesus poderia salvar seu filho. Note a diferença de suas palavras para aquelas que foram proferidas por um leproso que procurou o auxílio de Jesus: “Senhor, SE QUISERES, podes purificar-me” (Mateus 8.2).

O leproso se aproximou de Jesus sem dúvidas no coração. Ele tinha convicção de que Jesus podia curá-lo, e a questão que colocou foi se Jesus quereria realizar a cura. A resposta de Jesus ao leproso foi: “Quero, fica limpo!” (Mateus 8.3), e o homem ficou curado na hora.

A reação de Jesus à petição do pai do jovem possesso foi de admiração, como quem diz: “Se eu posso?! Ora, você saiu de sua casa e trouxe seu filho até mim, para que eu o liberte, mas não confia que eu possa fazê-lo?”.

O pai do jovem provavelmente saiu de casa com uma certeza: “Jesus pode”, mas chegou a Jesus com uma dúvida: “Talvez Ele possa”.

Realmente, dizer ao Senhor Jesus “se tu podes” é muito diferente de dizer “se tu quiseres”. Na primeira frase há uma dúvida, pois não se afirma que Ele pode, e, sim, se faz um questionamento. Na segunda, há uma clara afirmação de que Ele pode, e de que a realização do milagre só vai depender de Sua vontade, porque poder Ele tem de sobra para fazer até mais do que está sendo pedido.

Infelizmente todos nós temos deficiências na fé. Não é raro nos comportarmos como o pai do jovem possesso, e, em oração, embora não usemos a mesma expressão que ele usou, acabamos por colocar em dúvida o poder de Jesus para nos ajudar, seja em que área da vida for.

Obstáculos muitas vezes abalam nossa fé. Uma demora na resposta às nossas orações é suficiente para nos levar a achar que talvez o nosso problema seja grande ou pequeno demais para Jesus. Em alguns casos, se ora apenas por desencargo de consciência, mas sem a convicção de que haverá uma resposta do Senhor.

Não podemos deixar que circunstâncias venham causar abalo em nossa fé. Nossas orações precisam ser carregadas de convicção no poder Jesus, a quem recorremos, pois se formos a Ele duvidando nada obteremos.

Jesus nos diz: “Tende fé em Deus; porque em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele. Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco.” (Marcos 11.22-24)


2 – Precisamos ser humildes, reconhecer nossa fraqueza e pedir auxílio a Jesus

Depois de ter feito um pedido que carregava dúvidas, o pai do jovem possesso ouviu Jesus dizer: “Tudo é possível ao que crê” (Mc. 9.23).

Jesus, mais uma vez, enfatizou a necessidade de se ter fé nEle, pois é a fé o elemento essencial para receber dEle uma resposta à oração.

O homem, então, com o coração apertado e reconhecendo que havia demonstrado incredulidade, humilhou-se perante Jesus, chorou com sinceridade e não teve vergonha de assumir a fraqueza de sua fé: “Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!” (v. 24).

É como se o homem dissesse a Jesus: “eu creio que o Senhor pode fazer o que lhe pedi, mas reconheço que essa minha fé é fraca, insuficiente, não resiste aos percalços do caminho, e eu preciso que o Senhor me ajude a ser mais forte, a crer de verdade, a vencer essa minha deficiência. Eu vim até aqui porque acredito que o Senhor é o único que pode me ajudar, mas a dificuldade dos discípulos e esse falatório dos escribas me fizeram ter dúvidas. Perdoe-me por isso, não leve em conta minha fraqueza”.

Continuar orando sem fé só vai nos enfraquecer ainda mais, porque acabamos por enganar a nós mesmos, achando que nossas orações podem surtir algum efeito, quando na verdade elas estão sendo inócuas.

O caminho é reconhecer que temos deficiência de fé, mas que essa deficiência pode ser corrigida por Aquele que nos concede a fé. Paulo afirma, em Efésios 2.8, que a fé é dom de Deus.

Ora, não é vergonha assumir diante de Deus que nossa fé é fraca, antes, é um sinal de humildade, de entrega e de reconhecimento da Soberania de Deus.

Até os apóstolos, que acompanhavam Jesus diariamente e viam as maravilhas feitas por Ele, reconheceram que eram deficientes na fé e clamaram que Ele os auxiliasse a terem uma fé mais verdadeira e inabalável: “Então, disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé.” (Lucas 17.5)

Quando o pai do jovem possesso teve a humildade de reconhecer que não possuía fé suficiente, e chorou diante de Jesus por causa de sua situação, implorando que Ele o auxiliasse nessa falta de fé, Jesus prontamente o atendeu, movido pela compaixão. Jesus não está interessado em brados de vitória, em gritos que pretendem convencer o mundo da que temos fé. Ele quer a entrega que pode ocorrer no silêncio, no íntimo do nosso ser. Ele quer a sinceridade. Jesus sabe de nossa fragilidade.

“E não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana.” (João 2.25)

Quebrar o muro do orgulho que construímos em nosso ser é essencial para que nossas súplicas sejam ouvidas por Jesus. Destruir os alicerces que nos mantém no auto-engano é ponto vital em nossa vida cristã.

Sejamos humildes e reconheçamos, diante de Jesus, que nossa fé é frágil, falha e está muito aquém do desejado, e peçamos a Ele que nos ajude nessa fraqueza.


3 – A comunhão com Deus é vital para o êxito em nossas orações

Após Jesus ter libertado o jovem, que passou a falar, ouvir e agir normalmente, afastou-se da aglomeração e foi interrogado pelos discípulos quanto ao motivo pelo qual eles não puderam expulsar o demônio naquele caso. Jesus respondeu que aquela casta somente poderia ser expulsa com jejum e oração (v. 29).

O jejum é uma das armas que temos contra as tentativas da carne de nos dominar. Quando jejuamos, estamos dizendo a Deus que Ele é o nosso alimento, muito mais essencial do que os alimentos para o corpo. Aprendemos a dominar os impulsos do corpo, fortalecendo o espírito.

A oração é o nosso canal de comunicação com Deus. É a nossa linha telefônica privativa para conversarmos com o Pai. E o melhor é que não há cobrança pelas “chamadas” realizadas, podemos conversar o tempo que for necessário e não desembolsaremos nenhum centavo por isso.

Aquele demônio resistente pode simbolizar os grandes obstáculos e problemas que enfrentamos na vida. Há situações que são resolvidas com rapidez, onde a resposta a nossa oração vem de forma imediata e surpreendente. Por outro lado, existem questões da vida que são muito mais complicadas, barreiras que parecem intransponíveis aos nossos olhos. Encontramos desafios que parecem gigantes e nós olhamos para eles como se fôssemos pequenos gafanhotos.

Para esse tipo de situação, não basta pedir a Deus que nos ajude. É necessário que estejamos em íntima comunhão com Ele, consagrados integralmente em Seu altar.

Os discípulos de Jesus tinham comunhão com o Pai, mas ainda não haviam alcançado um nível como o de Jesus. Eles estavam aprendendo, assim como nós todos os dias somos submetidos a um aprendizado nesse relacionamento com Deus.

Jesus, o Filho Amado, estava ligado ao Pai de forma muito profunda. Ele frequentemente se afastava das multidões para orar, ou seja, conversar com o Pai. Ele passou quarenta dias no deserto jejuando e vencendo o diabo que o tentava. Jesus manifestava submissão à vontade do Pai, obediência, humildade, amor.

Nosso exemplo é Jesus Cristo. O nível de comunhão que precisamos buscar com Deus é aquele que Jesus nos mostrou nos quatro Evangelhos que narram sua passagem por esse planeta como ser humano.

Não podemos buscar a Deus apenas nos momentos de dificuldades. Isso não é manter comunhão. Nossa vida tem que ser uma constante busca pela presença do Senhor, através da oração, do jejum, da obediência à Sua Palavra, da humildade, do amor a Deus e ao próximo.

Quando estivermos em um nível de comunhão profunda com Deus, certamente os problemas parecerão bem menores, e não temeremos diante de obstáculos. Nossa fé será fortalecida de tal forma que se cumprirá o que Jesus disse, veremos a resposta ao nosso clamor antes mesmo de acabarmos de orar.

Busquemos essa comunhão com Deus. Ele é o nosso refúgio e fortaleza. NEle estamos seguros e não há tribulação ou angústia que possa nos impedir de experimentar a felicidade de termos Deus como nosso Pai e sustentador.


Conclusão

Não podemos deixar que as circunstâncias abalem nossa fé, mas, caso isso ocorra, devemos imediatamente reconhecer, com humildade, a nossa fraqueza, e pedir socorro a Jesus, que nos concede fortalecimento.

Com certeza nossa fé será mais edificada à medida que estreitarmos nosso relacionamento com Deus, pois poderemos usufruir de maneira mais consciente e transformadora o grande amor que Ele tem por nós. Com mais relacionamento obtemos mais conhecimento. Com mais conhecimento, vem maior confiança.

Que Deus nos abençoe e nos ensine a sermos como Jesus.

José Vicente
10.08.2010

Um comentário:

  1. muito boa essa mensagem, falou muito com minha vidas! Glória á Deus

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