segunda-feira, 24 de agosto de 2009

UMA IGREJA QUE FAZ DIFERENÇA

Texto base: Atos 1:1-14

Introdução

O texto lido narra o início da Igreja Cristã. Jesus havia ressuscitado, e durante quarenta dias Ele instruíra seus discípulos acerca das verdades eternas. Muitas coisas que, antes, eles não compreendiam, agora Jesus lhes ensinava com clareza. Ao término dos quarenta dias, Jesus subiu ao céu, diante de seus seguidores, e ordenou que eles permanecessem em Jerusalém aguardando a promessa do Pai, para, depois disso, servirem como testemunhas do Senhor na pregação do Evangelho.
Obedecendo à ordem do Mestre, os discípulos voltaram para Jerusalém e foram a um local onde se reuniam, ali permanecendo por dez dias. Havia, ali, 120 pessoas, incluindo os apóstolos, os demais discípulos (homens e mulheres) de Jesus.
No capítulo 2 de Atos vemos o nascimento da Igreja Cristã. O Espírito Santo foi derramado abundantemente sobre aqueles que estavam ali reunidos, e a partir de então eles passaram a pregar o Evangelho de Jesus, com toda ousadia, intrepidez e sabedoria, cumprindo a ordem de Jesus, de pregar o Evangelho a toda criatura.

A Igreja, naquele tempo, fazia uma grande diferença no mundo em que vivia. Muitas pessoas se convertiam pelo testemunho da Igreja. No primeiro sermão, ministrado por Pedro, três mil pessoas se entregaram a Cristo. A vida comunitária da Igreja deixava perplexos os de fora, pois entre os cristãos não havia necessitados, todos se ajudavam mutuamente. Através da Igreja, Deus operava milagres, salvava vidas, destruía a soberba dos que se julgavam sábios, havia muitas demonstrações do poder de Deus. A Igreja era, ao mesmo tempo, admirada pelos incrédulos, que viam uma comunidade onde sobressaia o amor, não apenas entre os cristãos, mas para com todas as pessoas, e também era odiada, porque seu padrão de conduta moral denunciava a corrupção humana e as mazelas espirituais da sociedade em que estava inserida.
Hoje, olhando para a Igreja Cristã, talvez tenhamos dificuldade em visualizar algum resquício daquela Igreja atuante e transformadora cuja história está registrada no livro de Atos. A Igreja parece já não fazer tanta diferença no mundo. As pregações não tocam nos corações dos incrédulos de forma a que eles reconheçam sua pecaminosidade e se convertam a Jesus. Os atos dos cristãos muitas vezes depõem contra o testemunho bíblico. Muitas pessoas entram e saem das igrejas sem terem experimentado nenhuma mudança, sem terem sido convencidas pelo Espírito Santo de que necessitam de transformação. Enfermos continuam enfermos, tanto física quanto espiritualmente.
Por que será que a Igreja de hoje não corresponde à Igreja primitiva? Por que será que, naquele tempo, Deus operava poderosamente através da Igreja, mas hoje muitas vezes tem-se a impressão de que o próprio Deus está ausente em relação à Igreja? Será que a Igreja já não é mais necessária? Será que Deus desistiu da Sua Igreja e está desenvolvendo um novo plano para alcançar e salvar as pessoas?
O versículo 14 mostra qual era a atitude da Igreja no seu início: unanimidade, que também pode ser entendida como unidade. A Igreja é o Corpo de Cristo na terra, e esse Corpo se caracteriza pela sua unidade.
Com certeza Deus não desistiu da Igreja. O que está acontecendo atualmente não é algo novo. Já nos tempos da Igreja primitiva, após um período de intenso crescimento da Igreja, infelizmente, os apóstolos e demais líderes levantados por Deus, conforme vemos nas epístolas paulinas e na história da Igreja, lançavam muitas exortações e admoestações aos cristãos, no sentido de que retomassem o caminho da unidade e da santidade.
Analisando o versículo 14 do capítulo 1, vamos ver que a unidade foi essencial para que a Igreja nascesse e para que ela produzisse os frutos esperados no mundo em que vivia. A Igreja precisa ter unidade. Paulo, quando escreveu aos Filipenses, no capítulo 2, versículo 2, de sua carta, rogou aos cristãos que “penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento.” Sem unidade, a Igreja não manifesta o poder de Deus e, consequentemente, não faz diferença no mundo.
Em nosso texto base é empregada a palavra unanimidade, mas em que os cristãos devem ser unânimes? Obviamente não se trata de terem todos as mesmas opiniões sobre tudo. Deus fez os seres humanos individualizados, cada qual com sua personalidade e forma de pensar, porém, há pontos básicos na vida cristã em que é imperativo que haja unanimidade, que todos pensem a mesma coisa e tenham o mesmo sentimento, caso contrário, a Igreja estará dividida, e, como disse Jesus, “todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá” (Mt. 12:25).
Vamos analisar, então, partindo do exemplo que temos da Igreja em Atos 1:14, algumas áreas em que a Igreja precisa ter unanimidade, para, assim, agir como canal da graça de Deus neste mundo.

1- Unanimidade quanto à fé

1.a – Fé em Deus

A fé em Deus é essencial à Igreja. Não se trata de simplesmente acreditar que Ele existe, pois até os demônios creem nisso, mas de crer que Deus é:
- único – não há outro Deus, senão YAHWEH, o Altíssimo (Dt. 4:39; Mc. 12:29).
- soberano – Deus tem o controle sobre todo o universo, sobre toda a história, e nada acontece sem a Sua permissão (II Reis 19-25; Mt. 10:29).
- onipotente – nada é impossível a Deus, embora muitas coisas sejam impossíveis aos homens (Lc. 1:37; Mt. 19:26).
- onisciente – não existe nada que esteja fora do conhecimento de Deus. Ele vive na eternidade, não sujeito à limitação de tempo que se vê em relação aos humanos. Todos os fatos que para nós são passados, presentes e futuros são do conhecimento dEle (Salmo 139).
- onipresente – Deus não conhece limitação física. Ele está em todos os lugares ao mesmo tempo. Nada acontece sem que Ele veja (Salmo 139).
- Também não se trata da fé pagã que se vê hoje no meio cristão, em um deus feito à imagem e semelhança do homem, que sofre as limitações humanas, não tem poder para impedir acontecimentos, tem que assistir o desenrolar da história sem poder intervir, os fatos não estão sob seu controle. Essa é uma crença que não pode encontrar abrigo no meio da Igreja, pois é contrária à Palavra de Deus. Esse tipo de fé deve ser rejeitada.
- A Igreja primitiva cria em Deus como Ele É, e não como as pessoas desejavam que Ele fosse.

1.b – Fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus
- Crer em Deus é essencial, mas também é fundamental crer em Jesus Cristo, seu único Filho, que se fez homem, sofreu terrivelmente e foi morto na cruz para pagar por nossos pecados, tendo ressuscitado ao terceiro dia, garantindo o nosso acesso à graça salvadora de Deus.
- A Igreja primitiva estava unida nesta fé. Eles haviam estado com Jesus ainda em vida por um considerável período, e, após sua morte e ressurreição, durante 40 dias Ele lhes ministrou ensinamentos para a vida cristã. A Igreja não poderia ter sido iniciada se não houvesse a indispensável fé em Jesus Cristo. Portanto, a Igreja cria que, nEle, se cumpriam as profecias contidas nas Escrituras, e que, fora dEle, não havia e não há salvação, conforme sermão de Pedro que está registrado em Atos 2:14-41.
- Hoje, não parece haver unanimidade no seio da Igreja Cristã quanto a essa verdade. Jesus não tem sido apresentado como o único Caminho para a vida eterna. Antes, Ele tem sido apresentado por muitos como um validador de benefícios terrenos e transitórios, um guia para negócios de sucesso, e tem sido colocado em um nível equivalente ao de entidades pagãs que são muito conhecidas de incrédulos ímpios.
- Não há como a Igreja Cristã fazer diferença neste mundo se não houver unanimidade nessa fé em Jesus Cristo como redentor e único capaz de nos livrar da ira vindoura.

1.c – Fé na palavra de Deus
- Aqueles homens e mulheres que estavam ali reunidos criam na Palavra de Deus.
- As Escrituras testificavam a vinda do Messias, e eles creram que Jesus era o cumprimento da Palavra.
- As Escrituras testificavam que Deus derramaria o Espírito Santo sobre todos os que cressem em Jesus, e eles creram também nessa Palavra, que foi repetida por Jesus quando estava subindo aos céus e determinou que eles aguardassem o cumprimento da promessa.
- A Igreja Cristã do início tinha fé em tudo o que Deus havia dito através dos profetas, constante das Escrituras Sagradas.
- Hoje, Satanás tenta lançar dúvidas entre os cristãos quanto à autenticidade da Palavra de Deus. Ele procura induzir as pessoas a acreditarem que a Bíblia é um livro comum, ou, então, que o que ali está escrito não corresponde exatamente ao que Deus falou, assim como fez com Adão e Eva no início do mundo (Gn. 3:1-5).
- A Igreja do Senhor precisa crer na Palavra de Deus, pois é através dela que recebemos a revelação de Deus e o seu desejo para a vida da Igreja. A Bíblia é o manual da vida cristã, e expressa o que Deus quer que saibamos e como vivamos.
- Uma Igreja que não está firmada na Palavra de Deus não consegue cumprir seus objetivos, pois seus procedimentos terão como base valores que partem dos seres humanos, opiniões pessoais, experiências e coisas do gênero.

2- Unanimidade quanto aos objetivos

2.a – Unanimidade na busca da presença de Deus
- Por que você vem ao templo? Por que você se reúne com outros irmãos em grupos de oração e estudos da Palavra? O que você busca? Qual a sua motivação?
- Muitas pessoas se reúnem com os outros membros da Igreja em um templo ou em casa semanalmente, mas nem sempre estão todos unidos em torno de objetivo primordial: buscar a presença de Deus.
- Há diversos motivos que levam as pessoas a comparecerem ao templo ou participarem de reuniões de oração e estudo da Palavra: cumprimento de um dever religioso; pressão dos pais; pressão do cônjuge; não há outra programação mais interessante; é necessário aplacar a ira de Deus com o “sacrifício” semanal; etc.
- Há pessoas que, durante o culto, não estão com suas mentes concentradas em buscar a presença de Deus e a ação de Seu Espírito, mas estão pensando em seus compromissos para o dia seguinte; no programa que está sendo exibido na televisão; na roupa que a pessoa do lado está usando; no comportamento do irmão ao lado; na performance do ministério de louvor; e em tantas outras coisas que dispersam a mente.
- Se a Igreja, quando se reúne, não está envolta em um ambiente em que há unanimidade de objetivo quanto à busca da presença de Deus, não é de se admirar que as pessoas entrem e saiam do mesmo jeito, sem terem experimentado nenhuma transformação, sem terem ouvido a voz do Espírito a lhes ministrar ensinamento e abertura de entendimento.
- Jesus disse: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt. 18:20).
- Entretanto, as pessoas acreditam que o simples fato de se reunirem e dizerem que o fazem em nome de Jesus é suficiente para que Ele efetivamente esteja presente, manifestando Sua Graça e Seu Poder. A reunião que conta com a presença de Jesus é aquela em que os participantes estão unânimes no desejo de que Ele se faça presente. É uma reunião feita de forma consciente, onde tudo o mais é esquecido e o que se deseja é que o Senhor participe e aja nas vidas dos presentes.
- Jesus não está interessado em formalismos, em cultos mecânicos e sem vida, em cumpridores de tabela. Ele quer servos consagrados, que O busquem em espírito e verdade, que tenham nEle a razão única de estarem ali congregados, e que realmente anseiem por serem transformados em cada encontro.

2.b – Unanimidade na busca do cumprimento das Promessas de Deus
- Em Atos 1:14 havia essa unanimidade. Todos ali desejavam ardentemente a presença manifesta de Deus e, além disto, o cumprimento de Sua Palavra em suas vidas.
- Ninguém estava ali com outra intenção. As pessoas deixaram de lado seus afazeres, não se preocuparam com o que os outros haveriam de pensar quanto às suas atitudes, e permaneceram durante 10 dias orando e aguardando que a Promessa de Deus se cumprisse.
- Quando Jesus estava subindo aos céus, Ele disse que “não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes” (Atos 1:4).
- Em Atos 1:8 Ele disse: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.”
- A Promessa do Pai a que Jesus se referiu constava das Escrituras, como vemos em Joel 2:28-32. A Igreja estava unanimemente firme nesse propósito, de receber o cumprimento da promessa de Deus.
- Em Sua Palavra Deus faz inúmeras promessas. Ele promete salvação, transformação de vida, cura física e espiritual, orientação, sabedoria, proteção, livramento, fortalecimento da fé, utilização da Igreja como canal de graça e salvação aos incrédulos, e muito mais.
- A Igreja do Senhor precisa ter unanimidade no desejo de que a Palavra de Deus se cumpra em suas vidas. As pessoas precisam almejar com ardor que tudo o que Deus prometeu seja concretizado, e para isso a oração perseverante deve ser posta em prática, como o fez a Igreja Cristã Primitiva.
- A Palavra diz: “regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes” (Rm 12:12). A Igreja precisa perseverar unanimemente na oração, que é o canal de comunicação com Deus. A Igreja primitiva orava sem cessar. Nos dez dias em que esperavam o derramamento do Espírito havia oração perseverante (Atos 1:14). A vida diária da Igreja era de comunhão e oração (Atos 2:42). Quando Pedro e João foram libertados da prisão, a Igreja se reuniu e, unanimemente, orou (Atos 4:24-30); e há muitos outros registros da Igreja orando unânime pela causa do Evangelho.
- Em Gênesis 32:26 vemos o episódio em que Jacó luta com o Anjo do Senhor, e, ao amanhecer, o Anjo lhe diz: “Deixa-me ir, porque a alva já subiu”. Jacó insiste: “Não te deixarei ir, se não me abençoares”. Podemos interpretar isso como uma referência à nossa vida de oração, onde há necessidade de perseverança para obtermos uma resposta do Senhor. Jesus nos exortou a sermos perseverantes (Lc. 18:1-8).
- As promessas de Deus são cumpridas na vida da Igreja quando ela ora com unanimidade, quando seus membros revelam unidade de sentimentos. Então, se observam transformações, curas, conversões, e o poder de Deus é manifesto, porque a Igreja está buscando unanimemente o que Deus prometeu.

2.c – Unanimidade no desejo de cumprir a ordem de Jesus
- Jesus disse: “e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1:8).
- Jesus também disse: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16:15).
- A Igreja do Senhor não pode se acomodar e deixar de pregar o Evangelho, mas é necessário que haja unanimidade no intuito de cumprir essa ordem dada por Jesus.
- A Igreja Cristã primitiva tinha essa mentalidade. O resultado da reunião registrada em Atos 1:14 foi a pregação do Evangelho com poder e autoridade, levando muitos a crerem no Senhor Jesus e obterem a salvação.
- Em Atos 4:24-30 encontra-se o registro da Igreja reunida para, unanimemente, clamar a Deus que lhe concedesse ousadia e intrepidez para anunciar a Palavra, e também que Deus manifestasse Seu Poder, confirmando a pregação da Igreja.
- A Igreja crescia porque todos buscavam cumprir a ordem de Jesus, sempre rogando a Deus que os capacitasse para isso.
- Hoje, a impressão que se tem é de que houve uma certa acomodação. A Igreja parece não se importar com a ordem de ser testemunha de Jesus. É como se a Igreja não quisesse se envolver, sendo que, para se obter apoio a trabalhos missionários, é necessário que se façam muitos apelos, caso contrário, os enviados do Senhor a lugares longínquos ficariam desprovidos de apoio da Igreja.
- Há grande necessidade de que a Igreja retome o caminho bíblico de pregação do Evangelho, orando unanimemente para que Deus a utilize como meio de salvação, para que servos sejam levantados pelo Senhor para as missões, para que haja sustento aos missionários, para que a Igreja cause impacto na sociedade na qual está inserida através de uma atitude diferente, de amor, misericórdia e união.
- A Igreja atual não vai crescer de verdade enquanto não houve unanimidade no objetivo de salvar vidas.

Conclusão
- Embora a Igreja atual esteja aquém daquela Igreja iniciada no dia de Pentecostes, é possível retomar o caminho e voltar a fazer diferença neste mundo.
- A Igreja precisa voltar a ter unidade, consciente de que é o Corpo de Cristo na terra, e de que esse Corpo é uno, indivisível.
- A Igreja precisa se conscientizar de sua missão e abandonar o sentimento de auto-suficiência, as doutrinas pagãs, as divisões, facções, e voltar ao primeiro amor, ouvindo a advertência que o Senhor fez à Igreja de Éfeso: “tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.”(Ap 2:4-5)
- Enquanto isso não acontecer, a Igreja não vai ser canal de graça, de salvação, de cura, de transformação, antes, será um local repleto de pessoas enfermas, mas que não conseguem ser restauradas.
- Há muito mais a ser observado pela Igreja, além do que foi aqui descrito (unanimidade na esperança, no amor, na santidade, etc), mas, se houver o retorno à busca do que é essencial, todo o mais será acrescentado.
- Que o Senhor abençoe e tenha misericórdia de Sua Igreja, concedendo-lhe ânimo, fé e disposição para ser luz do mundo e sal da terra (Mt. 5:13-16).

José Vicente Ferreira
Igreja Presbiteriana de Porecatu
23.08.2009

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