domingo, 13 de março de 2022

DISPOSIÇÃO DE VIVER PARA CRISTO

 


Mateus 16.24-28

Quando observamos a situação espiritual vivida por cristãos ocidentais em comparação com os que se encontram na Ásia e África, percebemos que a cultura ocidental acabou trazendo uma certa acomodação e um distanciamento quanto aos ensinos bíblicos.

Enquanto os cristãos asiáticos e africanos se veem constantemente em situações perigosas que desafiam a sua fé e os levam a exercitarem o que aprenderam de Jesus, em grande parte os cristãos ocidentais acabaram se deixando levar pelas sutilezas de um sistema que procura derrubar a fé por meios menos agressivos e mais envolventes, conduzindo sutilmente os cristãos a se ocuparem com outras coisas e a terem a ilusão de que a vida espiritual morna que levam é suficiente para agradar a Deus.

Assim, em vez de se empenharem em observar os ensinos da Palavra de Deus, dedicam seu tempo a diversas outras coisas que lhes roubam a atenção e a energia, e aos poucos vão sendo moldados ao formato do mundo, com suas mentes repletas de ideias relativistas e liberais, em um panorama onde o egocentrismo impera cada vez mais.

Com esse cenário, os cristãos ocidentais passam a se preocupar muito mais consigo mesmos do que com a Igreja de Cristo, tornando-se incapazes de fazer sacrifícios pelo bem do Corpo de Cristo, o que leva a um esfriamento espiritual destruidor e a comportamentos liberais e opostos à Palavra.

Entretanto, é necessário reavivar em nossa mente as Palavras ditas por Jesus que estão registradas em Mateus 16.24-28, porque elas nos chamam de volta ao centro da nossa fé, que é o próprio Jesus Cristo.

Jesus inicia afirmando que aquele que deseja ser seu discípulo deve negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e seguí-lO. São três atitudes que estão ligadas umas às outras, são interdependentes.

A primeira atitude, de negar-se a si mesmo, indica o caminho do Teocentrismo. Isto porque o mundo sempre teve como uma de suas filosofias preferidas o egocentrismo, ou seja, o ser humano como o centro de tudo. Uma pessoa egocêntrica pensa muito mais em si do que no próximo, e tem maior preocupação consigo mesma do que com a Igreja de Cristo.

Um cristão egocêntrico buscará a satisfação pessoal, e terá as suas próprias convicções como verdadeiros deuses, dos quais não deseja se desapegar. Para ele, é a igreja que deve servi-lo, e não ele à igreja.

O egocentrismo está intimamente ligado à soberba, e precisa ser quebrado, porque a Bíblia diz claramente que Deus resiste aos soberbos. E, nas palavras de Jesus, o remédio para isto é a negação de si mesmo.

Negar-se a si mesmo é reconhecer que o centro de tudo é Jesus, e que nós somos seus servos, recebemos dEle uma salvação que nem mesmo merecíamos, e não temos motivo para nos gabar de nada, pelo contrário, devemos ser gratos por Jesus ter nos amado como Ele amou e dado sua vida por nós.

Negar-se a si mesmo tem a ver com renúncia, e renúncia é algo que está bem fora de moda no mundo atual. Renunciar a convicções equivocadas, ao ego, ao desejo de sermos servidos, aos prazeres oferecidos pelo mundo que nos afastam de Jesus, à tentação de provarmos que somos melhores do que os outros, de que estamos certos e os outros estão errados.

Negar-se a si mesmo é enxergar o próximo como alguém que não está abaixo de nós, mas no mesmo nível de necessidade da graça de Deus, pois todos somos pecadores. É reconhecer que nós somos capazes de errar até mais do que o nosso próximo, e por isso não devemos condená-lo, mas amá-lo e perdoá-lo como gostaríamos que fosse feito conosco. É estar disposto a renunciar a muitas coisas que consideramos importantes, por amor a Jesus Cristo e ao Seu Reino.

Já o tomar a sua cruz não tem a ver com ter uma vida cheia de sofrimentos e doenças, ao contrário do que muitos pensam, mas é tomar sobre si a humilhação e a rejeição que Jesus teve que suportar e que Ele disse que seus discípulos também enfrentariam.

O mundo odeia Jesus e àqueles que O seguem. Portanto, ao professarmos nossa fé no Filho de Deus, devemos ter ciência de que o mundo nos odiará e nos rejeitará. Essa rejeição somente deixará de ocorrer se aceitarmos ter uma fé morna, que não causa impacto, pois é contaminada pela influência das filosofias mundanas, pelo relativismo e pelo liberalismo que vêm atacando a Igreja há tempos, avançando cada vez com maior velocidade e sutileza.

Seguir a Jesus está intimamente ligado com o negar-se a si mesmo e tomar a sua cruz, porque importa em caminhar nos passos de Jesus, buscando imitá-lo perante este mundo incrédulo.

Os Evangelhos nos retratam um pouco do quanto Jesus sofreu rejeição por parte do mundo, aí incluídos os religiosos da época, de forma que Ele acabou sendo morto porque seus ensinamentos colocavam em risco o poder e os privilégios daqueles que se habituaram a controlar as pessoas e receber toda a glória.

Seguir a Jesus exige capacidade de renúncia e coragem para enfrentar as oposições que fatalmente se levantarão. Convém lembrar do que Jesus disse e que está registrado em João 15.20:

“Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.” (João 15:20)

Quando leio a passagem do Evangelho escrito por Mateus, que embasa esta reflexão, vem à minha memória as narrativas que vejo com frequência na página de internet da “Portas Abertas” (www.portasabertas.org.br), trazendo notícias dos cristãos que são perseguidos ao redor do mundo, principalmente na Ásia e na África, e pagam caro por sua fé em Jesus.

Vejo na vida daqueles irmãos a experiência prática do que Jesus falou aos seus discípulos quanto a negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-lo.

A notícia mais frequente que leio diz respeito a pessoas geralmente ligadas ao islamismo que, em dado momento, devido à ação de missionários ou ao testemunho de outros cristãos, acabam entregando sua vida a Jesus e, com isto, passam a experimentar uma reviravolta tremenda em sua existência.

Essas pessoas aprendem na prática o significado de renunciar a coisas que consideram importantes por amor a Cristo. E geralmente a primeira renúncia que se veem obrigadas a fazer diz respeito à família. Não porque odeiem os familiares, mas porque pais, irmãos e outros membros da família passam a tratá-los como infiéis, dirigindo contra eles ofensas, violência física e até mesmo ameaças de morte.

Então, diante do cenário que se estabelece, de total aversão por parte dos entes queridos, os cristãos acabam tendo que renunciar à convivência com seus familiares, mudando-se para outra casa na mesma localidade ou, em alguns casos, até mesmo para outras localidades.

Esses nossos irmãos mostram-se capazes de renunciar a prazeres, a posições sociais, à segurança, ao ego, por amor de Cristo. Passam por situações humilhantes, são desprezados, perseguidos, ofendidos, agredidos e até podem ser mortos, mas se mantêm fiéis a Jesus e fazem o possível para seguir o seu exemplo, amando as pessoas e buscando viver não para si mesmos, mas para a glória de Deus.

Disposição semelhante era vista nos primeiros cristãos, no início da Igreja de Cristo, quando os apóstolos anunciavam o Evangelho debaixo de intensa perseguição, e os discípulos de Jesus viviam de forma a impactar a sociedade, renunciando ao egoísmo, sujeitando-se à rejeição e imitando o Mestre Jesus.

No versículo 25 Jesus fala sobre tentar salvar a vida e perdê-la. Aqui podemos encontrar dois sentidos. O primeiro diz respeito ao aspecto literal das palavras do Mestre. Ele fala sobre tentar salvar a própria vida, fugindo das perseguições mediante uma fé morna e que não produz impacto, mas representa uma fé fingida de alguém que deseja ficar bem com o mundo, e que acabará experimentando a morte eterna, que é a separação de Deus. E por outro lado, fala daqueles que são capazes de dar sua própria vida pelo Evangelho, pois lhes está assegurada a vida eterna.

Muitos são os cristãos que deram sua vida pelo Evangelho, e foram mortos por homens impiedosos, sem jamais renunciar a fé em Jesus, pois aguardavam com confiança a nova vida prometida na eternidade com Cristo.

O outro sentido se refere a se apegar à velha vida, aquela que tínhamos antes de conhecermos Jesus, onde não precisávamos renunciar a nada, poderíamos ser o centro das atenções e viver de forma narcisista, sem nos preocuparmos em sermos rejeitados por causa de nossa fé e sem nos empenharmos em seguir os passos de Jesus.

Infelizmente há cristãos que tentam viver dessa forma. Proclamam-se servos de Jesus mas vivem como se não O conhecessem. Estes, conforme as palavras de Jesus, na verdade perdem a vida, porque jamais passaram pelo novo nascimento.

Por outro lado, os que perdem a vida por amor de Cristo vão achá-la. Estes são os que abandonam a velha vida e passam a viver com a consciência plena de que sua nova vida é Jesus Cristo, como afirmou o apóstolo Paulo:

“logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.” (Gálatas 2:20)

Trata-se das pessoas que passaram pelo novo nascimento e se tornaram novas criaturas, renunciando às paixões da carne para glorificar a Cristo por meio do seu viver. Essas pessoas têm a sua mente renovada pelo Espírito Santo e ao longo da caminhada vão lançando fora os medos, a inveja, o egoísmo, o egocentrismo, o espírito de discórdia, a mentira, a lascívia, etc., e vão se tornando cada vez mais parecidos com Jesus.

Estes perdem a vida velha, e ganham a vida eterna com Cristo.

Jesus complementa sua fala no versículo 26 dizendo “pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?” (Mateus 16:26).

Isto porque as pessoas que são incapazes de se negaram a si mesmas, tomar a sua cruz e seguir a Jesus, acabam ocupando suas vidas com questões meramente mundanas e transitórias, abraçando o mundo e o que ele oferece. Mas embora ganhem o mundo, perdem sua alma, porque a amizade do mundo é inimizade contra Deus, conforme nos adverte Tiago:

“Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” (Tiago 4:4)

Jesus deixa bem claro que o ser humano não tem nada a oferecer em troca de sua alma. Todas as riquezas que alguém consiga possuir neste mundo não valem nada aos olhos de Deus e de nada servem no momento do Julgamento.

No versículo 27 Jesus afirma que haverá um julgamento. Que Ele próprio virá com seus anjos e retribuirá a cada um conforme as suas obras. Aqui Jesus não está falando de obras como muitas pessoas entendem, no sentido de fazer caridade, dar esmolas, etc. As obras às quais Jesus se refere são justamente o negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir ao Mestre Jesus, renunciando ao mundo e seus prazeres para ganhar a Cristo.

Estes, conforme está prometido na Palavra, herdarão a vida eterna, porque confiaram em Cristo e se entregaram a Ele, procurando viver a fé em sua plenitude aqui na terra para que o nome de Deus fosse glorificado.

O julgamento acontecerá, isto é certo, e está assegurado que aqueles que preferiram abraçar o mundo e viver uma vida voltada para si mesmos vão perder a vida eterna com Deus, sendo lançados fora do Reino Celeste, onde experimentarão sofrimento que não terá fim.

 

CONCLUSÃO

É urgente buscarmos um avivamento da Igreja de Cristo nos dias atuais. A situação de mornidão em que a Igreja mergulhou é extremamente perigosa, e faz-se necessário que os cristãos voltem-se para a Palavra de Deus e a observem fielmente.

É tempo de abrirmos mão do comodismo que a modernidade nos oferece e vivermos um Evangelho autêntico e transformador, dando provas ao mundo por meio de vidas restauradas e comprometidas com os valores do Reino de Deus, ainda que isto implique em sermos rejeitados, caluniados e ofendidos.

Precisamos abrir mão do egocentrismo, renunciando a nós mesmos para que a Igreja de Cristo seja fortalecida e não venha a sucumbir diante das investidas de Satanás, que constantemente lança seus dardos inflamados contra os cristãos para tentar enfraquecê-los e abalar a Igreja.

É essencial que nos lembremos de que “a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.” (Efésios 6:12), e que, seguindo os passos de Jesus, consigamos rechaçar as investidas do Maligno contra o povo de Deus, mantendo-nos unidos em Cristo.

Voltemos ao Evangelho puro e simples de Jesus, resistindo às seduções deste mundo e de nossa carne, pois Jesus não espera de nós menos do que fé, fidelidade  e amor.

Que Jesus Cristo nos dê força para renunciarmos ao que tivermos que renunciar, para suportarmos a rejeição do mundo e para continuarmos a imitá-lo em tudo.

José Vicente

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