ÊXODO 2.23-25
O texto em questão é um trecho da
história de libertação do povo de Deus da escravidão do Egito. A situação do
povo era dramática, desesperadora, pois vivia sob a opressão dos egípcios, sem
liberdade e sem dignidade.
Relembremos a trajetória de
Israel até esse momento: José, filho de Jacó, havia sido vendido por seus
irmãos como escravo, e ele foi levado ao Egito. Lá, depois de várias
desventuras, tendo sido inclusive preso injustamente, foi levado por Deus a ser
governador do Egito, ficando abaixo apenas do Faraó em autoridade.
Em um período de grande escassez
de alimentos em todas as terras, conforme José havia predito ao interpretar o
sonho de Faraó, os irmãos de José foram ao Egito comprar mantimentos, e após
algum tempo ele se revelou a esses irmãos. Toda a família de José veio viver no
Egito, inclusive seu pai, Jacó (Israel). O faraó os instalou em uma região de
terras férteis, e eram tratados com respeito e consideração.
Após a morte de José e do Faraó,
passou a comandar o Egito outro rei, que, conforme a Bíblia, não conheceu José.
A partir daí o povo de Israel passou a sofrer opressão, pois o rei temia que se
tornasse um povo muito forte e dominasse o Egito. Os anos foram se passando e
aquele povo outrora livre, agora era escravo, experimentando um grande
sofrimento.
A história de Israel no Egito,
especificamente no texto em referência e outras passagens correlatas, traz para
nós lições muito importantes, que devemos assimilar e colocar em prática para
que experimentemos muito mais do poder de Deus em nossas vidas.
Vamos destacar três ensinamentos
que podemos extrair do texto.
1) As tribulações devem nos aproximar de Deus
A nação de Israel viveu 430 anos
no Egito (Ex 12.40-41). Durante a maior parte desse tempo o povo, que era livre,
se viu privado de sua liberdade, passando à condição de escravidão em um país
onde deuses estranhos eram adorados, sendo explorado para aumentar a
prosperidade dos egípcios.
O povo sofria com a violência dos
feitores, e não havia alegria em seus corações, pois todos os dias tinham que
enfrentar essa dura realidade. Os israelitas construíram duas cidades-celeiros,
chamadas Pitom e Ramessés. Apesar disso, o povo crescia em número.
A violência era tamanha que o rei
ordenou a morte de todo bebê do sexo masculino que nascesse entre os hebreus,
devendo ser preservadas apenas as meninas, pois assim Israel não constituiria
um exército forte para se insurgir contra o Egito.
A situação de Israel era
terrível. Parecia não haver saída para aquele sofrimento, a não ser a morte.
Havia tristeza nos corações e a esperança já perecia. Mas foi então que os
hebreus tomaram uma atitude que mudou a sua sorte: eles clamaram a Deus,
suplicando a Sua providência para que cessasse aquela escravidão e todo o
martírio que lhes era imposto.
Em meio à enorme tribulação, Israel se aproximou de Deus em oração.
Eis a atitude que deve ter todo
aquele que crê em Deus, principalmente quando estiver enfrentando situações que
tragam grande sofrimento e aflição.
É certo que todos nós passamos
por tribulações em nossa vida. Há momentos em que parece não haver saída, pois
para onde quer que olhemos as portas estão fechadas e não encontramos uma
solução que venha nos devolver a paz e nos dar livramento. Nesses momentos,
muitos que se dizem crentes se afastam de Deus, pois sua fraqueza de fé não
lhes permite vislumbrar o que Deus pode fazer em seu favor.
O povo de Israel, no entanto, nos
dá o exemplo a ser seguido: em meio aos maiores sofrimentos, Deus deve ser o
nosso refúgio e fortaleza, como cantava o salmista. Estar perto de Deus quando
tudo está caminhando maravilhosamente bem é algo fácil. Quando, porém, o mar da
vida se transtorna e nos encontramos em meio a uma violenta tempestade, e nossa
atitude com relação a Deus vai fazer toda a diferença, pois se deixarmos que as
circunstâncias abalem nossa fé e nos levem pra longe de Deus, certamente
naufragaremos.
Não é raro encontrar pessoas que,
ao se defrontarem com problemas, tribulações, param de orar, abandonam a leitura
da Bíblia, afastam-se da Igreja e da comunhão com os irmãos. Muitos acreditam
que Deus não ouve suas orações, que Ele está ocupado com outras coisas para se
preocupar com os problemas de um simples ser humano, ou até mesmo duvidam que
Ele possa fazer algo para mudar a situação.
Essa atitude, porém, apenas
conduz a mais sofrimento, relegando a pessoa a uma vida de fracassos,
principalmente em termos espirituais, pois está longe do Altíssimo e muito
próxima do mundo e de seus encantos maléficos. Afastar-se de Deus no momento da
dificuldade pode criar no ser humano a falsa impressão de que ele pode resolver
a situação sozinho, ou que outra pessoa igualmente fraca, mas forte aos seus
olhos, terá condições de lhe proporcionar alívio em meio à tormenta.
Que ninguém se engane, pois o
mundo não tem nada a nos oferecer, a não ser mais obstáculos à comunhão com
Deus e, consequentemente, a morte.
E quando decidimos nos aproximar de Deus,
buscando o seu auxílio para nos livrar das situações que nos trazem aflição e
sofrimento, devemos perseverar confiantes no Altíssimo, pois Ele ouve nossa
oração e vem em socorro de Seus filhos.
Algumas vezes é possível que,
mesmo orando, a situação pareça estar piorando em vez de melhorar. Isso
aconteceu com Israel. Logo que Moisés e Arão, enviados por Deus para libertar
os israelitas, falaram com o Faraó, este se irou e aumentou a opressão sobre o povo, exigindo o cumprimento de cotas
na fabricação de tijolos sem fornecer a palha que era empregada nesse trabalho.
Os capatazes israelitas, que respondiam pelos demais, sofriam açoites porque as
metas não eram cumpridas (Ex. 5.1-21)
Isso parece um paradoxo! Afinal,
no momento em que o povo buscou a Deus, a situação piorou, aumentando o
sofrimento dos hebreus, e eles não conseguiam compreender o que estava
acontecendo, o que os levou a se queixarem de Moisés e Arão, afirmando que por
culpa deles o Faraó os estava afligindo, e poderiam morrer por causa disso.
Quantas vezes nos encontramos em
meio a situações que nos angustiam, e oramos ao Senhor clamando por sua
misericórdia, mas em vez de recebermos o imediato livramento experimentamos um
período de agravamento dos problemas!
Isso, porém, não pode abalar
nossa fé, pois devemos permanecer firmes, sabedores de que Deus não nos
frustra, e no Seu tempo, Ele agirá e nos concederá livramento.
“E não somente isto, mas também
nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz
perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a
esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo
Espírito Santo, que nos foi outorgado.” (Rm 5.3-5)
A tribulação deve nos aproximar
de Deus, fortalecer nossa fé e nos proporcionar crescimento e maturidade
espiritual.
2) Deus manifesta Seu poder em meio às nossas
tribulações
Diante da atitude do Faraó, Deus disse a Moisés que faria
demonstrações do Seu Poder, e com isto o povo seria libertado, visto que o rei
ignorava tudo quanto Moisés e Arão lhe falavam.
Na sequência da narrativa bíblica
veremos que Moisés e Arão voltaram a falar com Faraó, e ele permaneceu
inflexível, negando-se a libertar Israel. Então, Deus deu início a uma séria de
10 (dez) pragas enviadas sobre a nação do Egito, deixando claro tanto aos
egípcios quanto ao povo de Israel o Seu Poder para fazer coisas impossíveis. E
após a saída do povo do Egito, quando Faraó empreendeu uma perseguição aos
hebreus, Deus fez algo assombroso: abriu o Mar Vermelho para que o povo
passasse a pés secos, e fechou as águas sobre o exército egípcio, fato que se
tornou conhecido de outras nações, que temeram o Deus de Israel.
É claro que Deus poderia libertar
o povo no momento em que desejasse, e nem precisaria utilizar Moisés e Arão
para isso, mas o Altíssimo pretendia que o Seu povo O reconhecesse como o Deus
único, o Todo Poderoso, e aprendesse a confiar nEle (Ex. 14.31), assim como era
sua intenção que os egípcios entendessem que seus deuses eram falsos, uma
mentira, e somente Ele era o verdadeiro Deus (Ex. 14.18).
O Eterno queria que Seu Nome
fosse conhecido no Egito e em todas as nações, e que Seu povo fosse respeitado
por causa dEle. Deus queria dar a conhecer mais de Si a Israel e aos demais
povos da terra.
Além disto, sabemos que é do ser
humano não valorizar aquilo que é obtido com facilidade ou de forma muito
rápida. Então, se Deus simplesmente fizesse um único milagre e libertasse o Seu
povo, este provavelmente não daria o devido reconhecimento ao Altíssimo. Se bem
que, mesmo diante das inúmeras maravilhas feitas por Deus em favor de Israel,
ainda houve muita murmuração após a libertação, visto que o povo ainda não
havia aprendido a confiar plenamente no Todo Poderoso.
A exemplo de Israel, nós também
podemos ter que esperar um pouco mais para que venha o livramento definitivo
quando estivermos em situações tormentosas, em tribulações que nos trazem
agonia.
Mas não nos deixemos enganar
pelas aparências, pois embora possa parecer que Deus está em silêncio, ou que
não está nos ouvindo, Ele está agindo e fará demonstrações de Seu Poder em
nossas vidas e nas vidas de pessoas que estejam envolvidas na situação que traz
aflição.
Assim como Deus abriu o Mar
Vermelho para que Israel escapasse do exército egípcio, num momento em que não
havia mais para onde correr, Ele hoje manifesta o Seu Poder abrindo caminhos
para nós onde não há nenhuma saída.
Os prodígios feitos por Deus
mostraram que Ele tem poder sobre toda a criação. Ele domina os animais (pragas
das rãs, piolhos, moscas, gafanhotos, Ex. 8.1-32, 10.1-2-) comanda o sol, a
lua, as nuvens (praga das trevas, Ex. 10.21-29), as águas do mar (praga da
transformação da água em sangue e abertura do mar, Ex. 7.14-25 e 14.21-29), os
eventos da natureza (praga da chuva de pedras, Ex. 9.13-35), o corpo dos
animais (praga da peste, Ex. 9.1-7), o corpo humano (praga das úlceras, Ex.
9.8-12), a vida e a morte (Ex. 12.29-33).
Em nossa vida, Deus faz
demonstrações de Seu Poder de várias formas. Ele opera a cura de enfermidades,
a transformação do coração, o livramento diante de opressões e perseguições, o
sustento em meio à escassez, a reconciliação de pessoas que se magoaram, a
restauração de laços familiares, enfim, não existe limite ao Poder de Deus.
Deus não mudou, Ele continua
sendo o mesmo Deus que libertou Israel do Egito com Mão Poderosa, demonstrando
seu domínio sobre tudo o que existe no mundo. Para Ele não existem impossíveis (Lucas 1.37).
Creia, persevere, confie nas
promessas de Deus, reconheça-O como o único e verdadeiro Deus em sua vida, e
com certeza você provará o poder do Altíssimo, seja nos momentos bons, ou
principalmente naqueles em que tudo parece perdido.
3) Deus faz mais do que esperamos
O grande anseio de Israel era a
libertação. O povo clamou a Deus porque não suportava mais aquela situação de
escravidão, e almejava voltar a ter liberdade, cultivar terras para o sustento
próprio, cuidar de seus rebanhos, sem ter tiranos que os oprimissem.
Após um longo período de
sofrimento e aflição, finalmente o sonho dos israelitas se concretizava: a
liberdade.
Deus foi fiel à Sua Palavra e
tirou o Seu povo do Egito, para conduzi-lo de volta à terra de Canaã, que Ele
havia prometido a Abraão, Isaque e Jacó (Ex. 6.2-8).
E o povo de Israel não saiu do
Egito de mãos abanando, pelo contrário, seguindo orientação do Altíssimo cada
pessoa solicitou ao vizinho objetos de ouro e prata (Ex. 11.2), e no momento em
que a nação saiu do Egito, todos levaram consigo ouro, prata e roupas obtidas
dos egípcios (Ex. 12.35-36).
A terrível tribulação que pesava
sobre o povo de Israel finalmente cessou. Deus lhes concedeu o livramento. Os
escravos tornaram-se livres, e ainda receberam bens dos egípcios, saindo do
Egito como uma nação que tinha um Deus Poderoso que pelejava por ela.
Os resultados de ter o Altíssimo
por nós são tremendos. José passou de escravo a governador do Egito. Os
israelitas saíram da escravidão para a liberdade. Davi foi elevado de pastor de
ovelhas à condição de rei de Israel. Jesus transformou simples pescadores em
ousados Ministros do Evangelho, que impactaram o mundo para sempre.
Conosco não é diferente. Embora
atravessemos momentos de dificuldades, o Altíssimo é conosco e quando Ele age,
ficamos surpresos com o que Ele faz, pois Deus faz mais do que esperamos, Sua
ação ultrapassa os limites de nossa imaginação, de forma que ficamos maravilhados.
A ação de Deus surpreende até mesmo os que nos rodeiam, sejam amigos ou aqueles
que nos oprimem e perseguem.
Por maiores que sejam as nossas
tribulações, por mais violenta que seja a tormenta em que estejamos
mergulhados, o resultado da confiança em Deus é que vemos acontecer coisas que
excedem o nosso entendimento, que extrapolam as previsões mais otimistas que
possamos ter, conforme nos garante a Palavra de Deus:
“Ora, àquele que é poderoso para
fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu
poder que opera em nós” (Efésios 3.20).
Quando nos afastamos de Deus, as
surpresas são negativas e nos causam tristeza, mas quando dEle nos aproximamos
e perseveramos na fé, somos surpreendidos positivamente, e nosso coração se
enche de alegria.
CONCLUSÃO
As tribulações que enfrentamos na
vida são oportunidades para que nossa fé seja aperfeiçoada e para que Deus seja
glorificado por meio dos livramentos que experimentaremos. É necessário buscar
a presença do Altíssimo e perseverar, ainda que nossos olhos não vejam nenhuma
alteração favorável ou mesmo que a situação fique mais difícil, porque os
propósitos de Deus vão se cumprir, e eles são infinitamente melhores do que
qualquer plano que nós façamos.
“Porque os meus pensamentos não
são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o
SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os
meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais
altos do que os vossos pensamentos.” (Isaias 55.8-9)
“Meus irmãos, tendo por motivo de
toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa
fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação
completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.”
(Tiago 1.2-4)
Que o Deus Altíssimo nos abençoe
e capacite a nos mantermos fieis e perseverantes, a fim de que Ele seja
glorificado em nossas vidas.
Amém.
José Vicente
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