domingo, 7 de agosto de 2022

JESUS PROCURA FRUTOS EM NÓS

 


Mateus 21.18-21

Os fatos narrados nessa passagem no Evangelho escrito por Mateus ocorrem em um período bem próximo ao fim do ministério terreno de Jesus, estando perto o momento do sacrifício de Jesus.

Ele intensifica as advertências quanto à dureza do povo de Israel e à sua falta de uma verdadeira comunhão com o Deus Altíssimo.

No mesmo capítulo, um pouco antes pudemos ver Jesus entrando em Jerusalém, seguido por uma multidão que proclamava: “Hosana ao Filho de Davi”. Na sequência, Ele expulsou do templo aqueles que estavam ali apenas buscando lucros, transformando aquele lugar em um comércio, desonrando a Deus. Jesus ainda curou cegos e coxos, e ao ser interpelado pelos líderes judeus, invocou as Escrituras para responder aos seus questionamentos e demonstrar a sua natureza divina e a sua autoridade.

Logo depois, Jesus foi para Betânia, onde passou a noite. Betânia era uma aldeia onde viviam seus amigos Lázaro, Marta e Maria.

E então chegamos ao momento em que, voltando para Jerusalém, Jesus sentiu fome e foi procurar figos em uma figueira cheia de folhas, nada encontrando.

Do texto é possível extrair lições valiosas. Vamos destacar algumas:

 

    1)   Jesus não pode ser enganado por aparências (v. 19)

O versículo 19 narra que Jesus, estando com fome, viu uma figueira cheia de folhas e foi procurar figos para comer. Não encontrando nenhum fruto, disse “nunca mais nasça fruto de você”, e a figueira secou. Parece algo sem sentido, principalmente quando lemos o texto paralelo, em Marcos (Mc 11.13), quando o evangelista esclarece que não era tempo de figos.

Ora, se não era tempo de figos, por que razão Jesus foi procurar figos naquela figueira? Será que ele não tinha conhecimento com relação às épocas em que as figueiras deveriam produzir seus frutos?

É óbvio que tanto Jesus como seus discípulos sabiam que não era tempo de figos. Entretanto, há uma particularidade que precisa ser observada para que possamos compreender o ensino que o texto nos traz. A figueira, ao contrário de outras árvores, produz primeiro os frutos, e somente depois vêm as folhas. Uma figueira cheia de folhas indicava que ela tinha frutos. E embora não fosse época de figos, o fato de aquela figueira estar com farta folhagem indicava que ela teria frutos temporãos.

A região onde Jesus estava possuía muitas oliveiras e figueiras. E naturalmente as figueiras estavam sem folhagem, justamente porque não era época de produzir frutos. Aquela figueira se destacava dentre as demais porque aparentava ter figos, devido à sua folhagem, e por isso Jesus foi até ela, e não procurou nas outras. Ele sabia que as outras não tinham fruto, mas aquela indicava que teria.

Todavia, nenhum fruto foi encontrado naquela figueira. Ela só tinha folhas, sua aparência era enganosa, e por isso Jesus disse que não mais nasceriam frutos dela.

A figueira no texto representa Israel (Jr. 8.13; Os. 9-10; Lc. 13.6-9). A situação de Israel era como a daquela figueira, pois estando infrutífera, a nação tentava passar uma imagem de saúde espiritual que não correspondia à sua realidade.

Israel tinha muita religiosidade, mas estava longe de Deus. Durante todo o ministério terreno de Jesus vemos que os líderes religiosos, em vez de ficarem felizes e glorificarem a Deus diante das curas realizadas, somente se dedicavam a encontrar meios de condenar Jesus, chegando até mesmo a dizer que ele expulsava demônios pelo poder do maioral dos demônios.

Verifica-se que, pouco antes, Jesus havia feito a purificação do templo (Mt 21.12-13), porque o local onde se deveria prestar adoração sincera a Deus foi transformado em um comércio onde a fé era fonte de lucro.

Muitas pessoas seguiam Jesus interessadas naquilo que Ele poderia lhes oferecer de imediato (alimento, cura, libertação), mas não estavam dispostas a ter suas mentes e seus corações transformados para que pudessem ter uma real mudança de vida.

Os líderes religiosos eram os principais a passar uma imagem enganosa, transmitido uma vida piedosa que não tinham. Não havia amor, arrependimento, solidariedade, humildade, etc., mas apenas a busca por vantagens pessoais.

Quem olhava para Israel via um povo religioso e poderia ser enganado por essa aparência, assim como a aparência da figueira enganava. As folhas da religiosidade cobriam a falta de frutos autênticos de uma vida santa e coerente com a Palavra de Deus.

Entretanto, o texto mostra que não é possível enganar a Jesus. Ele não se satisfaz com a aparência, mas procura por frutos entre as folhas.

O que Jesus ensina nessa passagem, porém, não é restrito a Israel, mas se aplica a todo o seu povo, alcançando também a nós, que fazemos parte de seu rebanho.

Assim como Israel era uma figueira enganosa, igualmente nós podemos nos encontrar em situação semelhante, preocupando-nos com nossa “aparência religiosa” e negligenciando o mais importante, a produção de frutos que demonstrem que realmente somos nascidos de novo.

A aparência da figueira era incompatível com sua realidade, assim como pode ser que nossa aparência não guarde coerência com o que está em nosso coração.

É possível que estejamos focados em seguir regras religiosas, cumprir compromissos religiosos, mas esquecendo do principal, que é a vida de comunhão autêntica com Deus, de obediência, de submissão à sua vontade expressada nas Escrituras.

Pode ser que estejamos nos esforçando para passar uma imagem que não corresponde de fato a quem nós somos, incidindo em um autoengano, porque acreditamos ser quem não somos.

Devemos lembrar, porém, que a Bíblia afirma claramente que Deus vê o coração, e não a aparência:

“Porém o Senhor disse a Samuel: — Não olhe para a sua aparência nem para a sua altura, porque eu o rejeitei. Porque o Senhor não vê como o ser humano vê. O ser humano vê o exterior, porém o Senhor vê o coração.” (1 Samuel 16:7)

Essa verdade ficou expressa na passagem da figueira, porque Jesus não se contentou com a aparência da árvore, mas foi até ela para procurar frutos, porém não os encontrou, ficando decepcionado com aquela propaganda mentirosa.

Não adianta tentarmos aparentar ser quem não somos. As pessoas podem até ficar iludidas conosco, mas Jesus vai além das folhagens, os olhos dEle vão ao nosso íntimo para sondar nossa essência e ver quem realmente somos.

Israel vivia uma espiritualidade falsa, sem coerência, e nós precisamos nos examinar para verificar se não estamos vivendo uma mentira, um autoengano, pois não temos como enganar nosso Senhor Jesus.

Ainda no versículo 19 Jesus disse: “nunca mais nasça fruto de você”.

Jesus demonstra que a mentira não será aceita no Reino de Deus. O fato de ter se secado a figueira nada mais é do que a representação da situação daquele que vive uma espiritualidade de fachada, mentirosa, sem frutos: uma vida seca espiritualmente, sem o fluir da água abundante que é o Espírito Santo de Deus.

Aquele que diz ser parte do povo de Deus mas não tem uma vida compatível, vivendo apenas de aparências, porém sem produzir frutos que glorifiquem a Deus, na verdade vive uma seca espiritual, e vai continuar assim, porque Jesus não quer mentirosos em Seu Reino, mas adoradores sinceros, que, embora sejam falhos, produzam frutos que demonstrem uma piedade verdadeira.

 

     2)   Jesus ensina a necessidade de uma fé operante (v. 21-22)

Os discípulos ficaram admirados ao verem que a figueira secou diante da palavra de Jesus, e quiseram saber como isso tinha acontecido. Jesus, então, ministrou um ensino que é profundo e trata da necessidade de cultivar uma fé operante.

Jesus afirma que se os discípulos tiverem fé e não duvidarem, ordenarão ao monte que se levante e se jogue no mar, e assim ocorrerá. E conclui que eles receberão o que pedirem em oração com fé.

Em primeiro lugar, devemos destacar o fato de que esse ensino de Jesus acaba por esclarecer que Israel não produzia frutos porque não tinha uma fé operante.

Toda a religiosidade de Israel não resultava em uma vida frutífera na presença de Deus, porque a fé que eles tinham não os levava a uma vida coerente com a Palavra. Era uma fé insuficiente para agradar a Deus, pois estava firmada em regras religiosas e sentimentos de autossuficiência.

Desta forma, era impossível que, com aquele tipo de fé inoperante, Israel conseguisse produzir frutos compatíveis com sua condição de povo de Deus.

A figueira é uma árvore cujas raízes são fortes, e se for plantada em áreas urbanas há até o risco de danificar estruturas de imóveis, de pavimentos públicos, etc. Ela se dá bem em locais onde há boa quantidade de água, crescendo com vigor e frutificando.

Israel era uma figueira cujas raízes não estavam firmadas na fé genuína em Deus e Sua Palavra, de maneira que a seiva que recebiam não vinha de Deus, uma vez que não mantinham comunhão verdadeira com Ele, e isto acabava por impedir que o povo frutificasse como deveria.

A fé operante é aquela que nos conduz não apenas a crer em Deus – o diabo também crê em Deus -, mas a agir em conformidade com essa fé, obedecendo à Palavra e nos empenhando para sermos pessoas melhores, como é o desejo de Deus.

É uma fé que não fica restrita a palavras, mas se traduz em atos no dia a dia, e que mostra coerência entre o que falamos e o que fazemos.

Sem a fé operante não há como produzir frutos.

Quando nossa fé é autêntica e operante, o Espírito Santo tem amplo espaço para produzir em nós o fruto do Espírito, que é maior evidência de que estamos sendo transformados por Deus e que somos figueiras frutíferas, e não apenas cobertas de folhas, sem frutos.

Em segundo lugar, a fé operante leva a crer no impossível e a não duvidar do que Deus pode fazer. Jesus usa um exagero de linguagem, chamado hipérbole, ao falar de ordenar ao monte para se jogar no mar, com a finalidade de ensinar aos discípulos que não existe nada impossível para Deus, e que é necessário crer firmemente nessa realidade.

É uma fé que conduz à certeza de que Deus atenderá à oração daquele que O busca com coração sincero e quebrantado.

É a fé que leva à perseverança na oração, que não duvida por mais difícil que seja a situação. É a fé que tem como objetivo principal cumprir a vontade de Deus, servir aos propósitos de Deus.

Na carta aos Hebreus é dito o seguinte sobre a fé:

“Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam.” (Hebreus 11:6)

Portanto, a fé é o elemento chave no relacionamento com Deus. Orar com fé é o caminho para receber a resposta do Pai.

 

 

CONCLUSÃO

Somos desafiados pela Palavra de Deus a sermos figueiras frutíferas, não apenas com bela folhagem, mas cheias de frutos, ou seja, que nossa fé em Deus se exteriorize na forma de atitudes e palavras que sejam coerentes entre si e deixem evidente que somos discípulos de Cristo, como Ele afirmou em João 15:

“— Eu sou a videira, vocês são os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim vocês não podem fazer nada. Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam. Se permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será feito. Nisto é glorificado o meu Pai: que vocês deem muito fruto; e assim mostrarão que são meus discípulos.” (João 15:5-8)

Nessa passagem do Evangelho escrito por João, Jesus usa a figura da Videira, que é Ele próprio, sendo nós os seus ramos. A mensagem é a mesma da figueira: é necessário produzir frutos compatíveis com nossa fé em Jesus.

E o Mestre deixa claro que somente conseguiremos produzir frutos se permanecermos nEle. A sequência do texto em João evidencia que produzir frutos tem a ver com uma vida de obediência aos Seus mandamentos, onde o amor ao Senhor e ao próximo são os alicerces.

Que a nossa vida seja coerente com a fé que professemos, e que, firmados em Jesus, produzamos muitos frutos para a glória de Deus e para testemunho de Seu poder perante o mundo.

José Vicente

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