Mateus 21.18-21
Os
fatos narrados nessa passagem no Evangelho escrito por Mateus ocorrem em um
período bem próximo ao fim do ministério terreno de Jesus, estando perto o
momento do sacrifício de Jesus.
Ele
intensifica as advertências quanto à dureza do povo de Israel e à sua falta de
uma verdadeira comunhão com o Deus Altíssimo.
No
mesmo capítulo, um pouco antes pudemos ver Jesus entrando em Jerusalém, seguido
por uma multidão que proclamava: “Hosana
ao Filho de Davi”. Na sequência, Ele expulsou do templo aqueles que estavam
ali apenas buscando lucros, transformando aquele lugar em um comércio,
desonrando a Deus. Jesus ainda curou cegos e coxos, e ao ser interpelado pelos
líderes judeus, invocou as Escrituras para responder aos seus questionamentos e
demonstrar a sua natureza divina e a sua autoridade.
Logo
depois, Jesus foi para Betânia, onde passou a noite. Betânia era uma aldeia
onde viviam seus amigos Lázaro, Marta e Maria.
E
então chegamos ao momento em que, voltando para Jerusalém, Jesus sentiu fome e
foi procurar figos em uma figueira cheia de folhas, nada encontrando.
Do
texto é possível extrair lições valiosas. Vamos destacar algumas:
1) Jesus não pode
ser enganado por aparências (v. 19)
O
versículo 19 narra que Jesus, estando com fome, viu uma figueira cheia de
folhas e foi procurar figos para comer. Não encontrando nenhum fruto, disse “nunca mais nasça fruto de você”, e a
figueira secou. Parece algo sem sentido, principalmente quando lemos o texto
paralelo, em Marcos (Mc 11.13), quando o evangelista esclarece que não era
tempo de figos.
Ora,
se não era tempo de figos, por que razão Jesus foi procurar figos naquela
figueira? Será que ele não tinha conhecimento com relação às épocas em que as
figueiras deveriam produzir seus frutos?
É
óbvio que tanto Jesus como seus discípulos sabiam que não era tempo de figos. Entretanto,
há uma particularidade que precisa ser observada para que possamos compreender
o ensino que o texto nos traz. A figueira, ao contrário de outras árvores,
produz primeiro os frutos, e somente depois vêm as folhas. Uma figueira cheia
de folhas indicava que ela tinha frutos. E embora não fosse época de figos, o
fato de aquela figueira estar com farta folhagem indicava que ela teria frutos
temporãos.
A
região onde Jesus estava possuía muitas oliveiras e figueiras. E naturalmente
as figueiras estavam sem folhagem, justamente porque não era época de produzir
frutos. Aquela figueira se destacava dentre as demais porque aparentava ter
figos, devido à sua folhagem, e por isso Jesus foi até ela, e não procurou nas
outras. Ele sabia que as outras não tinham fruto, mas aquela indicava que
teria.
Todavia,
nenhum fruto foi encontrado naquela figueira. Ela só tinha folhas, sua
aparência era enganosa, e por isso Jesus disse que não mais nasceriam frutos
dela.
A
figueira no texto representa Israel (Jr. 8.13; Os. 9-10; Lc. 13.6-9). A situação
de Israel era como a daquela figueira, pois estando infrutífera, a nação
tentava passar uma imagem de saúde espiritual que não correspondia à sua
realidade.
Israel
tinha muita religiosidade, mas estava longe de Deus. Durante todo o ministério
terreno de Jesus vemos que os líderes religiosos, em vez de ficarem felizes e
glorificarem a Deus diante das curas realizadas, somente se dedicavam a
encontrar meios de condenar Jesus, chegando até mesmo a dizer que ele expulsava
demônios pelo poder do maioral dos demônios.
Verifica-se
que, pouco antes, Jesus havia feito a purificação do templo (Mt 21.12-13),
porque o local onde se deveria prestar adoração sincera a Deus foi transformado
em um comércio onde a fé era fonte de lucro.
Muitas
pessoas seguiam Jesus interessadas naquilo que Ele poderia lhes oferecer de
imediato (alimento, cura, libertação), mas não estavam dispostas a ter suas
mentes e seus corações transformados para que pudessem ter uma real mudança de
vida.
Os
líderes religiosos eram os principais a passar uma imagem enganosa, transmitido
uma vida piedosa que não tinham. Não havia amor, arrependimento, solidariedade,
humildade, etc., mas apenas a busca por vantagens pessoais.
Quem
olhava para Israel via um povo religioso e poderia ser enganado por essa
aparência, assim como a aparência da figueira enganava. As folhas da
religiosidade cobriam a falta de frutos autênticos de uma vida santa e coerente
com a Palavra de Deus.
Entretanto,
o texto mostra que não é possível enganar a Jesus. Ele não se satisfaz com a
aparência, mas procura por frutos entre as folhas.
O
que Jesus ensina nessa passagem, porém, não é restrito a Israel, mas se aplica
a todo o seu povo, alcançando também a nós, que fazemos parte de seu rebanho.
Assim
como Israel era uma figueira enganosa, igualmente nós podemos nos encontrar em
situação semelhante, preocupando-nos com nossa “aparência religiosa” e
negligenciando o mais importante, a produção de frutos que demonstrem que
realmente somos nascidos de novo.
A
aparência da figueira era incompatível com sua realidade, assim como pode ser
que nossa aparência não guarde coerência com o que está em nosso coração.
É
possível que estejamos focados em seguir regras religiosas, cumprir
compromissos religiosos, mas esquecendo do principal, que é a vida de comunhão
autêntica com Deus, de obediência, de submissão à sua vontade expressada nas
Escrituras.
Pode
ser que estejamos nos esforçando para passar uma imagem que não corresponde de
fato a quem nós somos, incidindo em um autoengano, porque acreditamos ser quem
não somos.
Devemos
lembrar, porém, que a Bíblia afirma claramente que Deus vê o coração, e não a
aparência:
“Porém
o Senhor disse a Samuel: — Não olhe para a sua aparência nem para a sua altura,
porque eu o rejeitei. Porque o Senhor não vê como o ser humano vê. O ser humano
vê o exterior, porém o Senhor vê o coração.” (1 Samuel 16:7)
Essa
verdade ficou expressa na passagem da figueira, porque Jesus não se contentou
com a aparência da árvore, mas foi até ela para procurar frutos, porém não os
encontrou, ficando decepcionado com aquela propaganda mentirosa.
Não
adianta tentarmos aparentar ser quem não somos. As pessoas podem até ficar
iludidas conosco, mas Jesus vai além das folhagens, os olhos dEle vão ao nosso
íntimo para sondar nossa essência e ver quem realmente somos.
Israel
vivia uma espiritualidade falsa, sem coerência, e nós precisamos nos examinar
para verificar se não estamos vivendo uma mentira, um autoengano, pois não
temos como enganar nosso Senhor Jesus.
Ainda
no versículo 19 Jesus disse: “nunca mais nasça fruto de você”.
Jesus
demonstra que a mentira não será aceita no Reino de Deus. O fato de ter se
secado a figueira nada mais é do que a representação da situação daquele que
vive uma espiritualidade de fachada, mentirosa, sem frutos: uma vida seca
espiritualmente, sem o fluir da água abundante que é o Espírito Santo de Deus.
Aquele
que diz ser parte do povo de Deus mas não tem uma vida compatível, vivendo
apenas de aparências, porém sem produzir frutos que glorifiquem a Deus, na
verdade vive uma seca espiritual, e vai continuar assim, porque Jesus não quer
mentirosos em Seu Reino, mas adoradores sinceros, que, embora sejam falhos,
produzam frutos que demonstrem uma piedade verdadeira.
2) Jesus ensina a
necessidade de uma fé operante (v. 21-22)
Os
discípulos ficaram admirados ao verem que a figueira secou diante da palavra de
Jesus, e quiseram saber como isso tinha acontecido. Jesus, então, ministrou um
ensino que é profundo e trata da necessidade de cultivar uma fé operante.
Jesus
afirma que se os discípulos tiverem fé e não duvidarem, ordenarão ao monte que
se levante e se jogue no mar, e assim ocorrerá. E conclui que eles receberão o
que pedirem em oração com fé.
Em primeiro lugar, devemos destacar o fato de que esse ensino de
Jesus acaba por esclarecer que Israel não produzia frutos porque não tinha uma
fé operante.
Toda
a religiosidade de Israel não resultava em uma vida frutífera na presença de
Deus, porque a fé que eles tinham não os levava a uma vida coerente com a
Palavra. Era uma fé insuficiente para agradar a Deus, pois estava firmada em
regras religiosas e sentimentos de autossuficiência.
Desta
forma, era impossível que, com aquele tipo de fé inoperante, Israel conseguisse
produzir frutos compatíveis com sua condição de povo de Deus.
A
figueira é uma árvore cujas raízes são fortes, e se for plantada em áreas
urbanas há até o risco de danificar estruturas de imóveis, de pavimentos
públicos, etc. Ela se dá bem em locais onde há boa quantidade de água,
crescendo com vigor e frutificando.
Israel
era uma figueira cujas raízes não estavam firmadas na fé genuína em Deus e Sua
Palavra, de maneira que a seiva que recebiam não vinha de Deus, uma vez que não
mantinham comunhão verdadeira com Ele, e isto acabava por impedir que o povo
frutificasse como deveria.
A
fé operante é aquela que nos conduz não apenas a crer em Deus – o diabo também crê em Deus -, mas a agir
em conformidade com essa fé, obedecendo à Palavra e nos empenhando para sermos pessoas
melhores, como é o desejo de Deus.
É
uma fé que não fica restrita a palavras, mas se traduz em atos no dia a dia, e
que mostra coerência entre o que falamos e o que fazemos.
Sem
a fé operante não há como produzir frutos.
Quando
nossa fé é autêntica e operante, o Espírito Santo tem amplo espaço para
produzir em nós o fruto do Espírito, que é maior evidência de que estamos sendo
transformados por Deus e que somos figueiras frutíferas, e não apenas cobertas
de folhas, sem frutos.
Em segundo lugar, a fé operante leva a crer no impossível e a não
duvidar do que Deus pode fazer. Jesus usa um exagero de linguagem, chamado
hipérbole, ao falar de ordenar ao monte para se jogar no mar, com a finalidade
de ensinar aos discípulos que não existe nada impossível para Deus, e que é
necessário crer firmemente nessa realidade.
É
uma fé que conduz à certeza de que Deus atenderá à oração daquele que O busca
com coração sincero e quebrantado.
É
a fé que leva à perseverança na oração, que não duvida por mais difícil que seja
a situação. É a fé que tem como objetivo principal cumprir a vontade de Deus,
servir aos propósitos de Deus.
Na
carta aos Hebreus é dito o seguinte sobre a fé:
“Sem
fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele
existe e que recompensa aqueles que o buscam.” (Hebreus 11:6)
Portanto,
a fé é o elemento chave no relacionamento com Deus. Orar com fé é o caminho
para receber a resposta do Pai.
CONCLUSÃO
Somos
desafiados pela Palavra de Deus a sermos figueiras frutíferas, não apenas com
bela folhagem, mas cheias de frutos, ou seja, que nossa fé em Deus se
exteriorize na forma de atitudes e palavras que sejam coerentes entre si e
deixem evidente que somos discípulos de Cristo, como Ele afirmou em João 15:
“—
Eu sou a videira, vocês são os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse
dá muito fruto; porque sem mim vocês não podem fazer nada. Se alguém não
permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o
apanham, lançam no fogo e o queimam. Se permanecerem em mim, e as minhas
palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será feito.
Nisto é glorificado o meu Pai: que vocês deem muito fruto; e assim mostrarão
que são meus discípulos.”
(João 15:5-8)
Nessa
passagem do Evangelho escrito por João, Jesus usa a figura da Videira, que é
Ele próprio, sendo nós os seus ramos. A mensagem é a mesma da figueira: é
necessário produzir frutos compatíveis com nossa fé em Jesus.
E
o Mestre deixa claro que somente conseguiremos produzir frutos se permanecermos
nEle. A sequência do texto em João evidencia que produzir frutos tem a ver com
uma vida de obediência aos Seus mandamentos, onde o amor ao Senhor e ao próximo
são os alicerces.
Que
a nossa vida seja coerente com a fé que professemos, e que, firmados em Jesus,
produzamos muitos frutos para a glória de Deus e para testemunho de Seu poder
perante o mundo.
José Vicente
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