domingo, 26 de junho de 2022

Os filhos “sim-não” e “não-sim”

 


Texto base: Mateus 21.23-32

 

No capítulo 21 de Mateus vemos Jesus entrou em Jerusalém acompanhado de uma multidão que proclamava “Hosana ao Filho de Davi”. Logo depois, expulsou do templo os que praticavam comércio, e curou pessoas enfermas. Questionado pelos sacerdotes e escribas, invocou as Escrituras e deu a entender que era sobre Ele mesmo que as Escrituras falavam. Depois, foi para Betânia, onde ficou na casa de amigos. No outro dia, pela manhã, retornou à cidade, e no caminho procurou figos em uma figueira cheia de folhas. Nada encontrando, determinou que não mais nascesse fruto daquela árvore, e ela secou. Ali, ministrou também uma lição sobre a necessidade de ter uma fé inabalável em Deus.

Após esses acontecimentos, Jesus voltou ao templo para ensinar a Palavra de Deus. E nesse momento ele foi interpelado pelos lideres religiosos (principais sacerdotes e anciãos do povo), que queriam saber com que autoridade Ele fazia aquelas coisas (a purificação do templo, as curas e o ensino).

Jesus sabia que eles na verdade tinham a intenção de armar uma cilada para Ele. Afinal, diante dos fatos que haviam ocorrido, eles, como autoridades religiosas responsáveis pelo templo, tinham o direito de perguntar a Jesus com que autoridade ele estava ali fazendo aquelas coisas, mas dependendo da resposta de Jesus, ele poderia ser colocado em uma situação bastante complicada.

Eles queriam induzir Jesus a declarar que era o Messias, o Filho de Deus, para poderem acusá-lo de blasfêmia. E se Jesus dissesse que sua autoridade era terrena, poderiam denunciá-lo como um revolucionário inimigo de Roma.

Então, Jesus lhes respondeu lançando uma pergunta: de onde era o batismo de João Batista? Do céu ou dos homens? De Deus ou terreno?

E por que Jesus respondeu fazendo essa pergunta?

João Batista foi o profeta que veio para preparar o caminho do Messias. Ele pregou uma mensagem de arrependimento, denunciando o pecado e anunciando que o Reino de Deus estava próximo. Mas os líderes religiosos de Israel, embora tenham ficado interessados em João Batista, não acreditaram nele, pois não viam um profeta enviado por Deus. Tanto que não impediram que João fosse preso por Herodes, o que culminou com a sua morte.

Tanto João como Jesus receberam autoridade do Pai Eterno. Porém, se aqueles homens não reconheceram a autoridade outorgada a João Batista, também não reconheceriam a autoridade de Jesus, ainda que Ele lhes declarasse que fora enviado por Deus.

Como eles não souberam dizer de onde vinha a autoridade de João, então não adiantaria Jesus revelar que sua autoridade vinha do Pai Eterno, porque eles apenas utilizariam isso para acusá-lo, porque havia neles uma predisposição de não crer, afinal, eles já haviam visto Jesus fazer sinais que evidenciavam que Ele agia em nome de Deus.

Mas, para que aqueles líderes entendessem a consequência de sua postura incrédula, Jesus contou a parábola dos dois filhos (28-32).

Na versão da Bíblia Almeida Revista e Atualizada o primeiro filho foi o que disse sim, mas não cumpriu a palavra, enquanto o segundo disse não, mas foi trabalhar na vinha. Outras versões, como NAA, NVI e King James trazem a ordem invertida: o primeiro filho disse não, mas foi, ao passo que o segundo disse sim e não foi. Nesta reflexão estamos usando a Almeida Revista e Atualizada.

Para entendermos a passagem, é necessário identificar quem são os dois filhos da parábola.

Jesus disse que um homem pediu aos filhos para que fossem trabalhar na vinha. Essa vinha representa Israel, como em diversas outras passagens bíblicas. O primeiro filho representa os líderes religiosos, e o segundo filho, os publicanos, meretrizes e demais pecadores que havia no povo de Israel.

Os líderes (primeiro filho) ouviram a pregação de João Batista, todavia acharam que a mensagem não era para eles, e desprezaram o profeta. Ao fazerem isso, desprezaram o próprio Deus, que havia enviado João. Eles eram pessoas que julgavam conhecer muito as Escrituras, pensavam que com sua conduta agradavam a Deus, falavam coisas bonitas, ensinavam a Palavra, todavia sua conduta demonstrava que eles estavam muito longe de obedecerem a Deus.

Eles se consideravam justos, crendo que não necessitavam de arrependimento, e por isto não deram atenção a João Batista. Com sua conduta disseram “não” a Deus.

Já os pecadores (segundo filho), quando ouviram a pregação de João Batista, foram tocados, sentiram sua condição de pecadores, temeram a Deus e se arrependeram, sendo batizados por João. Embora sua vida tivesse sido de pecados, quando foram confrontados demonstraram arrependimento, e com sua conduta disseram “sim” a Deus.

Aprendemos algumas coisas muito importantes nesse ensino de Jesus.

 

     1)   A autoridade de Jesus está acima dos interesses humanos

Os líderes religiosos judeus já estavam cansados de ver Jesus ensinando a Palavra de Deus, curando pessoas enfermas, abrindo os olhos daqueles que não conseguiam ver o amor de Deus, porque isso se constituía em uma ameaça à sua posição de liderança e de privilégios na sociedade judaica.

Quando Jesus lhes respondeu com uma pergunta, podemos observar que, na verdade, a questão não era que eles não soubessem a resposta, mas queriam encontrar uma resposta que fosse mais conveniente e não os comprometesse.

Quando eles se reuniram para discutir sobre a pergunta de Jesus, não disseram: “de onde vem o batismo de João?”, mas, “se dissermos: do céu, ele nos dirá: Então, por que não acreditastes nele? E, se dissermos: dos homens, é para temer o povo, porque todos consideram João como profeta.” (Mateus 21:25,26)

A preocupação deles era com a sua própria situação diante do dilema colocado por Jesus. Eles queriam questionar a autoridade de Jesus, mas não pretendiam que a sua própria autoridade como líderes espirituais sofresse algum tipo de mácula.

Eles queriam colocar em dúvida a autoridade de Jesus para desacreditá-lo perante o povo. Afinal, se as pessoas deixassem de ver Jesus como um Mestre e parassem de segui-lo, eles voltariam a ter as atenções de todos apenas para eles mesmos.

Eles não queriam que as pessoas tivessem seus olhos abertos, antes, tencionavam que elas permanecessem presas ao sistema legalista que imperava, repleto de religiosidade, mas vazio da presença de Deus.

Entretanto, a autoridade de Jesus está acima de qualquer interesse humano, porque ela vem do Pai Eterno. A autoridade de Jesus é eterna e não depende da aprovação humana. Ele não precisa fazer prova de sua autoridade, e ela permanece pelos séculos.

Já os líderes religiosos daquela época, que se apegavam a coisas transitórias e negavam a autoridade de Jesus, viram a sua autoridade passar, testemunharam o Evangelho sendo anunciado por todos os lugares após a morte e ressurreição de Jesus, e puderam ver que ninguém pode se opor aos planos de Deus.

Não é raro que hoje muitas pessoas ainda procurem pretextos para negar a autoridade de Jesus, fazendo um esforço tremendo para sustentar aparências e privilégios meramente humanos.

Há, inclusive, muitos crentes que, para não se sujeitarem à autoridade de Jesus, procuram misturar conceitos bíblicos com filosofias e ensinos de outras religiões, minimizando, assim, a autoridade dos ensinos bíblicos, com vistas a poder atender às suas próprias conveniências, pois suas pseudojustificativas amparam suas condutas e elas não se sentem tão acusadas por sua consciência, que está cauterizada.

Mas o fato é que, quer queiramos ou não, a autoridade de Jesus é real e não depende de nossa vontade ou de nossas conveniências. Ele é Senhor sobre tudo e sobre todos, ainda que as pessoas insistam em discutir até mesmo sobre sua existência.

Jesus é o Filho de Deus, e recebeu do Pai autoridade sobre toda a criação, como Ele próprio afirmou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.” (Mateus 28:18)

Portanto, em vez de perder tempo levantando questionamentos sobre a autoridade de Jesus, o mais sábio é aceitá-la e nos submetermos ao Senhoria de Cristo, ao contrário do que fizeram aqueles líderes judeus.

 

 

    2)   Os atos falam mais alto que as palavras

Os líderes religiosos de Israel foram representados na parábola pelo filho que disse “sim” ao pai, mas deixou de lado a ordem de ir cuidar da vinha, demonstrando desobediência.

Isto porque eles eram homens que conheciam as Escrituras, eram responsáveis por ensinar as pessoas e orientá-las quanto à Palavra de Deus, todavia, embora falassem coisas corretas, não obedeciam aos mandamentos do Senhor, pois sua conduta era oposta ao que ensinavam.

Jesus falou sobre eles em outras passagens, como, por exemplo, Mateus 23.2-3:

“Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem.” (Mateus 23:2,3)

Eram homens que oravam bonito, pregavam bem, falavam sim a Deus com seus lábios, todavia com seu modo de viver falavam não, porque eram egoístas, arrogantes, legalistas, tinham maior preocupação consigo mesmos do que com Deus e as pessoas a quem deviam ensinar.

Ainda no Evangelho escrito por Mateus Jesus disse o seguinte:

“Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.” (Mateus 15:8,9)

Por outro lado, os pecadores (publicanos, meretrizes, demais pessoas) foram representados pelo filho que disse “não”, mas por fim obedeceu. Eles eram pessoas que viviam no pecado, mas quando João pregou a mensagem de arrependimento reconheceram que estavam fadados à condenação e se arrependeram, sendo batizados por ele.

Essas pessoas, que inicialmente haviam dito não, acabaram por dizer “sim” por meio de sua conduta de arrependimento e submissão a Deus.

O que falamos é importante, mas são as nossas ações que vão dizer o que realmente ocupa nosso coração. Isto porque é relativamente fácil falar coisas bonitas, cantar louvores, declarar amor a Deus e ao próximo, entretanto, colocar em prática o que dizemos é bem mais complicado quando o que confessamos não está arraigado em nosso coração, mas provém de mera religiosidade.

A Palavra nos ensina que professar a fé em Jesus com nossa boca é extremamente importante, conforme Romanos 10.9-10:

“Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.” (Romanos 10:9,10)

O ensino de Paulo está coerente com o que Jesus ensinou, porque quando Paulo fala de confessar Jesus como Senhor, está falando de se submeter ao senhorio de Cristo, e isto envolve a atitude da obediência. Em Mateus 7.21 Jesus fez a seguinte afirmação:

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (Mateus 7:21)

Portanto, não é o simples ato de falar e fazer declarações de fé, mas a adoção de uma forma de viver que demonstre que, de fato, a fé confessada é autêntica e se traduz em termos práticos no dia a dia.

Deus se agrada muito mais daqueles que, embora possam até ser relutantes no início, reconhecem sua necessidade de arrependimento e obedecem à Palavra, do que daqueles que vivem falando coisas bonitas e declarando amor a Deus, mas que negam essa fé por meio de atitudes incoerentes, tendo uma vida infrutífera.

Há uma coisa que Deus sempre quis ver em Seu povo, desde o início da criação, e continua sendo um requisito indispensável até hoje para diferenciar os crentes autênticos dos meros religiosos: a obediência!

E a obediência somente pode vir de corações transformados. Os líderes religiosos daquele tempo não tinham como obedecer a Deus porque seus corações não estavam em Deus, mas, sim, nos formalismos e legalismos da religião, bem como nos privilégios que eles tinham por serem homens de posição respeitável perante o povo, que gozavam de prestígio e eram egocentristas.

As pessoas que ouviram a pregação de João e se arrependeram demonstraram ter no coração a vontade de servir a Deus, elas sentiam fome de Deus e estavam sendo mal conduzidas pelos líderes que tinham bons ensinos teóricos mas, na prática, eram péssimos exemplos, porque não tinham real relacionamento com Deus.

Quem somos nós nessa parábola? O filho que disse sim, mas não obedeceu, ou o filho que disse não, porém depois obedeceu?

Nossas palavras encontram eco em nossas ações, ou a incoerência permeia nossa conduta e demonstra que, na verdade, estamos apenas cultuando a nós mesmos e não a Deus?

 

CONCLUSÃO

Ainda hoje os dois filhos da parábola de Jesus continuam existindo. Precisamos nos autoanalisar para verificarmos qual dos dois filhos nós somos. É essencial que sejamos o filho que obedece, que se submete a autoridade de Jesus e que o honra por meio de uma vida de imitação ao Mestre, caminhando com amor e firmeza na fé.

Diariamente devemos trazer à nossa memória a verdade bíblica de que nossos atos falam mais alto do que nossas palavras, e que deve haver coerência entre o que falamos e o que fazemos, porque somos testemunhas de Jesus Cristo perante este mundo.

Que o nosso sim a Deus seja um “sim” autêntico, refletido em uma vida de piedade e submissão à vontade do Pai.

Que o Espírito Santo de Deus nos capacite e conduza para que honremos ao Senhor com nossa vida no dia a dia, jamais servindo como motivo de vergonha ao Evangelho de Jesus.

 

José Vicente

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