Texto base: Mateus
21.23-32
No
capítulo 21 de Mateus vemos Jesus entrou em Jerusalém acompanhado de uma
multidão que proclamava “Hosana ao Filho de Davi”. Logo depois, expulsou do
templo os que praticavam comércio, e curou pessoas enfermas. Questionado pelos
sacerdotes e escribas, invocou as Escrituras e deu a entender que era sobre Ele
mesmo que as Escrituras falavam. Depois, foi para Betânia, onde ficou na casa
de amigos. No outro dia, pela manhã, retornou à cidade, e no caminho procurou
figos em uma figueira cheia de folhas. Nada encontrando, determinou que não
mais nascesse fruto daquela árvore, e ela secou. Ali, ministrou também uma
lição sobre a necessidade de ter uma fé inabalável em Deus.
Após
esses acontecimentos, Jesus voltou ao templo para ensinar a Palavra de Deus. E
nesse momento ele foi interpelado pelos lideres religiosos (principais
sacerdotes e anciãos do povo), que queriam saber com que autoridade Ele fazia
aquelas coisas (a purificação do templo, as curas e o ensino).
Jesus
sabia que eles na verdade tinham a intenção de armar uma cilada para Ele.
Afinal, diante dos fatos que haviam ocorrido, eles, como autoridades religiosas
responsáveis pelo templo, tinham o direito de perguntar a Jesus com que
autoridade ele estava ali fazendo aquelas coisas, mas dependendo da resposta de
Jesus, ele poderia ser colocado em uma situação bastante complicada.
Eles
queriam induzir Jesus a declarar que era o Messias, o Filho de Deus, para poderem
acusá-lo de blasfêmia. E se Jesus dissesse que sua autoridade era terrena,
poderiam denunciá-lo como um revolucionário inimigo de Roma.
Então,
Jesus lhes respondeu lançando uma pergunta: de onde era o batismo de João
Batista? Do céu ou dos homens? De Deus ou terreno?
E
por que Jesus respondeu fazendo essa pergunta?
João
Batista foi o profeta que veio para preparar o caminho do Messias. Ele pregou
uma mensagem de arrependimento, denunciando o pecado e anunciando que o Reino
de Deus estava próximo. Mas os líderes religiosos de Israel, embora tenham
ficado interessados em João Batista, não acreditaram nele, pois não viam um
profeta enviado por Deus. Tanto que não impediram que João fosse preso por
Herodes, o que culminou com a sua morte.
Tanto
João como Jesus receberam autoridade do Pai Eterno. Porém, se aqueles homens
não reconheceram a autoridade outorgada a João Batista, também não
reconheceriam a autoridade de Jesus, ainda que Ele lhes declarasse que fora
enviado por Deus.
Como
eles não souberam dizer de onde vinha a autoridade de João, então não
adiantaria Jesus revelar que sua autoridade vinha do Pai Eterno, porque eles
apenas utilizariam isso para acusá-lo, porque havia neles uma predisposição de
não crer, afinal, eles já haviam visto Jesus fazer sinais que evidenciavam que
Ele agia em nome de Deus.
Mas,
para que aqueles líderes entendessem a consequência de sua postura incrédula,
Jesus contou a parábola dos dois filhos (28-32).
Na
versão da Bíblia Almeida Revista e Atualizada o primeiro filho foi o que disse
sim, mas não cumpriu a palavra, enquanto o segundo disse não, mas foi trabalhar na vinha. Outras versões, como
NAA, NVI e King James trazem a ordem invertida: o primeiro filho disse não, mas
foi, ao passo que o segundo disse sim e não foi. Nesta reflexão estamos usando a
Almeida Revista e Atualizada.
Para
entendermos a passagem, é necessário identificar quem são os dois filhos da
parábola.
Jesus
disse que um homem pediu aos filhos para que fossem trabalhar na vinha. Essa
vinha representa Israel, como em diversas outras passagens bíblicas. O primeiro
filho representa os líderes religiosos, e o segundo filho, os publicanos,
meretrizes e demais pecadores que havia no povo de Israel.
Os
líderes (primeiro filho) ouviram a pregação de João Batista, todavia acharam
que a mensagem não era para eles, e desprezaram o profeta. Ao fazerem isso,
desprezaram o próprio Deus, que havia enviado João. Eles eram pessoas que
julgavam conhecer muito as Escrituras, pensavam que com sua conduta agradavam a
Deus, falavam coisas bonitas, ensinavam a Palavra, todavia sua conduta
demonstrava que eles estavam muito longe de obedecerem a Deus.
Eles
se consideravam justos, crendo que não necessitavam de arrependimento, e por
isto não deram atenção a João Batista. Com sua conduta disseram “não” a Deus.
Já
os pecadores (segundo filho), quando ouviram a pregação de João Batista, foram
tocados, sentiram sua condição de pecadores, temeram a Deus e se arrependeram,
sendo batizados por João. Embora sua vida tivesse sido de pecados, quando foram
confrontados demonstraram arrependimento, e com sua conduta disseram “sim” a
Deus.
Aprendemos
algumas coisas muito importantes nesse ensino de Jesus.
1) A autoridade
de Jesus está acima dos interesses humanos
Os
líderes religiosos judeus já estavam cansados de ver Jesus ensinando a Palavra
de Deus, curando pessoas enfermas, abrindo os olhos daqueles que não conseguiam
ver o amor de Deus, porque isso se constituía em uma ameaça à sua posição de
liderança e de privilégios na sociedade judaica.
Quando
Jesus lhes respondeu com uma pergunta, podemos observar que, na verdade, a
questão não era que eles não soubessem a resposta, mas queriam encontrar uma
resposta que fosse mais conveniente e não os comprometesse.
Quando
eles se reuniram para discutir sobre a pergunta de Jesus, não disseram: “de
onde vem o batismo de João?”, mas, “se dissermos: do céu, ele nos dirá: Então,
por que não acreditastes nele? E, se dissermos: dos homens, é para temer o
povo, porque todos consideram João como profeta.” (Mateus 21:25,26)
A
preocupação deles era com a sua própria situação diante do dilema colocado por
Jesus. Eles queriam questionar a autoridade de Jesus, mas não pretendiam que a
sua própria autoridade como líderes espirituais sofresse algum tipo de mácula.
Eles
queriam colocar em dúvida a autoridade de Jesus para desacreditá-lo perante o
povo. Afinal, se as pessoas deixassem de ver Jesus como um Mestre e parassem de
segui-lo, eles voltariam a ter as atenções de todos apenas para eles mesmos.
Eles
não queriam que as pessoas tivessem seus olhos abertos, antes, tencionavam que
elas permanecessem presas ao sistema legalista que imperava, repleto de
religiosidade, mas vazio da presença de Deus.
Entretanto,
a autoridade de Jesus está acima de qualquer interesse humano, porque ela vem
do Pai Eterno. A autoridade de Jesus é eterna e não depende da aprovação
humana. Ele não precisa fazer prova de sua autoridade, e ela permanece pelos
séculos.
Já
os líderes religiosos daquela época, que se apegavam a coisas transitórias e
negavam a autoridade de Jesus, viram a sua autoridade passar, testemunharam o
Evangelho sendo anunciado por todos os lugares após a morte e ressurreição de
Jesus, e puderam ver que ninguém pode se opor aos planos de Deus.
Não
é raro que hoje muitas pessoas ainda procurem pretextos para negar a autoridade
de Jesus, fazendo um esforço tremendo para sustentar aparências e privilégios
meramente humanos.
Há,
inclusive, muitos crentes que, para não se sujeitarem à autoridade de Jesus,
procuram misturar conceitos bíblicos com filosofias e ensinos de outras
religiões, minimizando, assim, a autoridade dos ensinos bíblicos, com vistas a
poder atender às suas próprias conveniências, pois suas pseudojustificativas
amparam suas condutas e elas não se sentem tão acusadas por sua consciência,
que está cauterizada.
Mas
o fato é que, quer queiramos ou não, a autoridade de Jesus é real e não depende
de nossa vontade ou de nossas conveniências. Ele é Senhor sobre tudo e sobre
todos, ainda que as pessoas insistam em discutir até mesmo sobre sua
existência.
Jesus
é o Filho de Deus, e recebeu do Pai autoridade sobre toda a criação, como Ele
próprio afirmou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.” (Mateus
28:18)
Portanto,
em vez de perder tempo levantando questionamentos sobre a autoridade de Jesus,
o mais sábio é aceitá-la e nos submetermos ao Senhoria de Cristo, ao contrário
do que fizeram aqueles líderes judeus.
2) Os atos falam
mais alto que as palavras
Os
líderes religiosos de Israel foram representados na parábola pelo filho que
disse “sim” ao pai, mas deixou de lado a ordem de ir cuidar da vinha,
demonstrando desobediência.
Isto
porque eles eram homens que conheciam as Escrituras, eram responsáveis por
ensinar as pessoas e orientá-las quanto à Palavra de Deus, todavia, embora
falassem coisas corretas, não obedeciam aos mandamentos do Senhor, pois sua
conduta era oposta ao que ensinavam.
Jesus
falou sobre eles em outras passagens, como, por exemplo, Mateus 23.2-3:
“Na
cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai,
pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras;
porque dizem e não fazem.”
(Mateus 23:2,3)
Eram
homens que oravam bonito, pregavam bem, falavam sim a Deus com seus lábios,
todavia com seu modo de viver falavam não, porque eram egoístas, arrogantes,
legalistas, tinham maior preocupação consigo mesmos do que com Deus e as
pessoas a quem deviam ensinar.
Ainda
no Evangelho escrito por Mateus Jesus disse o seguinte:
“Este
povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me
adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.” (Mateus 15:8,9)
Por
outro lado, os pecadores (publicanos, meretrizes, demais pessoas) foram
representados pelo filho que disse “não”, mas por fim obedeceu. Eles eram
pessoas que viviam no pecado, mas quando João pregou a mensagem de
arrependimento reconheceram que estavam fadados à condenação e se arrependeram,
sendo batizados por ele.
Essas
pessoas, que inicialmente haviam dito não, acabaram por dizer “sim” por meio de
sua conduta de arrependimento e submissão a Deus.
O
que falamos é importante, mas são as nossas ações que vão dizer o que realmente
ocupa nosso coração. Isto porque é relativamente fácil falar coisas bonitas,
cantar louvores, declarar amor a Deus e ao próximo, entretanto, colocar em
prática o que dizemos é bem mais complicado quando o que confessamos não está
arraigado em nosso coração, mas provém de mera religiosidade.
A
Palavra nos ensina que professar a fé em Jesus com nossa boca é extremamente
importante, conforme Romanos 10.9-10:
“Se,
com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que
Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê
para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.” (Romanos 10:9,10)
O
ensino de Paulo está coerente com o que Jesus ensinou, porque quando Paulo fala
de confessar Jesus como Senhor, está falando de se submeter ao senhorio de
Cristo, e isto envolve a atitude da obediência. Em Mateus 7.21 Jesus fez a
seguinte afirmação:
“Nem
todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que
faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (Mateus 7:21)
Portanto,
não é o simples ato de falar e fazer declarações de fé, mas a adoção de uma
forma de viver que demonstre que, de fato, a fé confessada é autêntica e se
traduz em termos práticos no dia a dia.
Deus
se agrada muito mais daqueles que, embora possam até ser relutantes no início,
reconhecem sua necessidade de arrependimento e obedecem à Palavra, do que
daqueles que vivem falando coisas bonitas e declarando amor a Deus, mas que
negam essa fé por meio de atitudes incoerentes, tendo uma vida infrutífera.
Há
uma coisa que Deus sempre quis ver em Seu povo, desde o início da criação, e
continua sendo um requisito indispensável até hoje para diferenciar os crentes
autênticos dos meros religiosos: a
obediência!
E
a obediência somente pode vir de corações transformados. Os líderes religiosos
daquele tempo não tinham como obedecer a Deus porque seus corações não estavam
em Deus, mas, sim, nos formalismos e legalismos da religião, bem como nos
privilégios que eles tinham por serem homens de posição respeitável perante o
povo, que gozavam de prestígio e eram egocentristas.
As
pessoas que ouviram a pregação de João e se arrependeram demonstraram ter no
coração a vontade de servir a Deus, elas sentiam fome de Deus e estavam sendo
mal conduzidas pelos líderes que tinham bons ensinos teóricos mas, na prática,
eram péssimos exemplos, porque não tinham real relacionamento com Deus.
Quem
somos nós nessa parábola? O filho que disse sim, mas não obedeceu, ou o filho
que disse não, porém depois obedeceu?
Nossas
palavras encontram eco em nossas ações, ou a incoerência permeia nossa conduta
e demonstra que, na verdade, estamos apenas cultuando a nós mesmos e não a
Deus?
CONCLUSÃO
Ainda
hoje os dois filhos da parábola de Jesus continuam existindo. Precisamos nos
autoanalisar para verificarmos qual dos dois filhos nós somos. É essencial que
sejamos o filho que obedece, que se submete a autoridade de Jesus e que o honra
por meio de uma vida de imitação ao Mestre, caminhando com amor e firmeza na
fé.
Diariamente
devemos trazer à nossa memória a verdade bíblica de que nossos atos falam mais
alto do que nossas palavras, e que deve haver coerência entre o que falamos e o
que fazemos, porque somos testemunhas de Jesus Cristo perante este mundo.
Que
o nosso sim a Deus seja um “sim” autêntico, refletido em uma vida de piedade e
submissão à vontade do Pai.
Que
o Espírito Santo de Deus nos capacite e conduza para que honremos ao Senhor com
nossa vida no dia a dia, jamais servindo como motivo de vergonha ao Evangelho
de Jesus.
José Vicente
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