Filipenses 4.4-9
Atualmente vivemos em
uma sociedade em que as pessoas enfrentam inúmeros problemas diariamente.
Questões financeiras, familiares, de saúde, políticas, religiosas, contribuem
para que as pessoas andem sobrecarregadas, preocupadas, inseguras, com medo e
com a esperança se desvanecendo.
Isto, porém, não é algo
restrito ao nosso tempo. Na época da Igreja primitiva os cristãos também enfrentavam
situações aflitivas que eram capazes de comprometer a sua fé e gerar
sofrimentos incontáveis.
Quando Paulo escreveu a
Carta aos Filipenses ele se encontrava preso, muito provavelmente em Roma, por
causa da pregação do Evangelho de Cristo. Os cristãos da cidade de Filipos
mostraram solidariedade para com o apóstolo, enviando-lhe donativos para
atender às suas necessidades e oferecendo apoio moral e espiritual para que ele
permanecesse firme.
Paulo, nessa carta,
agradece aos irmãos pela demonstração de amor, e renova orientações para que
eles continuem a crescer como discípulos de Jesus Cristo, mantendo-se fieis
mesmo em meio às perseguições que a Igreja sofria naquele momento.
As orientações de Paulo
aos irmãos de Filipos se aplicam à Igreja de hoje, porque embora muitos séculos
tenham se passado desde aquela época, as situações de perseguição, de
sofrimento e de turbulências se repetem, mas com outras roupagens.
A Igreja de hoje
necessita revisitar a Carta aos Filipenses para avivar em sua mente os ensinos
apostólicos com relação ao Reino de Deus e à forma como os cristãos devem se
portar neste mundo, enquanto aguardam o retorno de Cristo.
Vamos analisar o que
Paulo ensinou aos filipenses, e que continua ensinando a nós, que somos Igreja
de Cristo.
1)
Alegria
no Senhor (v. 4)
Quando Paulo escreveu
essa carta aos filipenses ele se encontrava preso por causa da pregação do
Evangelho de Cristo. Para muitas pessoas esse seria um motivo para viver triste
e reclamando, pensando até em desistir de tudo. Inclusive os cristãos de
Filipos estavam tristes pela situação de Paulo. Todavia, em vez do preso ser
consolado pelos que se encontravam em liberdade, estes é que foram consolados
pelo prisioneiro.
Paulo exortou os
filipenses a serem alegres. Mas ele não estava se referindo a uma alegria
circunstancial, que depende dos acontecimentos da vida, e sim à alegria
superior que tem quem vive para Jesus. Paulo falava de uma alegria espiritual. Por esta razão ele disse: “alegrai-vos no Senhor”. Ele não disse alegrai-vos
nas riquezas, nas vitórias ou em qualquer outra coisa meramente terrena.
Essa alegria à qual
Paulo se refere se manifesta mesmo em meio a tribulações, tristezas e
sofrimentos. Quando Paulo e Silas foram açoitados e presos (Atos 16.22-25), em
vez de chorar e murmurar eles estavam na prisão orando e cantando louvores a
Deus, o que demonstra que, embora privados da liberdade e muito machucados,
eles sentiam a alegria de pertencer a Deus e de poderem servir ao Senhor,
sabendo que coisas excepcionalmente melhores lhes estavam reservadas na vida
vindoura.
A Palavra não está
dizendo que é pecado sentir tristeza, muito menos que devemos fingir sentir
aquilo que não sentimos. Vejam que Jesus demonstrou tristeza ao falar sobre o
que aconteceria a Jerusalém devido ao fato de rejeitar a Deus e ao Seu Filho.
Ele também ficou triste quando seu amigo Lázaro morreu.
Na carta aos filipenses
o próprio Paulo deixou claro que ele experimentava sentimentos de tristeza
devido à sua situação. No capítulo 2, versículos 27 e 28, Paulo fala de
Epafrodito, um companheiro que adoeceu gravemente e esteve à beira da morte,
mas foi restaurado por Deus. Paulo afirma que a cura de Epafrodito demonstrou a
compaixão de Deus não apenas para com aquele homem, mas também para com Paulo:
“Com efeito, adoeceu
mortalmente; Deus, porém, se compadeceu dele e não somente dele, mas também de
mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza. Por isso, tanto mais me
apresso em mandá-lo, para que, vendo-o novamente, vos alegreis, e eu tenha
menos tristeza.” (Filipenses 2:27,28)
A tristeza é um
sentimento que faz parte do ser humano. O que a Bíblia nos ensina é que, apesar
dos inúmeros motivos para termos tristeza, e embora o semblante algumas vezes
possa expressar esse sentimento, a alegria nunca deve deixar de habitar nosso
coração, de maneira que a tristeza não poderá encontrar morada permanente, mas
apenas uma parada momentânea.
A alegria que deve
encher o coração do cristão é baseada no amor que ele recebe de Deus, na
salvação garantida por Jesus Cristo, na certeza do cuidado divino em todos os
momentos, na esperança dos dias melhores que estão prometidos nas Escrituras.
Embora estivesse na
prisão, Paulo certamente sentia o desejo de estar livre para continuar a pregar
o Evangelho em diversos lugares, e isso lhe causava tristeza, mas ao mesmo
tempo ele sentia alegria pelo fato de poder fazer parte de tão maravilhoso
projeto de Deus para o ser humano, e se dispunha a servir a Deus em todas as
circunstâncias, certo de que até mesmo preso poderia ser usado por Deus para
alcançar vidas e glorificar ao Eterno.
Paulo sentia alegria pelo
desenvolvimento espiritual dos filipenses (1.3-5), ao saber que outras pessoas
estavam pregando o Evangelho, ainda que algumas tivessem interesses egoístas
(1.12-18). Ele também se alegrava ao saber que os irmãos de Filipos estavam
orando por ele, e porque aqueles cristãos demonstravam na prática o amor por
meio da ajuda que prestavam ao apóstolo (4.10).
A alegria de Paulo era
poder servir aos propósitos de Deus e ver o Evangelho transformando vidas,
apesar das perseguições.
É interessante ver como
há cristãos que não parecem cultivar essa alegria, porque vivem com semblantes
carrancudos, murmuram constantemente, não conseguem ver nada de bom nos
acontecimentos do dia a dia, olham para a vida e não enxergam o agir de Deus.
Pessoas que focam seu
olhar apenas nas coisas negativas, nas dificuldades, e permitem que isso afete
seu ânimo, sua confiança em Deus, sendo tomadas por tristeza e abatimento.
A alegria espiritual é
decorrente de fixarmos nossos olhos em Jesus, de onde vem o nosso socorro,
sustento, esperança, força e salvação. Nossa alegria vem do fato de termos uma
esperança que não se frustra, com relação à vida no Reino de Deus e à completa
libertação quanto às maldades deste mundo.
Alegremo-nos no Senhor,
pois Ele cuida de nós em meio às turbulências, ainda que tudo pareça estar
dando errado, porque “sabemos que Deus age em todas as coisas
para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu
propósito.” (Romanos 8:28)
2)
Moderação/amabilidade
(v. 5)
No
versículo 5 Paulo diz: “seja a vossa
moderação conhecida de todos os homens”. Em outras versões, como a NVI, a
palavra utilizada é amabilidade.
Paulo
está exortando os cristãos a serem pessoas moderadas, amáveis, de fácil trato,
capazes de agir com paciência e de retribuir com gentileza e amor a todas as
pessoas, independentemente de como fossem tratadas.
Pessoas
sem moderação tendem a ser destemperadas, impacientes, sem domínio próprio,
prontas para retribuir na mesma moeda a quem as ofende ou lhes faz algum mal.
São
pessoas que não conseguem se manter equilibradas diante de situações difíceis,
perdendo a calma e o controle, o que acaba por lhes trazer consequências ruins,
além de ser um péssimo testemunho da fé cristã.
Nossa
referência em moderação e amabilidade é o Senhor Jesus Cristo, que demonstrava
amor ao próximo mesmo em situações extremas, como no momento em que estava
sendo levado para a morte na cruz.
Jesus
não era uma pessoa explosiva, mas demonstrava grande equilíbrio emocional. Não
falava sem refletir, antes, meditava no que iria dizer. Não era alguém que
simplesmente reagia diante da fala alheia, mas tinha suas ações guiadas pelo
amor e pela serenidade.
Paulo
afirmou que essa moderação ou amabilidade deveria ser conhecida de todos, ou
seja, não haveria de ficar restrita aos relacionamentos dentro da igreja, mas
se estender a todas as pessoas com quem os cristãos viessem a ter algum
contato, porque seria um testemunho eficiente da fé em Jesus diante do mundo,
um traço que diferenciaria os cristãos dos ímpios.
O
próprio Paulo, estando na prisão, procurava ser moderado e amável com todas as
pessoas, pois tinha ciência de que deveria imitar o seu Senhor, Jesus Cristo,
que tratava o próximo com atenção, respeitando as fraquezas e dificuldades de
cada um.
E
o apóstolo complementa dizendo: “Perto está o Senhor”. Na versão King James
está traduzido da seguinte forma: “Breve voltará o Senhor.”
Trata-se
de uma exortação para não descuidarmos de nosso modo de viver conforme o
Evangelho de Jesus, porque o Senhor não tarda a voltar, e precisamos estar
prontos para nos encontrarmos com Ele, além de precisarmos ser testemunhas
fieis do Senhor para que o maior número possível de pessoas sejam alcançadas
pelo anúncio das Boas Novas.
3)
Oração
e gratidão em lugar de ansiedade (v. 6)
O apóstolo Paulo
prossegue exortando os cristãos a não andarem ansiosos, mas a colocarem diante
de Deus todas as suas necessidades, sempre com o coração grato pelo que Deus já
fez em nosso favor.
É bastante elucidativa
a tradução da Nova Versão Transformadora:
“Não vivam preocupados
com coisa alguma; em vez disso, orem a Deus pedindo aquilo de que precisam e
agradecendo-lhe por tudo que ele já fez.” (Filipenses
4:6)
A ansiedade é um
problema sério que afeta milhares de pessoas no mundo. Trata-se de um estado
psicológico em que a pessoa sofre antecipadamente por coisas que muitas vezes
nem chegam a acontecer, ou por problemas que, em sua mente, tomam proporções
muito maiores do que realmente têm.
Para a pessoa ansiosa,
a simples possibilidade de um problema é suficiente para causar enorme
sofrimento psicológico, com desgaste emocional que repercute em todo o corpo.
Muitas pessoas sentem dores em várias partes do corpo e nem imaginam que são
causadas pela ansiedade, como dor de estômago, dor de barriga, dores
musculares, dor nas costas, dor na mandíbula, dor no peito, etc.
Existe um nível de
ansiedade que se constitui em um problema de ordem psicológica e que muitas
vezes necessita de auxílio profissional, todavia, o apóstolo Paulo nos afirma
que o melhor caminho para evita a ansiedade causada pelas coisas da vida é
entregar nossas necessidades e dificuldades a Deus por meio de oração e súplicas, sempre com ações de
graças.
Orar é conversar com
Deus, é dedicar um tempo à adoração, buscando ouvir a voz do Altíssimo. Esse
ato de adoração não envolve pedidos, mas um diálogo com o Pai, um estreitamento
desse relacionamento com nosso Senhor.
As súplicas são os
pedidos propriamente ditos. Dizemos a Deus o que está nos afligindo e rogamos a
sua providência, a sua atuação em nosso favor ou de outra pessoa para que
determinada situação seja solucionada.
Ações de graças são os
agradecimentos a Deus por tudo quanto Ele já fez e pelo que ainda fará em nossa
vida.
Esses três elementos,
oração, súplicas e gratidão, são essenciais para conseguirmos aquietar nossa
mente e vencer a ansiedade, experimentando a paz que excede todo entendimento,
conforme está prometido no versículo 7:
“E a paz de Deus, que
excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo
Jesus.” (Filipenses 4:7)
Quando Paulo diz que a
paz de Deus guardará nosso coração, está falando de nossos sentimentos, que
serão transformados por Deus. E ao falar que essa paz guardará nossa mente,
está se referindo aos nossos pensamentos, pois experimentaremos serenidade, venceremos
o medo e a insegurança, certos de que, em Cristo, estamos a salvo e temos ampla
suficiência de tudo, e nada nos faltará (Salmo 23).
A paz de Deus afasta a
ansiedade, traz harmonia, restaura o ânimo, revigora as forças e renova a
alegria em nossa vida.
4)
Pensamentos
dignos de um filho de Deus (v. 8)
Aqui, Paulo prossegue
exortando os cristãos a cuidarem de seus pensamentos. Sabemos que nossas ações
passam, antes de se tornarem reais, pela nossa mente, assim como tudo o que é
criado pelo ser humano.
Um carro, por exemplo,
é pensado e projetado antes de ser construído. O mesmo se diga para um
edifício, uma casa, um telefone celular, uma cadeira, um lápis, etc. Primeiro,
o objeto é criado no pensamento, e posteriormente ganha forma no mundo físico.
Da mesma forma, as
coisas que fazemos passam primeiro por nossa mente, na forma de pensamentos.
Quando nossos pensamentos são ruins, cheios dos valores do mundo, certamente
nossas ações serão compatíveis com esse padrão de pensamento. Jesus disse que
do coração humano é que vêm os adultérios, homicídios, maledicências, conforme
vemos em Mateus 15.19:
“Porque do coração
procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos
testemunhos, blasfêmias.” (Mateus 15:19)
Coração, no texto de
Mateus, representa a fonte da vontade humana, que na verdade corresponde à
nossa mente, onde estão nossos pensamentos.
Então, maus pensamentos
geram más ações. Aquilo que ocupa nossa mente vai determinar como será nosso
comportamento no dia a dia. E se cometermos erros e maldades, isso se deverá ao
fato de nutrirmos pensamentos inadequados, enchendo nossas mentes com coisas
que deveríamos lançar fora.
Ciente disto, Paulo
conclama os cristãos a sondarem suas mentes e a cultivarem pensamentos bons,
onde haja verdade, nobreza, pureza, honestidade, justiça, amabilidade, louvor,
para que suas condutas possam refletir o exemplo de Jesus Cristo.
A melhor maneira de
substituirmos os pensamentos ruins por pensamentos bons é alimentarmos nossa
mente com aquilo que é saudável espiritualmente, ou seja, com a Palavra de
Deus. Quando nossa mente está repleta da Palavra de Deus, nossa conduta será
naturalmente guiada pelos princípios da Palavra, e o Espírito Santo terá um
solo muito fértil para trabalhar e produzir o fruto do Espírito.
O problema é que grande
parte dos cristãos acabam ocupando suas mentes com coisas que além de não
acrescentarem nada de bom, ainda fazem surgir dúvidas quanto a verdades
bíblicas, sutilmente incutem valores contrários à Palavra, abalam o valores
morais até então cultivados e ameaçam a integridade do caráter do cristão.
A prática do cultivo de
pensamentos bons deve ser incentivada desde a infância, com os pais ensinando
aos filhos a Palavra de Deus, e dando-lhes o exemplo por meio de sua conduta
diária. Mas o que acaba acontecendo é que as crianças são expostas fartamente a
programas de televisão, filmes, desenhos, músicas e diversas mídias que vão
transmitindo, gradativamente, valores mundanos e incompatíveis com a Palavra de
Deus.
Portanto, vigiemos
nossos pensamentos, porque a partir deles serão pautadas nossas ações.
5)
Vida
de prática da Palavra (v. 9)
Após essas exortações,
Paulo afirma aos filipenses que, uma vez que eles aprenderam, receberam, ouviram
e viram os ensinamentos quanto ao Evangelho de Jesus, era necessário colocar em
prática tudo quanto foi aprendido, por meio de uma vida de obediência.
Na vida cristã a teoria
e a prática têm que caminhar juntas. De nada adianta se encher de conhecimento
mas viver como se não conhecesse a Cristo. É ilusão memorizar textos bíblicos,
ser profundo conhecedor dos estudos da teologia, saber o que é correto, mas não
fazer o que se aprendeu, tendo uma vida de incoerência.
Desde o início da
Bíblia constatamos que Deus requer de nós uma vida de obediência. Não foi à toa
que Ele enviou profetas, Seu próprio Filho Jesus e os apóstolos para nos
ensinarem sobre o Reino de Deus. Ele queria um povo fiel e obediente, que O
honrasse por meio de um estilo de vida guiado por Seus mandamentos.
A prática da Palavra de
forma obediente e fiel traz como resultado a presença marcante de Deus,
conforme está prometido no fim do versículo 9: “e o Deus da paz será convosco”.
A obediência nos aproxima
de Deus e nos torna testemunhas de Seu amor e Sua graça, de maneira que, assim
como aconteceu com Paulo, também nós podemos ser usados como instrumentos para
alcançar outras pessoas e glorificar a Deus por nossa vida.
CONCLUSÃO
A Igreja de Cristo continua
a ser desafiada a se manter fiel à Palavra de Deus, mesmo em meio a
adversidades e distrações com que se depara diariamente. E para vencer esse
desafio, a Igreja precisa estar firmada na Palavra e repleta do Espírito Santo,
cultivando uma vida de coerência com as Escrituras.
A Igreja deve ser
instrumento de Deus para alcançar e transformar vidas por meio da pregação do
Evangelho, e isto será feito por cristãos que mantêm o coração aquecido pela
alegria de pertencer a Cristo, que são moderados e amáveis, que vencem a
ansiedade por meio da oração com súplicas e ações de graças, que cultivam
pensamentos dignos de filhos de Deus e vivem a fé que professam de maneira
integral.
Esta é a Igreja que
Paulo diz que deve resplandecer como estrelas em meio a um mundo cercado por
trevas de corrupção e pecado (1.15).
José Vicente
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