Texto base: Marcos 3.1-10
Será
que existe um tempo certo para fazermos o bem ao próximo? Será que nossa
capacidade de fazer o bem deve ser limitada pelas circunstâncias e pelo
pensamento das pessoas ao redor?
A
passagem lida se encontra em um período em que Jesus teve alguns atritos com
líderes religiosos judeus, pois Ele estava cumprindo a sua missão de abençoar
as pessoas e lhes ensinar sobre o Reino de Deus, o que os líderes consideravam
como uma ameaça à sua posição perante a comunidade israelita.
Em
Marcos 2 vemos um episódio maravilhoso em que um paralítico é levado por quatro
amigos até Jesus, e como não conseguiam entrar na casa, pois estava muito cheia,
subiram ao telhado e foram descendo o paralítico até que chegasse a Jesus. O
Mestre, então, admirado com a fé daqueles homens, disse ao paralítico que seus
pecados estavam perdoados, e como os fariseus começaram a murmurar que somente
Deus podia perdoar pecados, sendo aquilo uma blasfêmia, Jesus os repreendeu e promoveu
a cura do paralítico diante de todos.
Na
mesma seção, os fariseus criticam Jesus por comer junto com pecadores, quando
Jesus responde que os doentes é que precisam de médicos, e que Ele viera para
chamar pecadores, e não justos.
Depois
os fariseus implicaram pelo fato de os discípulos de Jesus não jejuarem, e a
seguir, criticaram os discípulos de Jesus por colherem espigas em dia de sábado.
Agora,
Jesus estava na sinagoga, e lá também estavam os fariseus, observando-o
atentamente para encontrar algo de que o pudessem acusar.
É
interessante notar como pessoas religiosas, que conheciam a Lei de Deus, tinham
a sua visão de tal modo deturpada que não conseguiam ver, nas obras de Jesus, a
ação de Deus, mas enxergavam apenas motivos para fazerem oposição a Jesus.
Eles
se sentiam ameaçados em sua posição de líderes religiosos, e temiam que as
pessoas começassem a seguir os ensinamentos de Jesus, pois isto representaria o
enfraquecimento daquela liderança corrompida.
Inicia-se,
então, mais um momento de conflito espiritual que levaria aqueles homens a
terem ainda mais ódio de Jesus, desejando matá-lo, em vez de glorificarem a
Deus pelos milagres que estavam presenciando.
Da
passagem podemos extrair inúmeras lições, mas vamos nos ater às seguintes:
O
dia de sábado era destinado ao descanso, e nenhum trabalho poderia ser realizado
nesse dia. Deus concedeu o sábado para que o ser humano tivesse descanso e para
que O adorasse, e com o passar do tempo os líderes religiosos judeus foram
criando uma lista de atividades que não poderiam ser feitas em dia de sábado,
de maneira que o aquilo que deveria ser uma bênção se tornou um fardo sobre os
ombros das pessoas.
De
forma geral, até mesmo o ato de curar alguém em dia de sábado era considerado
como uma violação à Lei de Deus, levando esses líderes a se voltarem contra
quem assim procedesse, com acusações de profanação do dia sagrado.
No
texto que lemos, era um dia de sábado e Jesus estava na sinagoga, juntamente
com muitos judeus, dentre eles líderes religiosos do grupo dos fariseus. E
havia entre eles um homem que tinha uma mão atrofiada. Jesus chamou o homem
para o centro e perguntou aos que se encontravam presentes se era lícito fazer
o bem ou o mal no sábado, salvar a vida ou matar, mas ninguém lhe respondeu
nada.
Então,
Jesus curou o homem, e sua mão foi restaurada.
A
pergunta que Jesus fez aos que estavam presentes era para que eles refletissem
no fato de que o mal é feito em qualquer dia, em qualquer tempo, não conhecendo
limites temporais. A morte também ocorre em qualquer momento, independentemente
de ser sábado ou qualquer outro dia.
Desta
forma, se tanto o mal como a morte poderiam se dar em qualquer dia, por que
razão o bem não poderia ser feito em qualquer ocasião, mesmo que fosse em um
sábado?
Jesus
estava ensinando àqueles homens que não há tempo para fazer o bem, e que a
observância meramente religiosa de um dia consagrado, como o sábado, além de
não impedir que ocorresse o mal ou a morte, não poderia ser utilizado como
pretexto para não fazer o bem a quem necessitasse.
O
ensino de Jesus àquelas pessoas visava mostrar que Deus Pai está muito mais
interessado em que se pratique o amor para com o próximo, atendendo às
necessidades de quem sofre, do que com a observância legalista de regras
religiosas, omitindo-se, porém, de socorrer a quem precisa de ajuda.
Todos
nós que cremos em Jesus e nos tornamos seus discípulos temos o compromisso de
imitá-lo em seus passos, e fazer o bem em qualquer tempo é um dos ensinos de
Jesus a ser aprendido e observado por nós.
Não
existe um tempo para fazermos o bem ao nosso próximo, pelo contrário, devemos
sempre estar prontos e dispostos a demonstrar nosso amor e nossa solidariedade
para com quem necessitar em todo o tempo.
Parece
que os líderes religiosos judeus da época de Jesus teriam a capacidade de se
omitir no socorro a alguém necessitado, caso isso ocorresse em sábado ou em
ocasião em que eles estivessem prestando serviço religioso, mas a pergunta que
Jesus lhes fez os deixou sem resposta, porque eles sabiam que o bem deve ser
feito em todo o tempo.
Infelizmente
os líderes religiosos judeus não haviam ainda compreendido a essência dos
mandamentos de Deus, pois se limitavam a um culto mecânico a Deus,
negligenciando o amor ao próximo.
Isto
fica claro na passagem em que Jesus fala sobre o homem que foi assaltado e
espancado, deixado à beira do caminho muito ferido, e tendo por ali passado um
levita e um sacerdote, fizeram vistas grossas à sua situação, sendo ele
socorrido justamente por um samaritano, que os judeus consideravam inferior e
indigno (Lucas 10.30-37).
Na
passagem de Lucas, é provável que tanto o sacerdote como o levita estivessem
vindo do Templo, pois desciam de Jerusalém. Mas como sua religião era meramente
formalista e legalista, eles não puseram em prática o amor que Deus requer que
manifestemos para como o nosso próximo.
Paulo,
apóstolo de Jesus, escreveu aos Tessalonicenses o seguinte:
“E
vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.” (2 Tessalonicenses 3:13)
Os
discípulos de Jesus devem ser incansáveis na prática do bem, não esperando
tempo certo, pois sempre é tempo de amar.
Fazer
o bem é tão importante aos olhos de Deus, que Tiago foi levado a escrever a seguinte
exortação:
“Portanto,
aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando.” (Tiago 4:17)
Jesus,
que amava as pessoas de forma incondicional, sabia que não poderia se omitir de
fazer o bem a uma pessoa necessitada. Esta não foi a primeira nem a última
ocasião em que Jesus ajudou pessoas. Houve momento em que Jesus estava cansado,
e mesmo assim abriu mão do repouso para poder aliviar o sofrimento de quem o
procurava.
Infelizmente,
nos dias atuais existem pessoas que só se dispõem a fazer o bem ao próximo
quando isto lhes resulte em algum benefício. Assim, escolhem o momento de fazer
o bem.
Todos
os anos vemos pessoas se mobilizando para ajudar famílias carentes na época de
Natal, incentivando outros a doarem brinquedos, roupas, alimentos e diversas
coisas para que sejam distribuídas a crianças e muitas pessoas que passam falta
de itens básicos.
O
problema é que em boa parte das vezes essas ações acabam se limitando a esse
período ou alguma outra época específica, como se apenas uma vez ao ano o
próximo necessitasse de auxílio.
Nosso
coração precisa ser tocado para demonstrar amor ao próximo por meio de atos de
compaixão o tempo todo, porque Deus é bom conosco o tempo todo. Sempre que
houver a necessidade por parte do nosso próximo, a disposição de fazer o bem,
estando ao nosso alcance, deve nos conduzir à ação em seu favor, conforme está
escrito em Provérbios:
“Quanto
lhe for possível, não deixe de fazer o bem a quem dele precisa; não diga ao seu
próximo: ‘Volte amanhã, e eu lhe darei algo’, se pode ajudá-lo hoje.” (Provérbios 3:27-28)
Assim,
a nossa disposição deve ser a mesma de nosso Mestre Jesus, de fazer o bem em
qualquer tempo, sem esperar situações especiais. Fazer o bem é demonstração
prática do amor de Deus em nosso coração. É evidência de que realmente somos
seguidores de Jesus e estamos buscando imitá-lo, aprendendo com seus
ensinamentos e seu exemplo.
2)
A maldade alheia não pode
impedir que façamos o bem (v. 2 e 6)
Naquele
local, havia um homem necessitado, com a mão atrofiada, mas também ali se
encontravam líderes religiosos judeus da seita dos fariseus, que já vinham
criticando Jesus por suas ações e pelo modo de agir de seus discípulos.
Esses
fariseus, conforme é narrado no versículo 2, “estavam observando a Jesus para
ver se o curaria em dia de sábado, a fim de o acusarem”, ou seja, eles
não estavam se importando com o problema do homem que tinha a mão atrofiada,
antes pensavam apenas em uma forma de acusar Jesus de violar a Lei de Deus e
desmoralizá-lo perante o povo que se aglomerava para segui-lo.
No
coração desses homens não havia amor ao próximo, mas mera religiosidade
legalista. E eles mantinham firme a convicção de que Jesus não poderia
continuar a fazer os milagres que vinha fazendo, principalmente em dias de
Sábado.
Eles
eram estudiosos da Lei de Deus, mas não conseguiam compreender a essência do
próprio Deus, que é o amor (1Jo 4.8, 16).
A
religiosidade equivocada deles acabava por levá-los a serem maus e tentarem
impedir que se fizesse o bem às pessoas. A visão que eles tinham de bem era
muito deturpada. Eles eram egoístas e tinham sede de poder. Eram cheios de
vaidade e de orgulho.
Jesus,
porém, não se deixou intimidar pela maldade daqueles homens. Pelo contrário,
Jesus os questionou quanto a fazer o bem ou o mal em dia de sábado. No
Evangelho escrito por Mateus essa passagem é narrada no capítulo 12, e lá é
dito que Jesus utilizou o exemplo da ovelha que cai em um buraco no sábado, e
que certamente o dono faria um esforço para retirá-la. Então Jesus pergunta se
um homem não vale mais do que uma ovelha.
Jesus
escancara a hipocrisia daqueles líderes religiosos, pois certamente eles
salvariam uma ovelha caída num buraco em dia de sábado, mas eram incapazes de
fazer o bem ao seu semelhante nesse dia apenas por legalismo religioso.
E
mesmo estando no meio de pessoas más, que queriam o seu mau, Jesus fez o bem ao
homem da mão atrofiada, não deixando que a maldade alheia limitasse a sua
demonstração de amor ao próximo.
Jesus
não estava preocupado com o julgamento das pessoas, pois Ele sabia que, tendo a
possibilidade de fazer o bem, não poderia se omitir apenas por causa da
mesquinhez dos líderes religiosos que ali estavam.
Nós
vivemos em um mundo onde o egoísmo é incentivado. Onde a dor do próximo é
desprezada e quem procura fazer o bem muitas vezes é visto como tolo. Um mundo
onde há época certa para fazer o bem, e onde olhares invejosos repousam sobre
pessoas que procuram amar ao próximo como Jesus amou. Um mundo onde quem não
faz o bem se levanta contra quem o faz e suscita oposição.
Infelizmente,
muitas pessoas se omitem de fazer o bem ao próximo porque ficam preocupadas com
o julgamento dos maus, dos egoístas, dos religiosos que não conhecem a Deus e
que acham que tudo deve ser feito apenas da forma como eles acreditam ser a
correta.
Necessitamos
aprender com Jesus que a nossa disposição de fazer o bem não pode estar
relacionada ao que os outros pensam, aos julgamentos de pessoas mesquinhas, mas
deve ser um reflexo do amor de Cristo agindo em nós e por meio de nós para
alcançar pessoas que precisam de auxílio e de amparo.
O
povo de Deus deve ter a coragem de fazer o bem mesmo em meio a um mundo mau,
porque não é vontade de Deus que nós tomemos a forma do mundo, mas que
influenciemos esse mundo pela prática do amor e por uma forma de conduta
diferente daquela que é ensinada pelo mundo.
Nem
mesmo a maldade da pessoa necessitada pode nos impedir de lhe fazer o bem, pois
assim é o ensino de Jesus:
“Digo-vos,
porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que
vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam.” (Lucas 6:27,28)
A
maldade dos outros não pode nos impedir de fazer o bem, porque o nosso modelo
de conduta não é o nosso próximo, mas o Mestre Jesus Cristo.
3)
Devemos fazer o bem a todos (
vv. 7-10)
O
texto lido, em conjunto com os demais Evangelhos, mostra que Jesus não
selecionava pessoas para fazer o bem, pelo contrário, Ele atendia prontamente a
todos os que o procuravam, não importando se eram pessoas verdadeiramente
interessadas no Reino de Deus ou apenas queriam o atendimento de suas
necessidades imediatas.
Nos
versículos 7 a 10 é dito que multidões de diversas localidades seguiam Jesus,
sendo que no versículo 10 é narrado que “todos os que padeciam de qualquer
enfermidade se arrojavam a ele para o tocar”.
Dentre
essas pessoas obviamente havia aquelas que tinham a finalidade de conhecer o
Messias e aprender mais sobre o Reino de Deus, mas certamente havia um número
gigantesco de pessoas que apenas desejavam o benefício que poderia ser obtido
com a cura de enfermidades ou atendimento de outras necessidades.
Com
certeza nessas multidões havia pessoas de boa índole e pessoas más. Pessoas que
observavam os mandamentos de Deus e outras que levavam uma vida torta. Havia
pessoas de todo tipo e com variadas intenções.
Jesus,
porém, fazia o bem a todos. Ele curava os enfermos, libertava os
endemoninhados, consolava os aflitos, e não fazia acepção de pessoas. Jesus não
selecionava aqueles a quem iria ajudar. Ele simplesmente agia e as abençoava.
Quando
Jesus foi preso, um discípulo, que João afirmou ser Pedro (João 18.10), cortou
a orelha do servo do sumo sacerdote, mas Jesus imediatamente restaurou-lhe a
orelha (Lucas 22.50-51). Ou seja, Jesus retribuiu o mal que estava recebendo
com o bem em favor de uma pessoa que servia a quem desejava a sua morte.
No
mundo vigora o princípio de fazer o bem a quem nos faz o bem, ou a quem pode
nos retribuir de alguma forma, ou, ainda, quando pudermos ter algum benefício
com nossa ação.
O
mundo ensina a sermos seletivos, escolhendo a dedo quem receberá a demonstração
de nossa bondade. Assim, inimigos são os primeiros a serem colocados de fora
dessa lista, porque merecem o pior. Pessoas com quem não simpatizamos também
são excluídas da nossa lista de boas ações. Ficamos tentando sondar as
intenções das pessoas e acabamos por não ajudá-las.
O
ensino de Jesus vai na contramão do mundo. Todas as pessoas devem receber o bem
de nossa parte, ainda que seja alguém que nos faz mal.
Observemos
o que escreveu Paulo: “Não torneis a ninguém mal por mal;
esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens;” (Romanos 12:17).
E
Jesus foi muito claro ao dizer que devemos fazer o bem a todos porque Deus é
bom para co todos:
“Se
amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam
aos que os amam. Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa
recompensa? Até os pecadores fazem isso. E, se emprestais àqueles de quem
esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos
pecadores, para receberem outro tanto. Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o
bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e
sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.
Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.” (Lucas 6:32-36)
Assim,
qualquer pessoa que cruzar o nosso caminho pode ser beneficiada com nosso amor
prático, da mesma forma que acontecia com quem se encontrava com Jesus, pois
Ele não excluía pessoas no momento de lhes fazer o bem.
A
Palavra de Deus afirma claramente que nós somos chamados para seguir os passos
de Jesus, amando como Ele amou, tendo a sua vida como exemplo de como deve se
portar um filho de Deus neste mundo.
E
Jesus, não apenas com suas palavras, mas principalmente por sua forma de agir,
ensinou que todo o tempo é tempo de fazer o bem ao próximo, independentemente
da maldade que nos rodeia, não fazendo acepção de pessoas.
A
questão é que não conseguimos ser como Jesus com base em nossos esforços. Não é
possível simplesmente dizermos: “a partir de hoje serei uma pessoa benigna e
bondosa; vou fazer o bem ao meu próximo de maneira indistinta!”.
É
o Espírito Santo de Deus que produz em nós a semelhança de Jesus Cristo. É o
Espírito Santo que vai renovando nossa mente e retirando os velhos conceitos,
velhos hábitos, as convicções erradas, e nos leva a um patamar em que cumprir a
Palavra de Deus se torne algo natural (Gl. 5.22-23).
Que
o Espírito Santo molde nosso caráter dia a dia e nos torne parecidos com o
Mestre Jesus, de forma que as pessoas, ao terem contato conosco, possam provar
um pouco da bondade de Deus por meio de nossos atos e nossas palavras de amor,
consolo e edificação.
Toda
honra e glória ao Deus Altíssimo, hoje e sempre. Amém.
José
Vicente
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