segunda-feira, 7 de março de 2022

TEMPO DE FAZER O BEM

 


Texto base: Marcos 3.1-10

Será que existe um tempo certo para fazermos o bem ao próximo? Será que nossa capacidade de fazer o bem deve ser limitada pelas circunstâncias e pelo pensamento das pessoas ao redor?

A passagem lida se encontra em um período em que Jesus teve alguns atritos com líderes religiosos judeus, pois Ele estava cumprindo a sua missão de abençoar as pessoas e lhes ensinar sobre o Reino de Deus, o que os líderes consideravam como uma ameaça à sua posição perante a comunidade israelita.

Em Marcos 2 vemos um episódio maravilhoso em que um paralítico é levado por quatro amigos até Jesus, e como não conseguiam entrar na casa, pois estava muito cheia, subiram ao telhado e foram descendo o paralítico até que chegasse a Jesus. O Mestre, então, admirado com a fé daqueles homens, disse ao paralítico que seus pecados estavam perdoados, e como os fariseus começaram a murmurar que somente Deus podia perdoar pecados, sendo aquilo uma blasfêmia, Jesus os repreendeu e promoveu a cura do paralítico diante de todos.

Na mesma seção, os fariseus criticam Jesus por comer junto com pecadores, quando Jesus responde que os doentes é que precisam de médicos, e que Ele viera para chamar pecadores, e não justos.

Depois os fariseus implicaram pelo fato de os discípulos de Jesus não jejuarem, e a seguir, criticaram os discípulos de Jesus por colherem espigas em dia de sábado.

Agora, Jesus estava na sinagoga, e lá também estavam os fariseus, observando-o atentamente para encontrar algo de que o pudessem acusar.

É interessante notar como pessoas religiosas, que conheciam a Lei de Deus, tinham a sua visão de tal modo deturpada que não conseguiam ver, nas obras de Jesus, a ação de Deus, mas enxergavam apenas motivos para fazerem oposição a Jesus.

Eles se sentiam ameaçados em sua posição de líderes religiosos, e temiam que as pessoas começassem a seguir os ensinamentos de Jesus, pois isto representaria o enfraquecimento daquela liderança corrompida.

Inicia-se, então, mais um momento de conflito espiritual que levaria aqueles homens a terem ainda mais ódio de Jesus, desejando matá-lo, em vez de glorificarem a Deus pelos milagres que estavam presenciando.

Da passagem podemos extrair inúmeras lições, mas vamos nos ater às seguintes:

 

 1)   Devemos fazer o bem em qualquer tempo (v. 4)

O dia de sábado era destinado ao descanso, e nenhum trabalho poderia ser realizado nesse dia. Deus concedeu o sábado para que o ser humano tivesse descanso e para que O adorasse, e com o passar do tempo os líderes religiosos judeus foram criando uma lista de atividades que não poderiam ser feitas em dia de sábado, de maneira que o aquilo que deveria ser uma bênção se tornou um fardo sobre os ombros das pessoas.

De forma geral, até mesmo o ato de curar alguém em dia de sábado era considerado como uma violação à Lei de Deus, levando esses líderes a se voltarem contra quem assim procedesse, com acusações de profanação do dia sagrado.

No texto que lemos, era um dia de sábado e Jesus estava na sinagoga, juntamente com muitos judeus, dentre eles líderes religiosos do grupo dos fariseus. E havia entre eles um homem que tinha uma mão atrofiada. Jesus chamou o homem para o centro e perguntou aos que se encontravam presentes se era lícito fazer o bem ou o mal no sábado, salvar a vida ou matar, mas ninguém lhe respondeu nada.

Então, Jesus curou o homem, e sua mão foi restaurada.

A pergunta que Jesus fez aos que estavam presentes era para que eles refletissem no fato de que o mal é feito em qualquer dia, em qualquer tempo, não conhecendo limites temporais. A morte também ocorre em qualquer momento, independentemente de ser sábado ou qualquer outro dia.

Desta forma, se tanto o mal como a morte poderiam se dar em qualquer dia, por que razão o bem não poderia ser feito em qualquer ocasião, mesmo que fosse em um sábado?

Jesus estava ensinando àqueles homens que não há tempo para fazer o bem, e que a observância meramente religiosa de um dia consagrado, como o sábado, além de não impedir que ocorresse o mal ou a morte, não poderia ser utilizado como pretexto para não fazer o bem a quem necessitasse.

O ensino de Jesus àquelas pessoas visava mostrar que Deus Pai está muito mais interessado em que se pratique o amor para com o próximo, atendendo às necessidades de quem sofre, do que com a observância legalista de regras religiosas, omitindo-se, porém, de socorrer a quem precisa de ajuda.

Todos nós que cremos em Jesus e nos tornamos seus discípulos temos o compromisso de imitá-lo em seus passos, e fazer o bem em qualquer tempo é um dos ensinos de Jesus a ser aprendido e observado por nós.

Não existe um tempo para fazermos o bem ao nosso próximo, pelo contrário, devemos sempre estar prontos e dispostos a demonstrar nosso amor e nossa solidariedade para com quem necessitar em todo o tempo.

Parece que os líderes religiosos judeus da época de Jesus teriam a capacidade de se omitir no socorro a alguém necessitado, caso isso ocorresse em sábado ou em ocasião em que eles estivessem prestando serviço religioso, mas a pergunta que Jesus lhes fez os deixou sem resposta, porque eles sabiam que o bem deve ser feito em todo o tempo.

Infelizmente os líderes religiosos judeus não haviam ainda compreendido a essência dos mandamentos de Deus, pois se limitavam a um culto mecânico a Deus, negligenciando o amor ao próximo.

Isto fica claro na passagem em que Jesus fala sobre o homem que foi assaltado e espancado, deixado à beira do caminho muito ferido, e tendo por ali passado um levita e um sacerdote, fizeram vistas grossas à sua situação, sendo ele socorrido justamente por um samaritano, que os judeus consideravam inferior e indigno (Lucas 10.30-37).

Na passagem de Lucas, é provável que tanto o sacerdote como o levita estivessem vindo do Templo, pois desciam de Jerusalém. Mas como sua religião era meramente formalista e legalista, eles não puseram em prática o amor que Deus requer que manifestemos para como o nosso próximo.

Paulo, apóstolo de Jesus, escreveu aos Tessalonicenses o seguinte:

“E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.” (2 Tessalonicenses 3:13)

Os discípulos de Jesus devem ser incansáveis na prática do bem, não esperando tempo certo, pois sempre é tempo de amar.

Fazer o bem é tão importante aos olhos de Deus, que Tiago foi levado a escrever a seguinte exortação:

“Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando.” (Tiago 4:17)

Jesus, que amava as pessoas de forma incondicional, sabia que não poderia se omitir de fazer o bem a uma pessoa necessitada. Esta não foi a primeira nem a última ocasião em que Jesus ajudou pessoas. Houve momento em que Jesus estava cansado, e mesmo assim abriu mão do repouso para poder aliviar o sofrimento de quem o procurava.

Infelizmente, nos dias atuais existem pessoas que só se dispõem a fazer o bem ao próximo quando isto lhes resulte em algum benefício. Assim, escolhem o momento de fazer o bem.

Todos os anos vemos pessoas se mobilizando para ajudar famílias carentes na época de Natal, incentivando outros a doarem brinquedos, roupas, alimentos e diversas coisas para que sejam distribuídas a crianças e muitas pessoas que passam falta de itens básicos.

O problema é que em boa parte das vezes essas ações acabam se limitando a esse período ou alguma outra época específica, como se apenas uma vez ao ano o próximo necessitasse de auxílio.

Nosso coração precisa ser tocado para demonstrar amor ao próximo por meio de atos de compaixão o tempo todo, porque Deus é bom conosco o tempo todo. Sempre que houver a necessidade por parte do nosso próximo, a disposição de fazer o bem, estando ao nosso alcance, deve nos conduzir à ação em seu favor, conforme está escrito em Provérbios:

“Quanto lhe for possível, não deixe de fazer o bem a quem dele precisa; não diga ao seu próximo: ‘Volte amanhã, e eu lhe darei algo’, se pode ajudá-lo hoje.” (Provérbios 3:27-28)

Assim, a nossa disposição deve ser a mesma de nosso Mestre Jesus, de fazer o bem em qualquer tempo, sem esperar situações especiais. Fazer o bem é demonstração prática do amor de Deus em nosso coração. É evidência de que realmente somos seguidores de Jesus e estamos buscando imitá-lo, aprendendo com seus ensinamentos e seu exemplo.

 

2)   A maldade alheia não pode impedir que façamos o bem (v.  2 e 6)

Naquele local, havia um homem necessitado, com a mão atrofiada, mas também ali se encontravam líderes religiosos judeus da seita dos fariseus, que já vinham criticando Jesus por suas ações e pelo modo de agir de seus discípulos.

Esses fariseus, conforme é narrado no versículo 2, “estavam observando a Jesus para ver se o curaria em dia de sábado, a fim de o acusarem”, ou seja, eles não estavam se importando com o problema do homem que tinha a mão atrofiada, antes pensavam apenas em uma forma de acusar Jesus de violar a Lei de Deus e desmoralizá-lo perante o povo que se aglomerava para segui-lo.

No coração desses homens não havia amor ao próximo, mas mera religiosidade legalista. E eles mantinham firme a convicção de que Jesus não poderia continuar a fazer os milagres que vinha fazendo, principalmente em dias de Sábado.

Eles eram estudiosos da Lei de Deus, mas não conseguiam compreender a essência do próprio Deus, que é o amor (1Jo 4.8, 16).

A religiosidade equivocada deles acabava por levá-los a serem maus e tentarem impedir que se fizesse o bem às pessoas. A visão que eles tinham de bem era muito deturpada. Eles eram egoístas e tinham sede de poder. Eram cheios de vaidade e de orgulho.

Jesus, porém, não se deixou intimidar pela maldade daqueles homens. Pelo contrário, Jesus os questionou quanto a fazer o bem ou o mal em dia de sábado. No Evangelho escrito por Mateus essa passagem é narrada no capítulo 12, e lá é dito que Jesus utilizou o exemplo da ovelha que cai em um buraco no sábado, e que certamente o dono faria um esforço para retirá-la. Então Jesus pergunta se um homem não vale mais do que uma ovelha.

Jesus escancara a hipocrisia daqueles líderes religiosos, pois certamente eles salvariam uma ovelha caída num buraco em dia de sábado, mas eram incapazes de fazer o bem ao seu semelhante nesse dia apenas por legalismo religioso.

E mesmo estando no meio de pessoas más, que queriam o seu mau, Jesus fez o bem ao homem da mão atrofiada, não deixando que a maldade alheia limitasse a sua demonstração de amor ao próximo.

Jesus não estava preocupado com o julgamento das pessoas, pois Ele sabia que, tendo a possibilidade de fazer o bem, não poderia se omitir apenas por causa da mesquinhez dos líderes religiosos que ali estavam.

Nós vivemos em um mundo onde o egoísmo é incentivado. Onde a dor do próximo é desprezada e quem procura fazer o bem muitas vezes é visto como tolo. Um mundo onde há época certa para fazer o bem, e onde olhares invejosos repousam sobre pessoas que procuram amar ao próximo como Jesus amou. Um mundo onde quem não faz o bem se levanta contra quem o faz e suscita oposição.

Infelizmente, muitas pessoas se omitem de fazer o bem ao próximo porque ficam preocupadas com o julgamento dos maus, dos egoístas, dos religiosos que não conhecem a Deus e que acham que tudo deve ser feito apenas da forma como eles acreditam ser a correta.

Necessitamos aprender com Jesus que a nossa disposição de fazer o bem não pode estar relacionada ao que os outros pensam, aos julgamentos de pessoas mesquinhas, mas deve ser um reflexo do amor de Cristo agindo em nós e por meio de nós para alcançar pessoas que precisam de auxílio e de amparo.

O povo de Deus deve ter a coragem de fazer o bem mesmo em meio a um mundo mau, porque não é vontade de Deus que nós tomemos a forma do mundo, mas que influenciemos esse mundo pela prática do amor e por uma forma de conduta diferente daquela que é ensinada pelo mundo.

Nem mesmo a maldade da pessoa necessitada pode nos impedir de lhe fazer o bem, pois assim é o ensino de Jesus:

“Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam.” (Lucas 6:27,28)

A maldade dos outros não pode nos impedir de fazer o bem, porque o nosso modelo de conduta não é o nosso próximo, mas o Mestre Jesus Cristo.

 

3)   Devemos fazer o bem a todos ( vv. 7-10)

O texto lido, em conjunto com os demais Evangelhos, mostra que Jesus não selecionava pessoas para fazer o bem, pelo contrário, Ele atendia prontamente a todos os que o procuravam, não importando se eram pessoas verdadeiramente interessadas no Reino de Deus ou apenas queriam o atendimento de suas necessidades imediatas.

Nos versículos 7 a 10 é dito que multidões de diversas localidades seguiam Jesus, sendo que no versículo 10 é narrado que “todos os que padeciam de qualquer enfermidade se arrojavam a ele para o tocar”.

Dentre essas pessoas obviamente havia aquelas que tinham a finalidade de conhecer o Messias e aprender mais sobre o Reino de Deus, mas certamente havia um número gigantesco de pessoas que apenas desejavam o benefício que poderia ser obtido com a cura de enfermidades ou atendimento de outras necessidades.

Com certeza nessas multidões havia pessoas de boa índole e pessoas más. Pessoas que observavam os mandamentos de Deus e outras que levavam uma vida torta. Havia pessoas de todo tipo e com variadas intenções.

Jesus, porém, fazia o bem a todos. Ele curava os enfermos, libertava os endemoninhados, consolava os aflitos, e não fazia acepção de pessoas. Jesus não selecionava aqueles a quem iria ajudar. Ele simplesmente agia e as abençoava.

Quando Jesus foi preso, um discípulo, que João afirmou ser Pedro (João 18.10), cortou a orelha do servo do sumo sacerdote, mas Jesus imediatamente restaurou-lhe a orelha (Lucas 22.50-51). Ou seja, Jesus retribuiu o mal que estava recebendo com o bem em favor de uma pessoa que servia a quem desejava a sua morte.

No mundo vigora o princípio de fazer o bem a quem nos faz o bem, ou a quem pode nos retribuir de alguma forma, ou, ainda, quando pudermos ter algum benefício com nossa ação.

O mundo ensina a sermos seletivos, escolhendo a dedo quem receberá a demonstração de nossa bondade. Assim, inimigos são os primeiros a serem colocados de fora dessa lista, porque merecem o pior. Pessoas com quem não simpatizamos também são excluídas da nossa lista de boas ações. Ficamos tentando sondar as intenções das pessoas e acabamos por não ajudá-las.

O ensino de Jesus vai na contramão do mundo. Todas as pessoas devem receber o bem de nossa parte, ainda que seja alguém que nos faz mal.

Observemos o que escreveu Paulo: “Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens;” (Romanos 12:17).

E Jesus foi muito claro ao dizer que devemos fazer o bem a todos porque Deus é bom para co todos:

“Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam. Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso. E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.” (Lucas 6:32-36)

Assim, qualquer pessoa que cruzar o nosso caminho pode ser beneficiada com nosso amor prático, da mesma forma que acontecia com quem se encontrava com Jesus, pois Ele não excluía pessoas no momento de lhes fazer o bem.

 

 CONCLUSÃO

A Palavra de Deus afirma claramente que nós somos chamados para seguir os passos de Jesus, amando como Ele amou, tendo a sua vida como exemplo de como deve se portar um filho de Deus neste mundo.

E Jesus, não apenas com suas palavras, mas principalmente por sua forma de agir, ensinou que todo o tempo é tempo de fazer o bem ao próximo, independentemente da maldade que nos rodeia, não fazendo acepção de pessoas.

A questão é que não conseguimos ser como Jesus com base em nossos esforços. Não é possível simplesmente dizermos: “a partir de hoje serei uma pessoa benigna e bondosa; vou fazer o bem ao meu próximo de maneira indistinta!”.

É o Espírito Santo de Deus que produz em nós a semelhança de Jesus Cristo. É o Espírito Santo que vai renovando nossa mente e retirando os velhos conceitos, velhos hábitos, as convicções erradas, e nos leva a um patamar em que cumprir a Palavra de Deus se torne algo natural (Gl. 5.22-23).

Que o Espírito Santo molde nosso caráter dia a dia e nos torne parecidos com o Mestre Jesus, de forma que as pessoas, ao terem contato conosco, possam provar um pouco da bondade de Deus por meio de nossos atos e nossas palavras de amor, consolo e edificação.

Toda honra e glória ao Deus Altíssimo, hoje e sempre. Amém.

José Vicente


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