Mateus 16.24-28
Quando observamos a situação
espiritual vivida por cristãos ocidentais em comparação com os que se encontram
na Ásia e África, percebemos que a cultura ocidental acabou trazendo uma certa
acomodação e um distanciamento quanto aos ensinos bíblicos.
Enquanto os cristãos asiáticos e
africanos se veem constantemente em situações perigosas que desafiam a sua fé e
os levam a exercitarem o que aprenderam de Jesus, em grande parte os cristãos
ocidentais acabaram se deixando levar pelas sutilezas de um sistema que procura
derrubar a fé por meios menos agressivos e mais envolventes, conduzindo
sutilmente os cristãos a se ocuparem com outras coisas e a terem a ilusão de
que a vida espiritual morna que levam é suficiente para agradar a Deus.
Assim, em vez de se empenharem em
observar os ensinos da Palavra de Deus, dedicam seu tempo a diversas outras
coisas que lhes roubam a atenção e a energia, e aos poucos vão sendo moldados
ao formato do mundo, com suas mentes repletas de ideias relativistas e
liberais, em um panorama onde o egocentrismo impera cada vez mais.
Com esse cenário, os cristãos
ocidentais passam a se preocupar muito mais consigo mesmos do que com a Igreja
de Cristo, tornando-se incapazes de fazer sacrifícios pelo bem do Corpo de
Cristo, o que leva a um esfriamento espiritual destruidor e a comportamentos
liberais e opostos à Palavra.
Entretanto, é necessário reavivar
em nossa mente as Palavras ditas por Jesus que estão registradas em Mateus
16.24-28, porque elas nos chamam de volta ao centro da nossa fé, que é o
próprio Jesus Cristo.
Jesus inicia afirmando que aquele
que deseja ser seu discípulo deve negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e
seguí-lO. São três atitudes que estão ligadas umas às outras, são
interdependentes.
A primeira atitude, de negar-se a
si mesmo, indica o caminho do Teocentrismo. Isto porque o mundo sempre teve
como uma de suas filosofias preferidas o egocentrismo, ou seja, o ser humano
como o centro de tudo. Uma pessoa egocêntrica pensa muito mais em si do que no
próximo, e tem maior preocupação consigo mesma do que com a Igreja de Cristo.
Um cristão egocêntrico buscará a
satisfação pessoal, e terá as suas próprias convicções como verdadeiros deuses,
dos quais não deseja se desapegar. Para ele, é a igreja que deve servi-lo, e
não ele à igreja.
O egocentrismo está intimamente
ligado à soberba, e precisa ser quebrado, porque a Bíblia diz claramente que
Deus resiste aos soberbos. E, nas palavras de Jesus, o remédio para isto é a
negação de si mesmo.
Negar-se a si mesmo é reconhecer que o centro de tudo é Jesus, e que nós
somos seus servos, recebemos dEle uma salvação que nem mesmo merecíamos, e não
temos motivo para nos gabar de nada, pelo contrário, devemos ser gratos por
Jesus ter nos amado como Ele amou e dado sua vida por nós.
Negar-se a si mesmo tem a ver com renúncia, e renúncia é algo que está
bem fora de moda no mundo atual. Renunciar a convicções equivocadas, ao ego, ao
desejo de sermos servidos, aos prazeres oferecidos pelo mundo que nos afastam
de Jesus, à tentação de provarmos que somos melhores do que os outros, de que
estamos certos e os outros estão errados.
Negar-se a si mesmo é enxergar o próximo como alguém que não está abaixo
de nós, mas no mesmo nível de necessidade da graça de Deus, pois todos somos
pecadores. É reconhecer que nós somos capazes de errar até mais do que o nosso
próximo, e por isso não devemos condená-lo, mas amá-lo e perdoá-lo como
gostaríamos que fosse feito conosco. É estar disposto a renunciar a muitas
coisas que consideramos importantes, por amor a Jesus Cristo e ao Seu Reino.
Já o tomar a sua cruz não tem a ver com ter uma vida cheia de sofrimentos e
doenças, ao contrário do que muitos pensam, mas é tomar sobre si a humilhação e
a rejeição que Jesus teve que suportar e que Ele disse que seus discípulos
também enfrentariam.
O mundo odeia Jesus e àqueles que O
seguem. Portanto, ao professarmos nossa fé no Filho de Deus, devemos ter
ciência de que o mundo nos odiará e nos rejeitará. Essa rejeição somente
deixará de ocorrer se aceitarmos ter uma fé morna, que não causa impacto, pois
é contaminada pela influência das filosofias mundanas, pelo relativismo e pelo
liberalismo que vêm atacando a Igreja há tempos, avançando cada vez com maior
velocidade e sutileza.
Seguir a Jesus está intimamente ligado com o negar-se a si mesmo e
tomar a sua cruz, porque importa em caminhar nos passos de Jesus, buscando
imitá-lo perante este mundo incrédulo.
Os Evangelhos nos retratam um pouco
do quanto Jesus sofreu rejeição por parte do mundo, aí incluídos os religiosos
da época, de forma que Ele acabou sendo morto porque seus ensinamentos
colocavam em risco o poder e os privilégios daqueles que se habituaram a
controlar as pessoas e receber toda a glória.
Seguir a Jesus exige capacidade de
renúncia e coragem para enfrentar as oposições que fatalmente se levantarão.
Convém lembrar do que Jesus disse e que está registrado em João 15.20:
“Lembrai-vos da palavra que eu vos
disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também
perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a
vossa.” (João 15:20)
Quando leio a passagem do Evangelho
escrito por Mateus, que embasa esta reflexão, vem à minha memória as narrativas
que vejo com frequência na página de internet
da “Portas Abertas” (www.portasabertas.org.br), trazendo
notícias dos cristãos que são perseguidos ao redor do mundo, principalmente na
Ásia e na África, e pagam caro por sua fé em Jesus.
Vejo na vida daqueles irmãos a
experiência prática do que Jesus falou aos seus discípulos quanto a negar-se a
si mesmo, tomar a sua cruz e segui-lo.
A notícia mais frequente que leio
diz respeito a pessoas geralmente ligadas ao islamismo que, em dado momento,
devido à ação de missionários ou ao testemunho de outros cristãos, acabam
entregando sua vida a Jesus e, com isto, passam a experimentar uma reviravolta
tremenda em sua existência.
Essas pessoas aprendem na prática o
significado de renunciar a coisas que consideram importantes por amor a Cristo.
E geralmente a primeira renúncia que se veem obrigadas a fazer diz respeito à
família. Não porque odeiem os familiares, mas porque pais, irmãos e outros
membros da família passam a tratá-los como infiéis, dirigindo contra eles
ofensas, violência física e até mesmo ameaças de morte.
Então, diante do cenário que se
estabelece, de total aversão por parte dos entes queridos, os cristãos acabam
tendo que renunciar à convivência com seus familiares, mudando-se para outra
casa na mesma localidade ou, em alguns casos, até mesmo para outras localidades.
Esses nossos irmãos mostram-se
capazes de renunciar a prazeres, a posições sociais, à segurança, ao ego, por
amor de Cristo. Passam por situações humilhantes, são desprezados, perseguidos,
ofendidos, agredidos e até podem ser mortos, mas se mantêm fiéis a Jesus e
fazem o possível para seguir o seu exemplo, amando as pessoas e buscando viver
não para si mesmos, mas para a glória de Deus.
Disposição semelhante era vista nos
primeiros cristãos, no início da Igreja de Cristo, quando os apóstolos
anunciavam o Evangelho debaixo de intensa perseguição, e os discípulos de Jesus
viviam de forma a impactar a sociedade, renunciando ao egoísmo, sujeitando-se à
rejeição e imitando o Mestre Jesus.
No versículo 25 Jesus fala sobre tentar salvar a vida e perdê-la. Aqui
podemos encontrar dois sentidos. O primeiro diz respeito ao aspecto literal das
palavras do Mestre. Ele fala sobre tentar salvar a própria vida, fugindo das
perseguições mediante uma fé morna e que não produz impacto, mas representa uma
fé fingida de alguém que deseja ficar bem com o mundo, e que acabará
experimentando a morte eterna, que é a separação de Deus. E por outro lado,
fala daqueles que são capazes de dar sua própria vida pelo Evangelho, pois lhes
está assegurada a vida eterna.
Muitos são os cristãos que deram
sua vida pelo Evangelho, e foram mortos por homens impiedosos, sem jamais
renunciar a fé em Jesus, pois aguardavam com confiança a nova vida prometida na
eternidade com Cristo.
O outro sentido se refere a se
apegar à velha vida, aquela que tínhamos antes de conhecermos Jesus, onde não
precisávamos renunciar a nada, poderíamos ser o centro das atenções e viver de
forma narcisista, sem nos preocuparmos em sermos rejeitados por causa de nossa
fé e sem nos empenharmos em seguir os passos de Jesus.
Infelizmente há cristãos que tentam
viver dessa forma. Proclamam-se servos de Jesus mas vivem como se não O
conhecessem. Estes, conforme as palavras de Jesus, na verdade perdem a vida,
porque jamais passaram pelo novo nascimento.
Por outro lado, os que perdem a
vida por amor de Cristo vão achá-la. Estes são os que abandonam a velha vida e
passam a viver com a consciência plena de que sua nova vida é Jesus Cristo,
como afirmou o apóstolo Paulo:
“logo, já não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no
Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.” (Gálatas
2:20)
Trata-se das pessoas que passaram
pelo novo nascimento e se tornaram novas criaturas, renunciando às paixões da carne
para glorificar a Cristo por meio do seu viver. Essas pessoas têm a sua mente
renovada pelo Espírito Santo e ao longo da caminhada vão lançando fora os
medos, a inveja, o egoísmo, o egocentrismo, o espírito de discórdia, a mentira,
a lascívia, etc., e vão se tornando cada vez mais parecidos com Jesus.
Estes perdem a vida velha, e ganham
a vida eterna com Cristo.
Jesus complementa sua fala no
versículo 26 dizendo “pois que aproveitará o homem se ganhar o
mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?”
(Mateus 16:26).
Isto porque as pessoas que são
incapazes de se negaram a si mesmas, tomar a sua cruz e seguir a Jesus, acabam
ocupando suas vidas com questões meramente mundanas e transitórias, abraçando o
mundo e o que ele oferece. Mas embora ganhem o mundo, perdem sua alma, porque a
amizade do mundo é inimizade contra Deus, conforme nos adverte Tiago:
“Infiéis, não compreendeis que a
amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo
constitui-se inimigo de Deus.” (Tiago 4:4)
Jesus deixa bem claro que o ser
humano não tem nada a oferecer em troca de sua alma. Todas as riquezas que
alguém consiga possuir neste mundo não valem nada aos olhos de Deus e de nada
servem no momento do Julgamento.
No versículo 27 Jesus afirma que haverá
um julgamento. Que Ele próprio virá com seus anjos e retribuirá a cada um
conforme as suas obras. Aqui Jesus não está falando de obras como muitas
pessoas entendem, no sentido de fazer caridade, dar esmolas, etc. As obras às
quais Jesus se refere são justamente o negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e
seguir ao Mestre Jesus, renunciando ao mundo e seus prazeres para ganhar a
Cristo.
Estes, conforme está prometido na
Palavra, herdarão a vida eterna, porque confiaram em Cristo e se entregaram a
Ele, procurando viver a fé em sua plenitude aqui na terra para que o nome de
Deus fosse glorificado.
O julgamento acontecerá, isto é
certo, e está assegurado que aqueles que preferiram abraçar o mundo e viver uma
vida voltada para si mesmos vão perder a vida eterna com Deus, sendo lançados
fora do Reino Celeste, onde experimentarão sofrimento que não terá fim.
CONCLUSÃO
É urgente buscarmos um avivamento
da Igreja de Cristo nos dias atuais. A situação de mornidão em que a Igreja
mergulhou é extremamente perigosa, e faz-se necessário que os cristãos
voltem-se para a Palavra de Deus e a observem fielmente.
É tempo de abrirmos mão do
comodismo que a modernidade nos oferece e vivermos um Evangelho autêntico e
transformador, dando provas ao mundo por meio de vidas restauradas e
comprometidas com os valores do Reino de Deus, ainda que isto implique em
sermos rejeitados, caluniados e ofendidos.
Precisamos abrir mão do
egocentrismo, renunciando a nós mesmos para que a Igreja de Cristo seja
fortalecida e não venha a sucumbir diante das investidas de Satanás, que
constantemente lança seus dardos inflamados contra os cristãos para tentar
enfraquecê-los e abalar a Igreja.
É essencial que nos lembremos de
que “a
nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e
potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal, nas regiões celestes.” (Efésios 6:12), e que,
seguindo os passos de Jesus, consigamos rechaçar as investidas do Maligno contra
o povo de Deus, mantendo-nos unidos em Cristo.
Voltemos ao Evangelho puro e
simples de Jesus, resistindo às seduções deste mundo e de nossa carne, pois
Jesus não espera de nós menos do que fé, fidelidade e amor.
Que Jesus Cristo nos dê força para renunciarmos
ao que tivermos que renunciar, para suportarmos a rejeição do mundo e para
continuarmos a imitá-lo em tudo.
José Vicente
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