Texto base: Marcos
14.27-31, 50 e 66-72
O Evangelista Marcos faz uma
narrativa dos fatos que ocorreram nas 48 (quarenta e oito) horas que
antecederam a morte de Jesus, sendo que no capítulo 14 encontramos (i)
a unção feita por uma mulher em Betânia, (ii) a traição de Judas, e (iii)
a negação de Pedro e demais discípulos. No capítulo 15 encontramos a narrativa
do julgamento.
Sabemos que Pedro era um dos
discípulos mais envolvidos com o ministério de Jesus, alguém que tinha maior
proximidade com o Mestre, junto com João e Tiago, portanto era de se esperar
que ele se mantivesse firme ao lado de Jesus durante aquele momento
extremamente difícil, mas a realidade foi outra.
Quando pressionado, Pedro
disse que não conhecia a Jesus, que não era seu discípulo e até chegou a
ofender as pessoas que o indagavam.
Os outros discípulos
simplesmente fugiram a abandonaram Jesus quando este foi preso e levado ao sumo
sacerdote.
É natural que a narrativa
apresentada provoque em nós sentimentos de reprovação à conduta de Pedro e dos
demais discípulos. Afinal, entendemos que eles eram amigos de Jesus, contavam
com Sua confiança, e no momento mais doloroso da vida do Mestre simplesmente
desapareceram, abandonando Jesus nas mãos dos algozes.
O problema é que talvez não
estejamos em condições de julgar e condenar aqueles homens por sua conduta,
porque em seu lugar não sabemos se teríamos agido de outra forma.
O importante é que, ao
lermos o relato do Evangelista Marcos, percebamos as lições que a Bíblia quer
nos ensinar, pois, conforme escreveu Paulo na Segunda Carta a Timóteo: “Toda
a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para
a correção, para a educação na justiça” (2 Timóteo 3:16).
O que podemos aprender com o
relato feito pelo Evangelista Marcos?
1) Aprendemos que somos mais fracos do que
pensamos
Quando Jesus disse a seus
discípulos que eles o abandonariam, Pedro rapidamente disse que ele jamais se
escandalizaria com o Mestre, e após Jesus lhe dizer que ele O negaria por três
vezes, Pedro afirmou que de maneira nenhuma negaria a Jesus, e que se fosse
necessário daria sua vida pelo Senhor. E os demais discípulos confirmaram que
tinham essa mesma disposição (v. 27-31).
Todavia, assim que Jesus foi
preso, Marcos narra que “deixando-o,
todos fugiram” (v. 50). E depois, quando Jesus foi levado ao Sumo
Sacerdote, Pedro foi reconhecido por algumas pessoas como discípulo de Jesus,
mas veementemente o negou.
Causa perplexidade ver um
homem que, poucos instantes antes, havia jurado fidelidade a Jesus,
subitamente, ao ser pressionado, não titubeou em negar que tivesse algum
vínculo com Jesus ou que ao menos o conhecesse. E os demais discípulos, que
juntamente com Pedro haviam afirmado que se fosse preciso morreriam por Jesus,
também sumiram diante do perigo.
Antes de condenarmos Pedro e
os demais discípulos por sua atitude, precisamos refletir quanto à lição que
essa passagem nos ensina com relação a nós mesmos. A narrativa de Marcos não
foi incluída na Bíblia com o intuito de envergonhar aqueles homens, mas para
servir de alerta para todos nós, discípulos de Jesus, que juramos fidelidade ao
Mestre e acreditamos ser capazes de dar nossa vida por Jesus.
Essa passagem vem nos
ensinar que somos mais fracos do que pensamos!
Quando Pedro e os demais
discípulos afirmaram que se manteriam fieis a Jesus e que seriam capazes de
morrer pelo Mestre, eles estavam sendo sinceros, pois acreditavam realmente que
teriam capacidade para assim proceder. Todavia, Jesus os conhecia profundamente,
e sabia muito mais de suas fraquezas do que eles próprios. Jesus os advertiu do
que iria acontecer, mas eles não aceitaram, pois estavam convictos de que
teriam condições de cumprir o que diziam.
Diante, porém, de uma
circunstância que trazia perigo e causava temor, eles se viram fragilizados e
não tiveram coragem de acompanhar o Mestre, fugindo apressadamente e negando a
Jesus.
Jesus não ficou surpreso,
pois os conhecia bem demais, porém eles devem ter se sentido extremamente
confusos diante de tal situação, pois mostraram covardia justo quando deveriam
ter sido corajosos. Abandonaram um companheiro justo no momento em que Ele
precisaria do apoio de seus amigos.
Ali, eles entenderam que não
eram tão fortes como pensavam. Que toda aquela confiança que tinham em si
mesmos era vazia e enganosa, porque no fundo eram fracos e medrosos, fariam
qualquer coisa para salvar suas próprias vidas.
A exemplo de Pedro e seus
companheiros, podemos cometer o erro de confiar demasiadamente em nossa capacidade,
em nossa força, considerando-nos mais fortes do que realmente somos e ignorando
nossas fraquezas.
Não podemos condenar Pedro e
os demais justamente porque somos como eles. Temos a mesma natureza, a mesma
tendência de achar que somos autossuficientes e que agiríamos diferente deles
naquela situação, mas a verdade é que faríamos a mesma coisa.
Com a narrativa registrada
em Marcos, Deus nos confronta para que olhemos para nós mesmos e reconheçamos o
quão fracos somos, fugindo do autoengano. Ainda que sejamos sinceros em nossas
declarações de amor e fidelidade a Deus, jamais podemos ignorar nossas
fraquezas.
Quando mergulhamos no
autoengano, crendo que somos muito fortes e fieis, tendemos a desenvolver algo
que desagrada sobremaneira a Deus: o orgulho, a soberba.
Reconhecer nossas fraquezas
é alimentar a humildade. Acreditar que somos fortes e inabaláveis pode conduzir
à arrogância e à queda.
“A soberba precede a ruína,
e a altivez do espírito, a queda.” (Provérbios 16:18)
Deus quer que nos
mantenhamos humildes e dependentes dEle. Para isto, é essencial reconhecermos
que não somos fortes como gostaríamos, mas que temos muitas fraquezas, pois
assim receberemos o sustento do próprio Deus, que nos fortalecerá para
vencermos os desafios da caminhada cristã.
Paulo assim escreveu: “Porque,
quando sou fraco, então, é que sou forte.” (2 Coríntios 12:10)
Quando reconhecemos nossa
fraqueza, acabamos nos esvaziando do sentimento de autossuficiência, assumimos
nossa dependência de Deus e nos abrimos à ação do Espírito Santo em nós, de
maneira que o Poder de Deus se manifestará em nossa fraqueza, assim como
acontecia com Paulo.
Se, porém, cultivarmos a
crença de que somos naturalmente fortes, ignorando nossas fragilidades,
certamente o poder de Deus não se manifestará plenamente em nós e por meio de
nós, e será necessário que sejamos submetidos a um tratamento da parte do
Altíssimo para que nossa autossuficiência seja extirpada e, enfim, possamos ser
usados como instrumentos da glória de Deus.
2) Aprendemos que é possível negar a Cristo
não apenas com palavras, mas também com atitudes
Naquele fatídica noite,
Pedro pronunciou palavras de negação. Claramente afirmou que não era discípulo
de Cristo e que não o conhecia. Brigou com as pessoas que diziam que ele era um
dos seguidores de Jesus.
Os demais discípulos, porém,
não negaram Jesus com palavras, mas com sua atitude. O versículo 50 informa que
todos o abandonaram assim que Ele foi preso. Eles podem não ter sido arguidos
por outras pessoas como foi Pedro, mas negaram a Cristo quando agiram de forma
oposta ao que haviam afirmado ao Mestre, abandonando-o e fugindo para não
sofrerem consequências por serem seus discípulos.
É possível que nossas
palavras sejam de amor e fidelidade a Jesus. Talvez nosso falar seja agradável
e coerente com as Escrituras. Pode ser que nossas orações sejam feitas com
fervor e fé. Mas a despeito de tudo isso, existe a possibilidade de que nossas
atitudes se constituam em verdadeira negação de nossa fé e, consequentemente,
de Cristo.
Quando Jesus estava
ensinando aos seus seguidores, disse-lhes que deveriam imitar os escribas e
fariseus em seus ensinamentos, mas não em suas práticas diárias:
“Fazei e guardai, pois, tudo
quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e
não fazem.” (Mateus 23:3)
De acordo com Jesus, os atos
praticados por aqueles líderes religiosos eram egoístas, tinham a finalidade de
se mostrar diante das pessoas e eram incompatíveis com o que ensinavam ao povo.
Por esta razão, precisamos
estar sempre vigilantes, cuidando para que não venhamos a negar a Jesus com
nossas atitudes, embora nossos lábios pronunciem palavras de louvor e adoração.
As pessoas ao nosso redor
estão mais atentas ao que fazemos do que às nossas palavras. O nosso testemunho
de vida fala mais alto do que as nossas declarações, porque se não houver
coerência entre a fé professada e as atitudes do dia a dia, de certa forma
estaremos negando que conhecemos a Cristo e que somos seus discípulos, embora
tentemos dizer o contrário com nossos lábios.
Jesus disse: “Se
me amais, guardareis os meus mandamentos.” (João 14.15)
O maior sinal de que amamos
verdadeiramente a Jesus é guardar os seus mandamentos, ou seja, obedecer à Sua
Palavra. A falta de coerência entre nossas declarações de fé e nossos atos é
uma forma de negar a Cristo, porque estamos desobedecendo aos Seus mandamentos
e agindo como se não o conhecêssemos.
3) Aprendemos que o arrependimento traz
perdão e transformação
No versículo 72 o
evangelista Marcos diz que após a terceira negação, tendo cantado o galo, Pedro
se lembrou do que Jesus havia lhe falado e começou a chorar. Mateus e Lucas
dizem que ele chorou amargamente (Mateus
26.75 e Lucas 22.62).
O choro de Pedro traduz o
seu arrependimento, a dor que ele sentia por ter negado ao seu Mestre, a quem
ele amava e por quem afirmara que daria sua vida. Ele havia caminhado por três
anos ao lado de Jesus, aprendendo com Ele, compartilhando suas experiências.
Havia visto maravilhas sendo feitas por Jesus e recebera, ele próprio, poder
para operar sinais e anunciar o Evangelho. E, de repente, em um momento onde a
vida de seu Mestre estava para ser ceifada, ele não conseguiu manter sua
fidelidade e simplesmente negou ter qualquer envolvimento com Jesus.
Provavelmente a dor que
Pedro sentiu foi muito grande quando percebeu que havia acabado de fazer aquilo
que Jesus dissera que ele faria, embora ele tivesse afirmado que daria sua vida
por Cristo. Quando é dito que ele chorou amargamente significa que a sua dor
era enorme.
Entretanto, não se trata
apenas de chorar pelo pecado cometido. A continuidade da história narrada nos
Evangelhos e demais livros do Novo Testamento revela que tanto Pedro como os
demais discípulos foram perdoados e transformados após a ressurreição de Jesus.
Aqueles homens nunca mais
negaram a Cristo e à sua fé. Pelo contrário, eles foram perseguidos por serem
servos de Jesus, e mesmo sendo presos, torturados e ameaçados continuaram a
proclamar o Evangelho, anunciando que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Eles acabaram cumprindo o
que haviam dito a Jesus, pois foram capazes de dar suas vidas pelo Mestre.
Morreram por crerem em Jesus e por anunciarem-no como o Messias que era
esperado, o Salvador em que está a vida eterna.
Sabemos que eles se arrependeram
pelo pecado da negação pelo fato de nunca mais terem voltado a cometer o mesmo
erro. Eles foram transformados e fortalecidos pelo perdão de Cristo e pelo
Espírito Santo agindo em suas vidas.
Ao longo de nossas vidas
podemos experimentar esse tipo de dor algumas vezes, quando magoamos pessoas a
quem amamos, quando causamos dor a alguém, quando nossas atitudes ferem e
provocam estremecimento de relacionamentos.
Assim também podemos sentir
a dor que é causada pela prática do pecado, pela adoção de um estilo de vida
que contraria a fé que professamos, mas é necessário que essa dor provoque
arrependimento, ou seja, mudança de vida.
Da mesma forma que Pedro e
os demais discípulos foram perdoados por seu pecado de negação, também nós
podemos ser perdoados quando cometemos esse ou outros pecados e nos
arrependemos verdadeiramente, abandonando a prática pecaminosa e buscando
obedecer à Palavra de Deus.
Cabe ressaltar que não
adianta chorar mas continuar a insistir na mesma prática pecaminosa. Isso não é
arrependimento e não atrai o perdão de Deus. Pedro chorou amargamente, e após a
ressurreição Jesus veio até ele, deixou evidente que o havia perdoado e o
comissionou a ser Sua testemunha, da mesma forma que aconteceu com os demais
discípulos que haviam fugido na noite em que Jesus foi preso.
O perdão de Jesus está
disponível a quem se arrepende de seus pecados. Ele morreu na cruz justamente
para que o perdão fosse derramado sobre nós e para que não passássemos a vida
toda carregando o peso dos erros cometidos e do sentimento de culpa que isso
gera.
Jesus restaurou Pedro,
livrou-o de sua culpa e o transformou em um dos pilares da Igreja em seus
primórdios. Jesus também restaurou os demais discípulos, de forma que o perdão
os libertou da culpa e o Espírito Santo os capacitou a serem missionários que
proclamaram o Evangelho em todo o mundo e deram suas vidas em prol do Senhor
Jesus.
O mesmo perdão está
disponível para nós, que erramos, pecamos e por vezes negamos a Cristo com
nossas atitudes ou palavras. Jesus nos chama ao arrependimento para que sejamos
libertados da culpa e possamos ser transformados pela ação do Espírito Santo,
de maneira a sermos testemunhas fieis de Cristo neste mundo, onde é tão difícil
viver de modo digno do Evangelho.
CONCLUSÃO
Nós não somos perfeitos e
estamos sujeitos a errar, ainda que sejamos sinceros em nossas declarações de
fé e amor a Jesus. Nossos erros, porém, não devem nos desestimular na caminhada
cristã, não podem nos levar ao desânimo, porque Jesus nos estende Sua mão e
concede Seu perdão quando nos arrependemos e nos dispomos a ser transformados.
Pedro fraquejou porque
confiou em sua própria força, mas a partir do momento em que ele passou a viver
firmado unicamente pela força que vem de Deus, ele se tornou um homem valoroso,
um instrumento por meio do qual Jesus foi apresentado a milhares ou milhões de
pessoas que também tiveram suas vidas transformadas.
Pedro e os demais discípulos
superaram a tristeza do pecado da negação porque Jesus os perdoou. Eles puderam
caminhar sem as redes de culpa que os enredavam. E pode ser que nossa caminhada
esteja sendo muito lenta porque estamos arrastando redes de culpa.
Entreguemos a Jesus nossos
medos, nossas fraquezas, nossos pecados. Busquemos o perdão que Ele nos dá e
sujeitemo-nos à atuação do Espírito Santo para que nosso ser seja transformado
e nós, a exemplo de Pedro e seus companheiros, consigamos ser instrumentos do
Poder de Deus para salvação das pessoas que nos conhecem.
“a fim de viverdes de
modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra
e crescendo no pleno conhecimento de Deus; sendo fortalecidos com todo o
poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade;
com alegria, dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe
da herança dos santos na luz.” (Colossenses 1:10-12)
Que Deus nos fortaleça a cada dia.
José Vicente.
LINDA MENSAGEM. DEUS ABENÇOE
ResponderExcluirCOPIEI ALGUNS PONTOS PARA MINHA MENSAGEM. PEÇO SUA PERMISSÃO.
ResponderExcluirMuito obrigado pelos ensinamentos. Também vou usar alguns trechos
ResponderExcluir