Texto base:
Jó 42.1-6
INTRODUÇÃO
Jó
era uma ótima pessoa, um crente fiel que recebeu elogios do próprio Deus,
conforme vemos em Jó 1.8, que assim nos narra:
“Perguntou
ainda o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra
semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal.” (Jó 1:8 )
Portanto,
aquele homem se destacava em meio a sua geração por sua integridade, por sem
alguém que temia a Deus e procurava andar em Seus caminhos, dando um testemunho
de fidelidade perante todos.
Apesar
de todas essas qualidades, Jó ainda não havia passado por uma experiência mais
profunda com Deus, de forma que o conhecimento que tinha era fruto do que havia
aprendido de forma impessoal, conforme ele próprio reconhece em Jó 42.5: “Eu
te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem.”
A
Bíblia na Nova Versão Internacional (NVI) traz esse texto da seguinte forma: “Meus
ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram.”
(Jó 42:5, NVI)
Obviamente
a fala de Jó não significa que ele, literalmente, viu a pessoa de Deus, porque
a Bíblia nos mostra que nenhum ser humano pode ver a Deus. Jó estava dizendo
que, antes, o conhecimento que ele tinha de Deus era impessoal, fruto do que
ele ouvira, mas agora ele havia tido uma experiência pessoal com o Altíssimo.
Muitos
de nós temos um relacionamento com Deus que se baseia no que aprendemos na
Bíblia, no que ouvimos, mas às vezes falta algo mais profundo, uma experiência pessoal
que mexa com nossa estrutura de forma mais intensa, provocando um abalo e
transformação.
Um
encontro mais profundo com Deus pode acontecer em situações críticas, difíceis,
como as tribulações que sobrevieram a Jó, ou quando buscamos sinceramente esse
relacionamento em nosso dia a dia, e provoca alguns resultados que vemos no
texto em análise.
1)
PROVOCA O RECONHECIMENTO DA SOBERANIA
DE DEUS (v. 2)
Jó era um homem que, obviamente, sabia que
Deus estava acima dos seres humanos, mas ele ainda não tinha ideia do quão
grande e poderoso era realmente o Altíssimo, e de como era impossível alcançar
o entendimento de Deus.
Durante
o período em que passou por severas tribulações, Jó havia apresentado diversos
questionamentos, muitas indagações com relação ao que vinha acontecendo com
ele, não compreendendo os desígnios de Deus e procurando encontrar justificativas
para tudo aquilo.
Todavia,
naquele turbilhão em que a vida de Jó havia se transformado, surgiu o momento
em que Deus passou a responder e repreender tanto a Jó quanto a seus amigos, e
essa experiência fez com que Jó compreendesse e reconhecesse que Deus é
soberano e está no controle de tudo.
Em
alguns momentos, enquanto fazia suas indagações e seus lamentos, Jó chegou a
pensar que talvez Deus não estivesse vendo o seu sofrimento, mas Deus deixou
claro que nada escapa à sua visão, Ele é onisciente, onipresente e onipotente.
Jó
também achou que Deus não estava sendo justo com ele ao permitir que tanto
sofrimento se abatesse sobre sua vida.
Porém,
Jó entendeu que ninguém está acima de Deus, e que Ele não é limitado por
ninguém. Descobriu que, uma vez que Deus tenha estabelecido algum plano, nada
nem ninguém pode frustrá-lo. Jó compreendeu que cada palavra dita pelo ser
humano é do conhecimento de Deus, e que nada fica encoberto aos olhos do
Altíssimo. Que por pior que pareça a situação, Deus permanece no controle, e
tudo acontece com a Sua permissão e com algum propósito. Que Deus não deve nada
ao ser humano, e que pela fé é necessário aceitar os desígnios do Altíssimo e
esperar nEle.
O
ser humano é naturalmente questionador, e quando sobrevêm situações muito
difíceis, que trazem sofrimentos, costuma questionar o próprio Deus, achar que
está havendo alguma injustiça, que não merece passar por aquilo, que talvez
Deus não esteja vendo o que está acontecendo, etc.
Paulo,
escrevendo aos Romanos, deixou claro que o ser humano não tem condições de
questionar a Deus:
“Mas
quem é você, ó homem, para questionar a Deus? "Acaso aquilo que é formado
pode dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim? ’ " (Rm 9:20, NVI)
Entretanto,
o reconhecimento da soberania de Deus leva a deixar de lado os questionamentos,
pois há a certeza de que Deus age em todas as circunstâncias e tem controle
sobre tudo.
Paulo,
apóstolo vocacionado por Jesus, passou por experiências bastante aflitivas,
teve sofrimentos intensos, mas cada experiência dessas, em vez de afastá-lo de
Deus e enfraquecer sua fé contribuiu para que ele crescesse e descansasse na
soberania de Deus, visto que ele tinha a certeza de que nada foge ao controle
do Altíssimo, e que em tudo Deus trabalho em prol de Seus filhos, conforme se
vê em Romanos 8:28, que assim diz:
“Sabemos
que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que
são chamados segundo o seu propósito.” (Rm 8:28, ARA)
“Sabemos
que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram
chamados de acordo com o seu propósito.” (Rm 8:28, NVI)
Deus
é soberano e não necessita de nosso conselho, pois não temos nada a ensinar ao
Altíssimo, pelo contrário, temos muito a aprender.
2) LEVA AO ESVAZIAMENTO DE SI MESMO (v. 3)
Quando
Jó questionava Deus por sua situação ele se considerava sabedor de algo. Achava
que seu conhecimento era suficiente para tentar entender ou explicar os desígnios
de Deus.
Quando,
porém, Jó ouviu a voz de Deus, ele se deu conta de que não era nada diante do
Altíssimo, e que não podia nutrir nenhum sentimento de orgulho. Jó reconheceu
que seu conhecimento era nada, e que ele não teria condições de debater com
Deus ou questioná-lo.
Jó
reconheceu sua ignorância, sua pequenez, sua ousadia, e adotou uma postura
humilde, esvaziando-se de si mesmo para dar a Deus a glória que lhe é devida.
Durante
nossa caminhada cristã precisamos ser vigilantes para que não ocorra de nos
tornarmos pretensiosos, arrogantes, achando que temos muito conhecimento, que
somos muito importantes. Por vezes o conhecimento que achamos que temos nos faz
sentir superiores aos demais. Isso também ocorre com relação ao exercício de
cargos, funções, pelo nível intelectual, profissão, situação financeira, etc.,
e pode causar a ilusão de superioridade quanto às demais pessoas.
Todavia,
a humildade é um dos pilares da vida cristã, e se não a cultivamos devemos
começar a fazê-lo o quanto antes, pois não temos motivos para nos vangloriarmos
e nos julgarmos mais importantes do que realmente somos.
Jesus
faz uma chamada a seus discípulos para o cultivo da humildade quando diz:
“Tomem
sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração,
e vocês encontrarão descanso para as suas almas.” (Mt 11:29, NVI)
O
Mestre Jesus nos deixou o maior exemplo de esvaziamento de si mesmo, para que
nós possamos imitá-lo, conforme Paulo escreve na Carta aos Filipenses:
“Tende
em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele,
subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus;
antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em
semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou,
tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.” (Fp 2:5-8, ARA)
Jesus
era igual ao Pai em sua divindade e poder, mas isso não fez com que Ele
buscasse glória pessoal ou quisesse algum privilégio, pelo contrário, Ele se
esvaziou e demonstrou humildade para nos mostrar que, se o Filho de Deus age
com humildade, não há nenhuma razão para que nós, meros seres mortais,
alimentemos uma visão em que damos a nós mesmos um valor superior ao que
realmente temos.
Nosso país tem mais de duzentos milhões de habitantes. O que um indivíduo representa perto desse número? O planeta tem mais de sete bilhões de pessoas vivendo nele. O que sou eu diante de tão enorme quantidade de pessoas? Um pequeno pontinho em meio a uma multidão! A ciência diz que provavelmente existem dois trilhões de galáxias no universo, e que o número de estrelas é superior à quantidade de grãos de areia que há em nosso planeta. Olhando para nós, o que somos diante de tanta grandeza?
Agora, se o universo é tão gigantesco a ponto de nem se saber a sua extensão, que dizer dAquele que o criou? Quão grande e poderoso é o Criador? E quem somos nós perante o Criador?
Quando
contemplamos a grandeza de Deus e de Sua criação, percebemos o quão pequenos
somos e compreendemos que nosso conhecimento, perto de Deus, é absolutamente
nada.
3)
PROVOCA ARREPENDIMENTO (v. 6)
Quando
Jó contemplou a Deus em meio à sua aflição e ouviu o que Deus lhe dizia, ele
concluiu que era um pecador diante de um Deus Santo e Perfeito, o que o levou a
se arrepender de ter tentado argumentar com o Altíssimo e de ter feito
questionamentos.
As
experiências que Deus nos permite ter com Ele, sejam por tribulações ou por
nossa própria busca, devem nos levar ao arrependimento e ao quebrantamento,
porque constatamos o quanto somos pecadores, cheios de defeitos, limitados em
nossa capacidade de entendimento.
Arrependimento
é algo pouco pregado hoje em dia, porque envolve o esvaziar-se de si mesmo, abrir
mão de convicções contrárias à Palavra, reconhecer que não somos bons como
pensamos nem temos qualquer qualidade que nos garanta algum privilégio diante
de Deus em relação às outras pessoas.
O
arrependimento é a declaração de que Deus está certo, de que Ele tem razão e
nós estamos equivocados. É a declaração de que precisamos de Deus, pois sem Ele
não temos condições de fazer absolutamente nada.
Arrependimento
é o ato ao qual somos chamados pelo Evangelho e é essencial a quem deseja
caminhar com Cristo. Esse era o cerne da pregação de João Batista:
“Naqueles
dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia e dizia:
Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” (Mateus 3:1,2, ARA)
Pedro
também, a exemplo dos demais apóstolos, pregou a mensagem do arrependimento:
“Arrependei-vos,
pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados” (Atos 3:19, ARA)
E
o próprio Jesus pregou o arrependimento:
“Depois
de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de
Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo;
arrependei-vos e crede no evangelho.” (Marcos 1:14,15, ARA)
Portanto,
o arrependimento é uma das marcas de quem realmente teve um encontro com Deus,
uma experiência mais profunda e transformadora, por meio de Seu Filho Jesus
Cristo.
CONCLUSÃO
Todo
aquele que se declara cristão mas que ainda nutre em seu coração
questionamentos sobre Deus e seus desígnios, dúvidas quanto ao poder de Deus e
à sua soberania, sentimentos de soberba, arrogância, ou que não experimentou
nem experimenta o arrependimento por suas obras que desagradam a Deus,
provavelmente ainda não teve uma experiência real e profunda com o Altíssimo.
O
encontro com Deus, por meio de Jesus Cristo, deve trazer transformações em
nossa vida, em nossa mente, em nossa perspectiva, de maneira que não vamos
nutrir quanto a nós mesmos uma visão equivocada, achando que somos deveras mais
importantes do que outras pessoas, mas antes, perceberemos o quanto somos
pequenos e carecedores da misericórdia de Deus.
Que
o Altíssimo nos permita ter experiências muito mais profundas com Ele e se
revele a nós por meio de Seu Filho, Jesus Cristo, de maneira que sejamos
tocados no íntimo de nosso ser e nada seja mantido no lugar, mas que ocorra uma
transformação completa em nós, para que sejamos verdadeiros imitadores de
Cristo.
José
Vicente
06.02.2021
Maravilha. Muito lindo e apropriado para os "cristãos" de hoje. Muitos ainda só conhecem a Deus, por ouvir d'Ele falar, muito embora estão nos púlpitos falando desse Deus maravilhoso, ainda não tiveram experiência real com Ele.
ResponderExcluirFique na paz meu querido irmão.