TEXTO BASE: MATEUS 1.1-17
Quando lemos uma genealogia
apresentada na Bíblia, não é difícil ficarmos pensando: “o que uma genealogia
pode me ensinar?” ou “que verdades bíblicas posso aprender ao ler uma lista de
nomes?”. Muitas pessoas até pulam a leitura de genealogias, porque não veem
muita utilidade em gastar um tempo lendo uma sequencia de nomes, alguns deles
esquisitos e difíceis de pronunciar.
A Palavra de Deus, porém, sempre
tem algo a nos ensinar, e as genealogias apresentadas, estando inseridas na
Bíblia, são capazes de nos trazer lições muito importantes, revelar verdades
que por vezes não percebemos.
O texto base é o início do
Evangelho Segundo Mateus, e traz a genealogia de Jesus Cristo. Há uma listagem
dos nomes de diversas pessoas que foram os antepassados de Jesus, formaram a
sua linhagem humana.
A genealogia apresentada por
Mateus é diferente daquela que Lucas adotou, porém há um consenso entre os
estudiosos que Mateus seguiu a genealogia da parte de José, enquanto Lucas
pesquisou a genealogia da parte de Maria. Ambos, José e Maria, eram
descendentes de Davi, de diferentes ramificações.
Essa genealogia que Mateus nos
apresenta revela algumas verdades para as quais devemos atentar, e que fazem
muita diferença em nossas vidas.
1) Deus revela a imperfeição humana
Estamos diante de uma genealogia
que não é de uma pessoa qualquer, mas se refere ao nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo. Portanto, sendo Jesus perfeito e santo, seria de se esperar que
sua linhagem humana contivesse apenas pessoas boas, puras, perfeitas,
irrepreensíveis, mas quando lemos a listagem apresentada por Mateus acabamos
levando um susto, pois ali constam os nomes de pessoas que não eram, nem de
longe, exemplos de perfeição, retidão, integridade.
Vamos tomar para ilustração os
nomes de Jacó, Raabe e Davi.
Jacó era uma pessoa não muito
confiável. Ele, induzido por sua mãe, Rebeca,
enganou o próprio pai, que estava cego, passando-se por seu irmão Esaú, e
recebeu a bênção que seria do irmão, que era o primogênito. Jacó não era muito
dado à verdade.
Raabe era uma prostituta que
morava em Jericó, cidade que foi invadida por Israel. Muitos homens deviam ter
passado por sua cama. Ela vivia afundada no pecado da imoralidade sexual. Os
motivos pelos quais ela cometia esse pecado não são revelados, porém, mesmo que
ela fosse uma pessoa necessitada de recursos materiais, isso não apagaria seus
pecados.
Davi foi um rei temente a Deus,
entretanto ele cometeu pecados terríveis: cobiçou Bate Seba, esposa de Urias, e
adulterou com ela. Providenciou para que o marido dela morresse em combate.
Assim, além de adúltero ele se tornou um assassino. Davi cometeu diversos
outros pecados, que estão relatados na Bíblia.
Ora, esses três personagens, com
seus defeitos (que não eram pequenos), estão na linhagem humana de Jesus
Cristo. Aliás, todas as pessoas que estão listadas na genealogia são
imperfeitas, falhas, pecadoras.
Com isto Deus vem realçar a
verdade de que o ser humano é falho, imperfeito, com inclinação ao pecado, e
que não há um ser humano sobre a face da terra que seja perfeito e não tenha
pecado, como nos adverte a Palavra de Deus:
“como está escrito: Não há justo, nem um sequer” (Rm 3.10)
“pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23)
“Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.”
(Ec 7.20)
Assim, os homens e mulheres que
fizeram parte da genealogia de Jesus eram simples seres humanos como qualquer
um de nós, tinham muitas falhas, conflitos pessoais, insegurança, vícios,
pecados diversos, porém Deus as utilizou para um propósito maravilhoso: trazer
o Messias, o Filho de Deus, Jesus Cristo a este mundo, cumprindo a promessa que
havia sido feita quanto ao Salvador.
A perfeição de Cristo contrasta com a imperfeição de seus
antepassados humanos, pondo em evidência a necessidade que a humanidade tinha e
tem de um Redentor perfeito e sem mácula. Deus mostrou a falibilidade humana,
para ressaltar a infalibilidade de Cristo, nosso Salvador.
Deus mostrou que reis humanos
podem ser sábios quando guiados pelo Altíssimo, mas que sua natureza humana
lhes retira a capacidade de serem perfeitos e guiarem o povo sempre com
sabedoria, sem cometer erros ou falhas, dando sempre o bom exemplo. Davi foi um
bom rei, mas pecou.
Deus revelou que o ser humano é
mentiroso, se prostitui (nem sempre em termos sexuais, mas espirituais),
adultera, mata (não apenas tirando a vida, mas odiando e espalhando o ódio), e
comete muitos outros pecados que o tornam indigno da presença do Altíssimo.
Tudo o que foi revelado por meio
das pessoas relacionadas no texto se aplica a cada um de nós. Sim, todos nós
somos Jacó, Raabe, Davi, etc. Nós fazemos as mesmas coisas que eles fizeram.
Devemos reconhecer nossos
defeitos. Precisamos ter consciência de que não somos perfeitos, de que temos
muitas falhas, cometemos pecados diariamente. Necessitamos urgentemente parar
de ter uma falsa ideia a nosso respeito, julgando-nos melhores do que somos,
crendo que temos crédito junto a Deus por agirmos bem em algumas situações.
Não importa se somos religiosos,
se temos algum ministério na Igreja, se somos politicamente corretos, se temos
boa condição social e financeira, se fazemos obras de caridade ou praticamos
penitências, isso não muda nossa natureza.
Todos nós somos pecadores, e
assim como aquelas pessoas não mereciam estar listadas na genealogia de Jesus,
também nós não merecemos estar incluídos na Família de Cristo.
2) A Graça de Deus resgata e transforma o
pecador
Embora as pessoas relacionadas no
texto como antepassados de Jesus fossem pecadoras e não tivessem méritos para
merecerem algo de Deus, Ele as alcançou com Sua Graça, e elas foram resgatadas
de sua vida de pecado e transformadas em pessoas melhores, pessoas justificadas
pela ação de Deus em suas vidas.
Jacó não permaneceu sendo um
mentiroso enganador para sempre. Deus agiu com misericórdia sobre ele e foi
operando uma transformação gradativa em seu caráter. Jacó, que era acostumado a
enganar, acabou sendo enganado por Labão, que veio a ser seu sogro, e teve que
trabalhar 14 anos para conseguir se casar com Raquel. Durante sua caminhada,
Jacó teve seu coração quebrantado por Deus, humilhou-se diante do Senhor, e quando
havia amadurecido na fé, teve seu nome trocado para Israel, que quer dizer “príncipe
que luta e prevalece” ou “aquele que governa com o Todo Poderoso”. O fato é que
a mudança de nome foi uma confirmação das bênçãos que Deus havia proferido
sobre Jacó e sua descendência. Ele se transformou em um novo homem, o patriarca
de uma grande nação.
Raabe não continuou sendo uma
prostituta. Ela sabia que Israel iria invadir Jericó, e também sabia que Deus
daria a vitória a Israel. A fé que ela manifestou em Deus superava até mesmo a
fé de alguns israelitas. Ela protegeu soldados israelitas e evitou que fossem
presos. Raabe foi salva na invasão, com sua família, casou-se com um israelita
(Salmon), foi transformada, teve uma mudança de vida radical, pois a Graça de
Deus operou em seu coração.
Davi, após ser advertido quanto
aos seus pecados, arrependeu-se amargamente e se prostrou diante de Deus. A
Graça do Altíssimo estava sobre ele, e o rei reconheceu seus erros, pediu
perdão a Deus e não voltou a cometer os mesmos pecados. Ele foi o maior rei que
Israel teve.
O mesmo Deus que operou
maravilhosamente nas vidas dessas pessoas está disposto a operar hoje em nossas
vidas. Nós não somos melhores que os personagens que estão listados na
genealogia de Jesus, mas Deus nos ama tanto quanto os amou, e está pronto a nos
perdoar e nos transformar.
Não importa quais sejam nossas
fraquezas, que tipos de pecado cometemos, pois o fato é que para Deus não há
impossíveis, e Ele pode transformar o maior pecador em um servo consagrado,
transformado.
Uma vez que reconheçamos nossa
condição de pecadores, de imperfeitos, já estamos dando o primeiro passo rumo à
transformação, pois estaremos abertos para recebermos o tratamento de Deus. O
que não podemos é tentar camuflar nossas falhas, enganando-nos a nós mesmos.
Esta admoestação não se aplica
apenas a não convertidos, pois mesmo os convertidos precisam de transformação
constante, para que cresçam em santidade e na comunhão com Deus, espelhando a
imagem de Jesus Cristo.
3) O Poder de Deus opera em nossa fraqueza
O grande propósito de Deus, cujo
cumprimento está sendo relatado no texto lido, era a vinda de Seu Filho, Jesus
Cristo, que assumiu a forma humana com a finalidade de revelar o Pai e trazer a
salvação a todos nós, por meio de Sua morte na cruz.
Jesus é Deus, Ele é o Deus Filho.
Ele é eterno, não foi criado como nós a partir de algum material, pelo
contrário, Ele é a origem e a razão de tudo.
Mas para que Jesus pudesse
cumprir o plano da redenção dos seres humanos era necessário que Ele sofresse
como um ser humano. Assim, Ele precisava vir a este mundo na forma humana.
Para isto, seria necessário que
houvesse uma família e antepassados para confirmar as profecias que haviam sido
dadas nos tempos do Antigo Testamento.
No versículo 1 Mateus nos informa
que Jesus Cristo é “filho de Davi”, “filho de Abraão”.
Filho de Davi é um título
messiânico, que indica aquele que Deus havia prometido que viria para reinar
sobre o Seu povo e sobre toda a terra com justiça. O Rei conforme o coração de
Deus, que traria libertação e regeria as nações com poder.
Nos tempos em que as profecias
sobre a vinda desse rei foram dadas, eram funções do rei, entre outras,
governar de forma sábia, julgar as causas de seus súditos, aplicar penas nos
casos de infração à lei, sempre da maneira mais justa possível.
Jesus Cristo é o Rei prometido
por Deus. Ele vem da descendência de Davi, conforme profetizado nas Escrituras,
para julgar com justiça e sabedoria:
“Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo
justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a
justiça na terra.” (Jeremias 23.5)
“Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor,
lhe dará o trono de Davi, seu pai;” (Lucas 1.32)
Assim, era necessário que Jesus
nascesse em uma família que descendesse de Davi, cumprindo as Escrituras.
Filho de Abraão, por sua vez,
indica aquele que seria o cumprimento da promessa feita pelo Altíssimo a
Abraão: “em ti serão benditas todas as
famílias da terra” (Gênesis 12.3). E também “a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, e nela serão
benditas todas as nações da terra” (Gênesis 22.17-18)
Paulo afirmou que Cristo é o
cumprimento dessa promessa:
“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz:
E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu
descendente, que é Cristo.” (Gálatas 3.16)
Cristo é o descendente por meio
de quem Deus abençoaria todas as nações da terra. A bênção prometida envolve a
extensão da Graça salvadora sobre povos que não eram judeus, trazendo-os para a
Aliança de Deus e promovendo sua salvação.
Assim, o Cristo deveria ser
descendente de Abraão e de Davi, em termos humanos, e para isso Deus
providenciou uma linhagem humana desde Abraão, passando por Davi, até chegar ao
nascimento de Cristo, e essa linhagem foi composta de pessoas como nós, pois
eram apenas seres humanos.
Como já dissemos, não existe ser
humano perfeito, a única exceção foi Cristo. Desta forma, além de demonstrar
que todos são falhos e necessitam de Sua Graça, Deus também revela que, apesar
de nossas limitações, Ele pode nos usar como instrumentos para cumprir os Seus
propósitos.
As pessoas listadas na genealogia
de Jesus foram utilizadas pelo Altíssimo para dar cumprimento à profecia da
vinda do Messias, demonstrando que Deus não está limitado pelas imperfeições
humanas, antes, tudo depende única e exclusivamente de Sua Graça e do Seu
Poder. Elas não tinham méritos pessoais, mas receberam a Graça de Deus.
Ele transformou pecadores em
pecadores redimidos. Ele operou uma transformação nessas pessoas a fim de que
por meio delas fosse preparado o caminho para a vinda do Messias.
Nós, embora sejamos cheios de
defeitos, podemos ser usados por Deus para que Seus propósitos se cumpram com
perfeição. Nenhum plano do Senhor pode ser frustrado:
“Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.”
(Jó 42.2)
Com isto, Deus deixa bem claro
que a concretização de Seus planos não depende de nossa perfeição ou de nossas
capacidades. Deus não está impedido de fazer o que planejou apenas porque nós
temos defeitos e pecados, antes, Ele leva a cabo Seus desígnios operando em
meio à nossa fragilidade, para que o Seu Poder seja manifesto.
Deus disse a Paulo: “a minha graça te basta, porque o poder se
aperfeiçoa na fraqueza.” (2Cor 12.9)
Desta forma, ainda que sejamos
usados por Deus como instrumentos para concretização de Seus propósitos, como o
foram as pessoas constantes da genealogia de Jesus, jamais devemos nos
ensoberbecer com isto, visto que em nós não há nada de bom que permita que nos
vangloriemos, pelo contrário, tudo depende de Deus usar Sua Graça para conosco.
Por outro lado, também não
devemos desanimar diante de nossas fraquezas, achando que jamais poderemos ser
usados por Deus em Sua obra, porque tudo depende dEle, de Sua misericórdia, e
Ele pode nos renovar, pode operar em nós com amor. Ninguém é bom demais que
mereça ser usado por Deus, nem ruim demais que não possa ser transformado por
Ele.
Todo o poder vem de Deus. E
somente a Ele deve ser dada toda a glória, não a nós.
CONCLUSÃO
A genealogia de Jesus nos ensina
lições valiosas sobre nós mesmos e sobre a Graça de Deus. Não temos motivos
para nos julgarmos superiores a ninguém, assim como não devemos desanimar
diante de nossas fragilidades.
É Deus quem opera em nós para que
sejamos transformados e nos conformemos à imagem de Seu Filho, e é Deus que nos
permite ir além dos nossos limites para que Seus propósitos sejam cumpridos
plenamente.
Glorifiquemos a Deus com nossas
vidas, e vivamos com humildade e coração quebrantado, sabendo que de Deus
dependemos e por Ele vivemos.
Honra e glória ao Altíssimo, hoje
e sempre. Amém.
“Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer
dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo
sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a
sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a
quem seja a glória para todo o sempre. Amém!” ( Hebreus 13.20-21)
“Porque Deus é quem efetua em vós tanto o
querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. Fazei tudo sem
murmurações nem contendas”. ( Filipenses 2.13-14)
José Vicente
16.12.2012
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