quarta-feira, 22 de julho de 2009

OLHOS BONS X OLHOS MAUS


“São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!” (Mateus 6:22-23)

A passagem acima se encontra no conhecido Sermão do Monte, onde Jesus profere uma série de ensinamentos para a vida, sempre tendo em mira o modo de vida a ser seguido por um cidadão do Reino dos Céus.

Para uma melhor compreensão da lição aqui ensinada por Jesus, faz-se necessário verificar o contexto em que está inserida a mensagem, pois isto permitirá evitar conclusões equivocadas.

Em todo o Sermão do Monte Jesus ministra palavras de transformação, de conduta, comportamento, de relacionamento dos seres humanos entre si e com Deus. No capítulo 6, onde se encontra a passagem que hoje focalizamos, Jesus fala sobre os valores que norteiam a vida das pessoas.

No versículo 1 do Capítulo 6, Jesus fala sobre aqueles que exercem sua justiça perante os homens, para serem por eles vistos. Há, aqui, uma clara referência ao desejo de obter glória, reconhecimento, massagem do ego, por parte de quem pratica os chamados atos de justiça, porque não age no intuito de realmente exercer a justiça, mas, sim, de conseguir proeminência perante os homens, o que, para Deus, é abominável.

Nos versículos 2-4 Jesus aborda o tema da caridade. Entretanto, sua orientação é no sentido de que obras de caridade não devem jamais ser feitas com o intuito de chamar a atenção das pessoas para si mesmo. Jesus critica a motivação egoísta das pessoas que, ao fazerem um ato de caridade, estão na verdade pensando em si mesmas, para serem vistas como boas pessoas, e até mesmo para poderem tentar fazer alguma barganha com Deus, apresentando suas obras como se fossem capazes de servir como moeda de troca. A motivação correta é fazer caridade por amor a Deus e ao próximo, e por esta razão, nunca se deve buscar reconhecimento de homens, nem fazer propaganda de seus bons atos, pois esse procedimento não agrada a Deus.

Dos versículos 5-15 Jesus enfoca a oração. Os líderes religiosos daquela época tinham o hábito de orarem em pé nas sinagogas e nas praças, mas isso não era uma evidência de espiritualidade, e, sim, demonstração inequívoca de que tais pessoas estavam buscando serem vistas pelos homens e angariar admiração para si. Queriam que as pessoas elogiassem suas belas e longas orações, que vissem que suas orações eram fervorosas e poderosas. Seus pensamentos não estavam voltados a Deus no momento das orações, mas sim aos próprios homens. Por isto, foram chamados de hipócritas, ou seja, eram como atores que representavam um papel, mas suas vidas não refletiam aquilo que tentava aparentar.

Hoje se vê muito esse tipo de comportamento, tanto de pessoas que querem exercer justiça para serem vistas pelos homens, como aquelas que fazem caridade para serem elogiadas e tidas como auxiliadoras do próximo, e, ainda, as que fazem orações bonitas, cheias de frases de efeito e chavões religiosos, em voz alta, com os braços levantados, atraindo a atenção dos outros para si. Então se diz que fulano tem oração forte. Quando alguém precisa de auxílio divino, não ora por si mesmo, nem pede a um irmãozinho mais “simples”, mas vai em busca do fulano que tem oração forte, como se o poder estivesse naquele que ora, e não nAquele a Quem a oração deve ser dirigida.

No versículo 13 Jesus dá uma lição que não deve ser esquecida: “pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre.” Após dizer várias vezes, de forma contundente, que o homem não deve buscar glória para si mesmo, Jesus diz a quem deve ser dada toda a glória: Deus. Sim, somente a Deus deve ser dada glória. O ser humano deve fazer tudo para a glória de Deus. Motivações egoístas não têm lugar no Reino de Deus. A Ele pertencem o reino, o poder e a glória. Assim, a busca por reconhecimento e proeminência significa busca de valores terrenos, que não se amoldam aos valores do Reino de Deus. A tentativa de querer demonstrar algum poder através de atos ou de orações “fortes” não condiz com a realidade do Reino de Deus, pois o poder não pertence ao homem, mas a Deus. Não foi o homem quem criou o universo, mas foi Deus, pela Sua Palavra, e Ele é quem sustenta tudo o que existe. E, finalmente, toda glória pertence a Deus, e muito infeliz é o homem que tenta usurpar isso para si.

Esse mesmo princípio está estampado nos versículos 16-18, onde Jesus adverte àqueles que jejuam com intenção de serem elogiados por sua abnegação, por sua força espiritual, por sua determinação em servir a Deus, deixando transparecer claramente a todos, através de suas fisionomias, que estão jejuando, fazendo um sacrifício, e são mais santos que os demais. É um jejum que não agrada a Deus, e que não gera crescimento para a Vida. Não haverá, para esse tipo de pessoa, boas recompensas da parte de Deus, pois optaram por receber aqui, nesta terra, uma recompensa passageira, vinda dos homens, e que não tem o poder de gerar a felicidade eterna.

A partir do versículo 19 até o 21 Jesus fala sobre pessoas que buscam acumular tesouros deste mundo. Tesouros, aqui, têm conotação de bens materiais, de riquezas, mas também podemos dizer que há muitas coisas que as pessoas consideram valiosas como tesouros, e que não são necessariamente dinheiro e posses. A vaidade, o orgulho, a fama, a glória pessoal, os prazeres da carne, a satisfação dos desejos, o famoso “viva a vida, seja feliz, faça o que tiver vontade”, são valores que se assemelham a tesouros na vida de quem os busca.

Existe clara ligação entre o que Jesus diz nesses versículos e o que consta nos anteriores, pois quem busca proeminência, glória entre os homens, elogios de homens, etc., está buscando tesouros deste mundo.

Então, Jesus fala claramente que os tesouros desta terra, aí incluído tudo o que dissemos anteriormente, são corruptíveis, se desmancham, acabam, podem ser roubados, não possuem valor eterno, mas de uma hora para outra podem ir embora. O Mestre nos orienta a buscar os tesouros celestiais, que não podem ser roubados nem se acabam, mas permanecem eternamente. O maior tesouro que se pode conseguir é a Vida Eterna, a salvação, e esse tesouro está em Jesus Cristo.

No versículo 21 Jesus diz: “porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. Assim, se o tesouro que buscamos é terreno, aqui na terra estará nosso coração. Isso nos levará a aplicar nossa vida em coisas que perecem, e, no fim, não teremos alcançado o tesouro maior, que é a Vida Eterna com Deus.

Seguindo, no versículo 24 Jesus fala sobre a necessidade de termos um só senhor. Se nosso coração está nos tesouros desta terra, nosso senhor é a riqueza terrena. Não é por acaso que as Escrituras revelam que “o amor do dinheiro é a raiz de todos os males” (1Tim 6:10). Por amor às riquezas terrenas pessoas matam, trapaceiam, mentem, cometem insanidades, desprezam família e amigos, vendem seus corpos, abrem mão de sua dignidade, mercadejam a Palavra de Deus, e fazem todo tipo de atos reprováveis e absurdos.

Por outro lado, quando Deus é nosso Senhor, nossos valores são outros. O amor a Deus é demonstrado no amor ao próximo. Existe verdade, simplicidade, ética, dignidade, relações saudáveis com família, amigos e com todas as pessoas, caridade autêntica, oração em secreto para ser ouvida pelo Pai, boa vontade, senso moral elevado, e tudo o mais que seja bom e correto aos olhos de Deus.

É impossível permanecer com os pés em dois barcos. Há necessidade de escolher: ou servimos a Deus e acumulamos tesouro no céu, ou servimos às riquezas terrenas e delas nos tornamos escravos, tendo o mesmo fim que elas.

Complementando tudo isso, do versículo 25 até o 34 Jesus nos para não andarmos ansiosos com questões cotidianas, como o vestuário, a alimentação, a bebida, porque tudo isso é providenciado pelo Pai celeste para aqueles que buscam em primeiro lugar o Reino de Deus. Jesus não está nos convidando para sermos pessoas inconsequentes, que não trabalham nem se esforçam para conseguirem o seu sustento. A própria Escritura determina que “se alguém não quer trabalhar, também não coma” (II Tess 3:10), condenando a ociosidade e a preguiça.

O que Jesus faz é nos exortar a priorizar as coisas celestiais e confiar na providência divina. Devemos trabalhar, sim, mas o nosso trabalho não deve ocupar o lugar que é de Deus. Se o Reino de Deus for nossa prioridade, exerceremos em nossa vida os valores do Reino, e andaremos na presença de Deus. Ele, por sua vez, não deixará que nada nos falte.

É possível comparar esse relacionamento àquele que é mantido entre pais e filhos. Os filhos não amam os pais porque recebem o sustento diário, roupas e presentes, mas recebem tudo isso porque amam os pais e são por eles amados. Os filhos sabem que os pais (excetuando-se alguns desalmados) não lhes deixarão faltar nada. Ainda que não haja luxo e abundância de coisas boas mais supérfluas, o essencial nunca faltará. Da mesma forma, nosso Pai celeste tem prazer em nos abençoar, e nossa confiança nEle não é frustrada, pois, conforme está escrito, “nada falta aos que o temem” (Salmo 34:9), e, também, “nunca vi o justo desamparado, nem a sua descendência mendigar o pão” (Salmo 37:25).

Bem, mas onde se encaixa o que Jesus disse nos versículos 22-23, sobre os olhos bons e olhos maus? À primeira vista parece não haver conexão entre tudo o que foi dito, mas na verdade a lição que Jesus nos dá está intimamente ligada a todo o contexto do capítulo 6 e dos demais que apresentam o Sermão do Monte.

Olhos maus são aqueles que estão focalizando exclusivamente os tesouros terrenos. Como esses tesouros não possuem luz, os olhos que os contemplam não podem refletir a luz, e, portanto, todo o corpo fica em trevas, em escuridão. Quem vive a correr atrás dos tesouros terrenos, na verdade, não conhece a Deus, e não foi por Ele iluminado.

Já os olhos bons são aqueles que, por estarem voltados aos tesouros celestiais, refletem a luz de Deus, e, assim, todo o corpo está na luz, é iluminado.

Olhos maus são cobiçosos, invejosos, levam a pessoa a cometer atos absurdos, como dissemos acima, em nome dos tesouros terrenos, sejam eles quais forem (dinheiro, posses, prazeres, poder, proeminência, etc.).

“E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.” (João 3:19).

Olhos bons são mansos, humildes, não apegados a coisas passageiras, amorosos, benignos, pois a luz de Deus não deixa que as trevas contaminem tais olhos.

“Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” (João 8:12)

Olhos bons estão voltados para Jesus Cristo, e almejam a pátria celeste, sabendo que tudo o que este mundo oferece é passageiro e pode acabar de um momento para outro, mas a herança que nos está reservada no Reino de Deus é incorruptível e eterna.

“Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.” (1 Coríntios 15:19)

Não adiante dizer que cremos em Cristo, mas querermos transformá-lo em nosso mordomo para coisas terrenas. O tesouro que Ele nos oferece é a salvação, a vida eterna com Deus. Jesus não é, ao contrário do que se prega em muitos lugares hoje, corretor imobiliário, despachante, guru empresarial, fada madrinha, gênio da lâmpada, serviçal que deve nos atender em todos os nossos caprichos.

O Jesus que tem sido pregado em muitas igrejas não é o Jesus Cristo da Bíblia, antes, é uma criação do homem, produzido conforme as conveniências humanas. Esse Jesus não salva ninguém, porque não existe. Quem crê nesse Jesus, e vive apenas buscando coisas para esta vida, é muito infeliz, pois deixa de obter o bem mais precioso: a vida eterna, que está em Jesus Cristo, o Filho de Deus, que morreu na cruz, ressuscitou e está assentado à direita do Pai, de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos no grande e terrível Dia do Senhor.

“Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.” (Col 3:1-3)

Ainda é tempo de mudar seu olhar. Reflita nisso.

José Vicente
21/07/2009

Citações da Bíblia Almeida Revista e Atualizada

Um comentário:

  1. olhos bons x maus tambem podem ser vistos como a maneira de encarar a vida e os problemas. É como a história do copo meio cheio ou meio vazio.

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