Texto base: Mateus 12.38-42
A passagem
lida nos mostra Jesus sendo inquirido mais uma vez pelos fariseus e escribas,
homens especialistas na Lei de Deus, considerados líderes religiosos do povo
judeu.
O contexto nos
mostra que Jesus vinha sendo criticado por esses homens, visto que permitiu que
Seus discípulos colhessem espigas para comer em dia de sábado (vv. 1-8), efetuou
a cura de um homem no sábado (vv. 9-14), e realizou a libertação de cura de um
homem mudo, cego e endemoninhado (vv. 22-32). Em cada ocasião, foram
confrontados por Jesus com o ensino do verdadeiro sentido da Lei da Deus, além
de terem sido alertados para o fato de que a blasfêmia contra o Espírito Santo
é imperdoável.
Jesus também
ensinou que o verdadeiro servo de Deus é uma árvore boa, que produz bons
frutos, visto que Seu coração está cheio do maior tesouro que existe, que é o
próprio Deus, enquanto pessoas más só conseguem produzir maus frutos, pois seu
coração está cheio de maldade e coisas do mundo.
Insatisfeitos
por não terem ainda conseguido enredar Jesus com suas artimanhas, esses líderes
religiosos agora fazem uma nova investida, em resposta às duras palavras ditas
pelo Senhor, e lhe pedem um sinal, algo que demonstre que Ele é quem diz ser.
A resposta
dada por Jesus, mais uma vez com inigualável sabedoria, vem mostrar algumas
características da verdadeira fé, deixando evidente que religiosidade e fé não
são coisas sinônimas, e o que Deus requer de nós é exatamente a fé, e não a
religiosidade.
Vamos analisar
algumas lições que podemos extrair do texto bíblico.
I.
A
verdadeira fé não exige sinais
No versículo
38 os escribas e fariseus, não tendo gostado da forma como Jesus se referiu a
eles anteriormente, já que tudo levava a concluir que eles eram as árvores más
a que Jesus aludiu, contra-atacam com a seguinte exigência: “Mestre, queremos ver de tua parte algum
sinal”.
É interessante
notar que até então Jesus já havia feito inúmeros sinais, todavia os líderes
religiosos não estavam satisfeitos. Na verdade, a cada sinal feito por Jesus
eles lançavam uma crítica, pois sua falta de fé era tão grande que eles não
conseguiam enxergar o poder de Deus em ação, apenas viam a sua posição de
autoridade religiosa ser ameaçada por um novo Mestre que conseguia cativar as
multidões e representava um risco ao poder que eles exerciam sobre o povo.
Então, do alto
de sua incredulidade, eles exigiam de Jesus um sinal, como se fosse uma
condição para que cressem nEle e em Sua pregação. Isso se repetiu em Mateus
16.1, mostrando que, na verdade, o problema deles era a ausência de verdadeira
fé. Eles não criam em Jesus como o Filho de Deus. Por mais que Jesus pregasse e
fizesse sinais, eles continuavam não crendo, pois seus corações eram
endurecidos e estavam cheios das coisas deste mundo.
Jesus responde
comparando aquela geração ao povo da cidade de Nínive, que, conforme está
escrito no livro de Jonas, ao ouvir a pregação do profeta, que inclusive foi
feita a contragosto e de má-vontade, chegou ao arrependimento e escapou da
destruição, sem que tivesse sido necessário qualquer sinal sobrenatural.
O Mestre ainda
menciona a Rainha de Sabá, que viajou de muito longe para conhecer o rei
Salomão e sua tão falada sabedoria, deparando-se com um homem realmente sábio
e, por meio dele, veio a conhecer o Deus de Israel. Também essa rainha não
precisou ver coisas sobrenaturais, bastando ouvir de Salomão o que ele dizia
para concluir que era um homem sábio e escolhido por Deus para governar Israel.
Os ninivitas e
a Rainha de Sabá não precisaram de sinais miraculosos, todavia, aqueles homens,
estando diante de quem era maior do que Jonas e Salomão, não conseguiam crer
mesmo diante da pregação e dos sinais realizados, e continuavam exigindo sinais
como condição para crer.
Quando eles
chamam Jesus de Mestre não é porque realmente O considerem um mestre, mas era
mera dissimulação, porque, como Jesus já havia dito, eram homens que viviam
representando o papel de religiosos piedosos, todavia eram incrédulos.
Assim, Jesus
ensina que a verdadeira fé não exige sinais, e se houver tal exigência, então
se estará diante de incredulidade disfarçada de fé pragmática.
Atitudes como
a dos fariseus e escribas não são coisas do passado, pelo contrário, são muito
atuais e se fazem presentes dentro de muitas igrejas. Não apenas líderes
religiosos, mas diversas pessoas que afirmam serem discípulas de Cristo,
continuamente querem ver sinais para que sua pretensa fé possa ser alimentada.
Assim, a
ocorrência de sinais miraculosos passa a ser o centro de muitas pregações e de
muitos cultos, e para alimentar a sede do povo muitos líderes chegam ao ponto
de simular tais sinais, de forma a cativar um número cada vez maior de
incautos, que são atraídos apenas por shows
de milagres.
A fé
alicerçada em sinais não se firma, pois é necessário ser alimentada
continuamente com milagres cada vez maiores. E quando nada acontece,
simplesmente as pessoas desistem e acham que foi tudo perda de tempo ou que a
espiritualidade da Igreja em que congregam é fraca e, então, vão em busca de
outra comunidade onde possam encontram sinais que as façam “crer que Deus está
ali”.
Geralmente são
pessoas que pulam de igreja em igreja, e vivem uma vida de aparências, à
semelhança dos escribas e fariseus. Pensam ser muito espirituais, conhecedoras
das profundidades das Escrituras, aptas a ensinar e julgar o próximo, mas estão
sempre exigindo sinais de Jesus, mesmo que sejam “produzidos por homens”.
Ora, como
Paulo escreveu, após ter aprendido corretamente os ensinamentos de Cristo:
“Visto
que andamos por fé e não pelo que vemos.” (2Cor 5.7)
Quem exige
sinais está impondo condições para crer, mas quando se trata de Jesus, não há
espaço para tal atitude, pois isso não é fé verdadeira. Essa “fé” baseada
apenas em sinais é passageira, não resiste ao tempo e às provações, logo
esmorece, porque não é autêntica.
A postura dos
escribas e fariseus era influenciada pelo diabo, pois ele é quem gosta de
alimentar a incredulidade e lançar desafios disfarçados de provas de fé. Foi o
diabo que, quando Jesus estava jejuando no deserto, apareceu e tentou convencer
o Mestre a provar que era o Filho de Deus transformando pedras em pães e se
jogando do pináculo do templo, mas Jesus não caiu em sua armadilha, assim como
não se deixou enredar pelas artimanhas dos líderes religiosos.
Que nossa fé
seja autêntica e firmada na Palavra de Deus e no testemunho do Espírito Santo
ao nosso coração, jamais necessitando de sinais para se manter, mas crescendo
cada vez mais inabalável por ser verdadeira.
II.
A
verdadeira fé vê os sinais
Enquanto a
verdadeira fé não exige sinais, podemos constatar também que, quem a possui, vê
os sinais de Jesus e glorifica a Deus.
Como
destacamos, Jesus vinha realizando milagres, curas e prodígios que nunca antes
haviam sido vistos. Ele fez cegos enxergarem, coxos andarem, mudos falarem,
expulsou demônios com uma ordem, além de pregar com autoridade o Reino de Deus.
Curiosamente eram justamente os líderes religiosos, aqueles que se julgavam
mais santos, que não conseguiam ver nesses sinais o agir de Deus, antes, encaravam-nos
com indiferença, concentrando-se em formas de derrubar Jesus.
Outras
pessoas, porém, que se aproximavam de Jesus com fé, viam os sinais acontecerem
em suas vidas. Eram pessoas que vinham clamar por socorro, e não exigiam nenhum
sinal, apenas imploravam por misericórdia e eram atendidas pelo Mestre.
No capítulo 8,
por exemplo, um leproso se aproxima de Jesus e não pede sinal algum, pelo contrário,
ele manifesta sua fé dizendo: “Senhor, se quiseres, podes purificar-me”
(Mt. 8.2). E em resposta a sua fé Jesus o torna limpo, totalmente curado da
enfermidade que o afligia e que impunha sua exclusão social.
Ainda no
capítulo 8, vemos um centurião – que nem mesmo era judeu -, clamar a Jesus pela
cura de um criado enfermo. O centurião não exigiu um sinal para crer que Jesus
tinha poder, ele apenas creu e foi até Jesus como o único que poderia fazer
algo pelo doente. Esse homem levou Jesus a dizer: “Em verdade vos afirmo que nem
mesmo em Israel achei fé como esta” (Mt. 8.10), e o servo do centurião
foi curado por uma simples ordem de Jesus à distância.
Os Evangelhos
estão repletos de histórias de pessoas que creram em Jesus sem exigir sinais,
apenas porque tinham no coração a convicção de que Ele era quem realmente dizia
ser, o Filho de Deus, e com isto sua fé foi recompensada, pois viram o poder
sobrenatural de Deus em ação em suas vidas.
A fé
verdadeira nos leva a ver os sinais que continuamente são feitos por nosso
Senhor e que passam despercebidos aos olhos dos incrédulos. Quem tem fé
verdadeira, alicerçada na Palavra que foi pregada e na ação do Espírito Santo,
enxerga milagres de Deus em todas as coisas, e sabe glorificar a Deus.
Recentemente encontrei
um rapaz que fora meu cliente. Anos atrás ele vivia embriagado, fumava
desesperadamente. Um dia lhe entreguei uma matéria em que Rodolfo Abrantes,
ex-integrante do grupo Raimundos, falava sobre sua conversão e a transformação
ocorrida em sua vida. Não sei se ele leu a matéria, mas isso não importa. O
tempo passou e no ano passado esse rapaz estava com um problema de coluna e
teria que ser submetido a uma cirurgia, visto que tinha dores muito fortes e
seus movimentos estavam ficando comprometidos. Agora, ao reencontrá-lo,
perguntei se havia feito a cirurgia, e sua resposta foi maravilhosa. Ele disse
que não fez o procedimento cirúrgico, pois Jesus o curou, além de tê-lo livrado
do vício das bebidas e cigarro. E realmente ele caminhava muito bem, não
aparentava ter mais nenhum problema na coluna. Mais de uma vez ele glorificou a
Jesus pela cura e pela libertação. Eis aí Jesus fazendo sinais que são vistos
pelos que creem sem exigências.
Sim, quando
nossa fé é verdadeira, nada exigimos de Jesus, apenas lhe suplicamos em oração
e somos respondidos conforme Sua vontade. O Mestre não deixa sem resposta
aquele que nEle crê. Os crentes não vivem abandonados, esperando por algo vago
e incerto. A fé é o elemento que nos conecta com Deus de maneira a ouvirmos Sua
voz e vermos Sua ação em nosso favor e dos que nos cercam.
Nossa
realidade precisa ser esta. Nossa espiritualidade não deve ser baseada em
aparências, mas em uma fé que existe e permanece mesmo que não ocorram sinais e
prodígios, porque quem crê vê sinais de Deus até mesmo quando nada visível
acontece.
Nossas igrejas
precisam estar cheias de pessoas com fé verdadeira, que nunca exigem nada de
Jesus, que não vivem em busca de sinais, que não dependem de milagres, de
acontecimentos sobrenaturais para manter acessa a chama da fé, mas que, pelo
contrário, veem o sobrenatural ocorrer justamente porque creem em Jesus.
Os ninivitas
não eram povo de Deus, mas creram na pregação de Jonas e viram o poder de Deus,
pois foram poupados da destruição naquele momento.
A fé autêntica
não depende de sinais ou de emoções, quem a tem se contenta em saber que Deus tem
tudo em Suas mãos e sempre faz o melhor, independentemente das circunstâncias
da vida.
III.
A
verdadeira fé livra da condenação
Jesus disse
que os ninivitas e a Rainha de Sabá, no dia do Juízo, se levantarão para
condenar aquela geração incrédula. Note-se que Jesus colocou gentios em posição
de testemunhas de condenação contra judeus, e isso era algo inconcebível para
eles, visto que eram o povo eleito por Deus e se consideravam intocáveis.
Jesus mostra
que a incredulidade resulta em condenação, o que está em concordância com o
restante das Escrituras, que evidenciam que a fé em Cristo é a nossa resposta à
Graça de Deus que nos salva.
O Mestre
afirma que o único sinal que seria dado seria o de Jonas, fazendo uma
referência à sua morte, sepultamento e ressurreição.
A verdadeira
fé livra da condenação, porque mesmo sem termos presenciado os fatos, cremos
que Jesus morreu, foi sepultado e ressuscitou para selar nossa redenção e nossa
justificação. Cremos que aquele sinal de Jonas ao qual Jesus fez alusão se
cumpriu, e o Mestre está glorificado com o Pai, de onde voltará para julgar
vivos e mortos.
A verdadeira
fé livra da condenação porque nos leva a nos achegarmos a Jesus por quem Ele é,
o Filho de Deus, nosso Senhor e Salvador, com atitude de humildade,
reconhecendo quem nós somos e que carecemos da misericórdia do Altíssimo.
A verdadeira
fé não nos leva à presença de Jesus com arrogância e sentimentos de
autojustificação, exigindo algo em troca ou alguma prova de que Jesus tem poder
ou de que Ele é quem afirma ser. Pelo contrário, vamos a Ele sabedores de que
estamos diante do Rei dos reis, e que o único Caminho para a vida eterna é Ele.
A verdadeira
fé produz frutos que a evidenciam, demonstrando que a seiva da vida, que é o
Espírito Santo, flui em nós e nos transforma em árvores frutíferas para Deus.
A verdadeira
fé nos firma na esperança que há em Cristo como Aquele que deu Sua vida para
nos resgatar, purificou-nos de nossos pecados e nos conduz à Vida Eterna.
Ao contrário
dos escribas e fariseus, que se sentiam ameaçados por Jesus, o crente
verdadeiro sente-se atraído pelo Mestre, que é a sua salvação, sua Rocha de
refúgio.
O próprio
Jesus afirma que não há condenação para os que nEle creem:
“Quem
nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no
nome do unigênito Filho de Deus.” (João 3.18)
É pela fé em
Jesus que somos livres da condenação, porque nossa fé é a resposta ao Seu
chamado de amor, e não decorre de nenhuma barganha, mas puramente da Graça de
Deus.
CONCLUSÃO
Os homens que
confrontavam Jesus não eram gentios, pelo contrário, eram líderes do povo de
Deus, judeus religiosos que conheciam as Escrituras. Da mesma forma, no meio do
povo cristão também vamos encontrar pessoas como eles, que têm sua fé
dependente de sinais, de acontecimentos sobrenaturais, e que precisam disso
para prosseguir da mesma forma que um dependente químico precisa de drogas.
A advertência
que Jesus fez àqueles homens, e que se aplica à Igreja de hoje, é no sentido de
que somente a fé verdadeira é aceita por Deus, não bastando mera religiosidade
muito menos a atuação dos crentes como atores.
Temos que crer
em Jesus por quem Ele é, e não pelo que Ele pode fazer por nós.
Que o Espírito
Santo produza em nós uma fé verdadeira, inabalável, que não dependa de
circunstâncias externas, mas seja firmada na Palavra de Deus que nos foi e
continua sendo pregada, levando-nos a uma transformação constante em nossa
mente e espiritualidade.
“Ainda
que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira
minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do
aprisco, e nos currais não haja gado, 18 todavia, eu me alegro no SENHOR,
exulto no Deus da minha salvação.” (Habacuque 3.17-18)
José Vicente
29.01.2017
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