Este é o primeiro domingo do ano 2014.
Ainda estamos naquele clima de retrospectiva e formulação de projetos que
pretendemos ver cumpridos durante o ano que se inicia. Fazemos, então,
promessas a nós mesmos, planejamos mudanças, renovamos as esperanças,
estabelecemos metas a serem alcançadas.
É interessante que quase todas as
novas decisões são para cumprimento no futuro, sendo muitas a partir de segunda-feira – o
mais comum. Não costumamos fazer programações que envolvam atitudes imediatas.
Também é curioso como na grande
maioria das vezes parece que consideramos o fim do ano como o encerramento de
um período da vida, e o novo ano como um recomeço, onde tudo fica para trás e
renascemos, com novas chances, nova força, novos ideais. Todavia, no dia
seguinte à festa de passagem de ano, percebemos que continuamos sendo as mesmas
pessoas, que nossa vida tem continuidade, e não ocorreu nenhuma alteração
mágica em nossa realidade, pelo contrário, os dias vão se sucedendo da mesma
forma que antes.
Quem estava trabalhando no fim do ano,
vai continuar trabalhando no início do novo, a menos que esteja de férias, mas,
tão logo terminem as férias, a volta ao trabalho é inevitável. Quem passou a
noite da virada no hospital, enfermo, no primeiro ano do dia seguinte estará
ainda no hospital, e o tratamento iniciado anteriormente deverá ter
prosseguimento. Na verdade, constatamos que houve apenas uma mudança no
calendário, mas a vida segue seu curso como antes. É válido fazer planos e
projetos, mas não devemos esquecer que não existe mágica, precisamos estar
conscientes de que temos a responsabilidade de continuar caminhando e lutando
para alcançar nossos objetivos, e as mudanças não ocorrerão num piscar de
olhos, mas serão resultado do esforço contínuo para nosso aperfeiçoamento.
Precisamos, também, ter em nossa mente
que não adianta engendrar planos pensando no futuro, se não houver a disposição
de começar a agir no presente. Sim, nosso tempo continua dividido em passado,
presente e futuro. O passado não tem como ser alterado, serve como aprendizado
quando nos lembramos dos erros e acertos cometidos. O futuro é desconhecido a
nós, somente Deus sabe o que se dará amanhã. O presente é o momento atual,
deveras curto, em que temos a oportunidade de agir para construir o futuro.
Portanto, nossas decisões não devem
estar embasadas apenas em ações a serem postas em prática no futuro, mas elas
precisam se transformar em realidade a partir de hoje, porque é hoje que
estamos edificando o amanhã. Por que deixar para começar o famoso regime na
segunda-feira se ele pode ser iniciado hoje? Por que planejar a reconciliação
com alguém no próximo mês, em vez de tomar a iniciativa hoje? O futuro a Deus
pertence, e não sabemos o que nos sucederá dentro dos próximos minutos, se
ainda teremos a oportunidade de fazer alguma coisa ou se seremos chamados para
a eternidade.
Uma das decisões mais importantes que
o cristão deve tomar não se refere à frequência aos trabalhos da Igreja onde
congrega – embora seja muito importante -, nem aos cargos que pode ocupar na
congregação ou coisas do gênero. A principal decisão também não envolve ler a
Bíblia inteira ao longo do ano, apesar de ser algo desejável e muito
proveitoso. A decisão que devemos tomar e colocar em prática imediatamente e todos
os dias de nossa vida é de estreitar nosso relacionamento com Deus, posto que é
da relação mais profunda com o Eterno que decorre tudo o mais que necessitamos
para ter uma vida agradável e proveitosa enquanto estivermos neste mundo.
Na passagem que lemos Jesus havia se
submetido ao batismo praticado por João Batista, e agora, após a manifestação
do Altíssimo que afirmara ser Jesus o Filho Amado, Ele foi conduzido pelo
Espírito Santo ao deserto, onde esteve jejuando por quarenta dias e passou por
várias tentações, obtendo, contudo, a vitória.
Nesse período em que Jesus esteve no
deserto Ele não ficou ocioso nem sentado em estado de meditação, procurando a
iluminação. Foi um tempo de estreitamento da relação com o Pai, de
estabelecimento de uma maior dependência do Filho para com o Pai.
O texto nos mostra que a atitude de
buscar uma maior comunhão com Deus, não apenas nesse início de ano, mas
continuamente, nos trará crescimento espiritual, amadurecimento e a capacidade
de viver muito mais ligados ao Pai, estabelecendo uma comunhão muito mais forte.
Experimentaremos resultados que nos levarão a um patamar mais elevado em termos
de espiritualidade.
1) CONFIANÇA
NA DIREÇÃO DE DEUS (v. 1)
A
Palavra nos revela que Jesus, após passar pelo batismo, foi “levado
pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (v. 1).
Jesus
estava iniciando seu ministério de anúncio do Evangelho e preparação do momento
em que seria oferecido como sacrifício para pagar por nossos pecados, e sabia
que a caminhada não seria fácil, mas jamais deixou de confiar na direção dada
pelo Pai. Ele se deixou conduzir pelo Espírito Santo para o deserto, um lugar
de difícil sobrevivência, onde é raro encontrar água, muito menos alimento, e
onde o sol é impiedoso durante o dia, e à noite o frio castiga. Um lugar onde
não há muitas opções de abrigo e não se encontra conforto.
Por
que Jesus se deixaria ser levado a um lugar como esse? Por que Ele, sendo Filho
do Altíssimo, não escolheu um lugar melhor para permanecer durante esse período
de provação? Aliás, por que Ele não pulou essa fase e passou diretamente à
pregação do Evangelho?
Jesus
estava nos dando o exemplo de confiança na direção de Deus. O Pai estabeleceu
esse caminho para que Ele trilhasse, elaborou o método para fortalecimento de
sua natureza humana e para que Ele tivesse melhor conhecimento das fraquezas
que possuímos. Era necessário que Jesus provasse em sua carne as mazelas do ser
humano, para se tornar o Sumo Sacerdote
que se compadece de nossas fraquezas, pois foi tentado em todas as coisas, mas
sem pecado (Hebreus 4.15).
Jesus
confiou no Pai e se entregou plenamente em Suas mãos para que se cumprissem os
desígnios de Deus. Ele não murmurou, não tentou fugir do deserto, não se
rebelou, não invocou a condição de Filho de Deus para escapar daquela situação.
Antes, Ele se submeteu à vontade do Pai.
Não
apenas durante o ano que se inicia, mas por toda a nossa vida, é possível que
em vários momentos Deus queira nos conduzir ao deserto, ou, algumas vezes, nós
mesmos, por nossas ações, nos veremos no meio de vastos desertos. Sim, podemos
passar por diversos tipos de situações que nos façam pensar que estamos no meio
de um deserto árido, sob o sol escaldante durante o dia e sob intenso frio à
noite, com necessidade de água para nos dar refrigério e alimento para nos dar
força.
São
situações em que parecemos estar sozinhos, fracos, sem vislumbrar um local de
descanso, sem condições de suportar as adversidades, sem enxergar uma saída,
com o coração aflito e o olhar desesperado.
É
essencial, porém, que independentemente da situação em que nos encontremos,
confiemos na direção de Deus e nos seus desígnios, como fez Jesus, sabendo que
Deus deseja o nosso bem, nosso crescimento e fortalecimento. Ao passar pelo
deserto Jesus se preparou para uma caminhada difícil até o calvário, Ele teve
não apenas sua resistência física testada, mas foi trabalhada sua mente, suas
emoções foram lapidadas, e com isto vemos que Ele foi um homem sereno,
equilibrado e sábio.
Deus,
conforme Seus propósitos, pode transformar o mal em bem, e fazer com que de
nossa fraqueza surja a força – a força de Deus nos impulsionando (2Cor 12.10).
Não enfrentamos desertos apenas para sofrermos, pelo contrário, Deus muitas
vezes utiliza o deserto justamente para que não tenhamos sofrimentos maiores
mais à frente, porque Ele deseja nos preparar para a vida. Deus quer que
sejamos serenos, equilibrados e sábios como Jesus. Que sejamos fortes para não
sucumbir diante dos ataques do maligno. Que tenhamos controle de nossas emoções
para sabermos como reagir diante das adversidades, sem nos desesperarmos.
Para
que alcancemos a maturidade que Deus deseja para nós, porém, precisamos confiar
nEle com todas as nossas forças, submetendo-nos à Sua vontade com a certeza de “que
Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram
chamados de acordo com o seu propósito” (Romanos 8.28).
2)
AMOR A DEUS ACIMA DE TUDO
No
Antigo Testamento Deus ordenou vários mandamentos, mas o primeiro grande
mandamento, conforme Jesus, é: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento” (Mateus
22:37).
Durante
quarenta dias e noites no deserto Jesus jejuou, não ingeriu nenhum alimento.
Por meio do jejum, abstendo-se do que era necessário ao corpo, Cristo estava
declarando que Deus era mais importante para Ele do que o alimento físico. Em
outras palavras, que a necessidade mais vital do ser humano – alimento – era
menos essencial do que a comunhão com o Pai.
Se
desejamos ter uma relação mais profunda com Deus, é necessário que adotemos o
mesmo posicionamento de Jesus, e amemos a Deus acima de tudo, não permitindo
que nada assuma o seu lugar em nossa vida.
Jesus
fez jejum de alimento. Nós devemos olhar para nossa realidade e declarar que
Deus é mais importante não apenas com relação ao alimento, mas a tudo o que
tenha importância para nós. Talvez a televisão esteja ocupando espaço demais em
nossa vida, ou o trabalho, ou as atividades da igreja, etc. Ninguém se engane
confundindo atividades da igreja com Deus. É possível ter uma vida de
hiperatividade religiosa, sem que isto implique em ter verdadeira comunhão com
Deus. Ativismo não é o que Deus requer de nós, mas que andemos humildemente com
Ele, amemos a justiça e pratiquemos a misericórdia (Miquéias 6.8).
Devemos
equilibrar nossa vida, de maneira que o primeiro lugar seja ocupado por Deus.
Tudo o que ocupa o lugar do Altíssimo nos leva à idolatria. Amar a Deus acima
de tudo é reconhecer a necessidade de estar com Ele, depender dEle e não trocar
Sua companhia por coisas passageiras, que acabam por afetar nossa comunhão com
o Pai.
3)
O RELACIONAMENTO COM O PAI NOS
FORTALECE CONTRA AS TENTAÇÕES
Nós somos seres humanos, e em nossa
natureza existe uma inclinação a fazer coisas que não estão em conformidade com
os desejos de Deus. Continuamente somos tentados de alguma forma, sendo que,
dependendo do nível de nossa comunhão com Deus, resistiremos ou seremos
vencidos.
Jesus passou pelas três principais
tentações que afligem o ser humano: a concupiscência (paixão) da carne, a
concupiscência (cobiça) dos olhos e a soberba (ostentação) da vida,
tentações estas apontadas por João (1Jo 2.16), e que implicam em afastamento de
Deus, pois são coisas do mundo.
Os primeiros seres humanos, Adão e
Eva, foram tentados nos mesmos pontos, todavia falharam. Em Gênesis constatamos
a sequência pecaminosa: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se
comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe
do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.” (Gênesis 3.6)
Na passagem de Mateus 4, a primeira
tentação envolve a concupiscência da carne, quando o tentador diz a Jesus para
transformar pedras em pães. Era o convite a satisfazer o corpo, e usar Seu
poder, Sua capacidade, para dar ao corpo o que ele pedia.
A segunda tentação se enquadra na
concupiscência dos olhos, pois o tentador mostra a Jesus reinos terrenos e seu
esplendor, coisas que enchem os olhos e podem despertar a cobiça, a ambição.
E a terceira, obviamente, diz respeito
à soberba da vida, visto que o tentador sugere que Jesus se jogue do alto do
templo para dar demonstração de poder, para que todos vejam quem Ele é, para se
exibir, ser elogiado, reverenciado, etc. Como escreveu Salomão, é vaidade e correr
atrás do vento.
Nós, igualmente, somos continuamente
submetidos a essas três tentações. Nossa carne grita querendo satisfação
imediata, nossos olhos são atraídos por coisas que geram cobiça, e sentimos o
desejo de aparecer diante dos outros, de querer ser maiores do que somos.
Assim, quando se cede à tentação,
sobrevêm consequências que trazem sofrimentos. Adão e Eva foram expulsos do
Éden e legaram à humanidade a condenação. Homens e mulheres continuamente
destroem suas famílias por cometerem adultério; jovens se veem em apuros com
gravidez indesejada, doenças, vícios; pessoas estragam relacionamentos e causam
ferimentos nos outros para alcançarem posições que, ao final, só vão gerar um enorme vazio existencial.
Jesus, ao contrário dos primeiros
humanos, venceu essas tentações e não pecou. Ele mostrou que quando se tem uma
relação profunda de comunhão com o Pai, o maior desejo passa a ser o de honrar
a Deus e não buscar glória própria. Jesus refutou as tentações firmando-se na
Palavra de Deus, na suficiência de ter o Altíssimo em vez de cobiçar as coisas
deste mundo, na certeza de que é melhor ser glorificado por Deus ao invés de
receber glória dos homens.
Em Gênesis 39.6-12 vemos a história de um jovem temente a Deus, chamado José, que, tentado pela mulher de seu senhor, Potifar, resistiu e não pecou, pois sabia que, caso cedesse, estaria não apenas traindo a confiança de Potifar, mas seus atos implicariam em pecar contra Deus.
Quando procuramos aprofundar nossa
relação com Deus, recebemos a capacitação para vencer as tentações. O Espírito
Santo nos ajuda em nossa fraqueza (Rm
8.26). A Palavra de Deus nos diz que não nos sobrevem tentação que não seja
comum aos humanos e que não possa ser por nós suportada, e que Deus providencia
o livramento (1Cor 10.13).
A relação de Jesus com o Pai era de
grande intimidade. Jesus orava com frequência e meditava na Palavra, Seu
coração era voltado a fazer a vontade do Pai. Da mesma forma, Ele nos oferece
acesso ao Pai para que vivamos em comunhão com Ele, esvaziando-nos de nós
mesmos e procurando seguir o exemplo de Cristo.
CONCLUSÃO
Olhando para a pessoa de Jesus Cristo,
estabeleçamos como nossa principal meta, não para o ano novo, mas para toda a
nossa vida, a começar hoje, o estreitamento da nossa relação com Deus, por meio
de Jesus Cristo, da oração, da meditação em Sua Palavra e da vivência de seus
mandamentos.
Se a cada dia nos aproximarmos mais de
Deus, seremos fortalecidos. Que esse seja nosso maior projeto de vida, e tudo o
mais será acrescentado pelo Altíssimo. Amém.
José Vicente
04.01.2014
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