A
Bíblia mostra que Deus sempre se preocupou com a questão da justiça social.
Encontramos mandamentos do Altíssimo que dizem respeito à justiça social no
Decálogo, nas Leis Secundárias, nos Provérbios, nos Profetas, nos ensinamentos
de Jesus e nos livros do Novo Testamento.
Isso
mostra que o Eterno deseja que Seu povo tenha consciência quanto aos seus
deveres e direitos, com vistas a construir uma sociedade mais justa e fraterna.
Quando
o ser humano não observa as leis da justiça social, o que se vê é uma sociedade
desequilibrada, onde muitos passam fome, frio, morrem vitimados por doenças que
poderiam ser tratadas, enfim, não se oferecem as mesmas oportunidades para
todos.
Observando
a Bíblia, veremos diretrizes traçadas por Deus para que Seu povo tenha
verdadeiro compromisso com a justiça social.
1)
Nas relações familiares
No
Decálogo, percebemos que os quatro primeiros mandamentos dizem respeito ao
nosso relacionamento com Deus, e os seis restantes se referem ao nosso
relacionamento com nosso próximo.
O
quinto mandamento diz: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se
prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te dá.” (Êxodo
20:12)
Honrar
pai e mãe é não cometer injustiça contra aqueles que nos deram suas vidas, que
nos educaram, sustentaram.
Sabemos
que uma sociedade saudável tem em sua base famílias saudáveis, bem
estruturadas. Não há sociedade sustentável, justa, quando as famílias estão
quebradas. O respeito dentro do lar, dos filhos para com os pais e vice-versa,
é essencial ao fortalecimento familiar, de forma que isso venha refletir na
sociedade de forma positiva.
O
que vemos hoje é exatamente o contrário, pois a cada dia vemos que os pais são
menos honrados pelos filhos. Ouvimos notícias de filhos matando os pais,
submetendo-os a maus tratos, negando-lhes assistência, abandonando-os num
asilo.
Não
há justiça social quando, dentro das casas, os pais são injustiçados.
Da
mesma forma, a Palavra exorta os pais a que eduquem os filhos com amor, que
lhes ensinem o caminho de Deus, que lhes deem uma boa formação moral e ética,
não negligenciando no seu cuidado, para que se tornem adultos íntegros e retos (Pv. 22.6; 22.15; 23.13; 29.15; Col. 3.21;
1 Tim 3.12; 5.8).
Muitos
males da nossa sociedade se devem ao fato de filhos não receberem dos pais o
devido amor, a devida instrução e disciplina. Crianças são deixadas à sua
própria sorte, deseducadas pela televisão e por “amigos”, negligenciadas em
suas necessidades, submetidas a condições de abandono moral e material. Depois,
crescem e enveredam por caminhos tortuosos, que os levam à cadeia ou ao
cemitério.
O
sétimo mandamento traz a seguinte determinação: “Não adulterarás.” (Êxodo
20:14)
O
adultério é um dos atos mais frequentes na sociedade atual, e acontecia também
milhares de anos atrás. Deus demonstra sua preocupação com a família ao proibir
expressamente o adultério, que é a prática de relacionamentos extraconjugais.
O
adultério desestabiliza e destrói a família. Aquele que adultera comete
injustiça contra o seu cônjuge, trai o seu amor e sua confiança. É um mal que
abala toda a estrutura familiar, e como consequência vem o divórcio, filhos
traumatizados, quebra de valores morais e éticos, refletindo na sociedade
negativamente.
Nossa
sociedade vive um momento em que o adultério se tornou algo comum. Os votos
feitos no altar pelo casal são rompidos com facilidade, gerando crises que se
estendem das famílias para a sociedade.
Também
nas Leis Secundárias Deus demonstrou cuidado com as famílias. É o que se pode
notar ao ler o seguinte texto: “Quando um homem for recém-casado não sairá
à guerra, nem se lhe imporá encargo algum; por um ano inteiro ficará livre na
sua casa para alegrar a mulher, que tomou.” (Deuteronômio 24:5)
Pretendia-se,
com isto, permitir que os recém-casados tivessem a oportunidade de se conhecer,
de formar verdadeiramente uma família, pois se o homem fosse enviado à guerra
poderia morrer, deixando viúva uma mulher recém-casada, sem sustento e sem
suscitar descendência. E se tivesse que se ocupar com encargos públicos, não
poderia dar à sua esposa a atenção devida, o que, aos olhos de Deus, seria
injusto, pois no primeiro ano o casal estaria dando início à família.
2)
Nas relações de trabalho
O
Altíssimo ensina que devemos ser justos nas relações de trabalho, jamais
explorando nosso próximo, mas dando-lhe o que é devido, sem nos aproveitarmos
de sua situação de necessidade.
“Não
oprimirás o diarista pobre e necessitado de teus irmãos, ou de teus estrangeiros,
que está na tua terra e nas tuas portas. No seu dia lhe pagarás a sua diária, e
o sol não se porá sobre isso; porquanto pobre é, e sua vida depende disso; para
que não clame contra ti ao SENHOR, e haja em ti pecado.” (Deuteronômio 24:14-15)
“Ai
daquele que edifica a sua casa com injustiça, e os seus aposentos sem direito,
que se serve do serviço do seu próximo sem remunerá-lo, e não lhe dá o salário
do seu trabalho.”
(Jeremias 22.13)
“E
agora, vós ricos, chorai e pranteai, por causa das desgraças que vos
sobrevirão. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão
roídas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados; e a sua
ferrugem dará testemunho contra vós, e devorará as vossas carnes como fogo.
Entesourastes para os últimos dias. Eis que o salário que fraudulentamente
retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama, e os clamores
dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos.” (Tiago 5:1-4)
Infelizmente,
ainda persiste em nossos dias a exploração de pessoas menos favorecidas, que
necessitam trabalhar para sustentar suas famílias, e que, por esta razão,
acabam tendo que se submeter a condições indignas, executando trabalhos que
ferem sua dignidade pessoal, recebendo salário miserável e não tendo como se
insurgir contra a situação, porque há muitos outros candidatos à sua vaga.
A
retenção do salário do empregado é um ato ilícito, pois quem trabalha tem
direito de receber a devida paga no tempo correto.
Patrões
que se aproveitam da necessidade alheia para obter lucro e afligem o pobre com
exploração de sua força de trabalho estão agindo de forma contrária à Palavra
de Deus, e acabam por fomentar a injustiça social que hoje se vê no mundo.
3)
Nas relações de negócios
O
povo de Deus também é chamado a ser justo nos negócios, jamais buscando
vantagens indevidas nem a exploração das pessoas.
"Não
usem medidas desonestas quando medirem comprimento, peso ou quantidade. Usem
balanças de pesos honestos, tanto para cereais quanto para líquidos. Eu sou o
Senhor, o Deus de vocês, que os tirei da terra do Egito.” (Levítico 19:35-36)
“Balança
enganosa é abominação para o SENHOR, mas o peso justo é o seu prazer.” (Provérbios 11:1)
“Não
dando o seu dinheiro à usura, e não recebendo demais, desviando a sua mão da
injustiça, e fazendo verdadeiro juízo entre homem e homem;” (Ezequiel 18:8)
Deus
repudia o enriquecimento ilícito, aquele que vem como fruto da exploração da
necessidade e da boa-fé alheia. Há pessoas que praticam a agiotagem, que é o
empréstimo de dinheiro a quem dele necessite com urgência, mediante a cobrança
de taxas de juros absurdas. No final, o devedor piora sua situação, porque não
consegue pagar o principal e vai pagando apenas os juros, enriquecendo o
agiota.
Também
há necessidade de ser justos no comércio, jamais condescendendo com práticas
ilegais, sonegação de tributos, cobrança de preços abusivos que resultam de
margens de lucro altíssimas, venda de produtos de má qualidade como se fossem
excelentes, etc.
4)
Nas demandas judiciais
Deus
sempre quis que seu povo fosse justo, dando a cada um aquilo que é de direito.
Uma coisa que o Eterno não suporta é que se torça o direito para favorecer a
alguém, seja por sua condição econômica ou por qualquer outro motivo.
“Não
admitirás falso boato, e não porás a tua mão com o ímpio, para seres testemunha
falsa. Não seguirás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda falarás,
tomando parte com a maioria para torcer o direito. Nem ao pobre favorecerás na
sua demanda.”
(Êxodo 23:1-3)
“"Não
cometam injustiça num julgamento; não favoreçam os pobres, nem procurem agradar
os grandes, mas julguem o seu próximo com justiça.” (Levítico 19:15)
Deus
não quer que o pobre seja favorecido apenas por ser pobre, nem que o rico o
seja por causa de sua condição econômica e social. Aquele que tem razão na sua
causa deve receber o que lhe é devido, não importa quem seja.
A
falsa testemunha é abominável aos olhos de Deus, pois contribui para que a
justiça seja torcida em favor de uma das partes.
Advogados
inescrupulosos, juízes corruptos, promotores de justiça tendenciosos,
testemunhas falsas, subornos, tudo isso é repudiado pelo Altíssimo, pois daí
decorre injustiça social, e os tribunais, que deveriam estabelecer a justiça,
se transformam em instrumentos de opressão aos menos favorecidos e aos mais “espertos”.
5)
Nas relações com pessoas carentes
Para
Deus, justiça social importa em auxiliar os que padecem de necessidades, e não
ignorar o seu sofrimento.
“Não
digas ao teu próximo: Vai, e volta amanhã que to darei, se já o tens contigo.” (Provérbios 3:28)
“O
pobre é odiado até pelo seu próximo, porém os amigos dos ricos são muitos. O
que despreza ao seu próximo peca, mas o que se compadece dos humildes é
bem-aventurado.”
(Provérbios 14:20-21)
“O
que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, ele mesmo também clamará e não será
ouvido.”
(Provérbios 21:13)
“Se
um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento
cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e
fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito
disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.” (Tiago 2.15-17)
A
Palavra fala por si mesma. Aquele que tem condições de auxiliar uma pessoa
necessitada e não o faz, está pecando.
A
falta de justiça social faz com que os pobres fiquem mais pobres e os ricos,
mais ricos. Estes não se preocupam com aqueles, antes, usam-nos como escada
para subir mais alto.
Deus
quer uma sociedade solidária, onde as necessidades de muitos sejam vistas com
preocupação por aqueles que possuem uma situação um pouco melhor.
Não
é preciso ser rico para ajudar os pobres. Aliás, as pessoas mais solidárias são
justamente as que não são ricas, porque não são apegadas ao dinheiro, antes,
conhecem a dor que podem causar a fome, o frio, a discriminação, e se dispõem a
ajudar os que estão em condições de inferioridade econômica e social.
Os
políticos eleitos pelo povo deveriam atentar para as classes menos favorecidas,
não por meio de ações paliativas que apenas socorrem temporariamente às
pessoas, mas mediante implantação de uma política que melhore a distribuição de
renda, garanta abertura de postos de trabalho, ofereça serviços públicos de
saúde que atendam com dignidade aos carentes, possibilite a aquisição de
moradia de qualidade a preço acessível.
Socorrer
os pobres em suas dificuldades é algo que agrada a Deus e ajuda a reduzir as
injustiças sociais.
6)
No respeito a todas as pessoas
Respeito
é uma palavra que vem sendo esquecida nos dias atuais. Não se respeitam os mais
velhos, as pessoas com necessidades especiais, os estrangeiros.
“Diante
das cãs te levantarás, e honrarás a presença do ancião, e temerás o teu Deus.
Eu sou o SENHOR.”
(Levítico 19.32)
Este
versículo fala sobre o respeito às pessoas idosas, que já caminharam bastante
na estrada da vida, acumularam experiências, trabalharam muito, e possuem
lições preciosas a transmitir aos mais novos.
Respeitar
os idosos é essencial a uma sociedade mais justa. São pessoas que contribuíram com
seu esforço para que houvesse crescimento do país, batalharam em prol de suas
famílias, criaram seus filhos, e já em idade avançada continuam a merecer tratamento
digno.
Nossa
realidade ainda é de desrespeito para com os idosos. Apesar das leis que visam
à sua proteção, a prática mostra que ainda estamos longe de alcançar a desejada
justiça social quanto a essas pessoas. Possuem prioridade na tramitação de
processos administrativos e judiciais, mas no dia a dia isso não é respeitado.
Possuem prioridade no atendimento em locais públicos, mas as pessoas não
compreendem esse direito e esbravejam. Têm preferência de permanecerem sentados
em transportes públicos, mas jovens que estão sentados não se importam se há
idosos em pé, se apoiando em bengalas, com muita dificuldade.
Asilos
lotados de idosos demonstram que na família começa a injustiça.
“Não
amaldiçoarás o surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus.
Eu sou o SENHOR.”
(Levítico 19.14)
Aqui,
temos uma preocupação com a condição de pessoas com necessidades especiais.
Nossa
sociedade tem muitas pessoas assim, que possuem algum tipo de deficiência, seja
física ou mental, e que devem ser respeitadas, tratadas com dignidade, ter
direito às oportunidades de trabalho existentes, acesso aos locais públicos
facilitado.
Não
são coitadinhos que precisam ser tratados com pena, antes, são seres humanos
que devem ter respeitada sua dignidade. Não podem ser discriminados por uma
sociedade que ama a perfeição e rejeita quem tem alguma diferença.
Não
há sociedade justa quando pessoas com necessidades especiais não são tratadas
com respeito.
“Se
o estrangeiro peregrinar na vossa terra, não o oprimireis. Como o natural, será
entre vós o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos,
pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.” (Levítico 19.33-34)
Estrangeiro
não é apenas aquele que vem de outro país, mas também o é aquele que vai de uma
localidade para outra em busca de uma mudança de vida. Nordestinos que partem
para São Paulo, Paraná, Santa Catarina e outros Estados brasileiros, sonhando
em obter um trabalho justo, que lhes possibilite uma vida melhor, que
represente algo bom para suas famílias, também são estrangeiros.
Quando
alguém que é um estrangeiro em determinado lugar é tratado de forma opressiva,
injusta, com exploração de sua mão-de-obra, pagamento de baixos salários,
segregação social, a Palavra de Deus está sendo descumprida, e com isto se está
gerando cada vez mais injustiça social.
Todas
as pessoas devem ser tratadas com dignidade e respeito, não importa sua idade, etnia,
religião, condição social e econômica, opinião. Todos são seres humanos,
merecem igualdade de oportunidades. Opressão gera sofrimento, desvalorização
pessoal, desequilíbrio social.
7)
Em nossa filosofia de vida
No
nosso cotidiano seguimos um estilo de vida. Cada qual tem suas
particularidades, sua rotina, sua forma de pensar, seu círculo de
relacionamentos, etc. A forma como vivemos vai fazer diferença no que diz
respeito à justiça social.
“Não
furtarás.” (Êxodo
20.15)
Quando
Deus disse para não furtar, estava estabelecendo que ninguém deveria aumentar
seu patrimônio à custa da diminuição do patrimônio alheio. Ninguém deve se
apropriar do que não lhe pertence.
Muitos
males seriam evitados hoje em dia se as pessoas tivessem isso gravado em suas
mentes, mas vemos constantemente pessoas sendo espoliadas de suas posses de
todas as formas, com sutileza ou com violência.
“Não
cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o
seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma
que pertença ao teu próximo.”
(Êxodo 20.17)
A
cobiça é o que leva as pessoas a se apropriarem do que não lhes pertence. Elas
ficam cegas e são capazes de fazer coisas terríveis para obter aquilo que
desejam. Pela cobiça vem a destruição de famílias, de vidas, etc.
“Porque
o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se
desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.” (1 Timóteo 6.10)
Se
nossa vida é movida pelo amor ao dinheiro, aos bens, às conquistas, fatalmente
haverá falha no que diz respeito ao amor ao próximo. O cristão é chamado a amar
ao seu próximo, a viver de forma digna do Evangelho, não conforme os padrões
deste mundo, mas seguindo os ensinamentos contidos na Palavra de Deus, que podem
nos levar a uma viva mais sensata, onde pessoas são mais importantes do que
dinheiro, bens, condição social.
A
forma como conduzimos nossas vidas vai repercutir na sociedade. Se conservamos bons
valores morais e éticos, temos vida reta, íntegra, respeitamos as pessoas,
cuidamos do mundo que Deus nos deu, procuramos ser justos, certamente nossa
sociedade também caminhará nesse mesmo sentido. As grandes mudanças começam com
pequenas atitudes.
Conclusão
Somos
exortados a ter uma vida de amor prático como Jesus demonstrou:
“Porque
eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.” (João 13.15)
Jesus
disse que os dois maiores mandamentos são: amar a Deus acima de tudo e amar ao
próximo como a nós mesmos. Se observarmos esses mandamentos, certamente seremos
pessoas que praticam, no dia a dia, atos que visam ao estabelecimento da
justiça social.
Que
o Eterno nos capacite a sermos justos e retos em nosso procedimento.
José
Vicente
09.06.2012
Baseado no artigo "Quem leva a Bíblia a sério obriga-se a levar também a sério a justiça social", publicado na revista Ultimato, ano XXXVII, nº 289, julho-agosto de 2004, pg. 24-27.
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