Texto base: Mateus 15.29-39
Algumas vezes, principalmente no início
do ano, podemos ver diversas grandes lojas realizando promoções com anúncios de
descontos que chegam a 70%. Geralmente é uma forma de queimar o estoque que sobrou
após as festividades de fim de ano.
Nessas situações, não é raro ver pessoas
que se dispõem a enfrentar filas enormes para poderem assegurar sua entrada no estabelecimento
e adquirir o almejado produto com generoso desconto. Há, inclusive, aqueles que
montam acampamento na porta da loja, passando ali a noite, para terem a certeza
de que conseguirão entrar e comprar o que desejam pelo precinho imperdível.
A mesma coisa ocorre quando cantores
e bandas musicais estrangeiras e famosas vêm ao nosso país para realizar turnês
de shows. Os fãs passam dias em filas aguardando a abertura das bilheterias para
adquirir os ingressos e não perder a única e exclusiva apresentação dos artistas.
Em marketing isso é explicado como o disparo do gatilho mental da escassez.
Isto leva as pessoas a envidarem esforços para adquirirem aquilo que desejam e que
pode terminar logo, não voltando a ficar disponível tão cedo. É o medo de não conseguir
realizar um sonho de consumo, seja a compra de um bem, a presença em um show do
artista favorito, ou qualquer outra coisa que possa ser desejada e adquirida.
Será que em nosso relacionamento com
Deus precisamos temer a escassez? Será que, se não aproveitarmos as bênçãos que
Deus tem para nós hoje, amanhã não haverá mais? O poder de Deus pode sofrer alguma
limitação com o tempo e então Ele deixará de suprir nossas necessidades em dado
momento da existência?
O texto lido mostra Jesus,
próximo ao Mar da Galileia, diante de uma multidão de milhares de pessoas que O
seguiam para ouvir Seus ensinamentos e buscar auxílio quanto a situações de enfermidade.
Nos versículos 29 a 31 vemos que
essas multidões traziam inúmeras pessoas doentes, que não encontravam solução
junto aos médicos da época, e Jesus curava a todos, levando todos a
glorificarem a Deus.
E então chegamos ao momento em
que Jesus realizou, pela segunda vez, o milagre da multiplicação de pães e
peixes.
É interessante notar que não
fazia muito tempo que Jesus havia realizado um milagre semelhante, quando,
utilizando cinco pães e dois peixes, alimentou cinco mil homens, além de
mulheres e crianças, conforme relatado em Mateus 14.13-21.
As duas situações, porém, eram
diferentes. Na primeira multiplicação, Jesus estava na Galileia, perto de
Betsaida, região predominantemente judia; já na segunda multiplicação, Jesus
estava na região chamada Decápolis, onde predominavam os gentios.
Jesus estava dando sinais de que
o Reino de Deus seria estendido aos gentios, e que um novo tempo chegava, onde
Deus seria buscado e encontrado por aqueles que antes estavam de fora da
aliança divina.
A passagem traz inúmeros
ensinamentos a nós, que, assimilados, nos levarão a um crescimento espiritual
cada dia maior, proporcionando maior plenitude de vida na Presença do Altíssimo
não apenas para nós, mas também a nossa família. E certamente aprenderemos, também, que com Deus não há escassez.
Vamos meditar em alguns desses
ensinamentos.
1) PERMANEÇA COM JESUS INDEPENDENTEMENTE DAS
CIRCUNSTÂNCIAS (v. 32)
Quando Jesus olhou para a multidão que ali estava, disse o
seguinte: “Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que permanece comigo
e não tem o que comer” (v. 32).
Aquelas pessoas haviam deixado o
conforto de suas casas, e seguiam Jesus já há três dias, ansiosas por ouvir o
que Ele ensinava e também para apresentarem a Ele aquilo que as afligia, na
esperança de que poderiam obter a solução, por mais que parecesse impossível o problema
que estivessem enfrentando.
Durante três dias as pessoas
caminharam com Jesus, e se mantiveram firmes em seu propósito, não desanimando
por causa das circunstâncias. É claro que, em certo momento, acabou o alimento
que porventura tivessem levado, pois talvez não fizessem ideia de que sua
jornada seria longa. Mas o certo é que, longe de casa, em local deserto,
sujeitos a intempéries, sem nenhum conforto ou facilidade, elas permaneceram
com Jesus.
É bem provável que, dentre a
multidão que iniciou a caminhada com Jesus, tenha havido aqueles que, ao
primeiro sinal de dificuldade, tenham retornado para suas casas. Esses, porém,
não testemunharam os milagres que Jesus fez e que somente foram contemplados
por aqueles que permaneceram com o Mestre o tempo todo.
Nossa caminhada não é fácil.
Entretanto, é necessário permanecer com Jesus, independentemente das
circunstâncias.
Para muitos, é fácil permanecer
com Jesus quando a vida está confortável, quando tudo está indo bem e não há
contratempos. Entretanto, quando surgem desafios, problemas inesperados,
crises, permanecer com Jesus não parece ser algo tão fácil, principalmente para
quem é imediatista e quer ver soluções instantâneas, não se dispondo a esperar
por uma intervenção de Jesus.
Permanecer com Cristo exige
abnegação, fé, disposição para caminhar com o Mestre, para ouvir seus
ensinamentos, para suportar situações adversas sem retroceder.
No meio daquela multidão havia
famílias que buscavam a Jesus. Pais, mães e filhos juntos se empenhando por
conhecer a Cristo e ser transformados por Ele. Pessoas que não desistiram ao
longo da caminhada, e superaram o desconforto de estar longe de casa para
poderem ser abençoadas por Jesus.
Permanecer com Cristo é um desafio
enorme para o ser humano, principalmente diante de tanta sedução do mundo e
suas filosofias hedonistas, que induzem as pessoas a buscarem o que é mais
fácil e prazeroso, em detrimento daquilo que possa exigir sacrifícios e
renúncia.
Permaneça com Jesus mesmo que pareça
bobagem aos olhos do mundo. Permaneça com Jesus mesmo que a situação
aparentemente seja de impossível solução. Permaneça com Jesus mesmo que pareça
mais fácil voltar atrás e percorrer outro caminho.
Permaneça com Jesus, aconteça o
que acontecer.
2)
É
NECESSÁRIO ASSENTAR-SE E PRESTAR ATENÇÃO EM JESUS (v. 35)
Quando se tem uma multidão de
milhares de pessoas reunidas, é natural que haja muito burburinho, muita
conversa, agitação, principalmente se houver algo que possa perturbar a
tranquilidade das pessoas. Certamente teremos pessoas andando para lá e para
cá; crianças brincando; uns sentados, outros em pé; alguns calmos, outros mais
agitados; enfim, dificilmente uma multidão será silenciosa e tranquila.
Aquela multidão que estava com
Jesus provavelmente não era diferente. Entretanto, em meio à agitação do povo,
Jesus ordena que todos se assentem no chão.
É provável que as pessoas não
soubessem o que estava por vir. Elas apenas ouviram a ordem: “sentem-se”. Por
que deveriam se sentar? Talvez alguém tenha feito essa indagação, mas o certo é
que, após a ordem de Jesus, todos se assentaram.
Assentar-se, naquela
circunstância, poderia ser entendido como um sinal de que Jesus iria iniciar
algum ensinamento, mas, de qualquer forma, indicava que as pessoas deveriam se
acalmar, se aquietar e fixar a atenção no Mestre. E foi o que a multidão fez.
Em meio a nossa aflição, inúmeras
vezes permanecemos inquietos, não fazemos silêncio, agitamo-nos e ficamos
perturbados. Jesus, porém, diz: “sente-se”.
Sentar-se é acalmar os
pensamentos. É fazer calar aquela nossa voz que insiste em fazer
questionamentos o tempo todo, e não consegue ouvir claramente a Voz do Mestre.
É aquietar-se e olhar para Jesus, esperando o que Ele está preparando para nós.
É cessar os esforços que são feitos sem qualquer direcionamento de Deus,
baseados apenas em nossa perspectiva das coisas e em nossa vontade de resolver
os problemas.
A multidão se assentou e foi
alimentada por Jesus, testemunhando um milagre de proporções gigantescas, que
foi a multiplicação de sete pães e alguns peixinhos para alimentar milhares de
pessoas que ali se encontravam.
No Salmo 46 vamos encontrar a
seguinte exortação: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46.10)
Quando ouvimos Jesus e nos
assentamos, Ele farta nossa alma com amor e nos socorre naquilo que é
necessário, saciando-nos e cuidando de nós.
3)
CREIA
QUE A GRAÇA DE DEUS É ABUNDANTE E ILIMITADA (v.37-38)
A mente humana é limitada, e isso
pode nos levar a pensar que, se Deus fez um milagre uma vez, talvez seja demais
esperar que Ele faça algo parecido de novo. Nem sempre esse é um pensamento
consciente, mas certamente ele está entranhado nas mentes de muitos cristãos
que ficam temerosos ao se verem novamente diante de uma situação difícil, pois
ficam em dúvida quanto à possibilidade de receberem novo livramento de Deus.
Podemos ver isso claramente na
história de Israel após a saída do Egito. Durante a caminhada pelo deserto,
Deus fez inúmeros sinais e prodígios maravilhosos, entretanto, ao primeiro
sinal de dificuldade parecia que o povo se esquecia do que Deus já havia
realizado, ou achava que o Altíssimo talvez não pudesse fazer mais nada, pois
imediatamente se levantava murmuração em meio à multidão, havia choro, medo de
seguir adiante e vontade de voltar atrás.
Ora, a Bíblia toda nos revela que
Deus é rico em poder, e para Ele não há limites. Deus não se cansa nem se
enfraquece quando utiliza Seu poder. A misericórdia do Altíssimo não se esgota,
muito menos Sua disposição em abençoar os que O amam.
Israel no deserto, apesar de toda
murmuração, via Deus agindo dia após dia e realizando feitos tão grandiosos que
as pessoas tinham até dificuldade em acreditar no que seus olhos viam.
E no texto lido vemos, vemos que os próprios discípulos de Jesus tinham essa
mentalidade, porque, não levando em conta a multiplicação anterior,
questionavam como seria possível alimentar tanta gente (v. 33). Talvez eles
achassem que Jesus não faria em território gentio o mesmo milagre que fizera
perante os judeus, seja por questões de diferenciação entre esses povos ou por
achar que os gentios não fossem dignos de receber tão grande cuidado divino.
A atitude de Jesus, porém, mais
uma vez é a confirmação da inesgotabilidade do poder e da misericórdia de Deus.
Jesus repetiu um milagre que
havia feito não muito tempo atrás, quando alimentara uma multidão de cinco mil
homens, mais mulheres e crianças, a partir de apenas cinco pães e dois peixes
(Mateus 14.13-21). E agora, diante de uma multidão onde milhares de pessoas se
encontravam em situação que não lhes permitia obter alimento, Jesus não teve
dúvidas em tornar a multiplicar os pães e peixes para que todos fossem
alimentados.
E Jesus não fez acepção de
pessoas! Mesmo estando em uma região de povo gentio, Jesus estendeu àquelas
pessoas as mesmas bênçãos que havia derramado sobre os judeus.
E mais: o texto nos revela que o milagre não foi feito com mesquinharia,
mas com abundância, porque foi
provido alimento para quatro mil homens, além de mulheres e crianças, e para
mostrar que com Deus não há miséria, o
que sobrou foi suficiente para encher sete cestos.
A palavra traduzida como “cesto”,
na primeira multiplicação (Mt. 14.20) se refere a cesto pequeno, do tipo usado
para uma pessoa carregar pães, talvez aquela cesta que usamos no supermercado para
poucas mercadorias, enquanto na segunda multiplicação (Mt. 15.37) a palavra
grega designa cestos grandes, utilizados no mercado para transporte de
mercadorias, onde cabia até uma pessoa, como em Atos 9.25, onde é narrado que Paulo
foi posto em um cesto para fugir dos judeus que queriam matá-lo a qualquer custo.
Notemos,
ainda, que Jesus vinha de uma maratona de curas, onde muitas pessoas haviam sido
libertadas de enfermidades incuráveis! E isso não reduziu Seu poder.
Você acha que Deus já fez demais
em sua vida e que as chances de que Ele venha a atender ao seu clamor são
pequenas? Pensa que a sua situação é muito grave e que talvez Deus vá agir
apenas em uma parte do problema, deixando sem solução o restante? Ou será que
você se acha inferior a outras pessoas e acredita que Deus olhará para todos,
menos para você?
É necessário crer que a Graça de
Deus é infinita, inesgotável, e que a Sua ação em nosso favor pode ir muito
além do que imaginamos e esperamos. Também é essencial crer que Deus não faz
acepção de pessoas. Quem O busca O
encontra.
Em Deus há abundância de
misericórdia, de graça, de amor, de bênçãos. Quando Ele age em favor de seus
filhos, Ele o faz liberalmente, com generosidade, de maneira a saciar a fome e
a sede. Deus não dá migalhas aos Seus filhos.
CONCLUSÃO
Jesus veio transformar vidas, e
nEle encontramos plenitude de vida. Ele está de mãos abertas para abençoar os
que permanecem nEle, que se assentam e fixam nEle sua atenção, e que creem na
ilimitada e infinita Graça de Deus. Com Ele não precisamos temer a escassez.
O que Jesus pode fazer em nossas
vidas está além de nossa compreensão. Cumpre a nós crermos e andarmos em Seus
passos, jamais nos rendendo ao comodismo e às influências do mundo,
mantendo-nos firmes nos ensinamentos do Mestre.
“28
Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da
terra, nem se cansa, nem se fatiga? Não se pode esquadrinhar o seu
entendimento.” (Isaías 40.28)
“20
Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto
pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, 21 a ele seja a
glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre.
Amém!” (Efésios 3.20-21)
Que Deus nos conceda fé cada dia
mais forte e inabalável, para permanecermos firmes em Cristo e com Cristo.
Amém.
José Vicente
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