Texto: 2 Crônicas 24.1-4; 15-27
É
provável que muitos de nós já tenhamos conhecido pessoas que começaram muito
bem alguma coisa mas, por diversas razões, terminaram mal. Podemos mencionar,
por exemplo, casamentos, onde, inicialmente, tudo parece maravilhoso, existe
uma atenção mútua entre o casal, ambos declaram seu amor um ao outro, porém
após algum tempo – às vezes bem pouco tempo! -, já estão se separando ou
mantendo um casamento de aparências.
Vemos
pessoas que iniciam uma atividade profissional com todo entusiasmo,
demonstrando dedicação e muita disposição, todavia depois de um período de
trabalho passam a demonstrar certo desleixo, fazem as coisas de qualquer jeito,
chegando ao ponto de serem demitidas ou perderem a clientela, no caso de
autônomos. Atletas muito promissores que, por escolhas erradas, comprometem a
sua carreira. Personalidades públicas respeitáveis que, por não se manterem
fieis aos valores e princípios que construíram sua boa reputação, deixam sua
imagem ser destruída por sucumbirem à ambição, à ganância, à sede de poder e
fama, etc.
Nós
mesmos talvez já tenhamos passado pela experiência de termos um ótimo começo e
um péssimo fim em algo que tenhamos feito.
No
âmbito de nossa caminhada com Deus essa é uma realidade que não está distante,
porque são muitos os que iniciam com grande paixão por Deus e pelo Evangelho,
mas depois de certo tempo vão apresentando um esfriamento gradativo que
compromete por completo sua vida espiritual, trazendo um afastamento em relação
a Deus, uma tolerância indevida quanto ao pecado e um total desvio dos caminhos
do Senhor.
No
texto bíblico que lemos encontramos a história de Joás, que reinou durante
quarenta anos em Judá. Ele começou seu reinado muito bem, e assim continuou
durante um bom período, entretanto após dado momento ele se corrompeu e se
desviou da vontade de Deus, terminando seu reinado da pior maneira possível.
Os
motivos que levaram Joás a se desviar dos caminhos de Deus continuam a se fazer
presentes ainda hoje na vida de muitas pessoas que iniciam bem a sua caminhada
cristã, mas aos poucos vão se desviando e se afastando cada vez mais de Deus.
Vamos
analisar alguns desses motivos e pensar no que podemos fazer para evitar
cometer os mesmos erros de Joás.
1) Ouvir o
Conselheiro certo (v. 2)
Quando
Joás começou a reinar em Judá ele era apenas uma criança de 7 anos de idade.
Ele vinha sendo criado na Casa de Deus pelo sacerdote Joiada, que era casado
com Jeosabeate, irmã de Acazias (tia de Joás), que o salvou de ser morto pela
maldosa Atalia (avó de Joás).
Por
se tratar de uma criança, Joás foi coroado rei de Judá mas contou com o
sacerdote Joiada como seu mentor e conselheiro. E enquanto o sacerdote estava
ao lado de Joás, este teve um reinado próspero e dentro da vontade de Deus.
O
versículo 2 nos diz que “fez Joás o que era reto perante o Senhor
todos os dias do sacerdote Joiada” (2 Crônicas 24:2).
Joiada
era um homem temente a Deus, tinha conhecimento da Lei de Deus e instruía o rei
Joás para que este seguisse corretamente os caminhos do Senhor. O texto narra
que nesse período Joás promoveu a restauração da Casa do Senhor, estimulou o
povo a cumprir a Lei de Deus e trazer o imposto instituído por Moisés, mostrou
zelo para com as coisas do Templo e os sacrifícios que deveriam ser oferecidos
a Deus.
Pelo
que constatamos no texto, Joás dava ouvidos ao sacerdote Joiada, talvez até o
respeitasse como a um pai, e enquanto assim procedeu suas ações eram aprovadas
por Deus, bem como o povo de Judá seguia com alegria o exemplo do rei e se
mostrava fiel a Deus.
Entretanto,
tão logo o sacerdote Joiada faleceu, aos 130 anos de idade, Joás foi assediado
por líderes judeus que não eram tementes a Deus e que desejavam servir a outros
deuses, e acabou por lhes dar ouvidos, conforme está descrito nos versículos 17
e 18.
Foi
a partir daí que o reinado de Joás começou a ruir, porque ele se desviou dos
caminhos de Deus. No versículo 18 é dito que ele e os príncipes de Judá “deixaram
a Casa do Senhor, Deus de seus pais, e serviram aos postes-ídolos e aos
ídolos;” (2 Crônicas 24:18).
Quando
o texto diz que eles deixaram a Casa do Senhor, significa que voltaram as
costas para Deus e tudo o que se relacionava a Ele, abandonaram a adoração ao
Deus único e verdadeiro para viver com base em mentiras.
Joás,
que teve uma vida praticamente irrepreensível até então aos olhos de Deus, pois
tinha um conselheiro temente a Deus, cercou-se de conselheiros que não amavam a
Deus e se igualou a eles, praticando abominações e mergulhando em uma vida de
pecados que arruinou o seu reinado e, principalmente, o seu relacionamento com
Deus.
A
quem damos ouvidos em nosso dia a dia fará uma diferença muito grande durante
nossa vida. Pessoas insensatas vão se cercar de conselheiros insensatos, que
não possuem o temor do Senhor e cujos valores entram em choque contra a Palavra
de Deus. Já aquele que é sábio buscará conselho em pessoas que sabe serem fieis
a Deus, que possuem princípios e valores firmados na Palavra e que estão muito
mais interessadas no Reino de Deus do que nas coisas transitórias deste mundo.
Alguém
que esteja tendo problemas em seu casamento, ao se aconselhar com ímpios,
provavelmente receberá incentivo para se divorciar, para ser infiel, para agir
nos moldes que o mundo apregoa. Assim, um casamento que já não andava bem será
arruinado de vez. Mas, se for buscar conselho em uma pessoa temente a Deus, com
certeza ouvirá palavras no sentido de busca da reconciliação, de valorização do
casamento, do estabelecimento de um diálogo em amor e respeito que permita a
restauração do relacionamento abalado.
Portanto,
quem escolhemos ouvir é um ponto fundamental para que possamos prosseguir com
êxito em nossa caminhada, com a finalidade de terminar bem aquilo que começou
bem.
Nos
capítulos anteriores podemos ver claramente como ouvir conselheiros errados
traz apenas prejuízos. Em 2Cr 21.6 é dito que o rei Jeorão, avô de Joáz, “andou
nos caminhos dos reis de Israel, como também os da casa de Acabe, porque a
filha deste era sua mulher; e fez o que era mau perante o SENHOR.”
No
capítulo 22, versículo 3, vemos que Acazias, pai de Joás, “andou nos caminhos da casa de
Acabe; porque sua mãe era quem o aconselhava a proceder iniquamente.”
(2 Cr 22.3)
Acabe
foi um dos piores reis de Israel. Ele se casou com Jezabel e ambos tiveram um
reinado terrível, praticando idolatria e atrocidades contra os profetas de Deus.
Por isso, quando se diz que algum rei andou nos caminhos da casa da Acabe,
significa que se desviou dos caminhos de Deus e viveu em desobediência,
rebeldia, idolatria.
Portanto,
a importância de quem nos influencia é realmente muito grande, porque podemos
ser levados para caminhos de paz ou de sofrimento.
Acima
de tudo, todos os que creem em Jesus como seu Senhor e Salvador contam com um
Conselheiro que é superior a qualquer conselheiro deste mundo: o Espírito
Santo.
Quando
Jesus estava prestes a ser morto na cruz, afirmou que o Pai enviaria o Espírito
Santo, e que este seria nosso instrutor e Consolador:
“...
mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos
ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.” (João 14:26)
O
sacerdote Joiada, em relação ao rei Joás, de certa forma fazia o papel que o
Espírito Santo faz quanto a nós, porque ele ensinava ao rei a Palavra de Deus e
o aconselhava para que tomasse as decisões corretas e dentro da vontade do
Senhor. Enquanto Joás teve Joiada ao seu lado e lhe deu ouvidos, tudo corria de
maneira adequada e Deus se agradava da vida de Joás.
O
Espírito Santo, que habita em nós, está pronto a nos instruir na Palavra de
Deus e a nos aconselhar para que nossas decisões sejam coerentes com os
propósitos do Pai Celeste. Não encontraremos um conselheiro melhor do que o
Espírito Santo, porque Ele nos conhece melhor do que nós mesmos e sabe
exatamente qual é a vontade de Deus para nossas vidas, sendo capacitado para
nos ensinar e orientar para que cheguemos aperfeiçoados ao fim de nossa
caminhada aqui.
Assim,
para que não corramos o risco de fracassarmos e sofrermos em nossas escolhas,
como fez Joás, devemos ouvir o Conselheiro certo, que é o Espírito Santo de
Deus, assim como é necessário que estejamos próximos de pessoas tementes a
Deus, que possam contribuir para nosso crescimento, e não junto a pessoas
insensatas que desprezam a Deus e à sua Palavra e amam as coisas do mundo, pois
isto representa um grande perigo de que terminemos muito mal aquilo que
começamos bem, gerando tristeza e sofrimento.
2) Manter-se fiel
a Deus por amor (v. 17-25)
A
infidelidade de Joás foi a sua derrocada. Enquanto ele se manteve fiel a Deus,
cumprindo os mandamentos do Senhor e demonstrando zelo para com tudo que se
relacionava a Deus, seu reino prosperava, o povo seguia seu bom exemplo e Deus
abençoava Judá.
A
partir do momento em que Joás voltou as costas para Deus e aderiu à idolatria,
tudo começou a dar errado e Deus já não se agradava de seu testemunho.
O
problema é que a fé de Joás era superficial, de maneira que nunca se formaram
raízes em seu coração. Todos os ensinamentos que ele recebeu de Joiada só
produziram efeito enquanto o sacerdote estava vivo para encorajá-lo, mas bastou
que Joiada morresse para que Joás deixasse aflorar sua verdadeira identidade:
um homem que amava o pecado.
A
fidelidade que Joás demonstrou durante os anos em que contou com Joiada não se
deveu ao seu amor por Deus, mas era apenas porque ele queria impressionar seu
mentor e aparentar ser quem ele não era.
Joás
nunca assimilou de verdade os ensinamentos da Palavra de Deus. E assim que
Joiada se foi, ele se sentiu livre para viver como ele achava que deveria ser,
e não conforme os mandamentos de Deus, que para ele talvez não passassem de meras
regras religiosas.
Joás
não estabeleceu um relacionamento
pessoal com Deus. Ele caminhou com base no relacionamento que Joiada tinha
com Deus, quando, na verdade, ele próprio deveria ter buscado maior intimidade
com o Senhor, pois isso o levaria à fidelidade por amor e não por mera
religiosidade sem sentido.
É
como os filhos que apenas vão à igreja enquanto dependem dos pais e são por
eles levados, mas que, tão logo consigam fazer sua própria vontade, deixam de
lado tudo o que lhes foi ensinado e mergulham de cabeça no modo de vida
apregoado pelo mundo, longe dos valores cristãos, pois sempre caminharam à
sombra do relacionamento que os pais tinham com Deus, mas eles próprios não
tiveram essa experiência pessoal com o Altíssimo.
Joás
conhecia a Lei de Deus, portanto ele tinha consciência de que a desobediência
levaria a consequências terríveis, conforme está registrado em Deuteronômio 28.15-68.
Todavia,
seu coração desobediente não permitiu que ele parasse para refletir nas
possíveis consequências, antes, ele simplesmente cedeu à sua inclinação ao
pecado e se atirou a uma vida louca de idolatria e afastamento da presença de
Deus, sem receio quanto ao que poderia resultar de tamanho ato de rebeldia.
Joás
deveria saber que, como rei de Judá, as suas decisões e atitudes teriam
repercussão sobre todo o seu povo, afinal, o rei era o líder maior da nação.
Quando o rei era fiel a Deus, o povo seguia o seu exemplo e era abençoado. Já
quando o rei era infiel, igualmente o povo se perdia e sofria as consequências
de sua rebeldia, sendo privado das bênçãos do Altíssimo.
Na
parte final do versículo 18 está escrito que “por esta sua culpa, veio grande
ira sobre Judá e Jerusalém”.
Já
nos versículos 19 e 20 vemos que o povo estava seguindo os caminhos do rei
Joás, tanto que Deus enviou profetas para alertá-los e buscar a sua
restauração, mas eles não ouviram, e na sequência, Zacarias, filho do sacerdote
Joiada, movido pelo Espírito Santo, proclamou:
“Por
que transgredis os mandamentos do SENHOR, de modo que não prosperais? Porque
deixastes o SENHOR, também ele vos deixará.” (v. 20, b)
Estas
palavras foram faladas ao povo de Judá, e não somente ao rei, o que deixa claro
que o exemplo do rei estava sendo seguido pelos súditos, de maneira que todos
falhavam no amor a Deus.
Entretanto,
em vez de dar ouvidos aos profetas e a Zacarias, tanto o povo como o rei se
voltaram contra eles, e no versículo 21 é dito que, a mando do rei, Zacarias
foi apedrejado no pátio da Casa do SENHOR.
Joás
não refletiu nem mesmo no ato de profunda ingratidão que estava praticando em
relação a Joiada, pois não hesitou em mandar matar o filho do homem que havia
salvado sua vida e que acreditara nele para ser o rei de Judá.
Por
fim, Deus exerceu juízo sobre Joás e Judá, permitindo que o exército dos siros,
embora em menor número, derrotasse o exército dos judeus, que era mais
numeroso, matando todos os príncipes e causando destruição em Jerusalém.
Conforme
narra 2 Reis 12.18, Joás, demonstrando desprezo
para com as coisas de Deus, pegou as coisas sagradas e tesouros da Casa do
SENHOR e da casa do rei e os enviou a Hazael, rei da Síria, e então este se
retirou de Jerusalém. Todavia, Joás foi ferido em batalha e caiu enfermo,
sendo, depois, morto por seus servos, como vingança pelo sangue dos filhos de
Joiada (v. 25).
Todas
as consequências experimentadas por Joás foram decorrentes de sua infidelidade
a Deus, porque ele foi apenas um cumpridor de regras enquanto Joiada viveu, mas
nunca se relacionou com Deus verdadeiramente. O SENHOR nunca foi o seu Deus,
mas era o Deus de Joiada.
Quantos
de nós realmente buscamos um real relacionamento com Deus, procurando
conhecê-lo mais profundamente e amá-lo acima de todas as coisas?
É
possível que estejamos vivendo como viveu Joás, uma vida de aparente religiosidade
buscando impressionar alguém, mas sem experimentarmos um relacionamento mais
íntimo com Deus, e assim que cessar o motivo que nos leva a agirmos como se
fôssemos crentes, certamente nos afastaremos e cederemos à inclinação da carne,
desprezando a Palavra de Deus.
O
maior rei que Israel teve foi Davi. Ele não foi um homem perfeito e errou feio,
violando a Lei de Deus em mais de uma oportunidade. Mas Davi não era um mero
cumpridor de regras religiosas, ele tinha um relacionamento profundo com Deus,
e quando confrontado pelos seus pecados, prontamente se arrependia e se
prostrava diante de Deus clamando por perdão, pois ele sofria ao saber que
havia feito algo que desagradava a Deus.
Enquanto
Davi buscava seguir a Lei de Deus por amor a Deus, Joás o fazia por
conveniência. Mas Davi foi honrado por Deus, enquanto Joás sofreu a terrível
consequência de sua infidelidade.
Deus
não quer meros cumpridores de regras nem pessoas que vivem uma religiosidade
vazia. Ele busca pessoas dispostas a se relacionarem de forma profunda com Ele,
usufruindo do grande prazer que é caminhar na presença do Altíssimo.
O
amor a Deus nos leva a sermos fieis de verdade, de maneira que o pecado jamais
vai ser algo que nos atraia mais do que estar na presença de Deus.
CONCLUSÃO
A
triste vida de Joás nos ensina que devemos ouvir o Conselheiro certo e ser
fieis a Deus por amor, porque é isto que permitirá que comecemos e terminemos
bem a nossa caminhada de fé.
Uma
vez que estejamos firmes em Deus, imersos em um relacionamento profundo que se
estreita a cada dia, o próprio Deus nos fortalecerá e capacitará para
concluirmos bem a nossa jornada nesta terra, conforme nos é assegurado em Filipenses:
“Estou
plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la
até ao Dia de Cristo Jesus.”
(Filipenses 1:6).
E
o seu Espírito Santo nos instruirá em toda a nossa caminhada, orientando-nos para
que possamos estar sempre em sintonia com a vontade de Deus.
Busquemos
um relacionamento pessoal com Deus, não nos baseando na fé ou no relacionamento
de outra pessoa, porque cada um deverá prestar contas de si a Deus.
Que
o amor a Deus seja o que nos faz obedecer à Palavra, pois o amor impedirá que
façamos coisas que possam desagradar a nosso Pai.
José Vicente